Berry.

—Sem querer me intrometer na sua vida pessoal, Srta. Berry, mas... –começou Quinn.

—Quinn, não me chame de Srta. Berry quando não estivermos na editora. –eu falei.

—Tudo bem, Rachel. Você não tem muita vida social, não é mesmo? –disse ela, torcendo o nariz para o meu guarda-roupa.

—Teremos que ir ás compras, certo?

Ela balançou a cabeça em afirmação e eu peguei a minha bolsa. Enquanto descíamos no elevador, Quinn continuou com o papo.

—Mas por que você não sai? –ela perguntou curiosa.

Quando ela começou como minha assistente, não gostava de expor a minha vida pessoal. Mas com o tempo ela me mostrou ser válida de alguma confiança. Logo o que é mais simples sobre a minha vida, não vejo problema em contar a ela. Afinal, é quem eu tenho mais próxima de amiga no cotidiano. Ainda mais pela loira me ajudar em minhas missões especiais e extracurriculares que ninguém no escritório deve saber, eu presumo que poderia me abrir em alguns aspectos. Eu dei espaço e também sei alguma coisa de sua vida.

—Digamos que tive que abrir mão de algumas coisas para chegar aonde eu queria e quando fiz isso, acabei me afastando um pouco dos meus amigos. Eu vim de cidade pequena e não pude desperdiçar nenhum momento em prol do meu maior sonho. E aqui estou! –eu disse sorrindo orgulhosamente.

—Concordo com você em quase todos os aspectos, mas será que é necessário ser tão extrema á esse ponto? –indagou a loira, enquanto entravamos em um táxi.

—Diga-me você, Fabray. Até onde eu sei você está sozinha em Nova York, não é mesmo? –eu falei a desafiando.

—Bom, eu estou só aqui, mas mantenho contato todos os dias. Você é sozinha em Nova York? –ela pareceu surpresa.

—Não, não. Eu tenho amigos por aqui, mas nos afastamos devido aos nossos objetivos pessoais. Mantemo-nos do mesmo jeito...

—Nossa. Como eles se sentem em relação á isso? Porque meus amigos ficam chateados quando eu fico muito tempo sem dar notícias.

— Eles aceitam bem. Quando me afastei, foi um pouco difícil. Mas eles aprenderam a respeitar e lidar com isso. Afinal, eles também trabalham. Logo sabem como é.  Apesar de receber uma mensagem aqui e ali, faz tempo que não nos falamos direito... –eu disse um pouco chateada com a situação.

Brittany é a pessoa mais incrível que eu já conheci na vida. Ela foi a minha melhor amiga no ensino médio e quando viemos para Nova York juntas parecia a melhor coisa que faríamos.

Chegamos ao shopping, paguei o taxista e fomos direto ás lojas.

Quinn fazia as atividades extracurriculares e me ouvia (ela tinha o dom de saber o que perguntar e quando perguntar) por interesse profissional. E é aqui que entramos aonde quero chegar, a verdade nua e crua: Ela sonha em ser editora de outra sessão da Fênix e uma indicação minha a colocaria no topo. Aliás, ela seria ótima para o cargo –não tão boa quanto eu, mas... Mantenho a minha posição de que todo mundo se aproxima por interesse. Por isso, ás vezes, é melhor ser como a minha assistente. Sozinha em NY. É claro que eu vou segurar Quinn comigo até quando eu puder porque, de todas as outras que tive, ela é a mais prestativa. Tenho que admitir, o que seria de mim sem ela?

Depois das compras, fomos para a praça de alimentação. Afinal, eu estava morrendo de fome e acredito que Quinn também. Compramos lanches de fast-food e nos sentamos em uma das mesas. A essa altura, eu já estava entretida na conversa sobre nossas amizades e escola. Descobri até que a loira tinha sido líder de torcida, o que não me surpreendeu por causa do seu tipo físico dela.

—Eu a conheci na escola e nós duas eramos de grupos diferentes por lá. Eu era a garota alvo e que era a piada de quase todo mundo. Já ela era a líder de torcida. Mas as duas tinham inseguranças: enquanto ela se achava burra, eu me achava feia. E assim seguíamos. Britt era uma das poucas líderes que não me perturbava porque ela não ligava muito para o que ninguém achava. Então, um dia me pediu ajuda...- eu disse suspirando fundo, talvez saudades.  

—Realmente, vocês são muito amigas. Dá para perceber quando você fala dela. –Quinn falou e mordi meu sanduíche.

—Sim, somos. –eu comentei e engoliu o que estava na boca. –Ela me ensinou a me amar, me mostrou a minha beleza externa e interna. E eu mostrei que ela é muito inteligente e só pensa diferente da maioria dos reles mortais, o que a faz genial. Hoje ela trabalha numa universidade de gênios, sem exageros.

—Acho que você deveria ligar para ela. –a loira aconselhou e mordeu o último pedaço de seu fast-food.

—Talvez. –eu falei pensativa. –Mudando de assunto, você irá comigo no sábado, correto?

—Claro. –respondeu ela prontamente.