Téo se despediu depois de um tempo, me pedido para ficar calma que tudo se resolveria, mas eu não conseguia me acalmar, a lembrança  de Vargas e Navarro colocando Manuela desacordada dentro de uma van preta e sumindo na noite, a decepção nos olhos da minha irmã antes de sair e o trauma de tudo que vivemos nas mãos de Regina fazia meu coração disparar dentro do peito e a sensação de impotência me assombrava desde então. Ele  me pediu para tentar descansar, mas não era possível, eu ficava imaginando tudo o que Manuela podia esta passando nas mãos daqueles homens, de todo o mal que eles podiam fazer pra minha irmã e não conseguia dormir.  Estava deitada na minha cama encarando o teto quando minha mãe apareceu.

—Tá melhor filha? – ela perguntou e eu neguei, então ela aproximou-se de mim preocupada – Onde dói Isabela?

—Me perdoa mãe – eu pedi ignorando a sua pergunta e ela me olhou confusa – Eu sou a culpada pelo sumiço da Manuela.

—Não diz isso filha, você não tem culpa do que aconteceu – ela acariciou meus cabelos carinhosamente – A briga de vocês e a fuga da Manuela foi uma fatalidade, ninguém é culpado de nada.

—Como você sabe da briga? Não tinha ninguém em casa quando aconteceu.

—O Téo conversou comigo e contou tudo – ela disse e eu fiquei surpresa – Ele me pediu para tentar te convencer que a culpa não é sua.

—Mas mãe eu disse coisas horríveis pra minha irmã, eu magoei a Manu e ela saiu correndo e assim eles conseguiram pegá-la.

—Isabela a culpa não é sua – ela me encarou séria – Você não fez de proposito, não tinha como prever o que houve.

—Se não foi minha culpa por que ta doendo tanto mae? – perguntei perdendo a pose de durona e começando a chorar – Por que eu sinto essa culpa?

—Vem cá – minha mãe disse enquanto me aconchegava em um abraço – Não foi sua culpa meu amor, tira isso da sua cabeça.

—Eu sinto tanta falta dela mãe – eu disse e minha mãe me apertou em seus braços – Não parece que tem menos de 24 horas que tudo aconteceu.

—Eu também me sinto assim Isabela – eu pude sentir a tristeza de sua voz – Mas no meu caso é uma sensação que eu já conheço de algum tempo atrás.

—Eu sinto muito....

—Não começa com o discurso de culpa de novo – ela desfez o abraço e me olhou séria – Promete que vai parar de se culpar?

—Eu prometo que vou tentar por nossa família – eu sorri triste – E principalmente para ter forças para salvar a minha irmã.

Minha mãe sorriu carinhosa para mim e levantou-se dizendo que faria algo para comermos, eu voltei a me deitar encarando o teto, minha cabeça estava confusa e meu coração apertado, mas acima de tudo eu sentia medo e agonia e sabia muito bem que esses eram os sentimentos de Manuela naquele momento. Suspirei me virando e peguei meu celular, iria mandar uma mensagem para Joaquim pedindo ajuda, porém qualquer coisa que eu poderia fazer foi interrompida quando o mesmo começou a tocar.

—Alô? 

—Minha sobrinha querida – era Geraldo do outro lado da linha, eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar – Que saudade de você!

—O que você quer Geraldo? 

—Eu estou com uma pessoa que lembra muito você aqui na minha frente – ele disse e eu gelei - Eu havia mandando os patetas sequestrarem a gêmea rica, mas me trouxeram a gêmea que sofre com mais facilidade, não é irônico isso? 

—Para com a conversa e diz logo quanto você quer para deixar a minha irmã em paz! 

—Dessa vez a sua grana não é o alvo do meu interesse – aquela afirmação me deixou confusa – Eu quero o totem de ouro que a sua amiguinha desenterrou no Vilarejo o mais rápido possível. 

—Eu nem sei onde está esse totem Geraldo – eu disse tentando não parecer desesperada – Me diz um valor, qualquer que seja. 

—Eu já disse o que eu quero minha querida – ele respondeu calmo – Pergunte ao seu papaizinho, talvez ele tenha alguma informação importante para lhe dar. Eu entro em contato novamente. 

Ele desligou e eu fiquei mais desesperada do que antes, eu sabia muito bem do que Geraldo era capaz e temia pela vida da minha irmã. Ao mesmo tempo a volta de Mauricio começou a fazer sentido, ele queria o totem e aproveitou para causar discórdia na minha família. Meu celular vibrou indicando que eu havia recebido uma mensagem, o numero era desconhecido, mas a pessoa que estava naquela foto eu conhecia muito bem, era a minha irmã amarrada em uma cadeira de um lugar imundo com feições desesperadas e logo abaixo a legenda: “Cada segundo que você demora é um segundo a menos que sua irmãzinha tem de vida”. Ver Manuela naquela situação aumentou consideravelmente o aperto que eu sentia dentro do peito e as lágrimas se formaram em meus olhos, mas eu não as deixei cair, chega de ser a menina que fica em casa chorando, tá na hora de voltar a ser a Isabela de sempre que toma as rédeas da situação e resolve tudo. Sai da cama com um pouco de dificuldade e fui até o guarda-roupa, eu precisava me vestir e ir atrás de Mauricio para saber o que ele tinha a ver com aquela historia toda. Minha mãe retornou ao quarto quando eu já acabava de colocar a jaqueta e me olhou surpresa.

—Isabela você deveria estar na cama filha – ela disse preocupada colocando a bandeja com os lanches encima da cama – Você tem que descansar.

—Eu já fiquei muito tempo nessa cama chorando e descansando mãe – eu disse enquanto pegava o meu celular e colocava na mensagem que eu recebi – O Geraldo ligou, ele tá com a Manuela e quer o totem e me mandou essa mensagem de ameaça.

Mostrei a mensagem para minha mãe que arregalou os olhos enquanto lia a legenda, eu sabia que seria um baque para ela, mas eu precisava mostrar que não tínhamos muito tempo.

—Como esse homem é capaz de uma coisa dessas?

—Acredita em mim mãe, ele é capaz de muito mais.

—O que faremos agora? – ela estava desesperada – Como vamos salvar a Manuela?

—Simples – eu disse enquanto a puxava para fora de casa – Vamos conversar com o seu ex-marido.