Last Kiss escrita por Benihime


Capítulo 3
O colar da despedida




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William entrou no sótão, abrindo o alçapão com raiva. Raiva de Carly por ter proposto aquele jogo idiota e mais raiva ainda de si mesmo por ter aceitado entrar nele. Porém, agora que começara, nada no mundo o faria desistir. Iria até o fim, fosse como fosse.

Entrando no pequeno cômodo empoeirado, encontrou num instante a caixa em que Carly guardara suas bonecas de porcelana, todas cuidadosamente embaladas. "Suas meninas", como ela costumava chamar jocosamente, toda vez que ele caçoava ao vê-la limpando a coleção.

William sabia muito bem qual delas era a favorita de sua esposa, e foi aquela que ele pegou primeiro, desfazendo com cuidado o embrulho de plástico bolha que a protegia. Era uma pequena boneca de porcelana loira de olhos azuis, presente da avó de sua esposa quando ela fizera quinze anos. Enrolado ao redor do corpo diminuto, estava um colar que o homem enlutado reconheceu imediatamente.

Era finalmente o aniversário de dezoito anos de Carly, o marco oficial do começo de sua relação, e ela fora visitá-la. William a estivera esperando ansiosamente, pois queria presenteá-la com algo especial.

"Will" Ela protestou como fizera nos dois anos anteriores. "Eu já disse que não precisa me dar nada."

"Mas eu quero." Ele rebateu como sempre. "Agora feche os olhos."

Carly obedeceu e ele passou a antiga corrente de prata por seu pescoço esguio. O pingente era um coração de rubi, presente de casamento do pai de William para sua mãe, que Sofia Valtieri usara durante a toda a vida. Ao fechar o delicado fecho da joia, percebeu que suas mãos tremiam.

"Will?"

"Pronto" Ele se inclinou, aproveitando para dar-lhe um beijo na bochecha. "Pode abrir os olhos agora."

"William, isso é lindo!" Carly exclamou, seus olhos se arregalando de surpresa ao ver o presente. " Mas ... Não posso aceitar."

"Por favor." O homem mais velho insistiu. "Minha mãe usou esse colar a vida toda, foi um presente do meu pai. Eles foram casados por quase 75 anos. E ela me disse para só dar isso quando tivesse certeza de que encontrei a mulher da minha vida. Ele é seu, Carly, jamais poderia ser de outra pessoa."

Foi nesse momento que ela desabou e começou a chorar violentamente. William a abraçou, surpreso e assustado por aquela reação.

"Eu vou embora, Will." Ela revelou enfim, quando conseguiu se acalmar. "Na semana que vem. Fui aprovada na Grécia."

O programa de intercâmbio grego havia sido o sonho da juventude de Carly. Ele ainda se lembrava de como os olhos dela brilhavam quando falava em conhecer a Grécia, e como sua esposa sempre havia considerado aquilo um desejo impossível, nem sequer cogitando a ideia de seu sonho ser realizado. Mas, no fim, é claro que ela conseguira. Carly sempre conseguia o que queria.

"E então, quando é o grande dia?"

"Em três dias." A voz dela era pura tristeza, não a empolgação que ele esperava. "Vou sentir sua falta, Will. Pra caramba. A cada segundo."

"Ei, não fique assim." William limpou delicadamente uma lágrima que correu pela bochecha de sua amada. "Se você não puder voltar, eu vou até você. Não é isso que vai nos separar, Carly."

 A jovem hesitou por um momento antes de tirar um anel do dedo anelar esquerdo. Era uma joia simples, de prata, em forma de borboleta.

"Minha bisavó me deu esse anel antes de morrer. Foi a última vez que a vi, e há cinco anos não o tiro. Quero que fique com você enquanto eu estiver na Grécia. Minha garantia de retorno, e uma coisa para que se lembre de mim."

William a puxou para si, abraçando-a apertado pelo que sabia ser a última vez em um bom tempo. 

"Vou sentir sua falta, Carly."

Ele se inclinou para beijá-la, sem se apressar no gesto, tentando memorizar a sensação de tê-la em seus braços.

"Tchau, Will." A morena disse ao se afastar, numa voz trêmula que mal lembrava a sua. "Eu te amo."

Em seguida ela se foi, disparando pela rua antes que ele pudesse responder, partindo sem olhar para trás.

William delicadamente desenrolou o colar de seu embrulho improvisado, encontrando outra carta escondida entre as camadas do vestido de seda da boneca. Mais uma vez, ele a leu ansiosamente.

Will,

Estou orgulhosa de você por ter vindo até aqui. Agora não falta muito mais, eu prometo. Nosso jogo está quase no fim.

Eu tinha decidido devolver o colar de sua mãe antes de partir, mas não consegui. Esse colar me fazia sentir ligada a você de um modo que nada mais fazia, e não tive forças para me separar dele. Carrie o escondeu para mim. Foi a única forma que me ocorreu para fazê-lo voltar para você.

Sinto muito, meu amor, se nossas lembranças te fazem sofrer agora, mas acredito que o presente que foi e o que será no final valem qualquer fase difícil. Pelo menos sei que eu me sentiria assim se a situação se invertesse.

Falando em sofrimento, esse foi um que nunca consegui esquecer: quando me despedi de você antes de ir para a Grécia. Acredite, eu nunca esperei ter que fazer aquela escolha. Achava que estávamos prestes a começar nossa vida juntos, e estava feliz com isso. Toda vez que pensava naquele dia, era como se alguém me cortasse ao meio. Foi assim com você também?

Não vou me alongar mais, até porque os malditos remédios mal me deixam raciocinar o bastante para escrever alguma coisa coerente.

Mais uma vez: eu te amo, hoje e sempre.

Carly

P.S: a próxima pista está no baú de madeira. Achou que eu esqueceria?

William dobrou a carta novamente e se pegou pensando nas palavras da esposa, sobretudo na confissão que ela fizera.

Mesmo após tantos anos, a dor da despedida naquele dia ainda estava muito clara, nítida em sua mente. Tivera medo de nunca mais ver a mulher que amava. Porém, depois, o tempo provara que seu temor era infundado. A distância nunca fora empecilho para aquele amor, era como se os dois estivessem destinados a ficar juntos.


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