A fama de Uzumaki Naruto se devia a muitos atributos que ele mesmo conquistou. Isso incluía sua força ninja, a sua sabedoria no campo de guerra, a sua pureza e garra para lidar com os pior inimigos que Konoha – e todo mundo ninja – poderia informar. O que as pessoas não sabiam a respeito do sétimo Hokage de Konoha é que ele era um homem de uma qualidade estarrecedora: era extremamente ciumento. Ele mesmo não sabia disso, no início de sua vida, e só descobrira o seu poder de ciúmes depois de perceber seus sentimentos a Hyuuga Hinata.

Para a sua felicidade (e infelicidade, já que justamente isso atraía a atenção de outros olhos) Hinata era uma mulher bonita, de olhar marcante, boa postura, sorriso sincero e outras qualidades dos cabelos até os pés, que ele não gostava nem de imaginar que qualquer outra pessoa reparasse. O caso é que Toneri, a figura pálida e intrometida, havia apresentado pela primeira vez na vida do Uzumaki o poder do ciúmes. E este poder não passava, mesmo beirando aos quinze anos de casado com Hinata.

Ele olhava com cuidado a cena. Reparava no sorriso travesso do jovem que falava amistosamente com a sua esposa. Aquela era a quinta reunião de clãs de shinobis que acontecia num grande salão em Suna, e Hinata era uma das herdeiras de Konoha que recebia os convidados. Ela, ao lado de Temari, conversava com os convidados.

Mas aquele convidado, um tal de Souta Maeda, herdeiro de um clã de Kiri que Naruto duvidava ser shinobi, já estava a mais de quinze minutos naquela conversa com a sua esposa. Hinata era uma mulher que chamava atenção principalmente de homens mais jovens. Provavelmente seria porque o tempo não passava para ela, suas rugas e linhas de expressão eram quase nulas, e qualquer um diria que ela teria menos dez anos que sua idade real. No entanto, aquelas pessoas presentes na reunião, sabiam quem ela era, sua idade, sua posição. Será que aquele jovem – alguém que dificilmente passara dos seus vinte e cinco anos – tinha noção com quem estava flertando discaradamente? Naruto se emburrou.

— Faz mais de dez anos que você é casado, Nanadaime Hokage, e mesmo assim parece agir como um garoto de dez anos com ciúmes de seu brinquedo favorito. – disse Gaara, parando ao lado do loiro, rindo baixo.

— Tá tão na cara assim? – Naruto fingiu uma risada – Você tá vendo, não está, Gaara? Aquele cara tá uns vinte minutos falando com a Hinata. Ele tá atrapalhando a reunião, ‘ttebayo!

— Ele só deve estar tirando dúvidas com ela. E não vejo ninguém incomodado com a conversa dos dois. Apenas você. – o ruivo riu mais uma vez.

— Então você acha que ele não está flertando com ela?

— Não foi isso que eu disse. – o Kazekage tomou mais gole da bebida em seu copo – Mas mesmo assim, isso não é um perigo para você.

— Até você admitiu que aquele cara tá dando em cima da minha esposa, dattebayo!

Gaara encarou seu amigo a seu lado e não pode evitar risadas pela atitude do Uzumaki.

— Por quê você não vai até lá então?

— Eu prometi a Hinata que não ia causar um clima chato com nenhum convidado. Da última vez que algum cara deu em cima dela, eu não fui um cara legal... Entende, ‘ttebayo?

— Então aquela história de que você chamou o herdeiro do clã Tamura para uma briga na última reunião é verdade?

O loiro riu sem graça, com uma de suas mãos na nuca.

— É, mas ia brigar só com taijutsu, nada de mais.

— O Hokage de Konoha chamando um herdeiro de um dos mais importantes clãs shinobis para uma briga deve ter sido uma bela cena. – Gaara sorriu.

— É que você não viu a bronca que eu levei da Hinata e do Shikamaru depois. Mas o cara mereceu, convidando ela pra sair na cara dura, dattebayo!

Naruto continuou contando a história animado até ouvir alguém chamá-lo. Ele estranhou a proximidade. Ao olhar para trás, curioso, deu de cara com uma figura de cabelos loiros pálidos, olhos cor de lavanda e um sorriso aberto e convidativo.

— Shion! – ele disse, surpreso – Quanto tempo!

— Como está, Naruto? Ou devo dizer, Hokage? – ela sorriu, corada.

— Eu estou bem. E você, ‘ttebayo? – ele percebeu que há muitos anos não a via. Shion estava com um coque e um kimono social com bordados por todo o tecido.

Gaara observou a figura feminina ao lado de Naruto e percebeu que parecia corada e apertava suas mãos com frequência. Ela observava com atenção o rosto do loiro e seus olhos brilhavam.

— Esse é o Kazekage de Suna, Subaku no Gaara. – Naruto disse, apresentando Gaara a Shion.

O sorriso leve do Kazekage não desviou a reação que a mulher ainda transparecia por ter encontrado Naruto. Gaara pensou que não era apenas Hinata quem estava sendo descaradamente paquerada. O ruivo também percebeu que do outro lado do salão a esposa de Naruto se aproximava, calmamente.

— É tão bom ver você! – Shion sibilou, baixo – Pensei que nunca mais o veria.

O Uzumaki sorriu sem graça, sem saber como respondê-la. Ao lado dele, aparecia Hinata, com uma expressão calma.

— Você deve ser Shion, certo? – a Uzumaki reverenciava a loira a sua frente, mas notou o sorriso sem graça de seu marido.

— Você é Hyuuga Hinata? Ouvi falar muito de você! – a loira disse, animadamente – Quase o tanto que eu ouvi falar do Naruto!

— Muito obrigada. Seja bem-vinda a reunião. – Hinata respondeu, surpresa pela forma sincera que Shion falava.

— Obrigada. – Shion sibilou. Ela olhou para Naruto, descaradamente – É... Naruto.... – Pigarreou – Eu não passei meus poderes para as próximas gerações e acho que você ainda poderia me ajudar com isso, Naruto.

Hinata olhou para a loira e ficou alguns segundos sem ação.  Ela sorria corada e a vontade a Naruto, observando bem seu rosto e marcando cada detalhe, quase numa expressão nostálgica e atrevida. Já o Uzumaki ficou totalmente sem ação e Gaara ao seu lado continuou prestando atenção em toda a situação.

— Você possui algum kekkei genkai? – a morena mudou de expressão e friamente perguntou a Shion.

— Sim. É um dojutsu. Eu consigo prever quando alguém irá morrer. – ela sibilou, orgulhosa.

— Hinata, na verdade essa história é meio antiga-

— Eu espero que o Nanadaime Hokage possa te ajudar. – a morena interrompeu Naruto, quase num tom irônico.

— É, eu também. – a loira respondeu deliberadamente e Naruto apenas observava aquela conversa estranha – Mas fiquei sabendo que agora ele está casado. – ela riu, sem graça.

A conversa entre Naruto, Shion e Hinata foi interrompida quando uma cabeleira azul aparecia ao lado de Hinata, chamando-a animadamente. Os olhos de todos se focaram na figura de Himawari.

— Okaa-san! – ela disse, olhando para Hinata – A tia Temari está te chamando.

— Essa é minha filha, Shion-sama, Uzumaki Himawari.

O olhar de Shion ficou estático ao reparar na garota mais nova. Era facilmente perceptível quem era a mãe e o pai daquela menina. Himawari apenas sorriu cordial a Shion e reverenciou.

— Estão precisando de mim. Com licença, foi um prazer conhecê-la. – Hinata disse se dirigindo a entrada do salão, onde estava Temari.

Um silêncio constrangedor se instalou entre Naruto e Shion. Gaara continuava observando com certa distância. Definitivamente, aquela reunião parecia mais divertida do que poderia imaginar.

— E-Eu lamento Naruto. Não fazia ideia de que-

— Não se preocupe. – o Uzumaki riu sem graça – Depois eu converso com a Hinata.

A loira continuou sem graça e sem ação próxima ao Hokage. Com uma desculpa, despediu-se e se afastou envergonhada. Naruto também se despediu e voltou a ficar ao lado de Gaara, que reservava um sorriso de soslaio.

— É impressão minha ou Hinata parecia estar com...

— Ciúmes? – o Subaku respondeu – Acho melhor você falar com ela.

O loiro saiu às pressas do lado de Gaara, indo encontrar sua esposa.

—/-

Até o fim daquela reunião de clãs, Naruto não conseguia falar com a sua esposa. A cada segundo ela era chamada por alguém, ou então outro convidado parava a sua frente para começar uma nova conversa. Respirou frustado. Passado mais algumas horas, percebeu que a maioria das pessoas já estavam se retirando. Hinata terminava de se despedir de todos e assim que viu que sua esposa estava livre, a puxou delicadamente até um corredor próximo, para que ficassem sozinhos.

— Me desculpe, Hinata. – ele disse, sem nem deixá-la falar – Eu não sabia que Shion iria comentar aquilo e também ela não sabia que você era minha esposa, ‘ttebayo.

— Você realmente prometeu ajudá-la a-

— Bem. – Naruto a interrompeu, envergonhado, coçando sua nuca – Eu era jovem quando ela me propôs aquilo e eu concordei mas na verdade eu era lerdo, você sabe, eu só queria ajudar, nem sabia exatamente como.

Hinata levou uma de suas mãos até seu peito e apertou os lábios, evitando olhar para o Uzumaki.

— Eu que peço desculpas. Eu não deveria ter ficado com ciúmes, afinal você sempre conquistou as pessoas e quis ajudá-las.

O loiro sorriu para ela. Ele notou que as suas bochechas estavam levemente coradas. Graças a rigorosidade em se vestir de social, Hinata usava um coque alto que dava destaque a seu rosto, podendo enxergar com detalhes todas as suas expressões. Os anos se passavam e cada vez que ela sorria corada seu coração continuava dando pulos.

— Ultimamente quem anda conquistando os outros por aqui é você, Hinata. Ou você acha que eu não vi aquele cara conversando um tempão com você, dattebayo?

Ela sorriu para ele, enquanto o loiro cruzava seus braços sobre o peito.

— Eles só fazem isso porque querem conquistar a esposa do Hokage para conseguir favores de Konoha.

— Não, Hinata. – ele falou entre risos – Nenhum cara que tenha paquerado você veio falar comigo sobre favores. Eles fazem isso porque você é linda!

O rosto dela ficou vermelho e dessa vez Naruto não conseguiu evitar e a puxou pela cintura, dando um selinho rápido em sua esposa, sorrindo.

— Mas é minha, ‘ttebayo!

Antes que Hinata pudesse responder, um grito no final do corredor chamou a atenção dos dois.

— Dattebasa! – Boruto falou alto, ao lado de sua irmã – Eu te falei Hima que eles estavam escondidos pra ficar dando beijos, eca!

Hinata riu corada e Naruto riu também. Ele observou seus filhos o chamando para voltarem ao hotel que estavam hospedados em Suna. Ele gritou para irem na frente, e assim que Himawari e Boruto se viraram de costas, Naruto puxou sua esposa mais uma vez pela cintura, dando-lhe um beijo em sua bochecha, vendo-a corar pela surpresa.

— A única pessoa a quem eu quero ajudar a passar seu kekkei genkai para as próximas grações é você, ‘ttebayo!