Cor do Pensamento escrita por Monique Góes


Capítulo 3
Capítulo 2 - Casa




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Capítulo 2 - Casa

Quando Joshua encontrara a notícia sobre os príncipes chegando à capital em dragões, ele enchera a paciência de Claire com piadinhas até não mais poder.

Mais ou menos uns três dias depois do ocorrido, Vincent aparecera, cheio de hematomas e cortes ainda cicatrizando. E com algumas explicações quanto ao que acontecera.

Se Claire já achava esquisito o fato de Near ser o herdeiro de um reino escondido, Vincent viera com umas quatro vezes a dose. Indo de ser sequestrado por anjos, domar dragões até velhinhas com universo nos olhos. Além da entrada triunfal que naquele momento deveria estar sendo registrada em livros de história.

Quanto à Near... Já se passara duas semanas desde que ele fora levado e nada. Algo lhe dizia que a probabilidade de receber notícias dele era muito baixa. E com certeza ele teria coisas muito mais importantes para se preocupar.

Naquele momento, estavam no porão porque o quarto de Claire estava com cheiro de tinta demais para ficarem lá dentro. Tanto ela quanto Joshua decidiram mudar as suas coisas e tentar reaproveitar outras para decorar o porão que era o antigo recanto de seu pai, mas mantendo o altar de Ailith ali. Dragan parecia ficar melhor com aquela imagem de sua mãe ali no geral.

Quando descera, Vincent estava sentado num dos pufes que tinha ali, e Dragan estava sentado com as asas vermelhas se espalhando no chão. Os dois estavam se encarando no que para Claire pareceria uma competição de quem riria primeiro.

O anjo pareceu ser o primeiro a desistir, pois assim que desceu, ele se transformou num cachorro e subiu as escadas.

—... O que foi aquilo?

— Não sei, ele ficou me encarando primeiro. – ele esfregou os olhos. O corte em sua face direita estava roxo, apesar de todo o tempo em que ele havia sido feito, mas ele com certeza estava melhor do que quando era recente. – Aparentemente é o meu destino de não gostarem de mim.

— Bobagem, só porque o Joshua te chamou de gato stalker?

—... Não é como se ele estivesse errado.

— Mas ele é o meu irmão mais velho, ele é meio que configurado automaticamente a não gostar de você.

Ele se moveu com um pouco de esforço para que ela sentasse ao seu lado. Parecia que quanto mais tempo se passava desde que ele recebera seus ferimentos, mais dolorido ele ficava. Seria engraçado se não fosse trágico.

— Ainda sobre o assunto de irmãos... Vocês encontraram Drake hoje, é isso?

— Sim. Foi meio... Constrangedor.

— Como assim constrangedor?

— Assim: Nós fomos ao orfanato, Fairy Nest. Lá tinha tipo a supervisora, e ela ficou falando durante uma meia hora sobre as mensagens que ela tinha trocado com o papai e nem sabia que ele tinha morrido e coisas assim... Aí uma hora ela saiu e voltou arrastando ele, jogou na sala e disse: Conversem.

Vincent piscou.

— Foi mais ou menos isso o que aconteceu.

— De repente, o encontro com a minha mãe pareceu menos constrangedor.

Ele havia falado sobre aquilo. Ele aparecera depois dele e seus irmãos terem reencontrado a mãe deles, a Rainha Annelise que aparentemente a maioria das pessoas pensava estar morta. Ela não falara nada, apenas os agarrara e começara a chorar quase convulsivamente.

Claire sinceramente conseguia entender o lado da mãe deles. O marido e as filhas dela haviam sido assassinados e ela passara treze anos com os filhos mais novos desaparecidos. Se o seu pai aparecesse vivo, com certeza o agarraria e provavelmente choraria convulsivamente também.

— Ele nos deu o número dele, para contato e tudo mais. – acabou suspirando. – O que foi constrangedor mesmo foi que ele falou algo como “melhor que tudo isso, só os príncipes Rockstones apareceram pousando na capital montados em dragões.”. Aí o Joshua começou a rir.

Vincent esfregou o próprio rosto.

— Nem me fale. Nós destruímos uma estátua do meu avô e parte da praça central. Tudo isso num pouso.

— Quanto a isso... Como ficou a situação?

— Bom, os moradores do Santuário reportaram ao governo os ataques de anjos, mas eles só acreditam que sejam “criaturas aladas de espécie desconhecida”. – ele revirou os olhos. – É irônico que bruxos sejam céticos, mas enfim, como estávamos lá, e nós fomos perseguidos por anjos também, eles consideraram que acabamos parando lá fugindo daquelas coisas. Como a cidade fica para ao mesmo tempo no mundo real e no Santuário, e não vamos explicar o que aconteceu no Túmulo para eles... É, é uma boa desculpa.

— Então... Nenhum problema quanto à praça?

— Bom, eles não falaram nada. O que eu sei é que alguns membros do conselho estão bem decepcionados por termos aparecido. – Claire franziu o cenho. – Já fazia treze anos que nenhum herdeiro apto para a coroa aparecia, então eles só estavam esperando dar os quinze anos do tratado para começarem a brigar pelo governo do reino. Provavelmente tentariam apontar uma nova família real. Nós aparecemos, e somos os primeiros da linha de sucessão por sermos filhos do rei.

— Realmente, o governo ainda tem... Base meio absolutista?

— Bom, o rei é meio que o presidente. Ele não pode fazer o que bem entende, e normalmente o Conselho que cria projetos de lei para ele aprovar, coisas do tipo. Claro que dependendo da situação, ele mesmo pode criar leis e instaura-las sem a aprovação de ninguém, mas de longe... É quase uma república. Há eleições para prefeitos, vereadores, membros do conselho, só não há para rei ou rainha.

— E quanto à situação de rei...?

— Ninguém ainda disse nada. – respondeu. – Mas pelo que sei, está tendo um debate quanto a esperar Michael completar dezoito anos para podermos fazer os testes e tudo mais. Eu sinceramente não me incomodo de esperar.

— É, são “só” mais cinco anos.

— Considerando que vivemos numa sociedade com pessoas como o Markus, que tem novecentos anos...

É, ele tinha um ponto. Cinco anos eram pouca coisa. Acabou rindo.

— Inclusive, já falou com eles?

— Lilith está grávida e o mundo explodiu. Ou, pelo menos, essa foi a versão do James. – ele acabou rindo. – E pelo que eu sei, ela já encontrou um carrinho em forma de caixão. Provavelmente ela está deixando Markus louco.

— E o que vocês vão fazer agora?

— Eu vou deixar o meu horário biológico louco pulando da Inglaterra para os Estados Unidos, já que eu não posso mais sumir. – Vincent bufou. – Nós já nos mudamos para a nossa antiga casa, já que tinha alguma coisa no nosso apartamento. Os meninos vão entrar no Instituto, nesse momento os dois provavelmente devem estar se divertindo porque os quartos podem mudar de aparência magicamente.

— Eu faria isso no lugar deles também.

— E nós temos uma sobrinha, ela é um pouco mais nova do que você. Mas ela tem praticamente a minha altura e já está fazendo um bom trabalho em deixar Jim de cabelo em pé. Fora isso...

— Você não vai estudar nem nada?

Ele fez uma careta.

— Eu não terminei o meu ensino médio. – admitiu. – Mas eu também não consigo me ver naquele lugar de uniforme com as pessoas me olhando “Oh, é o príncipe!”. Provavelmente vou me virar sozinho.

A garota lhe lançou um olhar cético.

— Ei, eu já lhe expliquei sobre mitologia, organização bruxa e um pouco de política. Não duvide das minhas habilidades.

— Claro. – riu enquanto ele se curvava para beija-la.

Estaria mentindo se dissesse que não gostava do fato de que já estava se acostumando com aquilo, o que a fazia ficar menos vermelha e surtar muito menos, assim, poderia aproveitar melhor o ato. Ela gostava como o rapaz colocava os braços ao redor de seu corpo, deixando-os próximos, e...

— Ei, olha onde você está pondo a mão nela!

Claire bufou. Joshua sempre chegava nas piores horas. Por reflexo, pegou uma almofada e acertou a cabeça dele.

— É algum hobby seu atrapalhar?!

— Talvez. – ele admitiu.

Ela olhou-o cética. Se fosse ela atrapalhando os momentos dele com a namorada, o seu irmão provavelmente a chutaria para algum lugar longe. Claire não conseguia chutá-lo para longe porque ela tinha 1,50 e quarenta e cinco quilos, enquanto Joshua tinha 1,80 e era musculoso o suficiente para ser visível que ele era pesado.

— Como irmão mais velho eu provavelmente faria isso também...

O olhar cético de Claire voltou-se para Vincent.

— Com o Michael, provavelmente. Com o Jim eu faria o passar vergonha.

— Vocês dois são horríveis! – reclamou, se levantando. Aquilo deveria ser algum prazer secreto de ser um irmão mais velho, não era possível.

O porão já estava um pouco diferente. Menos vazio, para dizer o mínimo. Como não tinham nada para fazer mesmo, e a sua mãe ainda não voltara de viagem, o porão ficava quase sempre aberto. Como Dragan tinha a insistência de ficar lá a maior parte do dia, fora o primeiro lugar que passaram tinta – as paredes já estavam meio amareladas – e tentaram deixar o lugar um pouco mais confortável.

Ele ainda dormia de cara no tapete, entretanto. No final, estenderam um edredom no chão – não tinha nenhum colchão sobrando naquela casa -, e ele pareceu ficar feliz do mesmo jeito. Sua asa ainda não estava cem por cento curada, mas estava melhor, aparentemente Near havia feito o curativo corretamente.

No meio tempo, Joshua estava a ajudando com a magia. Já conseguia ter um controle melhor das coisas, ainda mais considerando a ajuda de Markus no barco de Gitmak. Ainda tinha um pouco de descontrole, mas estava relativamente boa, considerando que aprendera magia há pouco tempo.

As aulas começariam em setembro, assim ainda teria muito tempo livre. Quando ligara seu celular depois de chegar do Santuário, havia tantas mensagens de Sandy que por sorte ela não ligara para a sua mãe perguntando onde Claire estava. Tivera que dar uma desculpa esfarrapada sobre ter viajado e o celular quebrara durante ela.

Mas o tempo passara um tanto rápido demais. Quando viu, tinha que correr para comprar seu material escolar e aproveitara o fato de que Joshua estava mais presente para extorquir dinheiro dele – a tática dos olhos de cachorrinho se provou muito eficiente -, além de trocarem mensagens com Drake, que haviam começado um tanto sem jeito, mas já estavam se tornando um pouco melhores.

Aos poucos fora descobrindo que antes ele fazia parte de um grupo de hip hop, mas havia parado há dois anos. Na escola de dança que participava, os alunos normalmente eram incentivados também a fazer aula de música/canto para um melhor entendimento de ritmos e coisas do tipo. Ele tinha também mudado de escola para uma que pudesse entrar em acordo quanto à agenda do Magick... Como a maioria dos membros que ainda estavam no ensino médio – três, para ser exato -. Portanto, além de ser “aluno novo”, ele seria o “aluno novo famoso”, e mesmo que fosse maquiavélico da parte de Claire, era engraçado ver como ele estava nervoso.

Vincent não ia aparecer tanto também porque sua mãe estava o arrastando para ver as coisas dos seus irmãos. Mesmo que ele não fosse para o instituto, ela fazia questão que ele estivesse. Talvez fosse para por peso na consciência dele quanto ao fato que estava passando a oportunidade de estudar numa das academias bruxas mais prestigiadas que existiam. Vendo por uma perspectiva “mãe”, era bem entendível.

Assim, o primeiro dia de aula chegou, e como qualquer pessoa no período de férias, claro que Claire não estava feliz com aquilo. Quando o despertador tocou de manhã, a última coisa que queria era levantar e ir para a escola.

Mas como era obrigada a fazê-lo, se arrastou para ir se arrumar e estar apresentável. Era um costume que ela e suas amigas fossem juntas. Na verdade, o namorado de Zoey, Scott, normalmente a pegava em sua casa, depois eles passavam na casa de Sandy e por fim eles passavam na casa de Claire e todo mundo ia para a escola. Só era um tanto entediante quando o casal ficava de melação, esquecendo que não estava sozinho no carro.

— Dragan está onde? – perguntou quando desceu. O seu irmão ainda estava com a expressão de quem estava mais dormindo do que acordado.

—... No porão. Ele disse que provavelmente não vai sair até voltarmos.

— Nós temos comida o suficiente para ele, não temos?

— Ele disse que só come tanto depois de longos períodos voando.

Na primeira vez que foram ver algo para Dragan comer – depois de terem realizado que ele não se alimentava há pelo menos doze horas -, fizeram a descoberta de que... Ele comia tanto quanto um atleta olímpico. E ele comia muito rápido, e não sabia usar talheres. Normalmente acharia nojento, mas no caso dele, era estranhamente fofo. Talvez o modo que os olhos verdes do anjo brilharam quando viram comida influenciaram seu modo de vista. E também como seu braço estava preso sob a asa quebrada, ele só comia com uma mão.

A buzina tocou do lado de fora quando estava pondo sua tigela de cereal na lavadora de pratos. Pegou a sua mochila e deixou o irmão-zumbi para trás antes de entrar no carro.

— CLAIRE! – Sandy pulou em seu pescoço assim que entrou no carro, rapidamente tirando o ar da garota, que engasgou.

— Ei Sandy, a menina acabou de entrar no carro, não precisa... – Scott começou, mas um carro buzinou atrás deles. – Ok, ok, vamos indo...

— E aí! – Zoey virou no banco da frente. – Como foram as suas férias, Claire? Normais?

Com bonecos virando gente, bruxos, anões, elfos, gente vendo o futuro, famílias reais e irmãos perdidos?

— É... Foi bem normal.


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Notas finais do capítulo

As férias da Claire só foram mais normais do que as do Jim, porque por favor, né xD



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