P.O.V Da Sam

O idiota e eu decidimos assistir alguns filmes enquanto comíamos Pizza com refrigerante, e trocamos algumas palavras. E quando chegou no terceiro filme, o bobão capotou. Continuei assistindo enquanto ele roncava baixinho ao meu lado esparramado no sofá, e assim que o filme acabou, desliguei a TV e saí da sala sem fazer barulho. E como não tinha cama no meu quarto e a ideia de dormir no chão foi imediatamente descartada, resolvi dormir no quarto dele, no momento aquilo era a minha melhor opção, ou era dormir no chão ou na cama dele... A segunda opção com certeza era a mais adequada, sem sombras de dúvida.

Aproveitei que a porta não estava trancada e adentrei o quarto dele, foi fácil achar o interruptor. Assim que acendi a luz pude apreciar a decoração, achei o quarto bonito e parcialmente organizado.

As paredes eram azuis num tom escuro, havia um guarda-roupa branco, duas prateleiras repletas de carrinhos e bonequinhos, uma estante cheia de livros, escrivaninha, criado-mudo e alguns pôsteres de filmes. O que mais me chamou atenção foi sua coleção de Star Wars, tinha duas espadas presas num suporte pregado na parede, bonequinhos de personagens alinhados nas prateleiras e objetos personalizados.

A colcha da cama, fronhas e o edredom também eram de Star Wars. Decidi bisbilhotar as coisas do bobão, achei camisetas e pijamas de Star Wars, e descubri que ele escondia revistas masculinas numa caixa em cima do guarda-roupa. E nas gavetas, cuecas boxers, meias e preservativos, alguns que brilhavam no escuro.

Por último, dei uma olhada no seu mural de fotos, havia fotos dele com um rapaz um pouco gordinho e outro rapaz loiro de olhos claros. Também havia fotos dele com uma mulher de olhos esverdeados e cabelos curtos cor de acajú, devia ser a mãe dele. E tinha mais fotos dele com uma moça bonita, alta, magra de olhos e cabelos castanhos bem escuros quase negros, em algumas fotos ela estava com um barrigão, sorriso contagiante e ele sempre pegando na barriga dela, fazendo carinho e sorrindo também.

Seria sua namorada grávida? Ou uma amiga muito especial? Talvez uma prima, quêm sabe...

[...]

Acordei sentindo algo encostando em mim, mas eu mantive meus olhos fechados. E só abri os olhos quando uma perna descoberta e peluda foi lançada sobre a minha, ouvi um pequeno resmungo e algo se mexendo atrás de mim. Um calafrio percorreu todo o meu corpo me deixando arrepiada, aquela respiração entrecortada batendo na minha nuca me fez despertar de vez e saltar da cama.

— AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH! - Gritei me deparando com aquela criatura dormindo na cama e mostrando o que não devia.

Freddie estava apenas de cueca, acabou acordando com o meu grito e caiu da cama.

— TARADO! - Parti pra cima dele o atacando com um travesseiro. - SAFADO! - Sentei sobre sua barriga, enquanto batia nele com todas as minhas forças, e ele apenas gritava e tentava me tirar de cima dele. - VOU CHAMAR A POLÍCIA! - Dei com o travesseiro na cara dele.

Minutos depois...

— O que eu fiz, sua louca? - Perguntou o safado escondido debaixo da cama, com certeza se borrando de medo.

— Ainda se faz de desentendido? - Me indignei.

— Mas eu não fiz nada... - Choramingou.

— Você se aproveitou de mim, enquanto eu dormia... Como pôde tirar a minha inocência? E agora? Você tirou minha honra sem meu consentimento, seu canalha, cachorro, sem vergonha, infeliz... - Sentei no chão, começando a chorar. - E se eu ficar grávida? - Me desesperei.

— Você é completamente maluca! - Se rastejou saíndo do esconderijo, todo descabelado.

— E você é um aproveitador de moças puras. - Rebati me levantando.

— Não me aproveitei de você e você não é nenhuma donzela indefesa. - Disse irritado, cruzando os braços e eu fui até ele.

— Ah, não? Acordei com você quase pelado ao meu lado, e com essa sua perna peluda em cima de mim, com seu corpo colado ao meu e eu juro que senti algo duro me cutucando...

— CALA A BOCA! - Gritou comigo perdendo a paciência. - Você teve a ousadia de invadir meu quarto, se apossou da minha cama, assaltou minha geladeira de madrugada, babou no meu travesseiro, tomou conta do meu edredom só pra si, e ainda tem a audácia de me acusar de abuso? Quêm você pensa que é, garota? Eu jamais teria coragem de me aproveitar de você. Vou ligar pra minha... - De repente se calou e arregalou os olhos, vi seu olhar se fixando em meu busto e ele enguliu um seco.

Só então, percebi que minha regata havia subido e acabou deixando meus seios praticamente expostos. Maldita regata traíra, filha da mãe...

— Calma, eu não vi os seus mamilos rosados. - Freddie disse rapidamente antes de sair correndo em disparada, me deixando sozinha no quarto, provavelmente roxa de vergonha.

Abaixei minha regata cobrindo meus seios rapidamente. Droga! Por quê isso tinha que acontecer? Nunca mais vou conseguir olhar pra cara dele...

[...]

— AH MEU DEUS! - O fanático por Star Wars gritou quando viu o pequeno incêndio que provoquei acidentalmente na nossa cozinha. Sim, nossa cozinha. - O QUE VOCÊ FEZ? - Brandou tentando apagar o fogo com o pano de enxugar louça ensopado.

— Ovos fritos... - Corri pra trás da bancada.

— Ovos tostados você quis dizer, né? - Disse, irritado, jogando água na frigideira. - Se eu não tivesse aqui, essa porcaria iria explodir. - Exagerou apontando para o botijão de gás. - Você é uma sem noção mesmo, tão desastrada que botou fogo nos ovos, estava fritando com gasolina por acaso? - Sorriu debochado.

— Fritei com a tua...

— Olha a boca, garota! - Me cortou, lançando um olhar reprovador.

— Foi sem querer, tá legal? Não sei como aconteceu... De repete o fogo subiu e pufe! - Tentei explicar gesticulando.

— Vou ficar de olho em você... - Apontou pra mim. - Agora preciso ir pro trabalho! - Murmurou passando as mãos pelo cabelo.

— Hoje é Sábado e...

— Eu recebo mais nos dias de Sábado. 8,00 pratas por hora! - Sorriu orgulhoso.

— Aonde você trabalha? - Perguntei.

— No Pixel & Pear's, trabalho na assistência, mas durante o Sábado eu atendo. - Disse saindo da cozinha e eu o segui.

— Posso ir com você? Juro que vou ficar quietinha, não vou te atrapalhar em nada! - Falei fazendo cara de coitada.

— Sei não, hein... - Parou de andar e se virou para mim, hesitante.

— Vou me comportar, juro, é sério... - Tentei convencê-lo.

— Tá bom. - Cedeu. - Vou vestir meu uniforme.

— E eu, uma jaqueta! - Cantarolei correndo para o meu quarto.

1 Hora depois...

— Quêm é essa moça bonita? - Uma mulher de cabelos platinados e olhos verdes perguntou para o Benson, me olhando curiosa.

— Minha prima, veio do interior e eu tive pena de deixar a coitada sozinha em casa. - Ele mentiu, tive vontade de bater nele.

— Prazer em conhecê-la, sou Marie, a chefe desse jovem nerd! - A platinada sorriu simpática.

— Sou Sam, sempre desconfiei que esse cabeçudo tinha uma mente de gênio. Desde criancinha ele já mostrava seus talentos... Começou a ler aos 3 anos de idade, já calculava aos 5, mas só foi aprender limpar a bunda com 15 anos, muito inteligente e lerdo. Uma vez ele...

— Já chega, não é priminha? - O Benson tapou minha boca. - Ela não sabe o que diz, sempre caiu do berço e não é muito certa da cabeça, sabe? - Sorriu amarelo, me arrastando pra longe da chefe dele. - Você disse que iria se comportar! - Me prensou numa parede, me fitando vermelho. Estávamos atrás de uma prateleira repleta de bolsas para notebooks.

— Me. Solta. Babaca! - Gruni entre dentes, pausadamente.

— Brother, melhor ir se atracar com a loirinha no depósito. Se a chefe flagrar vocês aí fazendo safadezas tu vai ser demitido! - Ouvimos uma voz masculina e o Benson me soltou.

— Não enche, Brad! - Vociferou para o loiro que nos encarava, sorrindo malicioso. - Vá vender Pearbooks, você precisa de dinheiro para comprar fraudas e leite, seu engravidador de irmãs alheias! - Disse num tom brincalhão, só então notei que o rapaz era o loiro das fotos no mural do Benson.

— Relaxa, cunhado. A loirinha aí é tua garota? - O tal de Brad indagou.

— Não. Nós estamos dividindo o duplex, sabe? Essa é a Sam, mas ela joga no nosso time, sacou? - Sorriu para o amigo/cunhado.

— Sim, saquei! - O loiro sorriu.

— Mas eu não...

— Relaxa, loira. Sem preconceitos, ok? Quer comer ou tomar alguma coisa? Tem uma lanchonete aqui do lado. Tô indo lá comprar um Sundae! - Sorriu gentil.

— Quero um Shake de chocolate! - Falei.

— Certo. Um Sundae pra mim, um Shake pra loirinha e uma Vitamina de banana pro Freddinho! - Disse rindo, indo embora.

— Vitamina de banana, é Freddinho? - Sorri debochada.

— Argh! - O nerd revirou os olhos e me deu as costas, me deixando ali sozinha atrás da prateleira.

Minutos depois...

— Qual eu devo comprar? Laranja, roxa ou rosa? - Uma garota perguntou mostrando capinhas de celular para o Benson.

— Rosa! - Ele respondeu entediado, bocejando.

— A roxa é mais bonita, não? - Ela mostrou a tal capinha.

— Então, leve a roxa. - Disse pegado a capinha dela. - Tem desconto de...

— Tem vermelha? - A garota chata perguntou quase se esfregando nele

— Tem de todas as cores, moça! - Respondeu apontando para a prateleira.

E eu estava ali perto, só observando, enquanto mascava chiclete tranquilamente.

— E dourada, bebê? - A irritante se inclinou sobre o idiota.

— Uhum. - Ele cruzou os braços.

— Tem algum compromisso hoje à noite, gatinho? - A morena perguntou brincando com o crachá dele.

— Eu...

— Algum problema aí, amor? - Decidi entrar em ação e acabar com aquela palhaçada, fui até eles.

— Nenhum. - Respondeu rapidamente, me puxando pela cintura.

— E você? - Olhei para a oferecida. Vai ou não comprar a porcaria da capinha? Escolha logo ou suma daqui, pensa que eu não estava de olho? Se tentar flertar com o meu namorado de novo, juro que vou te fazer engulir esse teu bojo e todo o papel higiênico que você colocou nele! - Ameacei, intimidando-a.

— V-vou l-levar a amarela. - Gaguejou pegando uma capinha.

— Ótimo! - Sorri, satisfeita. - Leve também uma verde, preta, laranja e branca! - Empurrei mais capinhas pra ela.

— Vai lá, a "cliente" é sua, pateta! - Sussurrei, empurrando o Benson para perto da morena oferecida e ele a conduziu para o caixa.

— O que colocou no cabelo daquela garota? - Marie chegou ao meu lado de supetão.

— Chiclete! - Respondi abrindo outro.

— Vai morar com o Freddie? - A platinada perguntou curiosa.

— Sim... Por quê? - Olhei para a blusa/uniforme vermelho que ela balançava, sorrindo pra mim.

— Tome, estou te dando o emprego de atendente. Suponho que esteja precisando... - Jogou o uniforme pra mim.

— Valeu, senhorita...

— Marie, me chame apenas de Marie! - Falou antes de me dar as costas.

— Que legal! - Exclamei tirando a jaqueta, vesti o uniforme por cima da minha camiseta desbotada. - Yeah! Meu primeiro emprego! - Comemorei fazendo uma dancinha.

— O que deu em você, coisa loira? - O Benson apareceu com o Brad.

— Olhem só! - Sorri apontando para o meu uniforme.

— Parabéns, Sam! - Brad me surpreendeu com um abraço. - Temos que comemorar! - Deu tapinhas nas minhas costas. - Vou dar para vocês 8 bilhetes para irem nos brinquedos do Parque de diversões que vai inaugurar hoje! - O loiro entregou os tais bilhetes para a gente. - Não vou poder ir, minha morena não ia deixar mesmo. - Deu de ombros. - Vão e divirtam-se! - Deu soquinhos no ombro do amigo.

— Valeu! - Agradeci animada.

— Mereço! - O chato do Benson bateu na própria testa. - Eu devia ir com a Valerie... - Ouvi ele cochichar para o amigo.

Meu sorriso deve ter murchado, aquilo me deixou... Desanimada ou pior, foi como um soco no estomâgo...

— Então, Sam... - Olhou pra mim com um sorriso forçado. - Vamos no parque, vai ser super maneiro, minha sister/brother! - Benson se aproximou e passou o braço em volta do meu pescoço, quase me estrangulando.

"Vai ser sim, vai ser super maneiro quando eu te jogar da Roda-gigante, quando estivermos lá no topo... "

Gargalhei malignamente por dentro...