Cor do Pensamento escrita por Monique Góes


Capítulo 13
Capítulo 12 - Mãe


Notas iniciais do capítulo

Capítulo gigante :v



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713226/chapter/13

Capítulo 12 - Mãe

Conseguiu adiantar as coisas e sair de Nidus no domingo, notificando alguns espiões da própria guarda imperial para estarem a postos na cidade em que se destinava, mas era bem provável que só chegariam em Nova Orleans segunda à noite. Não vira problemas em Stephan ir com eles – ele ajudava a mãe se suas visitas condiziam com o trabalho, e aparentemente ele fazia trabalhos parecidos para Jake no mundo deles. -, e Sirius também estava indo, o que fazia Debbi ficar bem... Inquieta.

Depois da morte do príncipe Cassius, o seu testamento havia sido deixado especialmente para duas pessoas. Suas posses, dinheiro, propriedades, enfim tudo, foram para Near, e suas empresas – aparentemente ele havia aberto outros negócios e herdado alguns outros de familiares - foram divididos tanto entre funcionários confiáveis quanto com alguns primos que provavelmente não lembravam que eram Almishaks. A Joalheria Tagas, que era a que tinha causado o incidente da cabeça na bancada muitos anos atrás, ficara com Zosime Colonomos... Que depois descobriu que era o nome que Haydée tinha escolhido depois de ser expulsa da família Nièvre. E que ela mantinha uma fachada como uma estilista da alta costura.

Bom, ficara surpreso – e talvez... Triste? – ao perceber que Charles estava realmente o liberando de qualquer responsabilidade sobre as empresas, provavelmente para que ele se concentrasse em aprender a lidar com o cargo no Império primeiro. Sinceramente também não conseguia entender como o seu pai conseguia se concentrar em lidar com tudo o que estava acontecendo no império Almishak durante o seu reinado e ainda administrar a rede de joalherias, imóveis, até mesmo uma rede de bancos e não ficar louco. Algo lhe dizia que as pessoas que ele deixara as ditas empresas foram as que ajudaram no assunto.

Depois veio o choque que com todas essas ações bem sucedidas, o seu pai não era mais milionário... Ele era um bilionário com casas em tudo quanto é canto, coleções de automóveis e vários modelos de aviões que Near nem sabia o nome. E ele tinha deixado tudo para ele. Não sabia nem o que fazer com aquilo direito!

Também havia descoberto que seus irmãos eram citados no testamento. E assim como eles haviam recusado ir para Nidus – eles nem sabiam da cidade, mas enfim -, quando entraram em contato com eles, nenhum pareceu interessado em suas partes da herança. Realmente, dinheiro não conseguia comprar afeição.

Tivera um baque maior quando haviam catalogado as coisas de seu pai para que visse o que queria para si mesmo e o que não queria. Não estava muito preparado para aquilo e estava ainda menos preparado para encontrar um baú e descobrir que seu pai os acompanhara, mesmo de longe.

 Era o que estava fazendo enquanto estavam no avião. Pelo menos parte dos documentos, na verdade. Vendo recortes de revistas, jornais e entrevistas, descobrira que Carol se tornara uma atriz de Hollywood. Especificamente em 1963, aos quinze anos Jessica se tornara modelo.

Aquilo de certa forma doía. Da última vez que havia as visto, Carol tinha doze anos e Jess tinha apenas três, agora estava vendo que Jessica se tornara um ícone no mundo da moda e Carol se tornara em um dos símbolos de glamour hollywoodiano da sua época.

Doía mais ainda ver entrevistas das duas já idosas. Claro, elas haviam nascido no fim da década de trinta e no fim da década de quarenta, especificamente, então era óbvio que eram idosas. Se Near não houvesse sido transformado num boneco, provavelmente também seria um idoso.

Ou talvez houvesse sido assassinado pela família de Haydée. Ou ainda, talvez ele e o seu pai finalmente teriam se matado em algum ponto. Não dava para saber e sonhar com o impossível. Agora ambas eram avós e tinha até uma matéria sobre o casamento de Carol.

Porcaria, tinha perdido tanta coisa. As suas três irmãs tinham se casado e ele estava tentando entender o que estava acontecendo dentro de uma caixa de madeira.

Mihael se tornara historiador e arqueólogo, e era considerado uma autoridade em cultura nórdica e greco-romana. Aquele tipo de coisa era a cara dele. Jeremiah abrira uma rede de padarias e confeitarias de sucesso, havendo até uma nota que ele fora o responsável pelo bolo de casamento de suas irmãs.

Aquilo estava o deixando depressivo. Havia coisas também sobre os filhos deles, mas como Near não tinha levado tudo o que seu pai tinha guardado, a única coisa que tinha consigo era que Mihael se casara com uma russa e o filho mais novo deles era um escritor best-seller chamado Ivan, reconhecido mais como Ivan T., e que em 2014 ele e a família sofreram um acidente de carro – mais precisamente, um caminhão de carga desgovernado pegou o carro deles. Ivan escapara milagrosamente ileso, mas sua esposa falecera e o seu filho mais velho passara ainda estava em coma, na notícia que tinha. Como aquilo fazia dois anos, provavelmente tinha mais coisa no baú de Charles.

Guardou as coisas com cuidado, pois alguns dos papéis já pareciam prestes a se rasgar, e depois olhou para o relógio em seu próprio pulso.

Bom, lembrava que tanto em sua infância quanto adolescência, Charles colecionava, entre outras coisas, relógios, tanto de bolso quanto de pulso. Near encontra a imensa coleção que fora continuada nas décadas seguintes, mas sem dúvidas o que mais lhe surpreendeu foi encontrar o relógio que Far havia lhe dado quando fizeram dezesseis anos.

Não estava o usando quando fora amaldiçoado porque a bateria tinha acabado e teria que troca-la depois, mas ficara tão... Não sabia nem como ficara. O seu relógio não era caro, era uma coisa que um adolescente poderia comprar, mas ele estava lá, no meio de relógios Rolex de milhares de dólares, limpo e funcionando como se houvesse sido comprado recentemente, e não em novembro de 1950.

Escutou alguém reclamando de alguma coisa e uma risada, depois o piloto anunciou que estavam prestes a pousar. Levantou e desceu para onde os outros estavam, e a primeira coisa que ouviu foi Sirius exclamando:

— Vocês montam dragões?!

— Não todo mundo. Na verdade, normalmente a pessoa nasce ou enquanto ainda é jovem, uma marca em forma de dragão surge em alguma parte de nosso corpo, e sempre haverá um dragão exatamente igual ao da marca, então ele será a nossa montaria.

— Como assim “surge”?

— Aparece. – Stephan respondeu. – Meu pai disse que a dele apareceu quando ele tinha dezoito anos depois da sua primeira situação de quase morte. A minha foi bem mais calma, a minha avó foi me ajudar trocar de roupa quando eu era pequeno e tinha um dragão verde no meu braço. Depois foi só questão de tempo até encontrarem um filhote exatamente igual.

Stephan e Sirius estavam sentados em poltronas, um de frente para o outro. O filho de Haydée havia feito alguma coisa para parecer mais humano, enquanto a mãe dele estava mais concentrada em alguma coisa em seu computador.

— Então depois de um tempo, vocês... Passam por algum tipo de treinamento especial?

— É. Somos unidos com os nossos dragões e depois conferem nossas habilidades e passamos a ser chamados de “dragões”. O meu pai é o Dragão Negro, e é a figura de maior proeminência da cidade, o parceiro da minha irmã, Munir, é o Dragão Dourado e ele é um profeta, o meu tio é o Dragão Vermelho e comando o exército. Esse tipo de coisa. Quanto mais cedo, melhor. Eu comecei com sete anos.

— A cor dos dragões influencia em alguma coisa?

— Normalmente não. Só no caso dos dragões Negros e Brancos. – respondeu. Near passou por eles, indo se sentar sem atrapalhar a conversa. – Normalmente só nasce um em cada geração e eles que vão assumir o comando. Antes que você pergunte, tem toda uma lenda dizendo que o mundo foi criado pelo deus Asmait, o grande dragão negro, e os dragoneses passaram a se espalhar com o reinado do filho dele, Iutho, o dragão branco. Então quem nasce com essas marcas meio que representa eles dois.

— Que viagem. – Sirius constatou. – Você disse que foi treinado, como decidiram a sua área?

— Foi mais afinidade mesmo, mas não tem uma área específica para mim porque sou mestiço de uma bruxa com um dragonês. Eu consigo mexer com magia tanto daqui quanto a de lá e sempre tive uma boa habilidade física. No fim, levei o treinamento do meu pai.

— Que é...

— Assassino e espião.

— As... Como é que é?!

— O pai de Stephan recebeu um treinamento do próprio pai dele quando era menor, que era membro de uma organização do exército do reino deles. – Haydée respondeu num tom distraído. – Imagine algo como o FBI, por altos.

— É, acho que essa é uma analogia correta. É difícil explicar o que o Esben é.

— Bom, então... Você tem sessenta e três anos, certo? – Stephan assentiu. – É, acho que você vai ser útil, no fim das contas.

— Você esperava que eu fosse um garotinho mimado que só veio porque bateu o pé e quis vir?

— Exatamente o caso.

Pousaram numa pista de pouso particular, e Haydée combinara em encontrar Zarya já na dita casa onde Petit com certeza estaria. Parece que era uma espécie de concurso que coroariam uma Miss e seria em um teatro.

Bom, ainda assim era um evento mais social, então ao mesmo tempo que não usassem nada que normalmente usariam em Nidus, também teriam que estar arrumados o suficiente para não parecerem estranhos. Sirius se oferecera para ficar vistoriando o lado de fora, para ver se não tinha nada de estranho ou suspeito.

Era em torno de onze horas da noite quando chegaram no local onde o evento acontecia. Era difícil não ver a placa enorme brilhando “Saenger” dentro carro, e não tinha praticamente mais ninguém do lado de fora, então era bem fácil ver Zarya e Eamon. Ela parecia estar brigando com ele, mas o irmão mais novo dela só ria descarado. Eamon estava se vestindo como normalmente fazia, enquanto Zarya usava um vestido preto curto e o seu cabelo estava preso com uma presilha prateada em forma de mariposa.

— Estamos atrasados? – Foi a primeira coisa que perguntou quando saiu do carro.

— Ninguém saiu daqui de dentro. – ela respondeu. Near percebeu que o tom dela era quase frívolo, mesmo que ainda educado. Aquilo não ajudou muito seus nervos. – Mas já começou há um bom tempo. Acredito que deve estar terminando... Talvez.

Sentiu quase como se sua pele estivesse rastejando, mas a expressão do irmão dela querendo rir da situação o fez se sentir... Talvez um pouco chateado. Aquilo era bobagem, mas era aquilo.

— Ok, vamos entrar. Não vão nos barrar, certo?

— A menos que tentemos entrar no camarim, não acho que não.

Assentiu antes de entrarem.

Bom, dava para ouvir o som alto, gente claramente gritando, berrando, elogios à alguém. Ao invés de irem pelo caminho que claramente estava tendo o evento, tomaram o contrário. Stephan ficou esperando no corredor, passaram por umas Drags, que sim, já sabia o que eram. Na sua época, normalmente eram chamadas de “trasvestites”, e que Haydée, aliás lhe alertara que o tom atualmente era considerado bem pejorativo. Considerando como elas poderiam ser tratadas, não estava surpreso.

Chegaram na entrada dos camarins e tinha uma retocando a maquiagem fora dele. Pelo barulho de tecido, secador e a clara correria, entendia o porquê daquilo, ainda mais pelo fato de ela estar totalmente fato de ela estar já totalmente arrumada.

— Certo, o que fazemos?

— Vá perguntar sobre ela.

Eu?!

— Você é o chefe aqui, não é?

Oh, maravilha. Respirou fundo e foi falar com a Drag com uma enorme peruca cor de rosa. O vestido azul e branco dela era bem criativo, aliás, pareciam dois rostos um de frente para o outro.

Percebeu que ela piscou algumas vezes quando o viu se aproximando.

— Hã, com licença, eu estou atrás da Petit. Ela está aí dentro?

A resposta dela foi abrir a porta e chamar por cima de todo o barulho que estava lá dentro.

— Petit, tem um bonitão te procurando aqui!

Tinha certeza que Zarya fizera aquilo de propósito. Deu para ouvir alguém prendendo o riso atrás de si, mas depois, tudo o que viu foi uma cintura... Aí teve que olhar para cima.

— Olá? Eu sou a Petit, quem é você?

Ok, deu para entender que aquele nome era uma piada. Near tinha 1,82 de altura, e ele parecia pequeno. Ela estava com um vestido preto e colado, bem semelhante com os vestidos de gala da sua época, aliás, além daqueles saltos gigantes. Acabou recuando alguns passos inconscientemente, e viu que Petit era latina, com maquiagem pesada, olhos bem pintados de preto com cílios postiços gigantes, lábios bem vermelhos, e usava uma peruca ondulada platinada com um casquete com um véu preto.

 Mas de verdade? Sem os sapatos ela deveria já ter uns dois metros e alguma coisa de altura! Estava batendo literalmente mais ou menos no meio do peito dela!

— Hã...

— Ai meu Deus, vocês dois são tão pequenos, que fofo! – a atenção dela acabou se voltando para os dois irmãos atrás de si, e eles, aliás, pareciam estar meio em choque. Claro, eles eram minúsculos perto dela, quase na altura de sua cintura. Até Haydée estava piscando como se tentando acreditar no que via. – Quer dizer, todo mundo é pequeno perto de mim. – ela deu uma risada sem graça. Near percebeu que os olhos dela pareciam meio vermelhos.

— É... Não estamos lhe atrapalhando?

— Não, acabei de ser eliminada mesmo. – ela deu um suspiro pesado. – Merda, mas aquele visual de Maria Antonieta foi totalmente roubado da Raja, deveriam... Esqueçam o que eu estou falando. Algum problema?

— Bom, sim. – Zarya parecia ter se recuperado antes de Eamon. – Estamos em uma situação bastante séria, e soubemos que você conhece alguém que... Pode nos ajudar.

Ajudar? Via que ela estava tentando não intimidar a Drag – embora parecesse meio difícil intimida-la quando se tinha quase metade da altura dela -, mas viu Petit franzindo o cenho.

— Sabemos que você conhece... Revka.

— A pequena Revka? Algum problema com ela?

— Sim... – Near olhou para a de peruca rosa na porta dos camarins. Ela fingia que estava passando o batom, mas percebia que ela estava o encarando. – Acho que é melhor falarmos em algum lugar privado.

Deu para vê-la com o cenho franzido.

— Quem são vocês? São estranhos demais para o meu gosto.

— Sério? – Eamon questionou num tom sarcástico.

— Sempre isso... – Haydée murmurou antes de jogar alguma coisa no rosto de Petit. Foi uma poeira brilhante, mas ainda assim discreto o suficiente. Os olhos castanhos dela pareceram ficar confusos. – Tem uma saída para os fundos do teatro logo ali, que tal irmos para lá.

— Claro. – A voz de Petit foi automática quando ela começou a andar.

Ok, ela tinha usado alguma coisa para que a Drag cooperasse sem fazer perguntas demais. Provavelmente descobriria o que ela usar se pesquisasse um pouco em sua própria cabeça, mas estava sem vontade e tempo no momento.

— Isso foi tão Homens de Preto. Só faltaram os óculos e a luzinha. – Eamon comentou e Near o olhou de cenho franzido. Homens de Preto? – Cara, alguém precisa te dar um banho de pop culture. Tipo, urgente.

— É, eu já tinha deduzido isso.

Seguiram pelo caminho indicado pela morena e chegaram um pouco depois que Petit. Ela estava bambeando no lugar como se estivesse tonta sob uma das luzes, ainda com aquela expressão confusa. Sentiu pena da Drag, tinha acabado de ser eliminada do concurso e eles apareciam para ajudar a estragar a sua noite.

— Certo, Petit, - Haydée começou. – estamos atrás de Revka. O que pode nos dizer sobre ela?

— Revka? Ela... Ela trabalha numa lojinha de artigos naturais, é super tímida. – respondeu. – Óculos gigantes, sempre parece esquecer de pentear o cabelo, vive lendo uns livros esquisitos.

— Que tipo de livros?

— Não sei. Eles são de capa dura e lisa. Bem velhos. Ela sempre fica falando de caça às bruxas, inquisição, paganismo. Deve ter algo a ver. Desenhos estranhos, sempre fecha quando alguém chega perto... – ela estava literalmente cuspindo informações para cima deles, meio desconexa.

Livros estranhos...? Se ela estava fazendo alguma coisa com almas de crianças em rituais, ela poderia muito bem estar procurando neles.

— Onde ela mora? – perguntou.

— Minha vizinha, mas várias vezes por semana vai visitar a tia. Ela disse que é uma velha rica que mora numa mansão colonial na rua perto do lago... Largo dos Sátiros...

No momento seguinte, Near só viu alguma coisa explodindo na parede perto deles. Suas mãos foram diretos no cajado retraído preso ao seu cinto, mas o que viu foi gelo. A parede havia sido totalmente congelada, bem na hora em que alguma coisa pulava dela, deixando-a presa ainda meio dentro dos tijolos.

Era... Parecia alguém muito magro e muito comprido, os braços esqueléticos com garras do tamanho de seu antebraço parecendo prontas para agarrar um deles, o rosto... Aquilo não tinha exatamente rosto, era só uma coisa lisa com protuberâncias no lugar em que deveriam estar os olhos, bocas e nariz.

— Demônio?! – Haydée exclamou na hora em que Sirius virava a esquina e Stephan vinha correndo na direção deles. Sua mão esquerda ainda trazia o vapor gelado.

 - Ai meu Deus! – Petit exclamou esganiçada, tropeçando nos próprios saltos e caindo sentada. Near pegou seu cajado e só deu um golpe com uma das lâminas. Mesmo congelada e sem boca, a criatura soltou um grito esganiçado antes de explodir em cacos de névoa preta, sobrando só o pescoço com um símbolo quase que marcado a ferro nele. –

— Olhem isso. – Zarya se abaixou e pegou o que tinha sobrado, apontando para a marca que vira. – Alguém o forçou a fazer um pacto.

O silêncio deu a entender que todos já deduziram o que estava acontecendo.

— Revka deixou-o vigiando Petit para caso ela desse com a língua entre os dentes? – Stephan arriscou.

— Do que vocês estão falando?! – a Drag questionou esganiçada. Não tinha mais volta, haviam a puxado para aquilo.

— Ok, Petit, tente manter a calma. – Near falou. Ele sabia que não era fácil, mas teria que pedir aquilo. – Meu nome é Gaheris, essa é Zosime e este é o filho dela, Stephan. – Viu os olhos dela indo descrentes entre Haydée e Stephan. Claro, os dois pareciam ter a mesma idade. – Nós somos bruxos. Este é Sirius, ele é um lobisomem, e estes são Zarya e Eamon, eles são meio demônios. Estamos atrás de Revka porque ela também é uma bruxa, e pelo que sabemos, ela está fazendo sacrifícios para invocar demônios.

Os seus globos oculares pareciam prontos para saltar das órbitas.

— Ela estava te usando como cobertura, mas parece que ela deixou um plano B a posto caso você falhasse.

— Mas como assim?!

— Estamos tentando leva-la à justiça... Quer dizer, a nossa justiça é meio distorcida, mas enfim. Ela também está envolvida em uma série de atentados contra membros do nosso governo, e parece ser uma peça chave deles. Por isso, só tente responder com calma: Você sabe onde ela pode estar agora?

— E-ela disse q-que ia visitar a tia...

— Certo. Largo dos Sátiros? – respondeu, então virou para Sirius. – Leve-a para um lugar seguro, ok? Nós vamos atrás de Revka.

— O quê? Eu vou ficar de fora?!

— Se ela pôs mais demônios atrás de Petit, você vai ter bastante diversão.

— Você é o príncipe, você que manda.

— Príncipe?!

— Eu tenho um carro – Zarya disse. -, podemos usa-lo para chegar lá mais rápido, e Sirius pode leva-la no de vocês. Eamon, vá à frente, você corre mais rápido de qualquer jeito.

Ele revirou os olhos antes de sumir. Com aquele esboço de plano, foram no carro de Zarya, que arrancou numa velocidade que Near teve certeza que provavelmente deixaria a polícia louca, mas estavam com um pouco de pressa depois do demônio.

Começou a ver a energia de espíritos e magia pouco antes de chegarem à mansão. Estava brilhando como um chamariz para quem conseguia enxergar, deixando claro que ela estava jogando fora qualquer disfarce naquela noite.

O que lhe incomodou também foi ver a ausência de espíritos. Via os resquícios deles, pequenas névoas que estavam aqui e ali, mas a sensação era que um aspirador de pó gigante havia os tirado dali à força.

O veículo morreu perto do portão, fazendo Zarya xingar no que achou ser russo.

— A magia afetou o carro. – ela constatou. – Temos que correr. A coisa boa disso é que com tudo isso, deve ser fácil encontra-la.

A híbrida tinha um ponto, mas antes de fazerem qualquer movimento, Stephan sussurrou alguma coisa no banco de trás num tom de voz sibilante, e sentiu como se seus ossos verberassem em resposta. Com um rangido, os portões se abriram ao mesmo tempo em que o carro voltou a funcionar.

— O que você fez? – Perguntou.

— Magia draconiana. – foi a resposta. – Lá em Nidhi, se a magia parar alguma coisa, pode dar muito problema, então temos maneiras de fazer o maquinário funcionar.

Só viu a russa assentindo antes de com um tranco os levar para dentro, passando por cima do jardim e ignorando totalmente o caminho que os levaria para frente da casa. Quando Near abriu a porta, as narinas dela dilataram e em resposta, a sua aparência deixando de ser humana.

— Zarya, o que foi? – Haydée perguntou imediatamente.

— Ela está tentando invocar a nossa mãe! – ela grunhiu enquanto saltava para fora do carro.

Near escutou a sua própria mente formar um “merda”. Não tinha questionado nada sobre o demônio que havia os gerado, então não fazia muita ideia se era muito poderoso ou não. Mas pela energia disposta para leva-lo ali, era bem na cara.

— Faz sentido – ela continuou, pulando as escadas e chutando a porta, que caiu numa chuva de poeira ao chão. -, ele gera uma criança toda vez que sela um pacto com um mortal, então para trazê-lo à força para o mundo mortal, seria com almas de crianças, mas...

Near travou quando viu o hall de entrada, o chão vibrando sob os seus pés. O lugar com certeza não levava uma boa espanada fazia alguns anos, mas espalhados pelo chão havia corpos. Muitos corpos, aliás, de adultos. Haydée se aproximou de um, girando-o, e Near viu a camisa aberta, revelando bem sobre o coração o desenho de uma pena dentro de um círculo vazio. O pescoço do homem parecia ter sido quebrado.

—... Amabosar. – Constatou. – Magia dos espíritos, pelo menos.

— O que é isso? – Stephan questionou, apontando para o desenho.

— Esse é um vazio. – a mãe dele respondeu. – Tem um tipo de magia dos espíritos em que eles tiram a alma da pessoa do corpo e só deixam a casca vazia, normalmente para fazer trabalhos braçais ou serventes.

— Eu diria que eles poderiam ser uma fonte de sangue para o ritual, mas o pescoço dele foi quebrado. – Near apontou. – Então... Para quê?

— Bom, temos que ir para baixo. – o ruivo disse. - É de onde a magia vem. Cadê o Eamon?

O irmão de Zarya não estava em nenhum lugar à vista. Ela farejou o ar, mas fez uma careta.

— O cheiro da nossa mãe encobre tudo, não dá para saber. Mas a essa altura ele com certeza chegou.

Tinham que ir para baixo. A questão era que tinham que encontrar um jeito. Aquela casa não tinha porão – o que seria previsível demais -, então tinha algum jeito de descer. A magia deixava o ar pesado, que parecia empurra-los para baixo, o que não ajudava em nada a manter a calma para procurar.

Subiu as escadas, o cajado em sua mão, e tinha mais corpos de vazios espalhados pelo lugar. Talvez o que fosse mais assustador fosse o fato que nenhum deles trazia alguma expressão de choque, dor, ou qualquer coisa. Suas expressões eram... Vazias – nossa, como ele era hilário, ha-ha. -, mesmo que os pescoços quebrados fossem sendo substituídos por desmembramentos, pescoços cortados e mais um bom tom de maneiras até criativas de matar alguém.

Abriu a porta de um quarto e viu Eamon parado. Quando abriu a boca para falar com ele, viu-o lhe lançando um olhar fulminante para ficar quieto.

Então viu o cachorro.

Quer dizer “cachorro”, que aquilo lembrava vagamente um canídeo. Ele um cão gigante, talvez em torno de um metro e meio de altura formando uma montanha de músculos definidos que parecia um touro. As patas grandes estavam em chamas, seu pelo nem parecia pelo direito, estava mais para um amontoado de coisas que formavam uma escuridão arroxeada. Suas orelhas eram pontadas para cima com uma série de pequenos chifres descendo pelas laterais de sua cabeça e seguindo pela coluna vertebral até terminar numa cauda de ossos que se bifurcava em duas com suas pontas de setas e diversos espinhos prontos para matarem alguém. A criatura tinha quatro olhos vermelhos, dois maiores e dois menores, e sua boca nem fechava com as presas dignas de um pesadelo com um peixe-pescador, por onde escorria alguma coisa um tanto parecida demais com sangue para o seu gosto.

Ótimo. Um cão do inferno. E pela sua cor, era um alfa, ainda por cima. Como se não estivessem com problemas o suficiente. Qualquer palavrinha ou movimento errado, mordida no pescoço e fim, ração de cachorro.

Near ainda gostava de cachorros, mas achava que os truques que normalmente funcionariam para ficar amigo dos normais não funcionariam com aquele monstro não.

— Devagar... – sussurrou. – Sem movimentos bruscos...

— Você acha que ainda não tentei?! – Eamon quase chiou como um gato.

O cão rosnou em resposta, fazendo o híbrido engolir o seco. A criatura começou a se mover, claramente para rodear o lugar. Que sorte maravilhosa Near tivera em abrir a porta e entrar ali, não era possível...

— Quem é um bom garoto?

Não soube por que disse aquilo, naquele tom de dono babão, mas as orelhas do cachorro se ergueram. Passou um segundo e ele inclinou a cabeça para o lado, como se perguntando se fora com ele.

... Sério?

— Que é o cão do inferno pronto para despedaçar alguém que não seja a gente? – as duas caudas começaram a balançar. Não deveria ter descartado aquela possibilidade tão cedo, mas como leva-la à sério vendo o tamanho daquela coisa? – Hein, quem é? – O cachorro latiu, se inclinando para frente, abanando os rabos como se quisesse brincar. – É, é você!

—... Você está brincando... – Eamon murmurou quase desgostoso. – Se fosse para pelo menos suborna-lo com carne humana eu até engoliria...

— Vá andando. – murmurou, pegando um castiçal que estava sobre a mesa. O meio demônio lentamente foi andando para o lado. – Que tal nós brincarmos? Quer pegar? – o cachorro latiu. – Pega!

Jogou o objeto pela janela com toda a sua força e não contou meio segundo para o cachorro pular atrás como uma bola de demolição, destruindo parte da parede.

— É, funcionou.

— Eu acho que ele ainda vai aparecer para devolver a porcaria do castiçal. Enfim. – Ele foi para frente e enfiou os dedos na parede, puxando-a para o lado, revelando que era uma parede falsa. – Eu encontrei isso logo que eu cheguei, mas o cachorro não me ajudou.

— O que foi aquele barulho?! – Zarya exclamou enquanto entrava no recinto, sendo seguida de perto pelos outros dois.

— Só o príncipe que fez amizade com um cão do inferno, acredite se quiser. Temos pouco tempo, que tal seguirmos em frente?!

A porta que Eamon abrira dava para uma escadaria de pedra. Estava tudo escuro ao fundo, o corredor era estreito e úmido.

— Espera. – Stephan o pegou pelo braço e de novo falou na língua em que pronunciara antes. A energia saiu clara de seus lábios e se estendeu por toda a extensão do caminho, e ouviu uma profusão de cliques, pequenas explosões, e até o som de pedras ruindo. – Pronto. Deve ter desativado todas as armadilhas que tem por aqui.

Desceu quase correndo, talvez influenciado pela vibração da energia sob eles. Simplesmente era algo tão errado que não conseguia ficar em paz lá dentro, com aquela coisa que parecia fazer a sua pressão sanguínea vibrar em conjunto. Desviou-se de degraus carbonizados e evitou um desabamento que aparentemente levava a um vazio inacreditável antes de finalmente chegarem ao fim.

Deram para um recinto simples, de paredes de concreto descascado, e o cheiro de putrefação dessa vez quase fez Near vomitar. Havia mais corpos de vazios ao chão, e talvez fosse hipocrisia ficar aliviado em não ver corpos de criancinhas, porque provavelmente perderia a compostura.

Um clarão vinha ao fundo. Tinha um círculo ao chão, feito de sangue escurecido, e dele emitia um pilar de luz onde a “mãe” de Zarya e Eamon estava presa. Referia-se a ela no feminino figurativamente, pois demônios não tinham sexo, assim poderiam gerar e conceber crianças de qualquer jeito.

O demônio estava levitando, batendo violentamente no que o prendia tentando se soltar. Era uma figura esguia, negra da cabeça aos pés, seu corpo tendo uma forma ao mesmo tempo feminina e masculina, com uma cintura fina como se moldada por espartilho, mas com a ausência de qualquer sinal de seios. A partir dos seus quadris, a parte inferior do seu corpo parecia ser um conjunto de tecidos diáfanos negros que pareciam flutuar como se estivesse sob a água, seus braços finos totalmente enrolados em algo semelhante a couro, os dedos longos golpeando a energia invisível.

Não dava para dizer se era um homem ou uma mulher pelo seu rosto. Poderia muito bem ser uma mulher um pouco masculina ou um homem andrógino. Sua pele era negra como piche, com diversas marcações geométricas, quase tribais, na cor branca por ela e o cabelo que parecia mudar de cor a cada segundo era preso em centenas de segmentos, cada um enrolados em uma fita semitransparente, cada uma de uma cor e com um tipo de marcação.

Havia uma mulher baixinha e magra, de pele meio amarelada, seu cabelo totalmente desgrenhado a fazendo parecer um esfregão. Sua pele estava totalmente enrolada em faixas de linho, cada um com um desenho. Revka parecia estar quase babando, trazendo uma faca na mão direita enquanto trazia um vazio aos tropeços consigo, ainda não percebendo a presença deles ou apenas os ignorando.

Ele andava quase como se realmente não soubesse o que fazer com suas pernas com a falta de expressão de todos os outros corpos. Seu cabelo cor de mel estava mal cortado, encaracolado, os olhos verdes encaravam o nada, além de estar muito magro. Não teve como não notar que ele deveria ser um cara bem bonito quando estava saudável.

— FAUSTO!

O grito de Zarya assustou a ele tanto quanto assustou Revka, que arregalou os olhos, finalmente os percebendo ali, e num giro a sua faca pareceu voar em direção ao peito do vazio. A reação da viúva foi imediata, a energia voando em direção à bruxa. Ela cruzou os braços em frente ao rosto a fim de protegê-lo, a magia a empurrando vários metros para trás até suas faixas começarem a brilhar.

A híbrida ignorou a bruxa, correndo em direção ao vazio que caíra ao chão, e no caso de Near, seu corpo se moveu sozinho. Sentiu a magia queimando por suas veias, mas ao invés de libera-la, levou a lâmina de seu cajado para o seu pulso, quase não sentindo a dor.

O sangue começou a verter imediatamente, mas ao invés de cair, o líquido começou a se erguer. Foi como se inserisse um combustível em sua própria magia, quando Revka pareceu querer atacar Zarya, apenas um movimento de sua mão e a energia saiu como uma lâmina vertical, passando pelo lado dela, mas não a tocando.

Revka mergulhou para o lado, seus olhos começando a brilhar, mas Near direcionou o seu braço para os corpos caídos atrás da bruxa. O sangue entrou neles, levantando num salto e tentando golpeá-la, pegando-a de surpresa.

Era uma sensação estranha, porque era a primeira vez que erguia um corpo. Revka, porém não o permitiu desfrutar muito daquilo, porque ela estendeu os braços e gritou:

— Eu estou quase conseguindo! Vocês não vão me parar!

Só foi então ter uma ideia de o quantos demônios ela havia invocado até então. Cada um dos hieróglifos das faixas brilharam, e deles começaram a sair as sombras de cada uma das entidades.

Quando os primeiros começaram a ataca-los, sem tempo de realmente ver suas formas, Stephan se inclinou para frente e cuspiu fogo. Os demônios rugiram, voando pelo lugar sem conseguir apaga-lo, e Near pegou o seu cajado. Com um movimento, os corpos dos mortos se moveram, cada um se agarrando aos outros que saíam dos tecidos. Como já estavam mortos, não sentiam dor enquanto as criaturas se debatiam, tentando solta-los.

Haydée empurrou os que estavam em chamas para cima deles com uma onda de magia, e logo eles tinham demônios correndo pelo lugar, sendo agarrados por zumbis enquanto pegavam fogo. Poderia até tirar uma foto para não esquecer daquilo. Revka parecia irada, e as paredes começaram a tremer.

A mãe de Eamon e Zarya pareceu olha-lo. Os lábios brancos dele formaram alguma coisa.

“Cachorrinho”?

O latido o fez acordar para a vida. O alfa de antes veio derrapando com o castiçal de prata na boca, e Near mergulhou para o lado a fim de não ser atropelado. Suas garras foram raspando o chão de concreto, fazendo-o girar até, mais uma vez como uma bola de demolição, ele ir contra o círculo.

— NÃO! – Revka berrou, mas tarde demais. As garras do cão queimaram o círculo, e o que Near viu em seguida foi uma explosão.

Não houve som, mas quanto a força, foi outra história. Seus pés saíram do chão e foi jogado para trás como se levasse um soco de um gigante no meio de um furacão. Quando bateu na parede, ainda levou um tempo para que a energia parasse de fluir e então caísse no chão, seu ar lhe escapando ao cair de peito.

Sua visão parecia embaçada, mas enquanto ela voltava ao normal, viu Eamon encima de Revka, segurando-a pelo cabelo enquanto cortava todas as faixas e as arrancava de seu corpo. Via que elas estavam grudadas de forma que a cada uma que ele tirava, um pedaço de pele saía junto, fazendo-a se debater e gritar xingamentos para o meio demônio. Ele estava sem paciência o suficiente para lhe gritar obscenidades de volta.

... Se bem que não precisava de muito para tê-lo xingando aos quatro ventos. Resolveu tirar aquilo da cabeça porque não era a hora para tais pensamentos.

O cachorro apareceu bem na sua frente, ainda com o castiçal na boca, balançando os rabos.

—... Bom garoto. – falou meio sem reação, pegando a peça babada da boca do cão. Ele latiu e lambeu o seu rosto com uma língua roxa avermelhada.

Os demônios haviam sumido, e os corpos que levantara haviam caído novamente ao chão, mais uma vez mortos. Olhou para o círculo onde a progenitora dos dois irmãos estava presa, e sentiu finalmente como se fosse demais ao ver uma garotinha que deveria ter o quê? Um ano? Ela era negra, o cabelinho crespo estava totalmente bagunçado e seu vestido estava todo sujo, e estava claramente morta.

Então ouviu um barulho.

— Makena! – percebeu uma porta aos fundos, que com toda a confusão, não havia visto antes. – Devolve a minha filha! Makena!

Oh merda.

Como se em resposta, o demônio apareceu. Ele flutuava pelo ar mais ou menos como imaginaria uma sereia nadando na água, e só então percebeu os pés apontados para baixo de tal maneira que provavelmente deixaria uma bailarina com inveja.

Deu para sentir todos ficando tensos quando ele se aproximou do corpo da criança, mas a criatura pegou o rosto com cuidado inacreditável entre os dedos compridos e beijou a sua testa. Logo depois, a garotinha começou a chorar.

... Ele a ressuscitara?

Stephan puxou a porta com um puxão, e um homem de uns duzentos quilos saiu correndo o mais rápido que podia. Ele era negro, o cabelo crespo todo amassado como se ele estivesse arrancando tufos de exasperação.

— Makena, Makena! – ele se jogou no chão quando a bebê estendeu os bracinhos para ele, a pegando no colo. – O papai tá aqui, não se preocupa, o papai... – ele então começou a chorar junto com a menina.

Near não tinha nem palavras. O demônio se moveu mais uma vez, indo em direção à porta por onde o pai da garotinha havia saído, e voltou rapidamente com uma urna de cerâmica. Ela tinha um formato ovalado, com o tampo lembrando vagamente uma cabeça humana, e foi para perto de Zarya, que havia conseguido por Fausto sentado, embora ele continuasse ignorando tudo. Viu as mãos dela se apertando nos ombros do marido até então desaparecido quando a criatura se aproximou, mas a mãe da híbrida fez alguma coisa com aquela cerâmica. A cabeça de barro girou, e os olhos e boca preguiçosamente moldados começaram a brilhar.

Então, os mesmos locais no corpo do vazio começaram a brilhar, e só viu uma ponte de energia branca unido o homem e o receptáculo por talvez um milésimo de segundo antes dele cair para trás como se houvesse levado um golpe.

Levantou-se, e o cachorro saiu correndo, pulando envolta do príncipe. Não acreditaria antes se alguém lhe dissesse que um cão do inferno estaria agindo como um filhote perto de si, e em resposta, o demônio pareceu perceber.

A mãe de Zarya continuou sua série de boas ações, tocando a testa de Revka, uma laivo negro descendo pela pele da humana, então levando os dedos até os lábios e assobiando. As orelhas do cão se grudaram na cabeça e ele começou a rosnar antes de disparar. Eamon pulou de cima de Revka no momento em que ele saltou sobre a mulher.

— Ai meus deuses! – o pai de Makena gritou por cima dos berros de Revka enquanto Near só via as faixas voando para todos os lados... Junto com sangue. E pensou ter visto um braço voando.

— Precisamos dela viva! – exclamou.

O demônio parou bem na frente dele.

— Ela não vai morrer. – a sua voz parecia a junção de duas vozes numa só, uma masculina e outra feminina. – Eu me certifiquei que o cão possa despedaça-la e ela não possa morrer a menos que eu queira. Ele pode arrancar todos os seus membros, queimar toda a sua pele, comer todas as suas entranhar e roer todos os seus ossos, e assim que ele acabar, ela vai voltar a se regenerar para que ele faça tudo de novo. Não é meigo?

Near não achou “meigo” ver o cachorro balançando uma panturrilha na boca como se fosse um brinquedo. Haydée saiu de lá como se estivesse pronta para vomitar, enquanto Stephan olhava a cena com uma mão no queixo que quase poderia escuta-lo soltando um “interessante...”. Eamon estava limpando o sangue que caíra nele com uma expressão de nojo.

— Aliás, o cão gostou de você. Os humanos tentam ataca-lo ou jogar coisas nele, mas você não fez nada disso. Pode ficar com ele.

— Hein?!

— Ele lhe escolheu. Na verdade, ela. Nunca pensei num nome para por nela. Uma alfa pode lhe ser bem útil, príncipe Gaheris.

— Você sabe o meu nome?

— Apenas um demônio idiotamente egocêntrico não saberia. Os grandes príncipes tem mais influência do que imaginam, principalmente agora, com invocações forçadas a torto e a direito. – Ela então lhe estendeu um pedaço de cristal cor de âmbar, por cima dos berros dolorosos de Revka. – Ela usou isso para tentar me selar. Foi bastante efetivo e nunca vi isso neste mundo.

Certo, tinha um demônio cooperando com ele. Super normal. Manteve a calma e olhou para o objeto em sua mão, que então brilhou e emitiu uma espécie de mantra numa voz sibilante em língua desconhecida. Mas aquilo soou familiar, como as coisas que...

— Deixe-me ver isso. – Stephan praticamente puxou seu braço junto com o cristal. Ele levou o pedaço de pedra até o ouvido, franzindo o cenho. – É claro que foi efetivo, um mantra de... – Ele franziu o cenho. – Ah, eu não lembro a palavra na língua de vocês.

— Está naquela língua que você vem falando.

— Draconiano. – respondeu. Ele parecia com raiva, e uma vozinha na sua cabeça fez Near lembrar que nunca vira Jake com raiva, então ver alguém quase igual a ele era novidade. – Agora, como eles conseguiram isso? Não é todo mundo que consegue fala-la sem se explodir ou algo parecido, quanto mais prendê-la a um cristal.

— Algum dragonês estaria trabalhando com eles? – Haydée arriscou.

— Mas por quê? Nem somos desse mundo!

— Você disse que nem todo mundo consegue falar essa língua. Vocês mantém um controle sobre quem mantém? – Near questionou.

— Bom, sim.

— Então... Talvez seu pai possa dizer de quem é isso?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cor do Pensamento" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.