Cor do Pensamento escrita por Monique Góes


Capítulo 15
Capítulo 14 - Ferimento


Notas iniciais do capítulo

Guess who's back...
Então pessoas, o fim do ano passado não foi tão bom assim pra mim, e ainda por cima veio com um imenso bloqueio criativo :) Por causa da história e pans, eu estou tendo mais facilidade em escrever com o Near agora (como era antes com o Jim), então fiquem com mais um capítulo dele (e o próximo provavelmente tmb vai ser, porque os outros quatro pontos de vista não cooperam comigo).
Trigger warning, tem mutilação no capítulo.



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Capítulo 14 – Ferimento

Os gritos de Revka haviam se esvaído quando a cachorra mordera seu pescoço, e depois disso, parecera se entediar. Near ainda estava de pé tentando absorver o que havia acontecido, desde o pai que se escondera com a bebê em um canto, ao marido até então Vazio de Zarya.

Stephan partira tão logo dera a sugestão de falar com seu pai, e eles agora estavam vendo o que havia por ali. Haydée havia contatado os espiões que Near requisitara anteriormente para vistoriarem os arredores, e depois a cidade, à procura de demônios deixados pela bruxa.

Foi primeiramente em direção ao homem sentado ao chão com a bebê, Makena, que finalmente parecia se acalmar. Ele provavelmente não sabia que há alguns minutos sua filha estava morta e nem precisava saber, na sincera opinião de Near. Ele não pareceu ficar muito calmo quando o loiro se aproximou.

—... Você... Vocês... São necromantes?

Oh? Ele trazia em si uma aura mágica, mas era algo que passaria facilmente despercebido. Não era sequer uma tentativa de escondê-la, era visivelmente fraca mesmo.

— Bom, sim. – respondeu, passando a mão discretamente por seu pulso esquerdo, que latejava. – Mas não vamos fazer nada, viemos atrás dela... – maneou para o que sobrara de Revka com a cabeça.

O homem estava suando bicas, trêmulo.

— Eu... Eu acho que eu já sabia disso, a mãe da Makena era também... – Ele olhou para a bebê, que estava escondendo o rosto no ombro do pai. – Aí eles apareceram e a levaram. Estive correndo de um lado para o outro desde então.

Near franziu o cenho.

— “A levaram?”

— Eu... Não quero falar sobre isso agora. – ele parecia prestes a desmaiar, como se após tudo houvesse se acalmado, os seus sentidos estivessem começando a falhar.

— Ei, está tudo bem? – Near percebeu que ele estava soltando Makena, e Haydée apareceu ao seu lado.

— Acho melhor tirá-los daqui. Eu consigo leva-los para cima.

Assentiu, sabendo que mesmo com o peso do homem, a magia tornaria as coisas mais fáceis. Seguiu então para Zarya no momento em que Fausto parecia estar recuperando a consciência. Mesmo com o que a mãe dela havia feito antes, com a informação existente em seu cérebro, foi aterrador ver alguém anteriormente vazio trazer alguma emoção em seus olhos.

Que no caso, era confusão, e dor, enquanto ele estava completamente grogue.

Eamon manteve sua distância, mas Near conseguia ver que ele estava tentando dar uma boa olhada no rosto do cunhado, parecendo um gato curioso.

Luchik? — Zarya chamou quando Fausto ergueu uma mão para esfregar os olhos com um gemido de dor. Near não fazia a mínima ideia do que aquilo significava, mas se manteve quieto.

Ele piscou algumas vezes, ainda confuso, antes de finalmente responder:

—... Topina?

Zarya soltou um suspiro aliviado, parecendo repentinamente cansada enquanto Near e Eamon se entreolharam. Bom, parecia que os dois usavam apelidos um para o outro e eles não precisavam se intrometer naquilo.

Fausto se empurrou um pouco para frente e olhou confuso para Near.

—... Príncipe Caius?

Demorou um pouco para seu cérebro entender que ele estava o confundindo com o seu pai. Fazia sentido, claro, mas de qualquer jeito era... Desconcertante.

— Eu sou Príncipe Gaheris, filho de Caius. – Respondeu, e o viu piscar confuso mais uma vez, franzindo o cenho.

—... O quê?

— Fausto, muita coisa aconteceu... Vai levar um tempo até você conseguir entender tudo...

Os olhos dele vagaram até Eamon.

—... Quem é você? – ele finalmente parecia estar tendo uma ideia do que estava acontecendo. – Onde estamos? As meninas...

Aquilo não ia terminar bem... A perspectiva de contar para alguém que toda a sua família desaparecera não era muito animadora, e com certeza não seria feita naquele momento, não tão cedo. Com certeza era melhor sair dali primeiro, e convenientemente, o primeiro espião chegou logo depois. Era um vampiro, vestido da cabeça aos pés de preto, que travou ao ver não eles com o desaparecido Fausto Tinea, mas sim ao ver a cachorra sobre a pilha de... Do que sobrara de Revka.

Near suspirou.

— Ela ainda está viva. Provocou um demônio que a tornou imortal para que o cão fizesse isso.

O vampiro o olhou claramente o questionando como ele deveria pegar Revka com a cadela sobre ela. Ele nem parecia surpreso com a cena em si.

— Hã... – Near assoviou, chamando a atenção da cadela, que ergueu as orelhas. – Ei garota, vem cá!

Ela soltou uma mão e foi correndo destrambelhada em sua direção, parando bem à sua frente, atropelando Eamon no caminho.

— Er... Tem como você ficar menor?

Ela latiu e depois o que Near viu foi uma explosão de chamas que fez todos pularem, até o vampiro do outro lado da sala, para então dar lugar a um elegante galgo afegão de pelo prateado. Near piscou diante a mudança brusca da aparência truncada.

— Ok... Vou ver um nome para você daqui a pouco, vamos sair daqui primeiro.

Ajudou a erguer Fausto porque os outros dois eram bem mais baixos do que ele – ok, Eamon nem tanto -, e acabou subindo lentamente as escadas apoiando praticamente todo o seu peso. Ouviu-o prender a respiração enquanto passavam pelos corpos dos vazios e perguntou o que acontecera ali, a resposta curta fora que havia uma mulher tentando invocar um demônio.

Do lado de fora, encontraram Haydée. O homem com a bebê não estavam lá.

— Pedi para os levarem para um lugar seguro. – ela falou assim que Near a lançou um olhar inquisitivo. – Eles estavam atrás daquela menina por algum motivo em específico, mas ele já estava passando mal.

— Acho que é melhor irmos encontrar Sirius e ver como enfiaram Petit no meio disso tudo.

Ela assentiu e abriu a porta do carro de Zarya, que ainda estava destrancado, e ajudou Fausto a entrar, então se virando para os dois híbridos que vinham atrás de si, ambos ainda com suas aparências não tão humanas. Zarya parecia meio pálida, Eamon estava normal, apenas quieto, talvez em respeito à irmã.

Mas quando ele se aproximou, o loiro viu algo. Uma mancha escura sob os seus pés, que ele parecia estar totalmente ignorante. O que soube foi que ele viu um movimento não natural, provando que não era apenas sua sombra.

— Cuidado!

Foi tudo rápido demais. Ergueu seu braço esquerdo e acabou empurrando-o pelo peito logo antes da coisa saltar. Nem viu direito o que aconteceu, a coisa se erguendo do chão no momento exato em que o cinzento caiu do outro lado. Ela voltou a afundar tão rapidamente quanto se erguera, e o que viu foi Eamon caído no chão com os olhos bicolores arregalados e chocados, a boca meio entreaberta.

Escutou o que pareceu ser meia dúzia de respirações se prendendo.

Havia o som de sangue caindo no chão. Não gotejando. Caindo.

Foi como se o mundo andasse devagar. Sentia sua pulsação berrando contra os seus ouvidos, mas seus olhos não pareciam querer se abaixar, o suor já gotejando em sua testa. Ele não sentia nada, nada, mas estava trêmulo quando conseguiu olhar. Para o seu cotovelo.

... Onde estava o resto de seu braço?

Havia apenas um toco sangrento vertendo sangue.

Era o choque? A adrenalina? Não estava sentindo nada, mas sua respiração estava descompassada, o coração batia tão forte que doía. Aquilo doía, mas não o seu braço. Ele pulsava, o líquido vermelho derramando.

Suas pernas o traíram e caiu no chão.

Algum som estava saindo da sua boca, mas ele não sabia o que era. Parecia vir do fundo de seu peito.

Eamon foi quem o alcançou primeiro, já que era o mais próximo, mas não parecia conseguir captar o seu rosto. Viu que ele pressionou o ferimento e logo depois alguém apareceu com um pano. Estavam falando, gritando uns com os outros talvez, mas parecia que estava submerso.

Onde estava o seu braço?

Os olhos procuraram fervorosos pelo lugar. Nada. Nada. O que havia saltado do chão havia levado seu antebraço e sua mão junto.

O mundo pareceu girar. Parecia que não havia ar o suficiente para que respirasse, manchas aparecendo diante de seus olhos.

Um espião que nem sabia que estava lá o ajudou a levantar e a pô-lo no carro. Escutou alguém falando “hospital”. “Mantenha o pano comprimido”. Aquela coisa manchada de vermelho no membro curto demais. Ele viu as mãos cinzentas se tornando da cor de chocolate quente envolta da coisa empapada.

O puseram deitado de costas, alguém desabotoou a sua camisa. Ainda não parecia ter ar o suficiente no local.

— Ei, você está acordado? Príncipe? – alguém perguntou. Sentia a vibração do motor, estavam indo o mais rápido possível.

Sua garganta estava seca, seu estômago revirando. Ele queria vomitar. Ele queria dormir. Estava frio. Sentia parte de seu braço tremendo, mas não o resto. Sentia alguma coisa empapada tocando seu cotovelo.

Seus olhos pesaram, queria fecha-los. Havia manchas vermelhas aparecendo junto a um aperto ainda maior em seu peito.

— Príncipe?! Merda! Dá pra segurar?

Sua cabeça foi empurrada para trás e sua boca aberta. Tudo escureceu de vez quando alguém começou a soprar ar em sua boca.

Os olhos castanhos doeram quando notaram uma luz forte.

Piscou grogue, até perceber o teto branco com a luz ligada. Havia um bipe continuo soando, alguma coisa enfiada em seu nariz, forçando ar para dentro. Seu corpo estava pesado, era como se mal pudesse movê-lo.

Seu braço latejava.

— Eu ainda não entendo, o que aconteceu? – alguém murmurou, e Near ainda era incapaz de discernir a voz.

— Não é como se eu soubesse, ele só me empurrou e quando eu vi, ele já estava...

Virou a cabeça para o lado, para o lado esquerdo e as vozes pararam. Sua mente já funcionando melhor, e lá estava...

O coto.

Estava enfaixado, com uns tubos inseridos, aparentemente numa transfusão de sangue. Near sentia quase como se seu pulso doesse, com a exceção de que o seu pulso esquerdo não existia mais.

Ele não sabia o que sentir, fora rápido demais. O ferimento terminava um pouco após seu cotovelo.

Sentiu um aperto no peito.

— Near? Eu sei que é uma pergunta cretina, mas você está bem? A magia com certeza o ajuda a se recuperar mais rápido, mas...

Virou a cabeça e viu Haydée de pé ao lado da cama. Ela ainda estava com as mesmas roupas de anteriormente, então ou ela permanecera no hospital por horas ou o processo fora rápido. Algo lhe dizia que fora a primeira opção.

—... Acho... Acho que sim... – conseguiu dizer. Seu peito estava doendo. O monitor o traiu, pois o bipe acelerou em resposta.

Ela fez uma expressão de quem sentia muito.

— Debbi e Sirius estão aqui também, eles foram comer alguma coisa enquanto estamos aqui. – avisou. – E... – ela realmente parecia não saber o que dizer. Near não a culpava. Talvez se houvesse ocorrido algum acidente e depois disso a última alternativa fosse a amputação, alguém estivesse preparado para dizer alguma coisa. Mas não tão repentinamente daquele jeito. – Eu acho que eu vou chamar o médico.

— Ok. – respondeu, respirando fundo. Sentia as lágrimas teimando para sair, embora estivesse se esforçando para que não o traíssem. Só percebeu que Eamon estava no recinto também quando ela saiu.

Os dois se entreolharam no mais completo silêncio. Ele era a última pessoa que Near talvez esperasse ali, embora o motivo não parecesse surgir em sua mente. Talvez fossem suas atitudes anteriores em que ele não parecia realmente se importar ou levar as coisas a sério, mas lá estava ele.

O híbrido se levantou muito lentamente na visão de Near, que percebeu a camisa cinzenta ainda manchada de sangue; não era muita coisa, mas definitivamente estava. As mãos dele ainda estavam na frente, embora não soubesse se fosse apenas uma reação de, talvez, timidez – embora não parecesse muito o seu feitio -, ou se ele estava realmente tentando escondê-la de Near.

— Então... Falando sério, você está bem?

O encarou, sentindo um aperto na garganta.

— Você perdeu o seu braço. Ninguém fica bem depois disso.

Near ia erguer o braço direito para esfregar os olhos antes que eles o traíssem, mas surpresa! Havia diversas coisas presas nele, o que deixava claro que movê-lo poderia ser uma má ideia.

Ele não gostava de chorar, o fazia lembrar-se de outros tempos que forçava a manterem-se afastados de sua mente, mas não estava exatamente sobre total controle sobre suas emoções quando sua visão embaçou. Não queria chorar, não queria.

— Ei.

Sentiu o cheiro de baunilha entrando em suas narinas. Era diferente de como fora dias antes, algo luxurioso que entorpecera a sua mente e o fizera perder a cabeça. Era mais... Reconfortante. Talvez o cheiro que esperasse sentir ao estar dentro de casa num dia de inverno. Era estranho, porque não esperava sentir aquilo, mas de certa forma ajudava a acalmar os seus nervos.

 Sentiu os dedos quentes limpando as lágrimas que já haviam escorrido para as suas faces.

— E... Obrigado. Se você não tivesse me empurrado, muito provavelmente aquela coisa teria me engolido.

Near piscou, o olhando confuso. Ou melhor dizendo, seu cérebro não processando a informação direito.

Eamon suspirou.

— Você é esquisito, sabia?

— Como assim?

— Minha “mãe” é um demônio do desejo. A maioria das pessoas, quando escuta isso, primeiramente pensa em “sexo”. Mas não é esse o caso. Sexo pode estar incluído, mas os poderes dele se concentram primeiramente em “dar o que deseja”. Isso pode significar um monte de coisas.

Não entendia por que ele estava lhe dizendo aquilo. Talvez para lhe distrair do fato?

— Por extensão, nós sentimos isso também. Mas é diferente. Não só porque ele é capaz de realizar qualquer desejo em troca de uma alma humana, mas nós não somos tão “abertos” a eles. Normalmente nós somos entorpecidos a isso até termos alguém próximo o suficiente para meio que “acordar” esse lado. Então sentimos seus desejos e sensações. Não é como a telepatia que vocês bruxos conseguem desenvolver, mas acho que é algo bem parecido.

Ele parou e olhou sobre o seu ombro em direção à porta. Primeiro pensou que alguém fosse entrar, depois constatou que Eamon estava provavelmente verificando se ninguém entraria de maneira inoportuna.

— Você... Tem alguém?

— Eu já tinha esse laço com o meu pai desde antes de eu mudar. – ele respondeu em voz baixa. – Aparentemente eu sou mais sensível a isso do que a maioria dos meus irmãos. Depois de algumas semanas vivendo com Zarya, eu já podia sentir como ela queria Fausto de volta, como ela não aceitava que acreditassem que ele estava morto. – Ele parou por um tempo. – Eu passei menos tempo na rua do que a maioria dos meios demônios, mas nesse pouco tempo eu vivi o suficiente para não querer proximidade com muita gente. E depois de descobrir que essa parte minha é sensível demais à proximidade, eu quis menos ainda, então ser desagradável e sarcástico ajuda. Mas aí... Você me aparece.

Near franziu o cenho. O coto latejava um pouco, mas nada forte demais.

— Como assim?

— Eu não sei. Eu sei que eu já pude senti-lo antes de você entrar na minha cela naquela prisão. Primeiro eu pensei que era Zarya sob algum disfarce, já que ela é metamorfa, mas percebi que esses “desejos” não eram nem um pouco condizentes com os dela. Aí você entrou e não entendi mais porra nenhuma. Nós nunca nos vimos na vida, e eu nasci depois de você em outro país. Isso não faz sentido nenhum.

Estava olhando para o rosto de Eamon. Ele não o encarava diretamente, olhando na verdade em direção à janela do quarto. As cortinas estavam abertas, e a pele escura parecia especialmente bonita, sem imperfeições aparentes.

— Você está dizendo que nós já temos... Essa ligação?

— Por algum motivo. – ele continuou em um tom de desistência. – Naquele dia, no seu quarto... Eu estava mais curioso e queria ver se era realmente verdade. Achava que poderia ser um engano, sei lá. Eu realmente planejava ficar escondido por um tempo, só observando, as suas sensações estavam uma bagunça. Quando começamos a falar deu para sentir que você estava prestando atenção em mim, me observando. Isso é estranho demais.

— Então foi por isso que você...

 - Também. – admitiu e então finalmente olhou para Near. Mesmo que a sua aparência estivesse completamente humana, ele mantivera as pupilas felinas. – Você não é desagradável aos olhos, sabia?

Uma risada quase incrédula escapou dos lábios de Near.

— De madrugada... Quando você percebeu que... Sei lá, aquela coisa, tinha levado o seu braço... Foi intenso. Pareceu que você sentiu tanta coisa, ao mesmo tempo, com tanta força, que simplesmente você congelou. Pelo menos no começo. Não sei explicar direito. Foi... Agonizante e intenso demais. E aí você começou a entrar em estado de choque e as coisas pioraram. Sei lá, foi como se tudo estivesse derretendo ao seu redor.

— Você veio por isso?

Ele deu de ombros.

— Quando eu me percebi já estava no carro segurando aquele pano pra controlar o sangramento. Foi quase como se eu estivesse em piloto automático.

Os olhos desceram para a mão direita de Near, e o sentiu deslizar seus dedos hesitantemente por ela. Já havia percebido antes, mas apesar da aparência andrógina e estranhamente delicada – para alguém do sexo masculino, pelo menos -, a pele das mãos dele eram grossas e calejadas, certamente devido aos seus trabalhos. Conseguiu fechar os seus próprios contra os dele, e aquela troca de toques pareceu lhe dar um íntimo contentamento que não sentira em muito tempo.

Era estranho. Já havia percebido antes também, mas as coisas pareciam caminhar rápido demais com Eamon. Quer dizer, não sentia como se fosse rápido demais, mas o seu lado racional dizia o contrário. Claro, só haviam se encontrado... Três vezes, antes? – e na segunda haviam ido parar na cama? O moreno havia explicado o seu lado, mas e Near? Aquilo o afetava também?

— Hm, Haydée não te chamou de Gaheris ainda agora...

— Não. – confirmou. – Ela me chamou de Near.

O cenho de Eamon se franziu.

— Esse é o meu nome de batismo. – suspirou. – É bizarro, eu sei. “Near Toy”.

A risada incrédula veio do outro dessa vez.

— Seus pais eram criativos.

— É... Eu tenho uma irmã gêmea. Ela se chama Far.

— Um pouco criativos demais... Eu pensava que os nomes dos príncipes eram bem mais... Não sei, escondidos?

— Haydée e eu fomos colegas de classe desde 1947, mais ou menos. – Eamon piscou em resposta. – E bom, eu não fui exatamente criado nos padrões do Império. As pessoas me chamavam de “Near”, ou só “Toy”. Ou William, que é o meu nome do meio. E convenhamos, o meu nome é meio ridículo demais para alguém suspeitar.

— Isso eu não discordo. – concordou. Ele olhou de volta para a porta. – Esse médico está demorando, não é?

— Percebi isso também... – Near ergueu a cabeça. – Você sabe que desculpa eles deram para eu ter perdido o meu braço?

— Não. Talvez seja isso. Do modo que estava, sei lá, poderiam ter dito que você foi atacado por um crocodilo ou coisa do tipo.

Near comprimiu os lábios, seu polegar passando distraidamente pela mão de Eamon.

— Eu não quero pensar sobre quando precisarmos voltar. Vão fazer drama por qualquer coisa... Talvez até culpem Zarya e Haydée.

— O pior é que você não está errado. – ele murmurou. – Mas olha pelo lado bom, você pode comissionar uma prótese fodona.

Near o encarou.

— Ora, mas é verdade. Você com certeza tem como pagar alguém para fazer uma encantada que provavelmente pode lhe devolver tanto os seus movimentos quanto o tato. E voltando para lá, provavelmente terão curandeiros pra fazer isso cicatrizar mais rápido.

Ele realmente tinha um ponto. Talvez fosse melhor fazer isso, tentar se concentrar no lado positivo ao invés de ficar se lamentando pelo braço. Olhou para o coto novamente, e acabou soltando um suspiro pesado. Bom, querendo ou não, era o que tinha ali. Os olhos castanhos seguiram as faixas por um tempo até desistir e voltar para o híbrido.

— Ei. – chamou, se movendo com cuidado para não puxar o braço, indo um pouco mais para a borda da cama. – Vem cá.

Eamon entendeu e se inclinou para frente. Os lábios se encontraram de leve, primeiramente, antes que ele o beijasse de verdade. Aquele bipe irritante mudou um pouco, mas o ignorou, junto com a dor que parecia insistir na mão inexistente. Preferia se concentrar no beijo...

A porta se abriu e antes da reação natural de Near, que normalmente era um desespero básico, veio a irritação. O médico demorava milênios e entrava no momento mais inoportuno possível?

Ergueu a cabeça e viu que nem sequer era o médico. Era Sirius. Ele parecia ter congelado no lugar, sem reação.

— Er... É, me desculpem, eu não queria atrapalhar... – ninguém disse nada e o clima constrangedor começou a surgir. O lobisomem parecia completamente sem jeito. – É... Foi mal.

Ele fechou a porta rapidamente.

—... Merda. – foi o que Near disse logo que a sua cabeça pareceu começar a funcionar. Não achava que Sirius fosse sair falando, mas... Merda.


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Notas finais do capítulo

Só uns detalhezinhos...
Luchik - Raio de sol, em russo.
Topina - "Ratinha" em italiano



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