Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 25
Vinte e Cinco




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O gramado estava inundado de sol.

A manhã da terça-feira estava clara e ensolarada e com um belo céu azul sem nuvens.

Meu pai havia me deixado no colégio e seguido para seu consultório. Já que eu estava segura sem Harry no colégio, Jimmy não me seguiu. Assim como fez ontem. E como toda vez, meu pai viria me buscar no fim da aula.

Estávamos no fim de Abril. E apesar de ser primavera, o tempo estava frio. Encolhi-me embaixo da minha jaqueta preta e esfreguei minhas mãos, uma na outra, tentando aquecê-las. Meus pés estavam aquecidos dentro das minhas bota marrom e cuidadosamente. Olhei para o celular e vi que estava fazendo 15ºC, ou 288ºK.

Reconheci Louise quando ela corria em minha direção, balançando sua cabeleira lisa.

— Oi! — Sorri pra ela.

— Você não sabe o que aconteceu! — Ela chacoalhou sua jaqueta rosa no corpo, tirando a poeira.

— O que aconteceu? — Joguei uma mecha do cabelo pra trás da orelha, curiosa.

— O baile a fantasia! A Senhora Feck liberou! — Ela suspirou, ofegante de felicidade. — O conselho estudantil decidiu que vai ser em Junho!

Pensei em Jimmy. É claro que ele poderia ir ao baile comigo, mas certamente não poderíamos dançar juntos. Porque somente eu vou poder vê-lo, e se eu estivesse dançando com ele, com minhas mãos em seu ombro, iriam dizer que eu estava tentando interpretar um dos zumbis do clipe de Thriller, do Michael Jackson.

— Que bom... — Respondi, desanimada.

— Ah, qual é? Vai ser ótimo. Você tem par?

— Não.

— Certo. Eu também não tenho. Mas nem me importo com isso. Vou dançar a noite toda, até criar calos nos pés.

Eu ri.

Louise é uma ótima companhia! Eu a amo tanto por isso. Por não se importar com nada, apenas com sua diversão. Certo, ela está sem par, em vez de ficar triste, ela simplesmente sorriu e disse que só quer dançar. Como na tradução da música de Lady Gaga “Apenas dance, tudo vai ficar bem”.

— Conte comigo. — Sorri.

Ela abriu um sorriso de orelha a orelha e bateu palmas, comemorando.

Fomos para a aula do Sr. Walter e tivemos aula de biologia até às duas da tarde. Confesso que não aguento mais fazer cruzamentos entre genes do diibridismo.

No final da aula, me despedi de Louise e fui para a biblioteca procurar o livro para o trabalho de Literatura.

Não havia ninguém lá, porque era mudança de turno das bibliotecárias e quando fui voltar para a entrada do colégio a porta estava trancada. Não sei como, mas do nada estava fechada e eu estava literalmente presa ali, porque havia grandes nas janelas.

— Droga. — Sussurrei comigo mesma.

Raramente chovia em maio, mas quando começou a cair gotas de água lá fora, me lembrei do suspense que eu estava ali. O tempo tinha se fechado, e o céu estava num cinza escuro, quase na cor de um azul marinho. Parecia até cenas de filmes de terror.

Fiquei alguns segundos tentando abrir a porta mais nada adiantava, quando me virei, dei de cara com a criatura que me assombra há meses.

— Olá. — Ele disse, colocando suas mãos no meu ombro e dando-me um abraço.

Afastei-me logo, calada.

Ele cravou suas unhas no meu braço, tendo controle absoluto sobre mim.

Harry!

— Você me deixou chateado naquela noite. Te esperei lá e você não foi. Que coisa feia, não? — Disse ele, com uma voz ameaçadora, deixando sua doçura irônica de lado. — Agora, você vai recompensar o tempo perdido comigo. Vamos sair desse colégio e ir á um lugar especial. Você vai entrar no meu carro, sem reclamar, calada. Ou eu acabo com você.

— Droga. — Sussurrei outra vez, perguntando-me onde Jimmy estava.

Juro que não entendo a mente desse cara. Na maioria das vezes em que penso nele e em seu sorriso cínico e irônico, pergunto-me o que se passa na cabeça dele para ter tanta fixação em mim.

Ei, eu tenho um coração!

Não sou uma boneca de pano que se pode triturar e ofender com palavras imundas o tempo todo. Eu sou uma garota — de carne e osso — que na maioria das vezes chora por ofensas o tempo todo. Mas nenhum momento que fui surrada por Harry eu chorei, nem mesmo no natal. Certo, apenas não encontrei minhas lágrimas. Mas por dentro, eu me sinto um depósito de lixo. Sinto-me incapaz de fazer qualquer coisa, sentindo que mais nada dentro do meu corpo funciona. Sinto-me assim apenas quando Harry se aproxima de mim, agarrando suas mãos no meu braço. Pareço como algo descartável: Harry pode me usar como quiser, e depois, me largar inutilizável em um canto, totalmente ferida e incapaz de perceber o quanto as coisas podem parecer injustas. E pelo que percebo, o mundo pode ser assim às vezes.

Harry tinha tanta posse do meu corpo quanto Jimmy — a diferença é que eu amo quando Jimmy toma posse de mim, e odeio quando Harry crava suas unhas no meu braço e me obriga a fazer o que eu não quero.

Saímos do colégio como amigos normais. Ele falava e eu apenas ficava calada, perguntando-me, outra vez, onde diabos Jimmy tinha se enfiado. Por causa da chuva forte e gelada, meu queixo tremia e eu tinha minha roupa toda encharcada quando entrei na Land Rover de Harry.

— Onde você vai me levar? — Perguntei, tentando fugir da imagem de ir a um lugar abandonado e ser surrada outra vez.

Ele ignorou minha pergunta.

Ele continuou a dirigir. Desta vez, nós não fomos pela NY-22, nem continuamos no centro. Ele seguiu pela movimentada NY-7, saindo da cidade.

Minutos depois, ele aumentou a velocidade quando estávamos numa estradinha de cascalho que, pelo que eu sabia, iria nos levar a onde Judas perdeu as botas.

— Já estamos chegando. — Ele deu seu sorriso cínico, passando a mão pelo seu topete ridículo.

A estrada de cascalho não tinha iluminação e conforme era fim de tarde, o céu estava em um tom de laranja-rosado, fazendo os raios do sol-poente baterem no vidro do carro, cegando-me.

Já estava quase anoitecendo e pude deduzir que meu pai poderia estar preocupado.

O medo já dava sinal de vida dentro de mim.

Imagine só ter a sensação de ser levada a lugar nenhum, com a pessoa que você mais odeia e teme, que já tentou fazer de tudo para te maltratar, e sequer sabe que diabos essa pessoa vai fazer com você. É, é realmente atormentador pensar nisso.

— Estamos chegando onde?

— É apenas um lugar onde possamos ficar juntos. — Ele mantinha seus olhos psicóticos na estrada.

— No inferno, suponho.

— Por que você acha isso?

Ao nosso redor haviam apenas árvores. Na verdade estávamos passando por uma estreita estrada de cascalho que foi aberta dentro de um bosque gigante que abrangia milhares de árvores ao meio da escuridão que se formava entre elas.

— Porque é sempre assim, Harry. Não sei que droga se passa nessa sua cabeça. —Olhei para a mata. — Tudo que eu sei, é que provavelmente, esta noite eu terei um pescoço quebrado, minhas duas pernas quebradas ou pior.

— Não seja tão pessimista... Mas você é tão realista! O que você disse, bem... É verdade.


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