Striker - A Bruxa, Os Deuses, Anjos & Mortais. escrita por Lucas Chroballs


Capítulo 13
Presságios da Guerra e a Princesa Falecida




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No centro de Vanilla

 No meio da noite, Donatella entra em uma lan house a pedido do Hardy.

— Olá. Quero meia hora em uma máquina. — Ela coloca as notas no balcão.

 Com um peso no olhar, o funcionário pega o dinheiro sem conferir.

— Eu só tenho uma máquina disponível... Graças a Deus, o movimento está alto.

 O jovem rapaz sorri, despertando a atenção da cartomante, que olha para o local vazio e mal tratado, com várias carcaças de computadores.

— Ainda bem, mas não vá ficar até tarde por causa deles... Por que você não vai pra casa? Eu passo a chave por debaixo da sua porta.

— Faria isso por mim? Muito obrigado, srta. Lerney. Eu tenho que acordar cedo para ajudar meu irmão amanhã de manhã... É isso, eu acho... Boa noite.

 Ele acena e sobe as escadas. Donatella caminha até uma máquina e começa a receber ordens escritas no bloco de notas.

“Plugue um fone. Abrirei um bate-papo para nós.”

 Ela obedece e uma nova janela se abre com uma imagem preta, reproduzindo uma voz conhecida.

— Do que foi que ele te chamou? – pergunta Hardy pelo chat de voz.

— Ele acha que sou a vizinha morta... É um pecado vê-lo trabalhando até essa hora — diz ela. — Mas vamos ao que interessa. O que é tão importante assim que me fez cruzar a cidade no meio da noite?

— Trouxe você até aqui pelas suas habilidades cognitivas. Minhas pesquisas sobre a vida da nossa infame bruxa me levaram a mais perguntas. Veja. — Hardy mostra a ela imagens de flagrantes de uma mulher no aeroporto de Hong Kong.

— Estou vendo. Me diga se você não está errado.

— O reconhecimento facial não mente. Esta jovem toda coberta de roupas largas é a princesa “falecida” de Hong Kong, há um dia atrás. Ela some da visão da câmera ao entrar na ponte de embarque. Poderia me ajudar a saber onde ela está?

— Claro... — Donatella surpira. — Me dê alguns segundos...

 Ela fecha seus olhos e se concentra na imagem da garota, formando a sua presença imaterial em um quarto de hotel, em Roma.

— Bem aconchegante... — A cartomante desvia seu olhar para a jovem princesa no momento que sai do banheiro com uma roupa de malha vermelha. — Adorei a roupa... Hm?

 A vestimenta dela possui uma abertura nas costas, expondo a tatuagem de um dragão de cobre, que brilha ao sentir uma presença na porta.

— Senhorita Warren, seu jantar — diz a serviçal.

 Enquanto a princesa vai atender, a cartomante segue até a cama e olha de relance a passagem da moça e alguns calmantes no criado-mudo.

 Donatella recobra a consciência e informa a Hardy o que descobriu.

— Ela está hospedada em um hotel italiano com uma identidade falsa. Provavelmente não vai bancar a turista por muito tempo.

— Pode me dizer o nome que ela está usando? — pergunta ele.

— Alanna Warren.

— Se ela está usando uma identidade falsa, tudo está sendo pago por um cartão clonado ou roubado... Olha só...

— Encontrou alguma coisa? — pergunta Donatella.

— É um cartão de crédito no nome de Renne Rennew. Seu último uso foi em uma loja de roupas de ginástica dentro de um hotel, provavelmente o que ela está hospedada — diz Hardy — Irei vasculhar no sistema deles e encontrar dados sobre seus hóspedes. Srta. Donna, poderia fazer mais um favor para mim?

 

No apartamento da Striker

 Do alto de uma montanha verdejante, Loop observa alguns monges do Monastério de Dionísio, na Grécia, enquanto pensa um pouco em sua vida. Mas sua atenção é desviada para a porta que se abre atrás dela, de onde passa Kim, segurando duas casquinhas com sorvete.

— A economia que se faz viajando por portas é assustadora. Só que eu pensei que você fosse do tipo Havaí e não... Onde estamos?

— Seria uma parte da minha antiga casa. Eu vivia ali... junto da minha família. — Loop aponta para uma montanha nas nuvens.

— Nossa. Coitado do motorista que te desse carona... Toma aí.

 Loop pega um dos sorvetes que Kim estende para ela e, depois da primeira lambida, o engole inteiro.

— Lá em cima tem uma academia também? – pergunta Kim com uma expressão perplexa.

— Vai comer esse também?

— Manda vê. — Ela dá o sorvete pra Loop, que o devora com rapidez. — Ok. Eu sei que tem mais gente estranha no nosso grupinho, mas você se destaca, sabia?

— Obrigada. Você também... — A deusa olha para Kim de cima a baixo  — Tem carisma.

 Ela sorri para Loop e se senta ao seu lado com uma perna dobrada e a cabeça apoiada nela.

— O “hot boy” disse que você era uma divindade. Agora que você diz que morava lá em cima, eu penso que os dois precisam de tratamento.

— Eu não fui oficializada como uma deusa. Fui expulsa antes de estar preparada para tal responsabilidade... – diz Loop, um pouco cabisbaixa.

 Kim percebe que aquilo a incomoda, mas por não ter muita intimidade, ela não toca mais no assunto.

— Ah, gata, fica assim não. Pensa pelo lado positivo, existe uma porrada de deuses e você é a sortuda de estar aqui fazendo coisas legais com a gente. É como uma escola; eu sou uma pobre ferrada procurando outros iguais a mim pra zoar nas aulas chatas... Mas quando levarem você na diretoria, eu estarei lá com você pra aguentarmos o castigo juntas até o fim. Se quiser saber mais, está no Manual de Como Ser a Melhor Amiga de uma Bruxa de Calça Lycra, inventado por mim.

 Loop esboça um sorriso com as palavras da jovem e faz um leve carinho no ombro dela, enquanto Kim tem uma reação duvidosa, mas também sorri.

— Como foi que você conheceu aquela mulher pálida?

— Pálida é bondade sua, a mulher parece um iogurte humano, mas isso não vem ao caso... Bom, foi do nada. Eu tava almoçando uma pêra do lado de fora da escola, quando ela apareceu com o “tocha cubana” pedindo informações sobre o local. Na hora que eu me identifiquei com ela, peguei minha bolsa e fomos os três dar um rolê. Pronto, acho que resumi bastante a história.

— Que legal.

 Naquele momento, Jaison também passa pela porta e contesta Kim.

— Jura que foi assim? Porque o “tocha cubana” não lembra disso ter acontecido.

— Então finge que aconteceu — responde Kim.

— Era mentira? — pergunta Loop.

— Você vai ouvir muita bosta da boca dessa aí, mas se um dia ela falar algo decente, não leve a sério também — diz Jaison.

— Tá fazendo o que aqui? Não tá vendo que estamos em uma conversa íntima sobre o prazer feminino? — pergunta Kim.

— Então é por isso que está sem argumentos. Eu vim ver se a Striker estava aqui, mas pelo jeito errei o quarto.

— Você podia errar dessa vida, em garotão... — Kim se levanta e bate de leve no peito dele, enquanto caminha para a porta. — Depois me passa o cirurgião onde você aplicou. Sua mama está muito densa, quero uma igual.

Ela toca na maçaneta e olha para os dois com um sorriso.

— Momento a sós ou vamos sair?

 Loop se levanta também e se despede do Jaison, seguindo a Kim. Segundos depois, ele vai embora pela porta.

 

No meio do Mar Mediterrâneo

 Em um helicóptero o general Ares retorna para uma breve reunião em Margo’on, enquanto conversa com Leona ao telefone.

— Não há com o que se preocupar, general. Já era de se esperar uma onda de rebelião após o exército agir na cidade. Apenas mantenha tudo sob controle, temos de mostrar às demais ilhas que somos a melhor escolha para a pacificação.

— Com todo o respeito, general, mas eu não perderia o meu tempo ligando para me queixar de meras manifestações. Prédios públicos atingidos por uma espécie de gás, o aumento nas taxas de homicídio e as pessoas estão cobrando de nós uma posição... Tem alguém lá fora que está nos colocando em uma corda bamba e não sabemos o que fazer – diz Leona, bastante preocupada.

— A corregedoria não aprovará qualquer ação nossa, principalmente às vésperas de uma reunião tão importante. Onde está o padre Lauro? — pergunta Ares.

— Não o localizamos, a casa dele estava vazia.

 Os dois ficam em silêncio por alguns segundos, enquanto Ares pensa no que fazer.

— Continuemos com a situação atual. Mostre à população que está tudo sob controle.

— Mas...

— Está ficando tarde, general. É melhor recolher as tropas e descansar — diz Ares, enquanto sua voz começa a ficar mais leve e seus olhos mais escuros.

— Tem razão, senhor. Eu estou cansada e preciso dormir.

— Bom descanso. — Ares esboça um sorriso quando ela desliga o telefone. — Patética...

— Eu não teria pensado em uma palavra melhor — diz outra pessoa na linha.

— O quê? Como ousa invadir uma linha particular? — pergunta Ares, nervoso.

— Estou apenas fazendo o meu antigo trabalho, general. E por favor, não me insulte tentando traçar a minha localização. Você não vai conseguir.  

 O militar esboça novamente um sorriso e seus olhos voltam à coloração normal.

— Reconheço essa voz... e pela audácia, suponho estar conversando com o Sr. Hardy Wareing?

— Aprecio que sua memória não tenha sido maculada pelas complicações de sua avançada idade.

— Quanto ageismo. Sua inteligência é comparável aos seus transtornos. Uma pena você ter sido idiota o suficiente para ter largado a Interpol — diz Ares.

— Estou lisonjeado que tenha lido meu arquivo — diz Hardy em tom de deboche.

— Mas é claro.

— Ótimo, então vamos ao que interessa. Como o senhor descreveria a caça às bruxas em Vanilla com a sua filha sentindo as brasas da fogueira? 

 O general não responde à pergunta, preferindo ficar em silêncio para depois desligar o telefone.

— Quando chegarmos a Margo’on, avise ao Senador Royalty que estamos sendo observados — diz Ares ao seu piloto.

 

Em Chotgör

 Em meio às florestas calmas e verdejantes da ilha, um oficial segue em um carro blindado para o Centro de Pesquisas Avançadas Margareth Tuttouo.

— Sargento Marsh, chegamos — diz um dos homens que o acompanha.

— Obrigado.

 Ele se retira do veículo ao estacionarem na entrada da base. Após passar por vários detectores, o oficial chega a uma sala branca onde é feita a última conferência do material que ele está carregando no bolso do paletó.

— Vocês são muito rigorosos aqui — diz o sargento.

— É o procedimento, senhor. O prisioneiro é altamente perigoso mesmo com sua movimentação limitada — diz o segurança da unidade. — Tudo certo. Coloque o traje especial, por favor.

 O oficial veste um macacão azul de proteção e uma máscara para respirar em ambientes radioativos.

— Estou entrando — diz ele ao caminhar sobre uma ponte de material impermeável, até chegar à cela de contenção do prisioneiro. — Boa noite, senhor Pe...

— Byll, sargento... Me chame de Byll agora — interrompe o homem, ainda sentado no chão.

— Pois bem... Não me lembro de tê-lo visto nessas condições na última vez em que jogamos cartas — diz Marsh, enquanto olha para o homem obeso e de rosto deformado à sua frente.

— As sessões de resfriamento estão ficando mais ineficientes, a doença está me destruindo. E você aí... com um presente pra mim em seu bolso.

— Ainda é muito bom para adivinhar o que tenho em minha mão... — Ele sorri. — Mas não é para você, sinto muito.

— Suponho que seria para minha esposa... Ela vem me visitar toda a semana — diz Byll, com cansaço em sua voz.

 O sargento fica com um pouco desconfortável em esconder a verdade do amigo, então, confessa a ele uma pequena parte de sua intenção.

— É uma carta de convocação para a reunião. Este ano, a primeira-ministra pediu que entregássemos em mãos a cada membro e os escoltássemos em segurança até nossas instalações... — Ele suspira. — Eu vim na esperança de poder ouvir seus discursos na câmara novamente, mas vejo que não está em condições.

 Byll ouve tudo sem esboçar uma reação aparente, mas quando as massas de seu rosto se mexem para mostrar a sua boca escorrendo um líquido verde, o sargento se surpreende.

— Eu não acredito que veio até aqui para me contar lorota, senhor Marsh... Vocês tiraram a minha vida me transformando em um monstro. — Ele mexe as massas e mostra seus olhos totalmente brancos. — É hora de você sentir o que é ser uma cobaia de Margo’on.

 A pele do sargento começa a queimar rapidamente e ele se desespera, começando a se debater, achando que iria adiantar.

— Isso não é fogo, oficial. É só uma parte minha em você. Agora... lhe darei o resto. — Uma lâmina sai da barriga de Byll e libera uma enorme quantidade de gordura radioativa aos pés do militar. — Uma pena não terem investido em trajes melhores.

— Byll, eu não sabia o que eles fariam com você... — Ele cai enfraquecido em cima da gordura.

— Uma pena que eu não acredite em você.

 Enquanto o oficial sofre pelo que sabia, a esposa do prisioneiro chega à sala branca com uma cadeira de rodas e acena para o segurança da unidade com a cabeça. Ele corresponde e libera sua passagem para a cela.

Marsh, agonizando de dor, rasteja em direção a porta e fica de joelhos; olhando para a mulher negra e careca, que caminha até eles.

— Espero que morram seus desgraçados… - diz o oficial que bate na porta de vidro várias vezes, enquanto seu corpo é derretido na gordura radioativa. 

 Byll manipula a gosma para as laterais e sua amada empurra com os pés o traje de Marsh, observando o corpo magro e sem desfigurações do marido.

— Oi, meu amor. — Eles se beijam quando ela se abaixa para colocá-lo na cadeira de rodas.

— Olá, querido. Senti sua falta — diz ela, enquanto os dois abandonam a cela.

— Eu também senti... Onde está o nosso filho? — pergunta Byll.

— Deixei-o com a sua mãe. Ele vai adorar rever o pai... Obrigada, Finn — ela agradece o guarda que os ajudou.

— Adoraria revê-lo... mas tenho outra prioridade no momento. — Byll mostra à sua esposa a carta de convocação, e ela sorri beijando os seus cabelos loiros, enquanto vão em direção à saída.


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