Cor do Pensamento escrita por Monique Góes


Capítulo 5
Capítulo 4 - Cerimônia de Entrada


Notas iniciais do capítulo

O capítulo do Jim que deveria ser antes do Near, mas enfim.
Espero que gostem!



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Capítulo 4 – Cerimônia de Entrada

Jim nunca gostava de ir para escolas novas.

E agora, a perspectiva de ir para uma escola nova, com todo o negócio de “príncipe” acontecendo, ele não estava muito animado – ao contrário de Michael -, assim, quando primeiro de setembro se aproximava, a vontade de ficar em casa aumentava.

Mas... Ele acordou com as cachorras de sua mãe, Fräulein e Quianna, o atacando. Uma lhasa apso cor de areia e uma maltês, respectivamente, ambas de pelo tosado e vestidinhos, além de lacinhos mantendo seus pelos afastados dos olhos.

— O quê...? Argh, parem!

Sentou-se, obrigando as duas a saírem de cima dele, pulando na cama e se sentando ao chão como perfeitas ladys. Claro, se não contasse os rabos abanando.

Viu sua mãe na porta do quarto. Explicara também como as duas haviam invadido o lugar.

Haviam passado o resto das férias morando com Annelise, de volta à mansão Rockstone. No começo, achava que seria uma experiência estranha: não possuía nenhuma recordação dela do tempo em que moravam juntos, e Melissa acabara sendo a figura materna de toda a sua vida – mesmo admitindo que ela não fora a melhor.

Depois de não saber o que fazer no momento do encontro inicial, em que ela caíra no choro... Fora bem mais fácil do que pensara, aliás. O fato de que Melissa não os deixava chamarem-na de mãe – foram acostumados a chama-la pelo nome desde cedo – talvez ajudara. Annelise se interessava por absolutamente tudo deles, mas não ficava os rodeando ao ponto de sufoca-los.

— Mãe...? Eu perdi a hora? Não me diga que eu perdi a hora...

— Não, você não perdeu. – ela riu. – Eu vinha lhe chamar para que desse tempo de fazer tudo com calma, mas parece que elas já fizeram isso por mim. Tome café antes de vestir o uniforme para não sujar nada!

 Acatou a sugestão. Foi tomar banho e vestiu as roupas que usara na roupa anterior para só depois de tudo estar pronto usasse o uniforme do Instituto.

Esfregou os olhos. Aquilo era tão esquisito. Quando foram “convidados” a entrar no Instituto, marcaram uma avaliação para os garotos para testarem suas habilidades e controle mágico. Nada que alguns dias treinando com Vincent não ajudasse, mas o problema se tornara o fato que... Não tinha matéria para eles. Tanto ele quanto Michael usavam magias que até então eram inexistentes, o professor que o avaliara inclusive o encarava como se fosse um ratinho de laboratório que ele adoraria fazer experimentos.

No fim, consideraram que Jim entraria com uma aplicação maior para Sombras e Michael uma aplicação maior para Água. No caso do mais novo, ele tinha um talento absurdo para alguém da idade dele, e segundo as regras, ele não poderia entrar no nível avançado antes de ter uma idade mínima de quinze anos.

Jim conseguira entrar para o nível avançado tranquilamente. Agora teria que se virar para aprender magia das sombras, porque ela ainda era diferente de magia de escuridão. Aquele seria considerado seu elemento principal, e poderia aplicar para aprender outros também, e os horários eram divididos em história, geografia, filosofia, sociologia, algumas matérias a mais que não prestara atenção, aulas práticas e educação física. Aliás, era a primeira vez que se sentia remotamente interessado por educação física porque algumas das submatérias – elegíveis – eram hipismo, arquearia, esgrima... Bem mais interessantes.

Bateu em Niflheim para ele acordar. O familiar estava dormindo de pernas para cima sobre a sua cama.

Saiu no corredor e olhou para ver se Vincent não estava em nenhum lugar à vista. Cortara o cabelo, tanto porque já estava quase começando a bater no início de seu ombro quanto pelo fato que o antigo comprimento ficava estranho com a parte raspada na lateral de sua cabeça, que ainda estava crescendo. Como estava curto, ele sabia que o seu irmão mais velho iria lhe dar um tapa na nuca. Ele sempre fizera aquilo quando cortava o cabelo, então estava fugindo dele desde o dia anterior.

Tudo limpo, desceu para ir tomar café. Sua mãe, Michael e Ártemis estavam lá, enquanto as cachorras brincavam com uma corda de brinquedo.

Ártemis era sobrinha deles. No caso, ela era uns meses mais nova que Jim, mas era mais velha que Michael, mas apesar disso, ela tinha praticamente a mesma altura de Vincent. Pálida, seu rosto era meio corado e repleto de sardas, com sobrancelhas finas e maquiavélicos olhos de um violeta acinzentado, o cabelo preto e sedoso batendo em sua cintura podendo muito facilmente se passar por ser sua irmã – sim, os dois eram parentes, mas eram um tanto parecidos demais... - E ela se divertira nos últimos dias, pulando sobre ele para acordar e lhe dando sustos quando menos esperava.

Ela lhe deu um sorriso suspeito na hora em que sentou, e logo depois sentiu o tapão na nuca.

— Ai! – escutou Vincent rindo e suprimiu a vontade de xinga-lo na frente da mãe deles por cima da risada de Michael. Para vinga-lo, as cachorras começaram a latir e a puxar a barra da calça do mais velho. – Você estava se escondendo?!

— Não, acabei de chegar. – ele disse, se sentando. Quianna continuou a “ataca-lo”, latindo para ele com o rabo abanando, Fräulein desistiu, preferindo ir pedir comida para Michael.

Bufou, começando a comer. E provavelmente comeu mais que o necessário, mas estava nervoso. Pelo menos não era como Michael, que quando ficava nervoso, começava a rir. Pela janela, dava para ver Morrígan nadando no lago, apenas o pescoço para fora, como um perfeito monstro do lago Ness. Não sabia onde os outros dragões estavam.

Quando terminou, quase tropeçou em Poppy, a elemental de Michael, que parecia uma alpaca de pelúcia, seu pelo feito de neve e deveria ter menos de meio metro de altura, soltando névoa gelada por onde passava saltitando. Aalis estava na porta, tagarelando alguma coisa sobre como aquele dia era importante, porque eles estavam entrando no Instituto, menos Vincent. E sabia que havia alguma indireta ali no meio para ele. A idosa e a sua mãe estavam sendo discretas, mas totalmente claras quanto aquilo, e estava sendo bem engraçado, na verdade. Sabia que ele tinha uma aversão quanto às pessoas o tratando como príncipe, e aquilo seria bem difícil de evitar caso ele entrasse na instituição.

Mas na situação atual, ele teria que trabalhar para reverter aquilo.

Voltou para o seu quarto, arrumando a cama – sentia-se mal deixar tudo para os empregados, mas mesmo assim, em algum momento quando entrava, era visível que alguém a arrumara muito mais caprichosamente – antes de escovar o dente e ir encarar o uniforme.

Era esquisito vestir alguma coisa tão formal, e a mãe deles insistira em fazer tudo sob medida. Algo lhe dizia que ela provavelmente mandara tudo em materiais que não queria nem saber qual fora o preço final daquilo. Ele era composto por calça, suspensórios, camisa branca e sapato social estilo Oxford, colete, gravata e terno com o brasão da escola. Tivera que aprender a fazer nó de gravata apenas para aquilo e tecnicamente, sua gravata deveria ser da cor do curso, mas... Como era de uma família nobre – tudo bem, não apenas nobre -, poderia ir com a cor oficial de sua família, por cima de tudo ia uma capa de lã simples e preta. Como estava no ensino avançado, a sua tinha um capuz, ao contrário da Michael não possuía, e ele tinha que complementa-la com um chapéu.

Como era a cerimônia de abertura, aquele o dia em que teriam que ir perfeitamente alinhados e arrumados. Segundo sua mãe, nos outros dias os estudantes eram um pouco mais desleixados, mas ainda assim eram obrigados a usar todas as partes do uniforme.

Havia um certo problema com Southcrown, que era o fato do lugar ser frio. O outono ainda nem chegara, mas os dias já estavam fazendo em torno de treze, catorze graus, assim, provavelmente usaria luvas também.

Bateram em sua porta quando amarrava os cadarços.

— Posso entrar? – sua mãe perguntou.

— Sim, eu já estou quase pronto.

Ela entrou, e havia trocado de roupas, se arrumado melhor, porque também iria com eles, e aquela seria a primeira aparição pública que faria em treze anos. Mas, bem, não seria como rainha, e sim como mãe deles, já que também era um costume os pais comparecerem à cerimônia de abertura.

Annelise usava uma saia vermelha rodada, de cintura alta, que chegava até um pouco depois de seus joelhos, e uma blusa branca com a barra para dentro da outra peça, além de saltos altos pretos. Ela tinha aparência jovem – considerando que nas férias encontrara pessoas como Lorde Macbeth e Saga -, em torno do meio dos seus vinte anos. Uns vinte e seis anos no máximo, seu cabelo preto, com uma única mecha grisalha, estava preso num coque baixo, propositalmente bagunçado com alguns fios ondulados escapando dele.

... Pensando bem, ele só conseguia se lembrar dela usando penteados daquele jeito. E no mês e meio que vivera com sua mãe, também não se lembrava dela usando calças em nenhum dia.

— Deixe-me ver... – ela se aproximou e acabou ajeitando a gravata que estava um tanto torta, o que poderia ser um tanto relevado, já que ainda terminaria de arrumar alguns pormenores. – Você tem certeza que nunca usou gravata antes? Está certinho.

— É, pelo menos isso.

— Está nervoso?

— Bom, sim. Depois dos dragões na praça, acho que as pessoas têm mais alguns motivos para nos encararem hoje.

Ela riu.

— Bom, aqui. Tem a pasta do Instituto. – ela lhe passou uma pasta retangular de couro cujo fecho era o símbolo da escola, um pavão com a sua cauda aberta, e suas penas representavam as disciplinas. Além de provavelmente mais coisa, mas Jim não sabia. Normalmente acharia estranho o símbolo de alguma coisa ser um pavão, mas depois de pesquisar, descobrira que na heráldica, eles eram associados à beleza, poder, conhecimento, e que os “cem olhos” de sua cauda representavam a onisciência. Assim, no fim, parecia apropriado. – Pode não parecer muito larga, mas é encantada, então cabe mais coisa do que aparenta. E... Isso.

Ela lhe estendeu uma caixinha preta, fazendo Jim franzir o cenho.

— É um costume dar presentes para os filhos quando eles conseguem entrar no Instituto. Isso era do seu pai, mas acho que você vai gostar.

Abriu e sobre veludo azul escuro estava um relógio de bolso. Mas não era qualquer relógio de bolso, ele era de prata, em formato de um crânio. Para abri-lo, teve que abrir sua mandíbula e nela estava o visor do relógio, de madrepérola, os números em algarismos romanos e ponteiros prateados. Quando o fechou, percebeu que as bordas juntas apareciam nos globos oculares, fazendo parecer que os olhos da caveira estavam fechados.

Uau. Espera, isso era do meu pai?

— Ele adorava essas coisas. – ela riu. – Ele estava com esse relógio quando eu o conheci, aliás.

Aquele relógio era beeeem antigo então. O casamento de seus pais durara mais de cem anos.

— Obrigado, isso é... Eu não sei falar o que isso é. Mas eu gostei!

Annelise pareceu ficar feliz com aquilo, e o ensinou a como por o relógio no bolso do colete, e a prendê-lo num dos botões. A corrente era fina e tinha um pingente em forma de uma mão de esqueleto. Nunca nem passaria na sua cabeça que seu pai usaria uma coisa daquelas.

No final terminou de se arrumar, pondo o terno e a capa, e as luvas de couro pretas que tinha ganhado também. Pôs o material dentro da pasta, que eram dois cadernos sem pauta, canetas tinteiro, a tinta lacrada – dois frascos de duas cores diferentes -, bloco de notas, envelopes em vários tamanhos e a cera e o sinete para lacrar trabalhos. Quase não acreditara quando ouvira aquilo, ter que selar trabalhos. Além de um isqueiro para derreter o bastão cera.

Niflheim finalmente acordara e o seguiu pelos corredores. Viu Michael morcegando com a sua pela sala, Poppy estava deixando uma crosta branca em sua capa. Vincent estava sentado no sofá, com Fräulein em seu colo.

— Onde está a Ártemis?

— Deve estar terminando de se arrumar. Ainda estamos adiantados mesmo.

— E a Poppy está deixando... Gelo, neve? Na sua capa.

— Quê? Poppy! – exclamou indignado, mas a Elemental apenas o olhou. Ela era uma coisinha fofa, mesmo que Jim nunca admitisse. E fora engraçado quando Niflheim fora cheira-la e ela cuspira nele.

Virou-se para Vincent.

— Você realmente não vai?

— Tirando a nossa mãe e a Aalis me lembrando a cada meio segundo que eu não estou no Instituto, e... Tudo. Não.

Acabou rindo. O chapéu do caçula estava jogado no sofá, e a lhasa apso estava de pernas para cima sobre as pernas de Vincent. Acabou indo coçar a barriga dela, que agitou uma das patas traseiras em resposta.

Não demorou muito para Ártemis descer junto com Annelise, seu uniforme praticamente idêntico ao de Jim, tirando que era mais adequado ao seu corpo e ao invés de calças, ela usava uma saia lápis e meias calças pretas. Fora isso, até os sapatos eram iguais. Ela havia trançado o cabelo preto, caindo por seu ombro.

A sua mãe pegou um casaco comprido preto, e quando saíram, o vento frio bateu em seu rosto de modo que agradeceu o número de roupas que usava. Aquilo era loucura, tecnicamente, o outono começaria apenas no dia 22 de setembro!

Bonaccorso abriu a porta do carro para eles entrarem, então logo estavam a caminho dos institutos. E claro que estava nervoso. Claro.

No caso, as escolas ficavam ao norte da cidade. Embora tecnicamente o Instituto Lorde Alphonsus e o Instituto Lady Enguerrand fossem duas instituições diferentes, pelos seus horários via que em vários momentos teria que se deslocar para outro campus, e provavelmente teria aulas mistas com as alunas. A rigidez do masculino/feminino só era aplicada em algumas aulas do avançado, e no caso de Michael, no básico, onde ele teria aulas somente no masculino na Torre – que existiam em ambas as escolas.

Também tecnicamente, eram dois internatos. Na prática, quem possuísse casas ou entrassem em repúblicas na cidade poderiam ser dispensados de morar na escola. Mas pelo número de alunos, ainda havia muita gente morando no lugar, pois, querendo ou não, era o melhor lugar para se receber educação formal sendo bruxo.

Era bem fácil vê-los quando estavam chegando. Ambos eram palácios, praticamente cidades, lado a lado. O local da cerimônia seria o extenso jardim que os separava.

E sim, tinha muita gente. Era visível logo no momento em que passaram próximos aos portões, e havia uma fila imensa de carros, além de muitas figuras de preto indo a pé mesmo. Deram a volta, porque poderiam usar a entrada dos diretores, que era guardada por vigias. Os portões de ferro fundido abriram sozinhos, e não demorou muito para ver tanto Seth quanto Elysandra. Ela estava sentada, e sua barriga já crescera o suficiente para que não fosse possível esconder sua gravidez. O enjoo matinal já passara também, assim ela já não aparecia mais nos lugares meio verde.

Ele estava bem diferente de quando o vira pela primeira vez, usando uma capa que apenas o reflexo do sol revelava que ela era na realidade, azul, não preto. Tudo estava perfeitamente passado, no lugar, os cabelos platinados arrumados e os sapatos engraxados. Elysandra usava um vestido comprido, cor de lavanda, que evidenciava bastante a sua barriga. Ela estava claramente usando o casaco de Seth.

—... Eu não consigo usar nada mais colado, e salto alto me faz ter medo de cair! – escutou-a reclamando quando saiu do carro.

— Ellie, eu só perguntei como você esqueceu a sua capa.

— Esquecendo, ora!

— Certo, desculpa, você não pode conjura-la ou...

Ela lhe lançou um olhar que o fez se calar.

— Ok, nós vamos busca-la.

— Olá. – Sua mãe cumprimentou quando se aproximaram, fazendo os dois a olharem.

— Prontos para o primeiro dia de aula? – ele perguntou.

Os três ficaram em silêncio.

— Não se preocupem, não somos carrascos. Quer dizer, não tanto. Depende do que vocês fizerem. Já explodiram tantas vezes as fiações nas áreas práticas de eletricidade que fica difícil de realmente se importar.

— Sabe, em todos os lugares em que eu vi algum aluno sendo parente de algum funcionário da escola, sempre dá alguma confusão. – Ártemis disse apenas.

— É... Considerando que podemos falar diretamente com a mãe de vocês sem precisar de qualquer formalidade.

Passou pela cabeça de Jim todas as merdas que ele poderia fazer na escola. Tudo com sua mãe fora agradável até o momento, mas ele tinha certeza de que não gostaria de vê-la brava. Ver seu pai com raiva já fora assustador o suficiente. Também tinha a consideração que os dois poderiam não só brigarem com ele como diretores, mas também como tios.

Caramba.

Como ainda faltava em torno de uma hora para o início da cerimônia, os dois foram buscar a capa de Elysandra, enquanto eles seguiram para o jardim.

Tanta gente olhando para ele foi enervante, para dizer o mínimo.

Não só ele, já que os quatro ali representavam o que tinha sobrado da família real, junto com os diretores. Tinha o sumiço de treze anos – tanto deles quanto o da rainha -, e o fato que o mundo só soube que eles estavam vivos por que Freyr perdera o controle do voo e caíra bem no meio da cidade. Era só respirar fundo e fingir que não era para ele, e sim, talvez... Um palhaço dançarino só de cueca atrás de si.

Bom, tinha muita gente com animais familiares, mas... O dele era o único cujo pelo parecia uma névoa preta e tinha olhos azuis brilhantes. Poppy praticamente brilhava no sol, mas felizmente ela não estava saltitando, assim, não congelava pernas desavisadas.

Avistou René. Na realidade, avistou o irmão gêmeo dele, Éloi, que tinha o cabelo prateado, ao contrário do outro, cujo cabelo era quase castanho. Como era difícil se comunicar com René – depois avistado próximo a uma mulher de cabelo castanho claro - e não conhecia o irmão dele, decidiu ficar quieto.

Precisou mais de um dez minutos para avistar a sua ursa preferida. Ok, ela o avistou porque correu até ele, atropelando um bando de adolescentes entre doze ou treze anos, a coroa de ramos brilhando na sua cabeça.

— Mhairi! – exclamou quando ela pulou sobre ele, suas patas em seus ombros, tanto Michael quanto Ártemis pulando para os lados. Jim tinha força o suficiente para aguentar seu peso, mas mesmo ela tendo os salvo no Túmulo... Um urso pulando sobre si ainda era assustador. Ela rugiu, mesmo que baixo, bem na sua cara. – Ok, ok, estou feliz em te ver também!

Não demorou muito para Victoria aparecer também, logo quando Mhairi decidiu sair de cima dele. Ela olhou para Jim, olhou para a pequena plateia e para a rainha que estava olhando a situação sem entender. Então deu meia volta e sumiu na multidão, fazendo Jim dar uma risada seca.

A ursa virou na direção em que a ruiva havia sumido e reclamou, algo que parecia um “eu vi você aí!”, mas não saiu do lado de Jim, apesar do olhar frenético que Freyr lançava a ela.

— Mãe? Eu vou falar com uma... Amiga que é a dona da ursa, ok?

— “Amiga”? – Michael perguntou com um sorrisinho. Acertou-lhe um chute antes de Mhairi sair na frente, o guiando como a boa bússola que era.

Encontrou Victoria bem mais à frente, com Akinyi e Stephania. Ela estava quase da cor dos cabelos.

— Como assim ela pulou nele na frente da rainha? – Ouviu a negra questionando. Seus cabelos estavam trançados e presos em dois coques, um de cada lado da cabeça. Stephania estava com o cabelo cortado curto, na altura dos ombros, e parte dele estava trançado como uma coroa.

— Você! – Victoria apontou para Mhairi. – Você tinha que me fazer passar vergonha de novo, não tinha?!

Jim riu quando Mhairi reclamou de novo. Depois Victoria foi dar um abraço nele.

Eles haviam se falado nas férias. Por celular, mas haviam. Assim como falara com Ameen e Anastasiya, e Stephania, que como era prima dele, ela apareceu de vez em quando com a mãe dela.

— Argh, você ficou mais alto?

— Hã... Não sei. Talvez?

Antes de falar qualquer coisa, alguém trombou nele, pegando-o de surpresa. Só viu um garoto de pele castanha se estatelando no chão. A capa parecia um pouquinho grande demais para ele, e o seu cabelo, apenas alguns tons mais escuros que sua pele, além de ser todo assimétrico e repicado – e estava uma bagunça.

— Você está bem...? – Perguntou.

— Eos? Você...

O garoto levantou num pulo. Seus olhos amendoados eram prateados. Muito prateados, quase como faltasse pigmentação neles. Suas pupilas estavam dilatadas como se ele houvesse passado a conta de cafeína, e ele atropelou em suas palavras enquanto falava:

— Me desculpe, eu-eu vo-vou eu... Eu esqueci!

Então saiu correndo.

— Ele é fofo. – Akinyi riu.

— Quem é ele?

— Eos Hakidonmuya. – Ela respondeu. – Ele é um dos bolsistas, e ele vive correndo pelo campus. Normalmente porque esqueceu alguma coisa. É bem fofinho, na verdade.

— Você consegue pronunciar o sobrenome dele? – Stephania perguntou admirada.

— Phania, querida, praticamente ninguém consegue pronunciar o meu sobrenome. Então por questão de empatia, eu aprendo a pronunciar os nomes esquisitos de pessoas que eu conheço.

Jim e Victoria se entreolharam. Bom, nenhum dos seus dois nomes e sobrenomes eram esquisitos, então... Realmente, não sabia qual era aquela sensação.

— E vocês dois são tão fofos assim, dá até vontade de tirar uma foto.

Então ele percebeu que ainda estava com o braço envolta dos ombros dela. Victoria deu uma risadinha sem graça quando tirou rapidamente, mas Mhairi, como a boa ursa que era, empurrou sua dona com o ombro, fazendo-a tropeçar mais para perto de Jim.

— Mhairi! Sério?! – ela exclamou por cima da risada alta de Akinyi. A ursa a encarou com um olhar cético.

— Até a ursa! – Akinyi exclamou, antes de sair dando risada.

— É... Eu vou deixar vocês dois sozinhos. – Stephania disse antes de seguir a outra.

Claro que não demorou muito para os dois caírem num silêncio constrangedor. Um era pior do que o outro. E não ajudava muito o fato que de vez em quando sentia alguém olhando para ele.

A ursa virou, parando de frente aos dois, e rugindo. Não sabia se era a sua cabeça, mas era quase como se ela quisesse que os dois se pegassem, o que não era o tipo de coisa que ele se sentia muito confortável fazendo.

— Mhairi, é sério, para de me fazer passar vergonha!

Ela bateu com as patas no chão, parecendo impaciente. Tinha uma ursa jogando um para cima do outro. Algo absolutamente normal que com certeza deveria ter passado na cabeça de Jim alguma vez na sua vida com toda certeza.

Ela deveria estar se lembrando do beijo no Túmulo. Nem passara na sua cabeça que ela poderia interpretar e reconhecer uma coisa daquelas... A menos que ela tivesse uma condição semelhante à dele e Morrígan. Aí, as coisas ficavam um pouquinho mais constrangedoras.

— Ok, Mhairi, esse não é o melhor momento, tipo, tem pelo menos centenas de pessoas aqui agora e se formos fazer algo do tipo, os dois são meio tímidos demais para fazer isso no meio de tanta gente...

A ursa o encarou.

— Espera, você está dizendo que há uma... Probabilidade de alguma coisa acontecer?

— Talvez. – respondeu, e Mhairi pareceu ficar remotamente satisfeita, o que lhe fez se arrepender, pois tinha certeza de que ela iria cobrar depois. Victoria começou a ficar vermelha em resposta.

Mas então a cerimônia começou, e tiveram que ir atrás de suas respectivas famílias, e só no caminho que começou a se dar conta do que havia dito. As pessoas olhavam para ele, cochichavam e apontavam como se tivesse três olhos. No caminho encontrou Ameen com sua mãe, uma mulher indiana com um sári com de menta, mas passou direto.

Precisou da ajuda de Niflheim para encontrar a sua mãe.

— Onde você estava?! – ela exclamou.

— Eu fiquei praticamente no mesmo lugar que fui, vocês que andaram!

— Hm... – Tanto Michael quanto Ártemis estavam com sorrisinhos suspeitos para ele, que decidiu ignora-los.

Os diretores estavam sobre uma espécie de palco junto com todo o corpo de docentes da escola, e eram mais de trinta. Os dois falaram sobre como mais um ano se iniciaria, que os estudos eram primordiais para o mundo bruxo... Sinceramente, mesmo querendo prestar atenção, Jim normalmente apagava em discursos, então quando deu por si, estava mais concentrado em como havia um corvo voando em círculos sobre a fonte da escola do que estavam falando. Sentiu Ártemis o cutucando nas costelas, fazendo-o pular.

— Acorde! Estão indicando os professores para irmos para as nossas alas!

— Ahn? – sentiu o olhar reprovador de sua mãe. – Ah, ok.

Iniciantes no nível avançado de Sombras deveriam seguir com o professor Jericó Toledo para ir aos jardins do Lady Enguerrand, onde haveria a distribuição dos horários... E os trotes.

Maravilha. Nem entrara na faculdade e já tinham trotes? Com certeza, estava morrendo de vontade daquilo acontecer.


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