Capítulo 12: Constatações

O tempo passado nos laboratórios de poções do "Ministere" francês foi bom, mesmo que eles não tivessem nada de novo para mostrar em termos de melhorias aos procedimentos britânicos. Hermione contribuíra com algumas sugestões, muitas delas aprendidas com o Prof. Snape, e o bruxo enfurecedor invadira sua mente inúmeras vezes naquele dia.

Na hora do almoço, a bruxa responsável pelas poções usadas pelos aurores na França, Mestre em Poções Caroline Bessette, tornou ainda mais difícil tentar esquecer o Snape.

— Srta. Granger, entendo que teve aulas de Poções com o Mestre Severo Snape, oui?

— Sim, por cinco anos, madame.

— Diga-me, ele é realmente tão brilhante? A fama dele na área está cheia de muitos rumores, sinto dizer. É difícil separar a verdade da fantasia.

Hermione fez bom uso do tempo que tinha para mastigar a comida e beber um pouco de água mineral para considerar sua resposta. — Ele é brilhante — disse simplesmente, o que era verdade suficiente.

A Madame Bessette não estava interessada em quanto o homem era exasperador, ou como ele pensava pouco de todo mundo, ou até mesmo do quanto Hermione não queria falar sobre ele se não pudesse pôr para fora tudo aquilo.

— Há rumores de que muitas das poções usadas por Voldemort foram criadas por ele. Alguns dizem até que ele manteve o monstro vivo com elas. — A Madame Bessette tentou disfarçar o quanto estava interessada na resposta, mas Hermione sabia. — Suponho que sejam lendas também — a bruxa acrescentou.

— Não, não. É tudo verdade. O Prof. Snape era o Mestre em Poções do Voldemort e manteve aquele monstro vivo com as poções dele. — Hermione sentiu um certo prazer em denegrir o homem pelo menos uma vez, mas o sentimento teve vida curta. Observando o horror no rosto da Madame Bessette, ela emendou: — Ele também foi responsável por criar os antídotos para aquelas poções e por ajudar Dumbledore a sobreviver por quase um ano antes de sua morte. Não é de conhecimento geral, mas Alvo Dumbledore estava morrendo de uma maldição antes de... — Hermione percebeu o que estava prestes a dizer e deixou a voz morrer no ar.

Houve silêncio depois da declaração de Hermione. Aparentemente, a Madame Bessette sabia muito bem como aquela frase terminava. Elas comeram em silêncio por alguns minutos até que a necessidade de Hermione defender o Snape tomou conta novamente.

— O Prof. Snape é um homem de bom coração. Ele pode ser rude, mas sempre foi completamente leal à Dumbledore e ao Harry depois do remorso de unir-se ao lado errado. Ele foi brilhante naquela época e é brilhante hoje em tudo que se dedica. Quando ele trabalha em uma poção, toda a atenção e o poder dele estão comprometidos a ela. É quase hipnotizante de observar.

A Madame Bessette a observava hesitantemente. Antes que ela pudesse perguntar alguma coisa, Hermione continuou:

— Guerras mudam as pessoas, e o Prof. Snape esteve no centro de duas delas. Ele cometeu erros de que se arrependeu profundamente, tenho certeza, mas todos cometemos, e ele se redimiu com toda a ajuda que nos deu. Severo Snape é um herói, mesmo que um bem heterodoxo.

Hermione sorriu com afeto e percebeu que era sincero. Aquilo pareceu ter um efeito em Madame Bessette, que esboçou um sorriso próprio.

— Heróis sombrios são bem atraentes, não acha? Já vi fotos dele e tenho que confessar que fiquei intrigada em vários sentidos. Li que ele fizera muitos sacrifícios por amor. É tragicamente romântico. Fico pensando se ele está disponível.

Hermione engasgou com a água. — Por que alguém se interessaria em saber isso? — ela perguntou quando se recuperara.

— Talvez você seja muito jovem para apreciar como esse tipo de homem pode ser sexy. — Madame Bessette riu um som curto.

Elas foram interrompidas pela necessidade de voltar ao trabalho, mas aquela conversa bizarra atormentou Hermione por toda a tarde, e ela ainda estava muito consciente da conversa quando leu a carta que estivera lhe esperando naquela noite.

Senhorita Granger,

Isso não está nos levando a lugar algum. Ou a senhorita está satisfeita com as respostas que eu dou, ou ficaremos neste jogo até que sua vontade seja satisfeita. Não estou interessado em desperdiçar a minha vida tentando convencê-la de que o que eu digo é a verdade.

Mudaria alguma coisa se dissesse que o anel que a senhorita tanto estima era do Lorde das Trevas? E se eu confirmar que o anel era dele, o que a senhorita faria? Acreditaria em mim, então? A dona do anel não é a senhorita e isso é tudo que tem que saber.

Apenas me diga o que quer que a verdade seja e eu colocarei em pergaminho e tinta só para a senhorita. Eu não tenho tempo para joguinhos, Srta. Granger.

Severo Snape.

Ela lera e relera aquelas palavras e mesmo assim elas não pareciam significar o que diziam. Cada uma daquelas palavras gritava: "O anel é meu, ele é importante para mim, preciso dele, devolva, por favor!".

Hermione olhou para o anel Claddagh em seu dedão direito e sentiu um contentamento diferente em usá-lo. Não fazia sentido, mas ela queria que o Snape soubesse que o anel dele estava a salvo com ela, que era importante para ela, e que sabendo que o anel também era importante para ele o fazia ainda mais especial.

Fazia o Snape especial.

Ela riu consigo mesma, mas era verdade. Depois de quase um mês de comunicação contínua, ela sentia como se fosse parte da vida dele e ele parte da sua, e ter o anel dele com ela – um anel Claddagh – fazia sentido. Talvez ela estivesse com saudades de casa, mas era como se sentia. Talvez fosse loucura, mas sua conversa com a Madame Bessette mais cedo acendera um desejo novo em Hermione; ela queria ver aquele Snape apaixonado, o Snape da Lílian, o homem que possuía um anel Claddagh e o estimava.

Não tendo mais nenhum pensamento em mente, Hermione escreveu uma resposta curta e a enviou pela coruja alugada que estivera usando para se comunicar com o Snape. Era sexta-feira e ela estaria de volta em Londres amanhã à tarde. Era Natal e também hora deste suspense terminar.

No próximo capítulo... Snape pesa os prós e os contras de um encontro com a Hermione.