Striker - A Bruxa, Os Deuses, Anjos & Mortais. escrita por Lucas Chroballs


Capítulo 14
Primeiro Embate




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Ao Norte de Vanilla

 

Dois policiais vão atender o chamado de uma denúncia de violência doméstica. Enquanto isso, eles conversam sobre a situação do caso.

 

— Já é a terceira semana, você não pode simplesmente ignorar o chamado, Barry? — pergunta o policial do banco do carona.

 

— E quem disse que nós vamos lá? Fomos três vezes e nunca deu em nada. Não vou perder meu tempo — diz o policial Barry.

 

— Então, para onde vamos? 

 

— Paramos o carro próximo e vamos naquela nova lancho… O que é isso?

 

Ao chegarem a um bairro residencial, notam que a rua está mais movimentada que o costume, então decidem sair do carro e caminhar na multidão.

 

— Por favor, afastem-se! — diz Barry.

 

— Quanto menos gente no local, melhor será o nosso trabalho — diz o parceiro.

 

Eles caminham em direção do aglomerado de pessoas, afastando-os do local. O portão de ferro derretido os impressiona, assim como o rastro de sangue na calçada e no telhado da casa em frente.

 

— Eu vou entrar. Contate a central e me dê cobertura.

 

Dentro da casa, o policial Barry caminha lentamente empunhando a sua pistola e a primeira coisa que se depara é uma mulher cobrindo os olhos de uma menina, enquanto estão encolhidas ao lado do fogão, também ensanguentado.

 

— Senhora, eu sou policial. Viemos ajudar. O que aconteceu aqui?

 

Ela não demonstra se importar com o que ouviu, mas responde, após retirar a franja molhada de sangue do rosto e mostrar o olho vermelho.

 

— Nós fomos salvas…

 

A cozinha estava de cabeça para baixo, cheia de sangue e objetos quebrados, sinalizando uma possível briga.

 

— Quem fez isso? — pergunta o policial.

 

A mulher não responde, mas levanta seu dedo indicador e aponta para a orelha, como se quisesse que ele apurasse os ouvidos. Ao entender o que ela pede, Barry segue o som de uma televisão na sala, que está reproduzindo uma cena dantesca.

 

— Aqui é Renne Rennew, ao vivo no coração de Vanilla para todo o arquipélago. Nosso helicóptero acaba de encontrar um corpo pendurado na fachada da Igreja Central, completamente desfigurado. Por favor, aproxime a imagem… Há algo escrito na barriga dele…

 

As câmeras mostram a frase “-1 câncer” escrita com sangue.

 

— Nossa produção está averiguando a identidade da vítima, mas sem dúvidas, faz parte da onda de assassinatos em massa nos últimos dias em Vanilla. Fiquem atentos para mais informações.

 

O policial caminha rapidamente para a saída. Porém, olha para as duas na cozinha por alguns segundos e volta para o seu parceiro na entrada.

 

— Barry, a central disse que está vindo com os paramédicos. O que houve aí dentro? — pergunta Sam.

 

— Sam… vamos aguardar a central e conversamos na base — responde Barry, bastante sério.

 

O parceiro estranha a atitude do colega, mas prefere continuar a controlar a multidão de curiosos, enquanto Barry fica parado em frente ao portão da casa. 



Ao Leste de Vanilla

 

Em um museu abandonado há três anos, Striker está deitada em um banco, com seus longos cabelos brancos tocando o chão sujo. Enquanto isso, borboletas trazem livros e esculturas do antigo acervo do local, mas ela rejeita tudo ao ver.

 

— Não. Tudo isso não vale de nada pra mim… Tentem trazer algo mais parecido comigo — diz ela às borboletas, que voltam a procurar coisas.

 

Segundos depois, uma retorna com uma fotografia bastante antiga. Mostrava os restos de um homem em um mosteiro segurando alguma coisa.

 

— Onde achou isso?

 

A borboleta-branca voa para outro salão e Striker a acompanha, com as outras vindo logo em seguida. As duas chegam a um grande cômodo empoeirado e inacabado do museu. O espaço serviria para as exposições na época de ouro da Inquisição. Porém, a atenção da bruxa é voltada para o acervo de imagens em que sua amiguinha havia pousado. Eram ilustrações e imagens de fósseis e instrumentos de tortura utilizados naquela época.

 

— Não, ainda não sinto nada.

 

Ela suspira, e todas as borboletas desaparecem no mesmo momento que Jaison surge na porta.

 

— Eu deveria esconder melhor os meus passos — diz Striker.

 

— Não são as pegadas que te entregam… — Ele a olha de cima a baixo. — Você tem muita informação; como você vindo a um museu. Nunca pensei que história fosse o seu forte.

 

— Acho que os números não transmitem a mesma emoção que essas fotos. Mas fala aí, por que tá aqui?

 

— Você está se torturando demais por uma coisa que não é sua culpa. Achei que já era a hora de olhar pra frente — diz ele em tom agressivo, mas com uma expressão tranquila.

 

— Não é a morte dela que está me incomodando, e sim a figura em si. Eu vi o bastante de mim nela, a ponto de questionar as minhas ações… Para onde vou com tudo isso? — pergunta Striker, olhando para as imagens.

 

Ao ouvir as palavras da amiga, Jaison se aproxima, pega a foto e a vira contra o mostruário de vidro.

 

— Eu sei como se sente, já estive no seu lugar. Cheguei ao mundo me achando uma aberração, e as pessoas estavam ali para reafirmar isto. Tudo o que eu queria era saber minha origem, meu nome e se tinha uma família…

 

— E então…

 

Ele suspira para falar e olha no fundo dos olhos dela.

 

— Eu estava velho demais para ver a minha mãe viva. Fiquei recluso por um bom tempo. Meus amigos sumiram para seguir suas vidas, e continuei me martirizando por tudo o que descobri sobre mim. Até que percebi onde estava me metendo: “sou imortal, não posso ficar a vida toda chorando pelo meu passado”, e lá fui eu seguir minha vida. — Jaison pega um cigarro e acende com seu polegar — Cada um tem uma forma única de absorver as coisas, mas não faça disso o seu tormento. Acredito que você terá coisas mais importantes para se preocupar. 

 

Striker ouve tudo o que seu amigo diz e esboça um sorriso.

 

No departamento de polícia

 

Os dois policiais voltam a base para conversar com o delegado sobre o ocorrido.

 

— Você prestou mais de quinze anos de serviço à nossa cidade, policial Barry. Por qual motivo quer desistir tão repentinamente? — diz o delegado.

 

— Senhor, sei que é uma decisão abrupta e foge das condutas em decidir abandonar a função em meio a um caso. Mas depois do que vi hoje, naquela televisão, não sei se posso com isso — Barry se mostra bastante calmo, mas sério.

 

Seu colega, Sam, ouve sem dizer uma palavra e com bastante preocupado do que aconteceu com ele.

 

— Policial, você deve estar tendo uma noite difícil. Aquela casa afetou você de uma forma que nem eu sabia. 

 

— Não é de hoje que dividimos a cidade com criaturas de fogem da nossa compreensão. Margo’on e Vanilla estão fazendo o possível para que mais diálogos de insegurança como os nossos não se repitam, policial — diz o Delegado — Você deve estar bastante tenso, lhe mandarei para casa para...

 

— Não é a bruxa! — grita Barry, interrompendo seu superior. — Depois da chegada do exército, coisas mais estranhas passaram a acontecer. Até então, não tínhamos um assassino em série matando criminosos ou o nosso pessoal, e expondo eles como avisos. Eu tenho família e não é assim que quero morrer.

 

Sam se levanta e coloca a mão no ombro do seu amigo, observando a expressão pensativa no rosto do delegado.

 

— Barry, eu não sei o que você viu naquela casa, mas problemas domésticos acontecem…

 

— Acontecem, mas aquilo na porta da igreja também acontece com frequência, Sam? Quantas vezes fomos resolver uma denúncia de empalamento em praça pública? Eu não sei porque vocês ainda querem continuar a brincar de policia e ladrão, enquanto o exército está nessa merda de cidade!

 

O Delegado se levanta e fica cara-a-cara com Barry.

 

— Olhe como fala da nossa cidade em minha delegacia, policial. Não é porque você se sente um inútil que a corporação toda deva jogar a toalha e esperar que o serial killer seja pego num passe de mágica. Temos nossa reputação e até que o apocalipse chegue, vamos garantir ruas seguras e impedir que mais crimes como o de hoje aconteçam. Fui claro?

 

—  Sim, senhor — diz Sam.

 

Barry não responde, apenas joga seu distintivo na mesa dele e sai.

 

— Podem morrer por esse lugar. Eu quero viver! — Ele abandona a sala e deixa os dois o olhando surpresos.

 

Em um hotel de Roma

 

A princesa tenta dormir em uma noite chuvosa, mas sua insônia a faz ir até o banheiro para lavar várias vezes o rosto e beber a água da torneira com os poucos calmantes que ainda lhe restam. 

 

— O sono deve ser primordial para você, não é mesmo? — diz uma voz na cabeça dela, que a assusta.

 

Ela passa a olhar para todos os lados do banheiro e do quarto, até ver a sombra de alguém sentado na sacada.

 

A cada passo que a princesa dá, lembranças surgem na sua cabeça e a fazem ter tonturas com as vozes.

 

Pai... pai, por favor. Eu ainda sou sua filha… Ah!

 

— Para com isso agora! — Ela gira e chuta as janelas e a porta de vidro em lateral. Enquanto os cacos de vidro se espalham pelo quarto, um mero corvo a observa da sacada, pisca seus olhos e vai embora voando.

 

A princesa vai ao chão bastante ofegante e com as mãos na cabeça. O telefone começa a tocar e ela rasteja até ele, tentando conter sua dor ao atender.

 

— Sim? — ela pergunta, tentando se mostrar calma.

 

— Gostei das reformas que está fazendo. Deixou o quarto mais arejado — diz uma voz masculina.

 

— Você é do hotel? Prometo que vou pagar todos os…

 

— Eu não tenho cacife para esse tipo de trabalho. E acredito que você não tenha motivos para estar aí.

 

Quando ela ia desligar, sua televisão mostra a seguinte mensagem:

 

“Não faça isso!”

 

— Não acho que seja bom desligar o telefone, agora — diz a pessoa do outro lado da linha.

 

— Quem é você e o que quer? — pergunta ela, bastante séria, ao telefone.

 

— Me chame de “Hardware”. Estou ajudando uma amiga a fechar um cerco de perguntas a serem respondidas e acho que você carrega as minhas respostas. Contudo, posso ajudá-la a saber melhor quem é sem pedir nada em troca.

 

— Detesto segredos. Me diga de uma vez o que quer?

 

— Tive o desprazer de encontrar uma de vocês na minha cidade, mês passado. Ela se denominava uma “amaldiçoada de Lázaro”. Isso te diz alguma coisa? — pergunta Hardy, bastante debochado.

 

Ao notar que ela não está respondendo, ele exibe na TV um endereço e pede para que ela vá até ele.

 

— Estou curioso para entender um pouco mais sobre vocês. Nos encontramos neste endereço, o drink é por minha conta. — Ele desliga e ela devolve o telefone no gancho, se acalmando e absorvendo tudo o que acaba de acontecer.

 

No departamento de polícia

 

Barry se troca no vestiário e esvazia o seu armário, aparentando não querer mais se arriscar em proteger a cidade com tudo o que está acontecendo.

 

— Não pensa muito, ou sua cabeça vai explodir — diz Sam, que aparece com dois copos de café. — Peguei pra você, achei que iria te ajudar a relaxar.

 

— Café? Poderia ter trazido a minha ex-esposa, pelo menos — diz Barry.

 

— Não trabalho com causas impossíveis. — Ele percebe que seu amigo ficou  e se desculpa. — Foi mal, não quis ofender.

 

— Relaxa. Meu problema é com este caso…

 

— Poxa, você ainda tá nessa?

 

— Nunca tivemos que enfrentar algo que nos desafiasse… A bruxa não se importa com a gente, muito menos a gangue dela… Estamos lidando com alguém que nos chama de incompetentes na cara dura e ainda quer atenção de toda a cidade, quer mostrar que faz o trabalho melhor que ninguém e nós não podemos fazer nada... Me sinto um inútil — diz Barry ao pegar o café do amigo.

 

Sam se senta ao lado dele e suspira.

 

— Você é quase um bom homem, Barry, te falta acreditar mais em si mesmo. Vai pra casa, toma uma chuveirada e amanhã a gente se vê.

 

Mesmo inconsolável, Barry se levanta, arruma suas coisas e se despede do amigo. Mas quando estava na esquina do departamento, o local explode e o assusta.

 

No museu

 

Jaison e Striker descem as antigas escadas com calma, chegando a entrada do local, até que um forte estrondo chama a atenção dos dois, que correm para o portão.

 

— Acho que tem alguém fazendo bagunça — diz o demônio.

 

A bruxa fica em alerta e presta bastante atenção nas luzes que iluminam o céu. 

 

— Ou estão querendo atenção. — Ela anda em direção ao local, mas Jaison a pega pelo braço.

 

— Não. Vai ter muita gente armada lá, melhor ficarmos de fora dessa — diz Jaison.

 

— Pode ficar, eu não conto pra ninguém. — Striker sorri e corre na direção das luzes.

 

Após alguns minutos, Striker chega ao local, ela vê que se trata de uma explosão no departamento de polícia e que os bombeiros estão tentando cuidar da situação. O fogo consome a estrutura e nenhum sinal de vida é visto, a não ser a presença mística que ela sente e começa a seguir. A bruxa pula entre os prédios utilizando sua magia para grandes impulsos e para na entrada de uma capela. 

 

— Foi aqui que o bispo foi morto…

 

Ela entra no local e sente a presença ainda mais forte. Mas tudo o que vê é um homem ajoelhado com o uniforme da polícia queimado.

 

— Deus, tenha piedade dos meus feitos. Meu Senhor, tenha piedade da minha alma— Repete o homem em frente ao altar.

 

— Gostei da decoração que a polícia fez no departamento. As noites vão ser mais quentinhas a partir de agora. — Ela utiliza de sarcasmo para chamar a atenção dele, que levanta e se vira.

 

— Você deve ser a bruxa que tanto falam…

 

Striker olha para o crachá de identificação dele, na farda.

 

— Sam… A explosão te pegou de raspão… — Ela percebe magia ali perto e anda entre os bancos. — Acho que você deve a Ele por estar vivo. 

 

— Errado, senhorita. É por causa Dele que eu estou morto…

 

As últimas falas soam com uma voz de uma mulher, e então ele aponta seus dedos, abrindo pequenos buracos, que disparam balas contra ela.

 

— Maravilha. 

 

Striker abaixa e chuta o banco contra ele, que desvia e perde ela de vista. Segundos depois, duas mãos são transmutadas do chão até o pescoço dele e apertam, destruindo-o.

 

— Isso é um robô? — pergunta ela do mezanino da banda.

 

— Chamamos de minions, querida, uma exclusividade nossa. — Uma mulher chama a atenção dela de cima da cruz gigante, em frente ao maior vitral.

 

— Pela sua cara, você não é muito amigável. Quem é você? — pergunta Striker.

 

— Pra você, meu nome é Viper — Ela fala com bastante tranquilidade, enquanto está sentada. 

 

Ambas se encaram e depois sorriem.

 


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