Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 18
Dezoito




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O desespero me consumia quando as batidas do meu coração se aceleraram deliberadamente.

Subitamente, tentei puxar o fôlego.

Minha respiração estava rápida. Senti uma indescritível onda de adrenalina percorrer por todo meu corpo, deixando-me em pânico quando tossi a água salgada e extremamente fria para fora da minha boca.

Avistei o céu salpicado de estrelas bem acima de mim, junto com a brisa noturna e gelada que vinha do mar — que também estava bem próximo de mim.

Levantei a cabeça alguns centímetros para identificar a área onde eu estava e com quem eu estava e logo tive a resposta.

Ele estava comigo. Não Harry, mas Jimmy Fields.

O cara que faz meu coração sair pela boca quando dá seu sorriso hipnotizante e acolhedor. O cara irritante que me xinga, que manda eu me calar, e que no qual exibe seu charme irresistível e exuberante. Ele sim estava comigo. No momento em que eu mais precisava de alguém.

Minha cabeça estava deitada em seu colo e ele me abraçava possessivamente e cuidadosamente, como se cada movimento que fizesse com meu corpo fosse me partir no meio. Quando ergui a cabeça para ver seu rosto, senti uma dor atormentadora que se estendeu por todo meu corpo, torturando-me.

— Ai! — Gemi de dor, deitando minha cabeça outra vez em seu colo.

Suas mãos geladas percorreram minha face delicadamente.

— Ei, ei! Não se mecha. — Sussurrou em meu ouvido.

Senti seu hálito quente e me arrepiei.

Suas mãos deslizaram pelo meu ombro gentilmente e ele me puxou um pouco mais para cima de modo que eu pudesse encostar minha cabeça em seu duro peitoral.

— Onde está Harry? — Perguntei, tentando formar perguntas óbvias em minha mente.

— Eu não sei. — Sussurrou, em um tom de voz compreensivo e paterno, que me reconfortou. — Só me dei conta do perigo em que você estava quando o carro caiu no mar. Olha, eu não costumo dizer isso, mas —ele pausou por uns segundos —  me desculpe.

Aconcheguei-me em seu peitoral, passando meu dedo discretamente pelas curvas perfeitas de seu abdômen.

Ventava muito ali na praia. E como eu estava molhada da cabeça aos pés, eu estava começando a bater o queixo e sentir minha garganta secar, o que me deixaria com a voz bem rouca mais tarde.

— Obrigada. — Sussurrei, tentando ignorar a dor.

No entanto, ela não parava. Meu pescoço parecia ter sido triturado, meu nariz amassado, meu olho roxo, minha boca ferida e de fato um corte bem profundo na testa, porque descia uma cachoeira de sangue na parte direita do meu rosto.

— Por quê?

— Só achei que você não voltaria mais — perdi minhas palavras — é, claro, você sabe do que estou falando, Jimmy. Nossa briga...

— Esqueça isso. — Ele deu um sorrisinho no canto dos lábios e olhou para mim, pacífico — eu que sou o culpado.

Olhei para ele também. Por um bom tempo.

Mesmo com a vista bem embaçada, eu não sabia como tirar os olhos dele. Era quase impossível. Quase, até que eu me lembrei insistentemente que deveria parar e parei. Com muito esforço.

— Está doendo. — Sussurrei, cortando nosso silêncio.

—Aonde?

— Em todo lugar. — Gemi, contorcendo-me em seus braços.

Ele fez um barulho estranho com a boca e passou a mão pelo meu corte na testa.

— Você precisa de um hospital, Bells.

— Meu estado está lamentável? — Minha voz saiu rouca.

Ele ergueu o rosto e analisou meus ferimentos. Logo, quando fez uma careta, disse:

— É melhor você ficar sem se olhar no espelho por alguns dias.

Isso me fez rir. Não dar uma eletrizante gargalhada, mas me fez dar um risinho abafado.

— Meu pai vai pirar quando me ver desse modo. O que devo dizer? Odeio mentir, mas se eu disser a verdade a ele, Harry vai me ferrar ainda mais.

— Certo... Que tal um sequestro?

— E aí, bom... Eu posso inventar que fui na casa de alguma amiga e na volta estava passando por aqui... E fui surrada. Acha que dá pra acreditar?

— Eu acreditaria, se fosse um bobo.

— Jimmy?

— O quê? — Seus olhos se arregalaram quando ele ouviu minha voz toda esganiçada.

— Preciso ir por hospital. Essa postura está me deixando um pouco doída.

Seus braços me apertaram um pouco mais.

—Consegue andar? Eu te ajudo a chegar à cabine telefônica. — Ele apontou para a cabine, há uns poucos metros de nós.

— Obrigada. — Tomei impulso para me levantar.

—Com cuidado, Senhorita Keaton. Estou bem do seu lado, confie em mim.

Sofri para andar uns sete metros até a cabine telefônica. É, não foi fácil.

Jimmy me serviu de apoio enquanto eu conseguia com muito esforço uma ambulância para a rodovia NY-22. E quando terminei a ligação, me esparramei no banco de madeira podre ali perto mesmo e busquei conforto nos braços de Jimmy, outra vez.

— Tudo bem, eles vão chegar logo, Bells. Não se preocupe. — Dizia Jimmy, quando senti seus lábios aveludados encostarem em minha testa.

X X X

Passei dois dias no hospital.

Daquela noite, eu não me lembro de mais nada. Segundo meu pai, me acharam desacordada no banco que eu havia me sentado com Jimmy e cheguei aqui, no hospital, ainda desacordada. Fui medicada e tiveram que me suturar com seis pontos, devido ao corte profundo na testa. Por conta do remédio, eu dormi durante doze horas seguidas.

A única coisa que me lembro foi dos lábios de Jimmy tocarem minha testa. Depois disso, mais nada.

Acordei totalmente tonta num quarto de hospital, com meu pai dormindo no sofá-cama ao meu lado desconfortavelmente.

Levantei-me um pouco. Nada de pernas quebradas e nem braços quebrados, para minha grande felicidade.

Apenas um rosto inchado, com manchas roxas ao redor dos meus olhos e um grande corte na testa, como eu já disse.

Perfeito! Simplesmente perfeito!

Acho que vou pedir pro meu pai uns guarda-costas bem grandes para me acompanhar em todo lugar onde eu for. Certo que tenho Jimmy, mas ele nem sempre está por perto. Na verdade, só me ajudou umas duas vezes e acho que não aguento mais apanhar de Harry.

Na verdade, nem ele ou nenhum capanga do tamanho de um guarda-roupa pode curar o que sinto. Isso é realmente muito cansativo.

É cansativo ser sempre o alvo, ficar sempre fugindo e sempre levar uma surra no final da história.

Se eu estou cansada disso tudo, será que Harry não está?

Já não sei o que é mais fazer compras, porque não faço comprar há uma década com medo de dar de cara com Harry em qualquer esquina de NY. E toda vez que ele me pega, bem, as coisas não terminam bem. Agora, nada termina bem. E sim, estou sendo dramática, mas não vejo outro modo de agir. Estou assim, não posso simplesmente abrir um sorriso de orelha a orelha e dizer que está tudo bem comigo porque não está.

Meu coração está em frangalhos, totalmente despedaçado porque agora estou sentido. Estou sentindo que estou sofrendo. E agora, mais do que nunca, não posso evitar a dor.

Quando vi que Jimmy estava sentado na cadeira ao lado da cama olhando minha expressão de desespero, me ajeitei ainda mais na cama, tentando ficar a vontade para não fazer barulho e acordar meu pai.

Se ele visse aquela cena, afinal, o que ele ia pensar? “Minha filha está falando sozinha”?

— Como se sente? — Ele se sentou na beirada da cama, perto de mim.

— Péssima. — Admiti, balançando a cabeça.

Ele passou sua mão delicadamente pelo meu corte. Entendi seu gesto como um consolo, porque ele estava tão...Calmo. Ele costuma me xingar e me mandar calar a boca, mas eu acho que eu estava em um estado tão lamentável que ele devia estar fazendo ao menos um esforço para me fazer sentir melhor. E de fato, quando o vi sentado na cadeira ao meu lado, senti uma sensação boa, acho que já sei o que isso significa.

— Droga, cara! Olha, eu sei que eu fiz tudo errado, mas eu vou corrigir isso, tudo bem? Fui um babaca e de agora em diante estarei perto de você em todo lugar. Sempre.

Gostei de ouvir aquilo.

— Calma aí, bonitão. Em todo lugar não. Tenho minhas necessidades, lembra?

Eu disse aquilo pensando na hora do meu banho ou na hora de trocar de roupa. Seria muito embaraçoso ficar enrolada em uma toalha com Jimmy sorrindo para mim maliciosamente.

— Há-há. Certo. Você acabou com minha felicidade. Simplesmente cortou meu barato. — Brincou, balançando a cabeça em sinal de desaprovação.

Senti minhas bochechas avermelharem.

— Te vejo em casa, Bells. Você está segura agora. — Ele sorriu e sumiu.

— Até mais. — Sussurrei, mesmo com a ausência dele.

— Com quem você está falando, Belatriz? — Quis saber meu pai, contorcendo-se todo no sofá.

Não respondi.

— É, acho que a batida que você levou na cabeça afetou alguma coisa. — Disse, espreguiçando-se e bocejando.

Por parte disso, banquei a desinformada e perguntei:

— O que aconteceu?

— Você não se lembra de nada? — Piscou, com uma expressão cansativa.

Meu pai parecia ter ficado o tempo todo comigo no hospital. Seu olhar cansado, suas olheiras e suas roupas esfarrapadas que costuma colocar depois que chega do consultório são as provas concretas disso.

Ele devia estar assistindo jogo de Baseball na TV de tela plana quando soube o que havia acontecido comigo.

— Não sei o que te deu na cabeça voltar da casa de Louise a pé, filha. Sempre digo para você não ficar em lugares pouco movimentados, e acontece isso! Dois capangas pediram seu dinheiro e você não tinha, então...

— Me surraram, é, acho que vou me lembrar disso amanhã.

— O que você tinha na cabeça pra andar sozinha da NY-22 às onze horas da noite, filha? Você estava bêbada ou coisa do tipo? Acho que quando você estiver melhor e em casa, vamos ter uma conversa séria.

— Me desculpe, pai. Não vai acontecer outra vez. Foi um erro meu. Se for me colocar de castigo, eu vou entender, porque depois dessa lição, acho que nunca mais passo a pé pela NY-22.

— Muito bem. — Ele deu um sorrisinho. — Ótimo saber do seu arrependimento, porque você escapou dessa vez. Os médicos disseram que seu corte na testa vai cicatrizar um pouco. O resto não.

— Eu estou muito ferida, pai?

— Sim. Bastante.

Oh Meu Deus!

— Você não se lembra de nada mesmo, filha? — Ele estava tornando insistente, exigindo saber quem fez aquilo.

Balancei a cabeça negativamente.

— Já disse que não me lembro, pai. — Fiz uma careta, esperando que ele caísse na minha mentira.


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