Last Kiss escrita por Benihime


Capítulo 5
Conto de fadas




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Junto com as cartas, William viu uma foto do aeroporto da cidade. Imediatamente se lembrou do dia em que, ao sair do encontro com um amigo, vira Carly descer do avião, trazendo consigo Carrie, que na época tinha quatro anos de idade. No dia seguinte, ao sair para correr, seus caminhos se cruzaram.

"Belo cão. Qual é o nome dele?" A voz masculina, familiar mesmo depois de tantos anos, fez a jovem mulher pular de susto.

"É Yukon. E ele morde" Carly respondeu friamente, se pondo de pé. "Preciso ir."

"Como pretende fugir de mim quando eu for visitar nossa filha?"

Ela se virou, pega de surpresa.

"Pretende mesmo visita-la?"

"Já perdi quatro anos, Carly" O homem mais velho a lembrou. "Você não vai mantê-la afastada de mim por mais tempo"

Ela suspirou e sua cabeça pendeu para a frente. Foi a primeira vez que William viu naquela mulher um traço da Carly por quem se apaixonara.

"Está bem." Disse "Não pretendo brigar por isso, nem manter nossa filha afastada de você. Poderá visita-la quando quiser. Mas não espere absolutamente nada de mim."

É claro que ele se apaixonara pela filha assim que a conhecera. O clima com Carly, por outro lado, era uma tensão constante. O resultado foi bem previsível: acabaram na cama poucos meses depois. William ainda se lembrava do antagonismo existente entre eles e do quanto aquilo fora excitante.

Carly acordou devagar, gemendo suavemente. William se sentia feliz como nunca, só por saber que ela estava ao seu lado. Mesmo com o rosto sonolento e os cabelos bagunçados, aquela ainda era a mulher mais linda que ele já havia visto.

"Bom dia, pequena." O homem mais velho disse, se inclinando para dar um beijo na curva de seu ombro.

O carinho pareceu atingi-la como um choque e ela se sentou rapidamente, mantendo o corpo oculto com o o lençol. Seu olhar era de pura acusação.

"Cometemos um erro, William." Carly disse à queima-roupa. "Ontem à noite nunca deveria ter acontecido."

"Ah, pare com isso, Carly!" William protestou. "Admita, você queria tanto quanto eu."

"Eu estava bêbada" Ela protestou. "E sozinha. Completamente fora de mim."

"Mas que droga!" O homem mais velho gritou, perdendo a paciência com aquela negativa sem sentido. "Quer que eu peça desculpas, é isso? Bom, então espero que goste de se desapontar. Eu não vou me desculpar por ontem à noite, e muito menos por continuar te amando"

A morena o encarou, completamente estupefata, por um longo momento antes de seu semblante relaxar em um sorriso.

"Nesse caso ..." Ela disse delicadamente. "Também não vou me desculpar por querer que você fique aqui comigo."

"Eu não vou a lugar nenhum, Carly." William a enlaçou pela cintura, trazendo-a para junto de si. "Nunca mais vou deixar você fugir de mim. Aceite isso de uma vez."

E ela com certeza aceitara, William pensou, sorrindo consigo mesmo ao relembrar a sensação de tê-la nos braços durante toda aquela manhã. Pouco mais de uma semana depois, ele tomara providências para não incorrer no erro do passado. Queria se assegurar de que seria a pessoa a acordar ao lado de Carly todos os dias, pelo resto de suas vidas. Jamais deixaria aquela mulher escapar por entre seus dedos novamente.

A ostra escura destoava da areia da praia, despertando a curiosidade de Carly, exatamente como William sabia que faria. Ela imediatamente se abaixou para pegá-la, analisando a superfície dura com uma curiosidade quase infantil.

"Sabia que eu nunca tinha visto uma dessas pessoalmente?"

"É mesmo?" O homem mais velho sorriu. "Quer abrir para ver se tem uma pérola?"

A morena assentiu animadamente, seus olhos brilhando. William rapidamente abriu a ostra, deliciando-se com a surpresa de sua amada ao ver o anel de noivado incrustado com uma pequenina pérola negra.

O homem sentiu seu coração começar a martelar no peito enquanto se ajoelhava na areia para fazer a pergunta mais importante de sua vida. Os olhos de Carly, ainda arregalados de surpresa, começaram a lacrimejar ao compreender suas intenções.

"Carly, eu fiz essa pergunta uma vez anos atrás, e vou fazer de novo." Ele disse. "Casa comigo?"

"Sim!" Ela exclamou, se jogando em seus braços com tanto entusiasmo que derrubou os dois na areia fofa da praia. "Sim, sim, sim!"

William sorriu ao recordar a expressão da esposa. Gostaria de ter estado com sua câmera na ocasião, para retratar Carly, mas com o passar do tempo se deu conta de que o momento não esvanecia em sua memória, mesmo depois de vinte, cinquenta ou até cem anos. Ele ainda lembrava de tudo, cada segundo ao lado dela. Olhou novamente dentro do baú quando algo azul lhe chamou a atenção. Tocou aquilo com delicadeza, já sabendo o que era.

Reconheceu imediatamente aquela cor, azul caribenho, a favorita de sua esposa. Devagar, quase com reverencia, ergueu o tecido delicado, revelando um vestido de verão curto e vaporoso. Pôde visualizar Carly vestindo-o no dia de seu casamento. Sendo quem era, claro que ela se recusara a seguir a tradição de vestidos brancos, padres e igrejas.

A marcha nupcial começou a soar, e Carly apareceu de trás de uma duna, onde começava o caminho ladeado de rosas amarelas que levava ao altar, na companhia de seu avô, um senhor de aparência frágil que a conduzia lentamente devido à idade avançada.

William não conseguia tirar os olhos de sua esposa. Seus cabelos caíam em cachos, o glitter nas mechas escuras lembrando estrelas no céu noturno. Como sempre, ela não usava maquiagem, exceto pelo gloss cor de pêssego nos lábios. O vestido era leve e vaporoso, com uma fita branca demarcando a cintura. Carly não estava bonita. Não estava linda. Estava absolutamente perfeita, um espírito do oceano vindo em sua direção.

Não apenas o vestido de Carly fora único, mas também a cerimônia, uma celebração íntima em uma praia do Caribe. Sua esposa, como sempre, tinha um jeito só dela de tornar inesquecível praticamente qualquer coisa.

As alianças foram trocadas e Carly nem esperou o padre, no qual sua família insistira, dizer a tão manjada frase "pode beijar a noiva". Em um segundo ela ficou nas pontas dos pés, passando os braços ao redor do pescoço de seu marido e o beijando com entusiasmo. Atrás deles, o velho pigarreou, e a morena virou-se para ele com irritação.

"Ah, padre." Ela disse em alto e bom som. "Pode guardar esse puritanismo antiquado no armário, onde ele pertence. Para uma religião que massacrou milhares simplesmente por não acreditarem em sua ideia de Deus, o que é um beijo?"

William, sabendo o quanto Carly estava contrariada com a presença do padre, por ser ateia convicta, já esperava por algo daquele tipo. Ele a abraçou por trás, beijando-lhe a nuca em um gesto de apoio silencioso. O velho padre os fuzilou com o olhar.

"Isso é heresia!" Ele exclamou, praticamente tremendo de raiva. "Vocês vão arder no inferno"

Dessa vez, foi o marido quem respondeu, rindo.

"Pois que seja. Prefiro reinar no Inferno do que ser um escravo no Céu" Ele puxou sua esposa para mais perto de si, depositando um beijo em sua bochecha. "Contanto que essa mulher seja minha rainha."

Surpreso, William percebeu que estava rindo baixo ante aquela memória. A alegria que sentira naquela noite sobrepujava qualquer mágoa no mundo.


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