Cor do Pensamento escrita por Monique Góes


Capítulo 4
Capítulo 3 – Acordo nas Tumbas


Notas iniciais do capítulo

Bom, agora deveria ser o capítulo do Jim, massss.... Eu travei, então pulei pro Near. O que é meio ruim, porque o capítulo dele é o primeiro a ser aberto para continuação, mas que se dane, aproveitem esse lindo Gaheris Almishak aqui.



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Capítulo 3 – Acordo nas Tumbas

Haydée chegou quando Near havia conseguido vencer Sirius pela primeira vez.

O lobisomem havia sido encarregado de ensina-lo a se defender. No caso, ele estava primeiro o ensinando a usar os cajados, porque era o tipo de arma que em 90% dos casos em que precisasse se defender, e por algum motivo acabasse impedido de usar magia, ele era por três coisas: ser usado como bastão, a lâmina de sua ponta ou ainda, se tivesse algo na outra extremidade, poderia usa-la para golpear.

Tecnicamente falando, o sangue que bebera em sua coroação apurara a grande mistura que ele era – gerações e gerações de casamentos com vampiros, lobisomens, necromantes, e... Segundo algumas fontes, concubinas meio demônios -, para que tivesse habilidades mágicas e físicas superiores.

Tirando a parte da magia – que ainda era cargo de Gripus -, o resto era encargo de Sirius, um lobisomem alto, musculoso e a pele tão negra quanto ébano. Ele usava um brinco de presa na orelha esquerda e seus olhos prateados eram praticamente incrustáveis. Ele não só também tinha a força de um caminhão, mas ele batia com aquela força. Os primeiros dias não foram muito divertidos.

Naquele dia conseguira acertar sua lateral e as suas pernas, fazendo-o cair no chão e ficar por lá tentando respirar. Mas Near não estava em condições de comemorar sua vitória, pois estava preocupado demais tentando respirar com a própria dor.

Escutou Haydée pigarreando atrás de si, fazendo-o finalmente percebe-la no recinto.

— Creio que não estou incomodando. Sirius, posso falar a sós com o príncipe Gaheris por alguns momentos?

— Sem problemas. – Sirius bufou e Near o ajudou a se levantar. – Continuamos a nos matar depois.

Ele saiu do lugar passando a mão no lugar onde batera, e Haydée estava com a expressão de quem queria revirar os olhos, mas não poderia. O loiro não estava em seu momento mais glorioso, estava encharcado de suor, grudento, provavelmente fedia, e dava para ver com clareza as marcas roxas e amarelas que os treinos lhe renderam.

— Haydée? Algum problema? Nenhum magistrado foi assassinado de novo, por favor, me diga que não.

Desde o final do reinado do seu pai, estava havendo uma série de assassinatos a magistrados da Assembleia. Claro que Near ia ter que se virar com aquilo agora. Vira que haviam preso um suspeito, mas não ouvira mais nada além disso.

— Não, e eu espero que nenhum outro seja. Eu vim falar de outra coisa, e como acabou se tornando um assunto bem urgente, é por isso que eu estou aqui suportando esse cheiro de suor e cachorro molhado.

Qualquer lugar que juntasse um lobisomem mais exercícios físicos por um período prolongado de tempo acabava com aquele cheiro. Near acabara se acostumando.

Pegou o cajado que estava usando do chão. O que recebera das sacerdotisas era o tipo de coisa que usaria em ocasiões especiais, como aparições públicas em eventos formais, portanto, usava outros... Descobrira que seu avô tinha um sério vício em ter os mais variados de cajados de todos os tipos, formas e tamanhos, e que seu pai não se livrara deles, além de poder encomendar alguns para si próprio.

Sinceramente, mesmo depois de purificar o cajado que pegara emprestado, ficara uma sensação esquisita. Aquilo não fora feito para ele e era quase como se o cajado soubesse daquilo, lhe lançando uma energia esquisita que não o deixava confortável. Por isso... Acabara encomendando outro. Quando ele simplesmente mencionara o fato, praticamente jogaram em sua cara uma lista de todos os ferreiros mais recomendados para fazer aquele tipo de coisa e tinha umas vinte pessoas tentando lhe dizer quem elas achavam melhor.

No fim, ironicamente, escolhera que Tabitha Locilus o fizesse. Os vampiros eram considerados os melhores artesões e ferreiros existentes, pois a habilidade de concentração deles era sem igual... E era ironicamente porque Tabitha tinha apenas 14 anos.

Certo, cento e quarenta e seis anos na verdade, mas ela era considerada um dos maiores prodígios que tinham no momento. Decidiu dar uma chance. Faltava o cajado chegar.

— O que houve?

— Bom, sobre o assunto em que seu conselho chegou a um consenso.

— Oh sim, a novidade. Como eles concordaram que a família imperial está muito enfraquecida. Que eu sou o único Almishak atualmente, e com o aumento do poder de Amabosar, que tem ligação direta com o que aconteceu, você com certeza deve ser alvo prioritário, junto com os príncipes Rockstone que reapareceram.

— E essa é a questão: É bem provável que, se perdermos você, o império cai. De vez.

— Muito animador da sua parte Haydée.

— Estou sendo realista. – ela se defendeu. – O que eles entraram em um consenso é que precisamos de... Alguém, que possa ter olhos em todos os locais, por assim dizer.

Near franziu o cenho.

— A guarda é eficiente, mas eles se mantêm em seus postos e muitas vezes têm visões limitadas. Precisaríamos de quem possa se infiltrar, coletar informações, e talvez... Realizar algumas execuções discretas. No caso, seriam muitas pessoas, então o que concordamos que eu precisaria de um espião-mestre. Claro, por que não?  Mas voltando ao velho costume, nenhum deles chegou a um consenso sobre quem seria o espião.

— Claro que não. É sobre isso que vim falar com você. – Ela suspirou. – Eu não sou parte do conselho e eles não gostam de mim porque acham que eu possa influencia-lo...

— No caso, você vai tentar me influenciar.

— Sim, dessa vez sim, mas escute. Lembra-se que antes de sua coroação, conversamos sobre Zarya Tinea?

— A viúva de Fausto Tinea? A única meio demônio com posses e tudo mais?

— Ela mesma. Pois então, um dos melhores lugares para se comprar, pegar informações, querendo ou não, é o Submundo.

Near já ouvira aquilo diversas vezes desde que tudo começara. O Submundo era referido como sendo as periferias onde os meio-demônios costumavam viver. Normalmente, no subsolo, esgotos, docas clandestinas, existiam todos os tipos. Era onde se concentrava o tráfico, ladrões e assassinos de aluguel e prostituição. Vira que de vez em quando o policiamento invadia uma área do Submundo e saia prendendo todos que estavam por lá. Prender era a coisa mais gentil que eles faziam, na verdade.

— Algo não me surpreende.

— O que as pessoas não sabem realmente, mas suspeitam, é que Zarya conseguiu armar um pequeno império para si no Submundo, com venda de informações, agentes treinados e tudo mais. Lá, eles a chamam de a “viúva das mariposas”. Ela é bem respeitada, aliás.

Cruzou os braços.

— Deixe-me ver, o que você está tentando-me dizer é que, caso eu escolhesse um espião- mestre lobisomem, vampiro, unicórnio, sei lá, poderíamos ter algum sucesso, mas tendo Zarya que tem um melhor acesso ao nosso mundo do crime, poderíamos acabar nos saindo melhor?

— Exatamente isso. Claro que ela nem passou como possibilidade pelo conselho.

— E você veio com pressa. Deixe-me adivinhar, você já arranjou as coisas com ela ou algo do tipo.

— Sim.

Era o esperado. Ainda tinha um “tantinho” de desconfiança com Haydée pelo combo “64 anos numa caixa + você é um príncipe, seu pai está morrendo, vamos coroa-lo!”, mas ela ainda não o pusera em uma roubada sem tamanho. Ela não era um membro do conselho interno, e eles não gostavam da história que ela tinha com Near, mas ele a considerava como uma voz a mais de vez em quando. Os membros normalmente viam muito por seu lado e interesse – lobisomem, vampiro, amaldiçoado e etc. -, e Haydée normalmente era quem tinha uma vista de fora. Não que concordasse sempre com ela.

— E... O que você fez?

— Falei com Zarya e vocês podem ter alguns interesses em comum. Ela quer falar com você. A sós. Em Palermo.

Não era lá tão longe. Era apenas no mundo “normal”. O império, ou melhor dizendo, a entrada mais utilizada para o império, era localizado numa ilhazinha não identificada no mar Tirreno, entre a Itália e a Sicília.  

— Em que lugar de Palermo?

— Ela apenas disse na Catedral. – respondeu. – É irônico, mas é bem fácil encontra-la perto, ou dentro mesmo, de igrejas. E quanto a ir sozinho... Mesmo que seja perigoso, é o melhor a se fazer. Se mais alguém entrar lá com você, ela provavelmente vai saber antes de por os pés na Catedral.

— Não pode ser uma armadilha ou coisa do tipo?

— O marido dela sumiu num suposto ataque de Amabosar. Não creio que ela trabalharia para ele. Esses são os pedidos normais dela, aliás.

Poderia muito bem desistir de tudo aquilo e esperar para conversar com o conselho interno. Seria uma bagunça, só teria mais alternativas...

Só que lhe parecia importante porque das últimas vezes, Haydée lhe dava apenas sugestões, enquanto agora ela realmente estava lhe arranjando alguma coisa. E por mais sujo que pudesse parecer ter que se envolver com o Submundo, sendo que tecnicamente deveria ser contra ele, apenas um idiota ignoraria algo como aquilo.

— Certo. – suspirou. – Eu vou para Palermo. Não vai demorar muito mesmo, está cedo, posso fazer isso agora mesmo. Mas como ela é, antes de tudo?

— Baixa, cabelo preto, bem branca, olhos azuis. Provavelmente não vai estar vestindo algo condizente com uma igreja.

Assentiu antes de sair.

Foi tomar um banho, trocando então as primeiras roupas normais que usava em mais de um mês. Como estava quase amanhecendo, a maioria da cidade estaria dormindo no momento e a probabilidade de alguém do conselho aparecer num rompante era ínfima... A menos que matassem mais um magistrado enquanto estivesse fora.

Além de Haydée, havia também Debbi, que era a antiga secretária de seu pai que Near não vira necessidade de destituí-la do cargo, e ela ia para praticamente todos os lugares que ele ia. Ela era uma mulher de estatura média, gorda e curvilínea, com o cabelo acobreado caindo em curvas charmosas, e uma pinta bem sobre seus lábios pintados de vermelho. Apenas precisou lhe dizer que tinha negócios a fazer em Palermo e que precisava ir para lá que quando terminou seu banho e abriu a porta do quarto, ela já estava na antessala com tudo pronto, inclusive, ela havia mudado de roupa também e já estava com seu inseparável caderno, com uma caneta, e uma bolsinha onde provavelmente levava seu celular – e sim, Near já sabia o que era um telefone celular. Saber mexer neles era outra história.

— Não há nada para eu fazer e que eu possa estar fugindo agora?

— Não senhor, a reunião com o conselho interno é só daqui dois dias, e não há nada na sua agenda até lá. – ela respondeu enquanto entravam no elevador. – Uma pergunta, se me permite: o que o senhor vai fazer em Palermo a essa hora da manhã?

— Encontrar alguém. Uma possível candidata a um cargo.

Ela não falou mais nada.

Quando entrou no jatinho, já estava amanhecendo, e nenhum dos comissários eram vampiros, como da última vez. Na verdade, eram amaldiçoados, e eles pareciam bem mais nervosos do que a imobilidade sóbria dos vampiros, e aquilo deixava Near bem mais à vontade.

Os últimos dias haviam sido... Puxados. No mínimo. Política, geografia, história, conselho interno se reunindo, assassinato de magistrados, aprender magia, aprender luta corporal, tomar decisões, havia dias que ele simplesmente não sabia mais o que estava acontecendo com a sua vida.

Além disso, normalmente quando ia dormir, sentia coisas inundando sua cabeça. Depois de algumas pesquisas a diários pessoais que alguns dos príncipes deixaram, descobrira que era parte de ser o Príncipe Almishak. Todos eles tinham uma espécie de ligação de espírito e quando um morria, tudo o que poderia ser importante para o novo seria repassado para ele. De todos os príncipes. O que sabia também era que algo havia acontecido com Príncipe Erastus que nenhum dos novos príncipes conseguira ter alguma conexão com os governantes antes dele...

... E este estava sendo o problema de Near. Por vezes, quando fechava os olhos, via ruas brancas e prédios dourados, via pessoas andando a luz do sol com túnicas de seda de cores vibrantes, via vampiros aproveitando a luz, lobisomens andando totalmente racionais em suas formas caninas. Via salões totalmente decorados com estátuas, as paredes em vermelho e mármore branco, uma imensa biblioteca que se estendia até onde seus olhos iam.

Mesmo estando destruída, ele sabia que aquelas eram memórias de Aurum, a capital dourada do antigo império. E quando pegava algum livro, não era incomum ter uma sensação de nostalgia como se já soubesse de tudo o que estava ali. Isso incluía também até mesmo ao governo, que, mesmo que fosse benéfico para si, era ao mesmo tempo assustador.

No dia anterior, acabara tendo uma memória que lhe dera respostas, e fora por isso que havia decidido ir se matar com Sirius até então.

Havia visto Vincent. Ele estava todo machucado, com uma armadura prateada, o rosto sangrando e com hematomas. O inglês o forçava a se virar para ele, antes de começar esfaqueá-lo com a lâmina de um cajado. E Near, infelizmente, sentia cada espasmo de dor que aquela memória proporcionara.

O que havia formulado era que Erastus de algum modo estava vivo, e que o outro príncipe havia o matado. Era o mais óbvio. E quando a sensação da morte vinha, sentia um alívio tão grande que era totalmente perturbador e estava tentando evitar dormir desde então.

Devido à localização deles, não demorou praticamente nada para chegarem à capital da Sicília. Saindo da pista de pouso particular, já tinha um carro os esperando também. Debbi era tão eficiente quanto Haydée.

Era um tanto estranho pensar que poderia sair de uma nação e ir para outra tão rapidamente. E ver pessoas funcionando a luz do dia, sem sonolência, havia passado a ser quase esquisito. Como as coisas haviam mudado tanto em apenas um mês.

Quando Debbi lhe indicara a catedral, pediu para que parassem o carro duas ruas antes. Não era possível que alguma coisa fosse acontecer com ele por andar sozinho por alguns minutos.

Ou assim esperava. Ainda poderia ser atropelado, também.

Havia uma praça em frente à construção, de pedra branca e com alguns jardins. Havia algumas pessoas ali, mas fora isso, não tinha nada de seu interesse. Percebeu que algumas pessoas o olhavam, mas não eram por seus olhos porque ele já sabia como controla-los. Deveria ser os olhares que recebia já na década de 40-50 em que as pessoas insistiam em repetir a cada meio minuto que o achavam bonito.

Entrou no lugar, e... Considerando as magníficas fachadas, era meio simples em seu interior, com um teto alto e branco, com arcos laterais, cada um com estátuas de santos pouco acima de candelabros. Não estava havendo missa alguma, mas tinha gente nos bancos. Acabou tendo que pagar sete euros para ter acesso à tudo.

Esperava que não tivesse que subir no teto da catedral para encontrar Zarya.

Depois a realização se passou em sua cabeça. Onde poderia encontrar uma viúva de um necromante?

Com aquilo em mente, foi na direção indicada para as tumbas.

O lugar estava... Vazio. Tirando por uma garota em que estava olhando o sarcófago de Frederico II da Germânia, todo feito em pórfiro vermelho, sob um mini templo – se é que poderia chamar assim -. Ladeando o túmulo havia seis colunas coríntias sustentando o teto curto.

Ela estava de costas para ele, e não fazia a mínima idade que ela poderia ter. Deveria ter em torno de um metro e meio de altura, e usava uma mini saia de plissada de couro, de cintura alta, meias três quartos de renda com botas coturno, uma blusa branca meio solta, com a barra para dentro da saia, e deixava seus ombros expostos. Não dava para ver seus cabelos porque ela usava um chapéu de camurça preto.

Bom, o que ela vestia não era o tipo de coisa que via alguém religioso gostando de ter numa igreja. Deveria ser ela.

— Você é Zarya?

Viu os seus dedos tamborilarem um pouco na cerca que ficava em frente ao túmulo do rei Frederico. Depois disso, ela se virou para ele.

Diria que ela deveria estar no começo de seus vinte anos. Seus cabelos pretos estavam presos sob o chapéu, e a franja reta estava caía quase sobre os olhos azuis pintados de preto. Seu nariz era um pouco reto e adunco, e os lábios em formato de coração pintados em um dégradé roxo e rosa escuro. Em seu pescoço havia uma gargantilha de veludo preta com um camafeu.

Ela lhe deu um sorriso depois que Near não falou mais nada.

— O que houve? Esperava uma viúva toda de preto, com um véu na cara ainda chorando a morte do marido?

— Não. – respondeu. – Eu não havia montado essa imagem de você. Na verdade, eu não havia montado nenhuma imagem.

Ela saiu de perto do túmulo. Zarya ainda usava luvas de renda, que expunham as unhas cerradas como garras, pintadas em roxo e preto.

— Então, príncipe Gaheris... Haydée veio falar comigo sobre uma proposta no mínimo interessante. Mas antes, eu quero saber o que você tem a dizer sobre isso.

Near encostou-se a um dos pilares da parede. O modo que ela andava era bem claro: ao mesmo tempo em que ela poderia seduzir, ela também poderia ser bem perigosa. Bom, já tivera tempo o suficiente para pensar sobre aquilo também, e era bom estar fora do palácio com um bando de gente pronta para seguir cada passo que dava.

— Sinceramente, Haydée me explicou as coisas bem rapidamente, na verdade. Dada à situação atual, eu não posso simplesmente confiar apenas na guarda. Eu precisaria de espiões. E como muito provavelmente alguma coisa, em algum momento, com certeza nos levará ao Submundo, será melhor alguém com boas ligações lá.

Viu-a girando um anel em forma de mariposa em seu dedo.

— Você está certo em achar que eu tenha ligações lá. E não qualquer tipo de ligação, porque estou trabalhando nelas há noventa e seis anos. Eu já realizei uns trabalhos pormenores para o príncipe Cassius antes... Na verdade, foi mais eu vendendo informação a quem trabalhava para ele, quase sempre Haydée. Alguns esquemas de assassinato aqui, uns nobres planejando criar uma rebelião ali... O mesmo de sempre. Mas você está oferecendo uma vaga mais fixa.

— Sim, estou. E falando em Haydée, ela disse que poderíamos ter interesses em comum.

— Hm, sim. Mas não irei jogar todas as minhas cartas a limpo aqui ainda. Não até que eu possa ter certeza que eu possa confiar em você.

— Justo.

— Mas, ser espiã-mestre do príncipe me abre a algumas maiores possibilidades, mas como eu falei, eu preciso de um voto de confiança. Não estou brincando quando digo que provavelmente sou sua melhor alternativa. Meus agentes são todos meio demônios, e eles são bem diferentes dos vampiros ou lobisomens. Bem melhores de se arranjar.

Sempre tinha alguma coisa. Sempre.

— E o que seria esse “voto de confiança”?

— Você viu as notícias sobre o assassinato de magistrados, não viu?

— Claro, está jogando os membros da Assembleia uns contra os outros. Mas diversos grupos estão sendo atacados.

— Pois então, o suspeito que foi preso é... O meu irmão mais novo.

Near já via para onde aquilo estava indo. Claro que ele estava vendo.

— Deixe-me adivinhar: Você quer que eu o solte ou algo do tipo?

— Escute o seguinte: Eu sou a única meio demônio que já existiu a ter propriedades, herança, fortuna, legalizadas e no meu nome. Quando eu casei com Fausto, ele me assinou como uma de suas herdeiras oficiais, junto a suas irmãs. Tecnicamente falando, quando um membro da família morre, as suas posses, dinheiro e tudo mais, passam para os parentes próximos, normalmente citados no seu testamento. Caso não haja nenhum, passa para o chefe da família.

— Todos os membros da família desapareceram, e como só você sobrou, tudo que todos poderiam ter passaram para o seu nome.

— Exato. E a Assembleia odeia isso. Eu tive que aprender a me defender deles, e foi principalmente por isso que eu formei minha rede de espionagem, pois eles já tentaram me acusar de praticamente todas as coisas possíveis. – ela continuou. – Se Eamon, o meu irmão, houvesse ido matar membros da Assembleia a torto e a direito, eu seria a primeira pessoa a deixa-lo na mão do policiamento. Mas esse não é o caso. Eu o crio desde os treze anos, e ele normalmente aceita contratos de infiltração e assassinatos, mesmo morando comigo. Mas ele nunca ataca políticos. É perigoso para meio demônios fazer isso: Você aceita o contrato, mata o magistrado e tudo mais, e quando menos espera, o seu contratante o vende para a guarda “Oh, eu encontrei o assassino, é um meio demônio!”. E assim, você termina os seus dias de alguma maneira horrível e o inimigo político de quem você matou continua seus dias feliz e contente.

Olhando por aquele lado, e vendo o número de híbridos que eram presos, não duvidava muito não...

— E repentinamente, Eamon é encontrado na cena do crime, e é preso. A sede do policiamento é totalmente protegida por selos contra demônios, então meus agentes não podem entrar. Se eu for visita-lo, a Assembleia com certeza vai tentar usar isso contra mim, porque ela já usou coisas bem menores como acusação, dizendo que eu provavelmente sou a mandante dos assassinatos ou algo do tipo. Então, eu estou de mãos atadas nesse caso. E eu preciso ver o que está acontecendo.

Near estava estalando os dedos sem perceber enquanto escutava. Bom, ele de qualquer jeito também precisaria ver o que estava acontecendo, dadas às proporções que aqueles assassinatos estavam tomando. A Assembleia dizia que tinha tudo sob controle, mas era visível que não.

— Se eu resolver o caso do seu irmão, você trabalharia para mim?

— Sim, Digamos que isso tomou um rumo bem mais pessoal, porque Eamon é o bebê que eu nunca tive, mesmo que ele odeie isso.

— Ótimo. Eu vou ver o que está acontecendo.

 


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