Querido Sr. Han escrita por Mel Yule


Capítulo 4
3


Notas iniciais do capítulo

Precisei correr nesse momento da história para focá-la no instante em que a rota do Jumin começa de fato. A conversa ao final do capítulo não aconteceu no jogo; é um adendo meu para introduzir os sentimentos de Greta. Espero que gostem.
Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=DCIevU6KLQg



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Eu tô pedindo

A tua mão

Me leve para qualquer lado

Só um pouquinho

De proteção

Ao maior abandonado— Maior Abandonado (Barão Vermelho)

 

A partir do segundo dia, entendi o quão difícil era o trabalho de Rika.

Os membros da R.F.A. começaram a me enviar sugestões de convidados para a festa. Zen me assegurou que, quanto mais pessoas diferentes marcassem presença, melhor seria. O grande problema era que, infelizmente, boa parte daquela gente se comunicava em coreano – e não me restava outra alternativa além de implorar ajuda a Melanie.

— Que tipo de pessoa diz se vai ou não a uma festa só se você souber quem começou o movimento impressionista?

Melanie não era coreana, mas tinha uma ficção pelo país, fato que a levou a aprender o idioma também e a coreografar músicas de K-Pop. Foi nessas aulas que ela e Jane se conheceram.

— É sério que é isso o que está escrito? – ergui meus óculos para observar mais uma vez a mensagem da @artwomen.

— Ainda dá tempo de correr, Greta – Mel suspirou do outro lado da linha.

— E de chamar a polícia internacional! – Jane gritou ao fundo.

Mas eu havia me comprometido com aquela causa – louca, absurda e incrivelmente perigosa – e não gostava nada de abandonar as coisas pela metade. Além do que, qual outra alternativa eu tinha senão confiar na R.F.A? Quem, em toda Coreia do Sul, poderia me proteger do estúpido que resolveu se divertir às minhas custas sabe-se-lá-por-qual-motivo?

Foi também no segundo dia que comecei a conhecer um pouco melhor aquelas pessoas, através da sua interação. Zen, com seu narcisismo exacerbado; Yoosung e seu vício em LOLOL; o extremo senso de responsabilidade de Jaehee; o pragmatismo de Jumin; a falta de seriedade de Seven. Eu não poderia negar que estava me divertindo em acompanhar as conversas... e por estar sendo o centro da atenção de todos eles.

O que implicava que eu também era alvo de flertes constantes – menos da parte de Jaehee e Jumin.

Seria hipócrita da minha parte se dissesse que não gostava de ser paquerada por três homens realmente muito bonitos. De todos eles, Seven era o único que alegava conhecer a minha aparência, enquanto Yoosung e Zen apenas ficavam no plano da imaginação – e, talvez por eu ser uma intrusa no chat, não me era permitido sanar a curiosidade mandando uma foto minha. Não que eu não tivesse um certo charme. Antes de Rupert, correspondia às investidas de alguns rapazes da faculdade, embora de maneira muito discreta. Mas depois do meu relacionamento desastroso, comecei a me ver com menos valor do que realmente tinha. Fazia pouco tempo que eu havia voltado a gostar da imagem que via no espelho e da pessoa que eu era.

— Se eu disser que tem três caras realmente gatos dando em cima de mim, o que você diria? – perguntei para Jane, numa dessas ligações que fazia de hora em hora para ela.

— Que você é louca – minha irmã foi enfática.

— Que trabalhamos com fotos! – Mel gritou.

Melanie e Jane viviam juntas há algum tempo, então, sempre que eu ligava, conversava com as duas. Mel estava tão interessada nas minhas aventuras quanto sua namorada.

Acabei mandando as fotos de todos os integrantes da R.F.A. para as meninas; tudo, claro na mais absoluta discrição.

— Pegue todos! – Mel gritou. — T.O.D.O.S!

— Nem vem com essa, Melanie! – minha irmã rebateu. — A Greta não achou a boca dela na sarjeta!

— Mas conhecer novas línguas é muito importante para a formação humana.

Ainda no segundo dia, enquanto dividia o meu tempo entre convidar as pessoas para a festa e cuidar dos pormenores da organização, recebi duas ligações de Jumin Han. Na primeira, depois de se assegurar de que eu havia me alimentado bem, Jumin resolveu conversar sobre filmes.

— Então você gosta de ficção científica, Sr. Han? – provocá-lo com o pronome de tratamento era bastante divertido.

— Já disse que não precisa de tanta formalidade, Greta – Jumin reforçou após um suspiro pesado. — Trabalhamos juntos na R.F.A. e podemos ter uma relação menos formal. E sobre a sua pergunta, ficção científica combina mais com Luciel. Não sou um grande apreciador de naves espaciais ou robôs.

— Ah, já sei! Você é do time que lê apenas livros de grandes empreendedores e de cases de sucesso, não é? – virei a panqueca no ar, e precisei sufocar um gritinho de satisfação por não ter grudado a massa no teto.

— Aprecio livros sobre economia e negócios no geral, mas tenho um gosto variado. E você, Greta? Gosta de ler?

— Seven não disse para vocês tudo o que descobriu a meu respeito? – outra panqueca bem-feita. Para um desastre na cozinha, eu estava me saindo muito bem.

— Luciel gosta de mistérios. Creio que ele está se divertindo mantendo essas informações para si.

— Vou estragar um pouco a diversão dele  – apaguei o fogo e me preparei para me servir o almoço. — Sou formada em Literatura Inglesa. E sou livreira também.

— Suponho que o seu gosto para leituras também é variado.

— E eu digo que tenho as minhas preferências, apesar de tudo. Mas livro é algo que eu jamais vou dispensar. Só precisa cair no meu colo.

— Você poderia me indicar algum então? Eu gostaria de ler algo que fosse do seu agrado.

Por que sorri tão abertamente?

— Vou pensar no seu caso.

Na segunda ligação, quase no início da madrugada, Jumin estava um pouco transtornado por causa das brincadeiras de Seven a respeito da sua sexualidade. Zen reforçou a questão no chat seguinte, mas afirmou que tinha plena certeza de que Jumin não era gay. Apenas acrescentou que ninguém jamais o viu em qualquer relacionamento amoroso.

— Chateado? – perguntei, zapeando os canais da televisão de Rika. Eu queria tanto entender coreano...

— Não me agrada quando Luciel levanta esse tipo de assunto. De qualquer forma, não me interessa mais o que aconteceu no passado. E quanto a você? Pensa da mesma forma?

Meu dedo pairou alguns segundos sobre o botão do controle.

— Prefiro o presente – a frase soou mais na defensiva do que eu gostaria. Esperei que Jumin não me interpretasse mal.

— Você pensa como eu. Acredito que desejar conhecer o passado de alguém é como querer possuir essa pessoa. Não importa a intensidade do seu sentimento, você não poderá ter inteiramente quem ama e nem apagar o que aconteceu lá atrás.

— Uhum... – voltei a zapear os canais.

— Seria bom saber o que você acha a respeito disso. Não queria ter a razão sobre tudo, então sinta-se livre para compartilhar suas opiniões comigo.

Mas, por Deus, não precisei fazer isso. Jumin precisou desligar logo em seguida.

*

Nos terceiro e quarto dias, eu já estava desesperada para sair de casa.

Seven me assegurou que eu estava “salva”, porém não seria interessante brincarmos com a sorte – e eu deveria ficar no apartamento até o dia da festa. O meu consolo foi saber que V antecipou a programação. Por outro lado, eu teria mais trabalho para fazer em menos tempo, o que me fazia querer chorar.

E eu começava a desconfiar de que alguns daqueles convidados tinham sérios probleminhas.

Precisei pedir socorro a Mel outras vezes, e me segurei aos documentos passados de Rika como se eles fossem um tesouro perdido. Quando eu realmente me sentia sem rumo, acabava perturbando Jaehee.

— Jaehee... – eu nem tinha mais cara para implorar ajuda. Ela já trabalhava tanto e com tão pouco tempo para descanso!

— Não tem problema, Greta. Você sabe que, se precisar de algo, estou à sua disposição.

Não era à toa que, quando Jaehee precisava espairecer, desabafando ou mesmo tendo os seus momentos de fangirl de Zen, eu a estimulava.

— Acho que deveríamos trocar de posição depois – falei assim que ela terminou de me explicar sobre uma das organizações que convidaríamos. — Quando você entrar de férias, poderia passar uma temporada comigo na Inglaterra.

— É meio improvável eu entrar de férias... – ela suspirou pesadamente.

— Mas não impossível! E, assim que você estiver livre, minha casa estará de portas abertas para recebê-la.

— Você fala sério? – não pude deixar de perceber o tom incrédulo que sua voz adotou.

— Vou cobrar, heim?

Deu para escutar o suspiro agradecido do outro lado da linha.

*

Meu quarto dia no apartamento de Rika foi consideravelmente tranquilo, embora eu estivesse subindo pelas paredes com vontade de voltar ao meu albergue e à minha aventura. Consegui confirmar algumas presenças para a festa e me senti satisfeita por ter recebido respostas positivas. Até que eu não era tão mal em interagir com pessoas cujo idioma me parecia uma habilidade impossível de dominar.

Aproveitei a noite para tentar ler um pouco e acabar pegando no sono. Porém, quando meus olhos já começavam a pesar, o telefone tocou.

Jumin Han.

— Te acordei? – a voz dele estava rouca e incrivelmente sexy.

Ou talvez eu já estivesse bastante sonolenta.

— Quase – me estiquei sobre a cama. — O que o senhor me manda?

— Pelo visto, não vou conseguir fazê-la parar de me tratar assim.

— É divertido – acabei confessando. — Sem sono, Jumin?

— Pensamentos acelerados – revelou. — Muitos projetos em mente.

— Vi hoje nos chats suas novas ideias. Deve ser realmente difícil manter tudo só na cabeça.

— Por isso eu estava pensando se você não poderia... me indicar um livro.

O sono se dissipou. 

— É só me dizer o que você procura – não era aquele o meu trabalho? Por que o nervosismo?

— Ainda estou curioso, Greta, para saber qual é o seu favorito. Devo dizer que esse foi um dos pensamentos que não me deixou durante o dia.

— Estou me sentindo mal por ter o desconcentrado, Sr. Han.

— Não me desconcentrou. Só... me instigou.

Um sorriso bobo escapou dos meus lábios.

— Orgulho e Preconceito, da Jane Austen – revelei, me dando por vencida.

Escutei-o respirar fundo. Imaginei que sorria.

— Obrigado. Eu o lerei o mais brevemente possível.

Permaneci com o celular perto da orelha por alguns segundos, mesmo após o término da ligação. A outra mão, deixei sobre o coração, como se pudesse sufocar aquela vibração que preenchia o meu peito.


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