Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 17
Dezessete




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Existe um novo sentimento em mim.

Não tenho absoluta certeza do que é, mas posso senti-lo toda vez em que pensou ou vejo Jimmy.

Certo. Parece muito clichê, eu sei, mas não é. Porque Jimmy Fields é um anjo e está morto. E eu não posso me apaixonar por uma pessoa morta. O que pra mim, não deve ser boa coisa.

Eu estava voltando do colégio, vagarosamente. Procurei uma forma de fazer Jimmy reaparecer, porque já faz catorze dias que eu o espero no meu quarto toda noite e ele nunca aparece.

— Aposto que está pensando em mim.

Ouvi aquela voz que faz meu coração gelar. Que me faz arrepiar da cabeça aos pés.

Olhei para o lado e vi Harry em uma Land Rover prateada desta vez, exibindo seu sorriso cínico e seu topete ridículo.

“Apenas ignore-o” — Pensei comigo mesma.

Ele parou o carro na vaga de deficientes e veio até mim;

— Como vai você? — Perguntou, agarrando meu braço discretamente.

— Você pode me soltar?

Ele riu.

— Não. Vou levar você para passear.

Na última vez em que ele me levou pra “passear”, nosso passeio não terminou muito bem.

— Não tenho que ir a nenhum lugar com você. Desculpe, mas não vou.

— Isso não é um convite, minha querida Belatriz. — Suas sobrancelhas se uniram. — É uma ordem.

Estávamos bem na entrada do meu prédio. Olhei para minha janela do sétimo andar e não vi Jimmy. Aliás, não vi ninguém.

Nesse exato momento entrei no carro de Harry silenciosamente, sem protestar sabendo que de um modo ou de outro, eu poderia morrer nessa noite. Porque se eu começasse a gritar, ou protestar, provavelmente teria um punho bem no meio da minha cara.

— Aquele banho de mar naquela noite foi tão bom, Belatriz. Talvez você devesse nadar para melhorar esse seu alto-astral. O que acha?

— Seria melhor se você me deixasse em paz. — Olhei o pôr do sol e suspirei, desejando não estar ali.

— Nem pensar. — Ele balançou a cabeça levemente de um lado para o outro. — Você vai a outro lugar comigo.

Encostei minha cabeça no encosto da poltrona do carro e observei Harry aumentar a velocidade para 220 km/h.

Enquanto ele dirigia em silêncio, observei sua expressão atentamente, e vou te contar, Harry parecia ter alguém dentro de seu corpo o torturando. Sério, não que ele estivesse possuído e nem nada assim, mas ele parecia um maníaco, como o de um Serial Killer: olhos sombrios, expressão psicótica e uma gargalhada maníaca. Harry é exatamente assim quando está comigo.

Novembro estava quase no fim e a temperatura já tinha caído muito. Atualmente, o clima estava mais frio e por isso, analisei as roupas que estava vestida para ter certeza que conseguiria suportar inúmeras horas no tal lugar que ele iria me levar. Eu estava usando uma camiseta de mangas longas e um casaco médio azul de lã, com uma calça jeans, óbvio.

Olhei para fora do carro, estávamos passando pela estreita NY-22 na beira do mar. Como sempre, ele me levava para fora da cidade para me torturar. Quando vi que estávamos passando embaixo da colina da casa de Jimmy, tentei procurá-la, mas quando ergui meu pescoço, avistei um revólver — não muito grande — no compartimento bem abaixo do volante, onde o celular dele também estava.

— Nem tente fazer nada porque posso usar esse meu objeto que você acabou de ver. — Disse ele, apontando com uma das mãos para o revólver.

Gelei só de pensar que talvez essa noite uma bala daquele revólver poderia perfurar meu coração. Porque, na verdade, eu estava morrendo de medo. Eu tremia de cima a baixo, como um cachorrinho abandonado na rua em uma manhã de inverno. Eu não aguentava pensar na hipótese de que talvez em algumas horas eu pudesse dormir para sempre de forma extremamente cruel e sem explicações.

— Se for me matar, me mate logo.

Ele deu sua gargalhada eletrizante, como se eu tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo.

— Não vou te matar. — Ele manobrou o carro para um píer sem iluminação. — Quero apenas me divertir com você.

Se for a diversão que estou pensando, bem, ele irá levar outro chute “naquele lugar”. Ouvi as madeiras do píer rangerem e percebi que estávamos bem perto do mar, com o carro parado.

— Harry? — Chamei-o, tentando achar seu rosto na escuridão infinita.

— O que é? — Disse, num sussurro mal-humorado.

— Porque você faz isso?

— Porque eu te amo muito.

Suspirei de impaciência.

— Você é um psicopata dos diabos! — Exclamei, explodindo em raiva.

Então ele parou o carro e desligou os faróis. Na escuridão, eu não pude enxergar nada. Mas pude sentir. Eu sentia um buraco imenso no peito, muita raiva e um punho acertando no meio do meu rosto. Isso mesmo. Senti várias cacetadas com o revólver e socos no meu rosto que até perdi a conta de quantos levei.

Primeiro porque minha cabeça girava como um carrossel.

Segundo porque eu sentia tanta dor que estava incapacitada de pensar. Eu só pensava na dor que eu sentia e o quanto queria que ele parasse de me surrar.

Não foi uma surra qualquer como aquela que eu levei há um mês. Essa é pior. Bem pior. É devastadora, devo dizer.

— Esta é nossa diversão, vadia! — Escutei a voz cavernosa de Harry.

Senti o sangue descer pelo meu nariz, pela minha boca e por todo meu rosto. É claro, era uma surra muito bem dada. E para ser sincera, duvido muito que eu saia viva dessa enrascada. Tive certeza disso quando Harry colocou suas duas mãos ao redor do meu pescoço e me sufocou com muita força.

Lutei, claro. Tentei fazer de todo modo para que ele parasse com aquela tortura, mas parecia que nunca ia acabar. Perdi minhas forças e me senti num precipício entre a vida e a morte.

Estava bastante sonolenta quando senti o carro em movimento e entrei em pânico, mesmo sabendo que não existiam mais saídas. Harry havia saído do carro e feito algo para que ele caísse automaticamente na água.

Agora, é apenas o fim.

Sinistro e melancólico.

A água invadiu o carro e eu estava presa no cinto de segurança. Não sei como, mas estava impedida de sair daquele carro.

Foi aí que perdi minha respiração e fechei os olhos, dando adeus ao meu mundo. E pensando uma última vez em Jimmy.

E numa questão de segundos, abri os olhos outra vez. E como mágica, enxerguei nitidamente aqueles olhos verdes e penetrantes olhando para mim.


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