Cor do Pensamento escrita por Monique Góes


Capítulo 10
Capítulo 9 - Leigo


Notas iniciais do capítulo

E... O último narrador que faltava apresentar. Ele é um velho conhecido de vocês... xD



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Capítulo 9 - Leigo

Tristan pulou em Will, o assustando.

— Will! Will! Will! Olha o que o eu ganhei!

Levantou, grogue, o mundo embaçado devido aos seus sete graus de miopia. Procurou cegamente pelos seus óculos enquanto o garoto pulava na sua cama, além do quarto ter sido invadido pelos cachorros – tanto que Tali lambia seu rosto, já que estava sonolento demais para se afastar, e quando o encontrou, o seu irmão de quatro anos quase enfiou alguma coisa em sua cara. Parecia... Era... Alguma coisa azul escura e...

—... Tris, isso é um coelho?

— Eu vou chamar ele de Senhor Cenoura!

O coelhinho da raça mini lop mexia o nariz. Pegou-o das mãos do menor pela parte inferior do corpo, e passou o dedo sobre a sua cabeça. As orelhas do bichinho eram caídas e ele tinha o pelo curto e macio. Ele era pequeno, com certeza era um filhote. Aslam subiu em seu colo para dar uma cheirada.

— A coelha da Sandy não tinha dado cria?

— Aham, a Sandy ajudou o papai a comprar as coisas pra ele!

— Não corre com o coelho! – exclamou quando Tristan pareceu que ia correr. Ele acatou e foi andando aceleradamente, tentando manter o novo animalzinho longe dos cachorros.

Com um suspiro, se levantou. Tali estava com a cabeça pousada em sua cama, com a sua melhor cara de coitadinha.

— Eu estou melhor. – coçou a orelha da cadela. – Sério, Tali.

Ela ganiu. A cachorra o acompanhara durante todo o seu ataque de pânico da madrugada, tentando anima-lo com limões, meias sujas e brinquedos que faziam barulhinho quando apertava. No momento estava com aquela sensação de que iria morrer para conseguir se concentrar, mas considerava o esforço, ainda mais sendo ela um cachorro.

E com aqueles ataques, fazia uma semana que não ia para a escola. Na verdade, como era sexta feira, perdera todos os primeiros dias de aula. Claro que seus nervos iriam ajuda-lo ainda mais com aquilo, mas não poderia fugir da escola para sempre.

Era de tarde. Provavelmente dormira por umas doze horas seguidas, e sentia todos seus músculos doloridos, além de estar meio tonto, talvez pelo tempo que estava sem comer. Foi tomar um banho e escovar seus dentes porque sentia sua boca com um gosto horrível.

Fez questão de por uma blusa de manga compridas que terminavam como luvas sem dedos, para que Tristan não visse as marcas que acabara fazendo. Seu pai até tentara impedi-lo, mas apenas o tempo que ele levara para ir pegar seu remédio em seu quarto fora o suficiente para que se arranhasse profundamente sem nem perceber direito.

Desceu, precisava ir comer alguma coisa.

Seu pai estava na cozinha, e pelo cheiro estava cozinhando. Sentia uma energia boa vinda do lugar, além de escutar os gritinhos dos filhotes de Pepper. E estava certo, entrou no recinto quando ele estava verificando alguma coisa no forno.

Seu pai tinha em torno dos seus quarenta e três, mas ele parecia bem mais novo. Ao ponto que a maioria das pessoas não acreditava que ele já tinha um filho de dezesseis anos. Seu cabelo era loiro pálido, meio ondulado que normalmente acabava bagunçado por passar demais a mão no cabelo, e ele usava óculos meio grandes e quadrados que normalmente caíam pela ponte de seu nariz. Usualmente usava roupas meio largas que o fazia parecer um pai hippie.

Nem parecia que ele era um escritor best-seller serial killer de personagens.

— Está melhor?

— Estou. – respondeu, indo até a caixa dos filhotes. Eles ainda não ficavam de pé, os olhos fechados, e estava aquela bagunça de corpinhos uns por cima dos outros, se arrastando pelo cobertor verde. Queria dizer que provavelmente estaria melhor para segunda feira finalmente ir para a escola, mas a sua ansiedade o fazia pensar tanto no fato, que quando percebia estava no meio de um ataque de pânico.

— Beba um pouco de água, vai ajudar um pouco.

Foi até o bebedouro enquanto Pepper entrava na caixa e os filhotes se arrastavam para ir mamar, e quando estava bebendo seu pai tirou uma torta de framboesa que quase o fez salivar. Era bom saber que não estava com falta de apetite.

Talvez fosse errado comer torta logo no café da manhã – ok, tarde -, mas como seu pai não disse nada, pegou um pedaço e comeu com leite.

— Então... Como foi para o Tris ganhar o coelho?

— Eu fui à casa do seu avô devolver o livro sobre Roma. – seu pai respondeu. – Quando eu vi, ele já estava agarrado com o bicho. Acho que não faz mal, ele se deu muito bem com o hamster...

— Bom, teria se dado melhor se o Murtagh não tivesse comido o Bolinha.

— Shh, quer que ele te escute?!

— Desculpa. – respondeu rapidamente.

Bolinha era o hamster de Tris que vivera bem por um ano até ele roer parte de sua gaiola e fugir, deixando os dois loucos atrás dele antes que o mais novo voltasse da escola. Will então encontrara o Dogue Alemão com a boca suja de sangue e o pouco que sobrara de havia fugido mesmo.

— Bom, agora temos o Senhor Cenoura. Vamos fazer uma coelheira maior para ele depois.

— Ele é fofo.

— Só precisamos que o Murtagh não coma ele.

— É...

Tristan desceu logo depois, fazendo Will quase engasgar com a comida. Para poder ir comer, o mais novo entregou o coelhinho para o seu pai e teve que usar um banquinho designado para ele a fim de alcançar a pia da cozinha e novamente os cachorros voltaram. Eles tinham agora, seis cachorros, sem contar os filhotes de Tali.

Tudo começara quando seu pai, Ivan T., começara a ser o autor best-seller e em uma entrevista mencionar que era apaixonado por cães gigantes. Simplesmente, fora tudo o que precisarem para então ele, primeiramente, receber Murtagh, o dogue alemão azul de sete anos, que a maioria das vezes era como se fosse o líder da matilha. Depois, um grupo de fãs lhe deram um Mastim Inglês marrom que sua mãe chamara de Lestat – apesar dos protestos de seu pai, o nome pegou -, em seguida, Ragnar, o Terra Nova preto que era o favorito de Tris, era bem fácil encontrar os dois tirando uma soneca juntos no tapete da sala, Gandalf, o São Bernardo – que no caso, Will recusara todas as tentativas de Sandy de chama-lo de Beethoven -, e há dois anos, quando Will se recuperava do acidente de carro que sofrera, lhe enviaram Tali, a linda e única cadela da casa, da raça Kuvasz, que era a sua favorita e sempre babaria nela em todas as suas oportunidades. A nomeara segundo sua personagem feminina de videogame feminina preferida, Tali’Zorah nar Rayya, da série Mass Effect.

E... Nas férias, um cara aparecera na editora com um novo cachorro para eles, logo depois de Tali dar cria – ainda estava em negação de sua princesa agora ser mãe, e ainda mais negação por seu pai tê-la levado para cruzar sem ele saber -, e... Ele estava com um filhote de um Mastim Tibetano vermelho e dourado. Will não acreditara na hora, nem seu pai, ainda mais considerando o quão cara a raça poderia ser, mas depois de um longo discurso entusiasmado do cara que seu pai não conseguira reproduzir depois, agora eles tinham um ursinho de três meses chamado Aslam em casa, tentando acompanhar os outros cachorros. E ele adorava colo. Pena que ele ficaria grande demais para carrega-lo depois.

Will adorava os animais, só que depois de algum tempo, o resto da família só olhava para eles com um “Outro cachorro?”.

Seu pai tinha algum tipo de magia que fazia todos aqueles cães gigantes coexistirem pacificamente e normalmente eles eram bem receptivos e dóceis com as pessoas, então o incidente com Bolinha pegara os dois de surpresa.

Normalmente, depois de dormir por umas doze horas seguidas, a maioria das pessoas com certeza ficaria acordada a noite toda. Bom, Will tinha trocado a dosagem de seu antidepressivo depois da viagem ao México, então alguns minutos após toma-lo, ficava tão sonolento que normalmente dormiria maravilhosamente se sua cabeça não fosse tão legal com ele a ponto de lhe dar pesadelos e sonhos esquisitos.

No outro dia, acordou quando alguém – provavelmente Tristan – entrara no seu quarto, deixando a porta aberta, e Ragnar derrubou seu altar.

— Ragnar! – exclamou quando o cão saiu correndo pela porta, mas seus olhos foram para toda a bagunça embaçada no chão. Ele conseguira virar a mesa, provavelmente o cheiro da última oferenda ainda estava lá e ele tentara ver se tinha comida. O que o alarmara fora o som de alguma coisa quebrando.

Tropeçou em seus próprios pés – sua cama era flutuante, então balançava um pouco -, agarrou seus óculos e foi ver o estrago.

A mesinha tinha virado, assim como... Tudo. Quase teve vontade de chorar quando viu que o que tinha quebrado era o incensário que sua mãe tinha lhe dado. Tinha forma de sapo, e ele o usava desde que fora autorizado a usar incenso. Além disso, os cristais tinham ido para todos os lados, não via o athame em lugar nenhum, algumas velas tinham quebrado ao meio – ainda bem que estavam apagadas -, o sal tinha se espalhado pela toalha caída e o pentagrama estava de cabeça para baixo, o caldeirão estava de lado e tinha que procurar a sua tampa. Nem a vassoura ficara de pé.

— Will, que barulho foi esse? – escutou o seu pai perguntando do corredor.

— O Ragnar derrubou o meu altar. – reclamou, pegando os cacos do seu incensório e tentando não pisar em nada.

— Oh não...

Aquele lar em particular dos Toy não era muito tradicional. O seu pai e a sua mãe eram pagãos, mas nunca tinham exatamente imposto nada para cima de Will, e ele acabara seguindo o mesmo caminho por vontade própria. Depois que eles perceberam que ele tentava os imitar – nem lembrava dessa época direito -, seus pais haviam montado um altar provisório e infantil para ele, e com o passar do tempo as coisas foram ficando mais sérias.

Claro, não era como se as pessoas sempre entendessem a religião deles. Sua bisavó, quando era viva, não gostava, mas respeitava, ao contrário de sua avó, que sempre criticava. Sinceramente, Will se sentia muito melhor ali, no seu espaço, com seu altar, pesquisas e meditações, do que todas as vezes que ela o arrastara para a igreja. Além de que quando ela mencionava que ele estava sendo criado como pagão, as pessoas normalmente o olhavam como se fosse sacrificar um bode ou coisa parecida.

Tristan estava seguindo o mesmo caminho, e ele já tinha ganhado o seu altar. Seu irmão estava tratando aquilo com absoluta seriedade, aliás, até usava um caderninho do Pequeno Príncipe como um protótipo de Livro das Sombras e ficava seguindo Will e Ivan fazendo perguntas.

Limpou as coisas com um pouco de peso, e percebeu também que o impacto não quebrara só seu incensário, mas também sua estátua de Maat, que estava completamente despedaçada. Não só se sentira pesaroso porque era a deusa que cultuava até então, mas também porque aquela estátua valera os olhos da cara – era impossível aquilo não doer.

— Will, eu vou ter que ir à editora para acertar algumas coisas, e vou levar o Tris para a aula de piano dele. Você quer ir junto?

— Não, eu... Eu acho que vou levar uns cachorros para passear e passar na loja da senhora Cooper. Ela disse que uns livros chegaram e vou comprar algumas coisas. Meu grimório está terminando, além de velas e incensos, e... Um monte de coisa.

Seu pai riu.

— Tem que ir no uni-duni-tê, que todos estão loucos para sair.

— A Tali se estressa se ficar longe demais dos filhotes. Acho que vou levar o Aslam, já que ele precisa disso enquanto é novinho.

— Ok. Eu vi de noite como fazer uma gaiola maior para o coelho, e na volta vou comprar as coisas.

 Assentiu e não demorou muito para o seu pai e seu irmão saírem. Era sábado, e finalmente era um dia que conseguia acordar antes das três da tarde – era oito da manhã. Will se sentia um estranho paradoxo quando chegava a hora de sair de casa e encarar pessoas.

Era extremamente introvertido e sofria de ansiedade, então normalmente morria de medo de encontrar pessoas. Mas entrara no Magick, estádio lotados se tornaram cada vez mais comuns, assim como fanmeetings e afins, e ele não ficava pensando muito naquilo. Era como se outra pessoa tomasse conta de seu corpo e tudo agisse naturalmente. Em compensação, tivera ataques de pânico para ir para a escola nova.

Assim como também tinha uma depressão que normalmente o fazia ficar recluso, mas sempre conseguia acabar saindo com os seus cachorros. Tali normalmente era a mais perceptiva, tentando deixa-lo feliz com as meias sujas que roubava e seus brinquedos favoritos, e quando não, trazia sua coleira na boca e ficava o puxando até desistir e leva-la para passear. Aquela cadela era inteligente demais, e sentia falta de dormir com ela. Provavelmente levaria o cesto dos filhotes para o seu quarto só para tê-la por perto de novo.

Depois de tomar café, trocar de roupa e achar a coleira de Aslam, colocou os cachorros para fora e saiu de casa. Poderia deixa-los soltos, eles nunca fugiam, além do mais, se algum ladrão tentasse entrar, daria de cara com cinco cachorros cujos menores tinham pouco menos de um metro de altura.

Na rua, pelo menos, Aslam atraía mais atenção que Will. Ele era a coisinha peluda e vermelha que ia animadamente à sua frente, e não incomum alguém queria toca-lo, e ele adorava a atenção que recebia. Nem parecia que há alguns dias ele ficava gritando de noite, com medo de estar sozinho, e acabava se escondendo na cama do rapaz ou na de seu pai.

 A loja da Sra. Cooper era uma loja de artigos pagãos, seus pais sendo clientes de longa data, e era de lá ou da internet que Will comprava qualquer coisa que precisasse.

Só que no caminho, entre uma padaria e uma sapataria havia uma loja que tinha certeza que não estava lá da última vez que tomara aquele caminho, e alguma coisa o fez parar. O prédio em que ela se localizava tinha dois andares, e bem em frente à fachada tinha uma varanda que jogava sombras sobre o lugar. Pela vitrine via que o local era bem escuro, as luzes amarelas lhe dando um tom mítico.

Os cristais, varinhas e estatuetas deixavam bem clara a natureza da loja, mas... Quando aquilo abrira? E ainda mais, era bem no caminho da sua casa, ainda mais perto que o Gato Mágico da Sra. Cooper.

Tinha algo estranho ali, e não sabia exatamente o que era. Aslam estava o rodeando, enrolando-o com a correia da coleira, mas Will nem se importou. Era como se houvesse alguma força atrativa naquele lugar, e reconhecia aquele tipo de coisa.

— Bom, olhar não tira o pedaço, não é? – Perguntou para Aslam, que tentou subir em seus joelhos, pedindo carinho. Coçou sua orelha antes de entrar.

O sino da porta soou e o lugar estava tomado pelo cheiro de incenso de olíbano, que era um dos que mais usava, também. Havia estantes e prateleiras por todo o lugar, e no fundo viu uma velhinha atrás de um balcão.

Ela usava uma capa de lã violeta com bordados prateados, e tricotava alguma coisa que estava com um belo tom de azul mar, suas mãos bem enrugadas com diversos desenhos em sua pele. A senhora ergueu os olhos quando a porta se fechou atrás de si com um rangido.

— Bem vindo, querido.

Não sabia se era porque tinha uma luz bem encima dela, que lhe dava um aspecto sombrio, ou se sua cabeça estava o fazendo ver aquilo como o começo de um filme de terror em que só precisaria comprar a coisa errada e alguma coisa viria puxar seu pé a noite.

Era irônico que ele, de todas as pessoas, pensasse aquilo.

— Hã... A senhora se incomoda se o meu cachorro ficar aqui?

— Animais são presentes da natureza. Eles são bem vindos.

Ah, ok. Aslam o encarava com o rabo balançando, feliz da vida, e pegou-o no colo quando foi vistoriar a loja, para que ele não batesse e derrubasse nada.

Depois de um tempo, percebeu que aquele lugar era diferente, até mesmo para uma loja pagã. Começou vendo cristais que nunca vira na vida, seguindo quando viu uma erva que parecia um tecido etéreo e fantasmagórico.

Talvez a maioria das pessoas daria no pé e fingiria que nunca havia visto aquele lugar, mas se sentia quase relaxado. Além do mais, Will não era a maioria das pessoas.

Parou em frente a uma estante com uma vasta coleção de estátuas e objetos relacionados a deuses, mas tirando por alguns poucos que reconhecera, como Hécate e Bastet... A grande maioria era completamente desconhecida para si.

— Que deuses são esses? – questionou para a idosa.

— São os anjos bruxos, meu filho. – ela respondeu.

Anjos bruxos? Nunca nem havia ouvido falar sobre aquilo.

Seus olhos seguiram pelas estátuas até perceber a variação de dezoito figuras, e todas eram feitas de tipos diferentes de materiais, como se cada um tivesse o seu próprio.

Parou na estátua de um homem. Ele tinha cabelo que batia no meio de suas costas, usava uma coroa na testa e uma longa capa até o chão. Em sua mão direita havia uma espada e na esquerda um escudo redondo. Aos seus pés havia dois dragões.

— Quem é esse?

— Rei Alphonsus. – ela disse, ainda tricotando. – O Conquistador.

Olhou a estatueta mais uma vez. Ela era prateada, total e completamente, como se houvesse sido pintada com prata ou coisa parecida. Estava entre as estátuas de duas mulheres. Tinha uma sensação estranha ao olhar para aquilo, e não fazia a mínima ideia do por quê.

Também não fazia a mínima ideia que bruxos tinham um panteão próprio, mas seus olhos pareciam ser atraídos principalmente para as coisas relacionadas a Alphonsus. Lembrava-se de como fora o caminho até cultuar Maat, e mesmo não tendo certeza, preferiu dar mais uma volta na loja antes de tomar qualquer decisão.

Encontrou os livros que vendiam, junto com os cadernos para grimórios e livros das sombras, além de canetas tinteiros de todos os tipos, penas e frascos repletos de coisas que não reconheceu.

Guias de cristais, oráculos dos anjos, tarô, receitas de poções, sociedade bruxa, Rockstones –... pelo modo que o livro era decorado, parecia se refletir em algo ou alguém muito importante -, e assuntos que Will não havia visto até então. Se viu pegando alguns livros que o interessara. Pegou inclusive alguns cadernos para o grimório, não resistiu à tentação das canetas tinteiro, e ficou se culpando mentalmente pelo número de coisas que iria levar. A senhora sorriu quando quase tropeçou no balcão para colocar tudo por causa de Aslam novamente o enrolando com sua coleira, e perguntou:

— Não vai levar a estátua do Lorde Alphonsus?

Olhou de volta para a estante. Na verdade, eram AS estátuas, devido ao número. Acabou voltando lá e escolhendo uma, antes de mais uma vez ir ao balcão para pagar. E para a sua surpresa, estava bem mais barato do que pensava que seria – mais barato até que a Sra. Cooper. -.

A velhinha o olhou mais uma vez com seus olhos violetas.

— Você não precisa de um incensário?

... Tinha esquecido daquilo. E das ervas.

E como ela sabia daquilo?

Antes que saísse de perto mais uma vez, a idosa cobriu suas mãos com a dela, sua pele fria e nodosa, como se fosse um pergaminho antigo. Ela tinha um forte cheiro de sândalo, e sorriu ao dizer:

— O sangue do dragão e da águia se misturam... Qual prevalecerá ao fim?


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