O Anel Claddagh escrita por ferporcel


Capítulo 13
Capítulo 13: Impotência




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Capítulo 13: Impotência


Caro Professor Snape,

 

O anel é seu, não é? Deixou cair de alguma forma quando foi atacado na Casa dos Gritos.

 

Não se preocupe em responder. Estarei em Londres para o Natal e poderemos nos encontrar. Deixarei o senhor saber o local e a hora quando eu mesma souber.

 

Hermione Granger.

 

Severo amaldiçoou em voz alta, sem se preocupar que a Minerva estava ali do lado e podia ouvir cada um dos nomes feios. Entretanto, aquilo não significava que ela não estava preocupada.

 

— Severo, olha essa boca! — veio a reprimenda ríspida.

 

Ele simplesmente amassou a carta com uma mão, transformando-a numa bola de pergaminho.

 

— Quem está mandando todas essas cartas para você? Você está sendo incomodado de alguma forma? — Minerva acrescentou ao ver aquilo. — Estou bem preocupada de que você esteja sendo ameaçado novamente, de que alguém possa fazer um atentado contra a sua vida. Severo, se está em perigo, eu preciso saber. Agora.

 

Ele segurou a bola de pergaminho com as pontas dos dedos longos e ela ardeu em chamas. Minerva soltou um gritinho.

 

— Severo! — ela chamou a atenção novamente.

 

— Seus alunos não estão em perigo, Minerva, mas você estará se fizer mais uma pergunta. — Ele disse aquilo e voltou para o seu café da manhã como se nada de errado tivesse acontecido.

 

Alunos sentados mais perto da Mesa Principal o encaravam, alguns com medo, outros com admiração. Minerva não parecia muito confortável com a situação.

 

— Algo a dizer, Sr. Heaton? — ela perguntou.

 

Severo permaneceu em silêncio pelo resto da refeição e ficou feliz pela Minerva ter feito o mesmo. Não achava que conseguiria manter o nome da Granger fora de qualquer comentário maldoso que pudesse fazer, e aquilo não poderia acontecer. Sua privacidade já fora exposta demais; ele não precisava da Minerva sabendo de nada.

 

Pelo menos era sábado e ele não tinha nenhuma aula para lecionar, embora ter uma desculpa para amaldiçoar e azarar alunos era tentador no momento. Ele se recolhera a seus aposentos, e depois de azarar alguns de seus pertences, andar de um lado para o outro em frente à lareira e tomar duas doses de Uísque de Fogo, ele se sentiu um pouquinho melhor.

 

O que ele iria fazer? Evitar qualquer contato, não ir ao encontro que ela agendaria, esquecer do seu precioso anel?

 

Ele serviu mais uma dose de Uísque de Fogo e esperou que a resposta viesse enquanto secava o copo.

 

o0oOo0o

 

Severo acordou com a cabeça latejando, e depois percebeu que não era só a cabeça que vibrava, mas também a porta. Ele se levantou e tomou consciência do fato de que dormira numa poltrona. O som da porta mandou uma dor aguda para sua cabeça novamente e ele amaldiçoou. Azararia quem quer que estivesse batendo.

 

Severo abriu a porta e a bateu imediatamente em seguida, depois praguejou por produzir uma dor tão aguda com a ação. Ele descansou a cabeça na porta quando ela tremeu com batidas insistentes. A dor era excruciante. Num movimento fluido, virou-se e abriu a porta novamente.

 

— Bata mais uma vez e eu azararei os ossos para fora da sua mão, Potter! — ele sibilou.

 

— Posso entrar, então?

 

— Não — ele respondeu.

 

— Preciso falar com você, e não acho que irá gostar de ter essa conversa nos corredores, certo?

 

— Lílian era péssima em História da Magia e eu tinha que ajudá-la com as redações. Agora que eu lhe poupei e me poupei da conversa fiada, deixe-me em paz.

 

Ele estava pronto para fechar a porta no nariz do Potter pela segunda vez quando sentiu mais resistência; a mão do Potter. Severo olhou feio para o rosto iluminado do Moleque Que Sobreviveu.

 

— Sério? Eu não sabia disso! — O sorriso do Potter vacilou um pouco quando continuou: — Entretanto, teremos que conversar mais sobre isso depois, porque agora estou a serviço. A Diretora McGonagall reportou que você estava recebendo cartas que ela suspeita que sejam ameaças. Posso dar uma olhada nelas?

 

— Certamente que não! — Severo bramiu.

 

— Sinto muito, professor, mas até ter certeza de que o senhor não está sob uma ameaça de morte, terei que insistir.

 

— Não estou sob ameaça de morte nenhuma! — Severo berrou novamente, depois levou dois dedos para massagear a cabeça dolorida. — Potter — começou —, as únicas vidas em qualquer tipo de risco neste exato momento são a sua, por existir, e a da Minerva, por mandar você aqui. Prenda-me agora, ou desapareça da minha frente antes que um assassinato seja realmente cometido! — ele sibilou.

 

— Professor, as coisas seriam mais fáceis para todos nós se me deixasse ver as cartas–

 

— Absolutamente não!

 

— O senhor atesta oficialmente que sua vida não está em perigo algum, então, que ninguém está lhe enviando cartas com ameaças?

 

— Se isso é o necessário para me livrar de você, atesto.

 

— Preciso de algumas informações para sustentar sua declaração, professor. Qual o conteúdo das cartas em questão?

 

Severo rugiu antes de derramar todo seu sarcasmo. — Elas são cartas de amor de uma admiradora secreta, o que mais seriam?

 

Potter sorriu com malícia, tomando nota das respostas num bloquinho.

 

Severo revirou os olhos; já era o bastante e sua cabeça estava lhe matando. Quando Potter estava prestes a perguntar mais alguma coisa, ele interrompeu: — Tenha uma boa vida, Potter. — Fechou a porta e a encantou de modo que não ouvisse qualquer batida por agora. Seu estômago queimava, então tomou uma poção para isso, mas de qualquer maneira, não jantaria. Entretanto, não fez nada por sua cabeça latejante. A dor o ajudaria a não pensar sobre a Srta. Granger.

 

Vestiu o camisolão e foi para a cama. Era cedo, mas sempre podia ler até pegar no sono. Se ele tivesse sorte, o álcool ainda em seu sistema o faria cair no sono como o fizera mais cedo e este maldito dia acabaria.

 

Severo teve que apelar para um catálogo de ingredientes de poções antes do sono levá-lo de seus pensamentos conscientes.

 

o0oOo0o

 

Era domingo, os alunos haviam embarcado no Expresso de Hogwarts para retornarem aos seus lares para o feriado no dia anterior, mas Severo não deixou seus aposentos para as refeições, nem para qualquer outra coisa.

 

Na segunda-feira, sabendo que a Diretora viajara para as festas, Severo arriscou sair de seus aposentos; ficar trancado lá se tornara claustrofóbico. Não foi ao Salão Principal para as refeições, mas saiu para uma caminhada entorpecente no clima frígido para observar o lago congelado.

 

Funcionou por um tempo, mas quando não havia mais nada para corrigir, nenhum artigo para examinar, e nenhum livro que lhe chamasse a atenção, Severo ficou a mercê do seu pessimismo, alimentado por seu medo e por pura impotência. E pensar que ele poderia estar contentemente morto se as coisas tivessem progredido como deveriam na Casa dos Gritos, cinco anos atrás. Para curar essa impotência, esse vazio – era para isso que precisava do anel.

 

Ou assim esperava.

 

De certa forma começava a achar que não seria assim desta vez. Lílian se fora, se fora de verdade. Naquela época, ele costumava tomar banho por causa dela, comer por causa dela, respirar por causa dela. Agora ele passaria dias sem se lembrar da flor favorita dela, dos seus livros preferidos, de como ela sorria num dia nevado, de qualquer coisa. Ele culpara o anel desaparecido, mas a verdade era que ele não precisava mais estar com ela o tempo todo e não havia nada onde antes ela estivera.

 

Ele estava vazio.

 

Para evitar pensar, ele recorreu à Poção de Sono Sem Sonhos naquela noite.

 

Claro, ela só resolveu seu problema de insônia. Na manhã seguinte ele ainda se sentia miserável e impotente. Estava dando nos nervos. Granger estivera de volta à Bretanha por pelo menos dois dias e ele não ouvira nada dela.

 

Ele não deveria estar esperando ela o contatar. Severo deveria ir para Londres e acabar logo com isso.

 

Só que ele não podia.

 

Isso o enlouquecia!

 

Se não ouvisse nada dela até o Natal, o que era o mesmo que em dois dias, ele acabaria com essa espera de uma vez por todas. Se encontrá-la e recuperar seu anel não desfizesse a inexatidão de sua existência, ele iria...

 

Severo não sabia o que seria dele então.

 

Foi para o Salão Principal para o almoço naquele dia, então estava lá para receber a coruja tão esperada. Não teve a presença de espírito de triunfar sobre a ausência da Minerva antes de abrir a carta. Era curta.

 

Professor Snape,

 

Posso encontrá-lo no Caldeirão Furado às 2 da tarde amanhã. Espero que não tenha nenhum compromisso prévio.

 

Hermione

 

Amanhã...

 

Amanhã, na véspera de Natal, a Srta. Granger estaria no Caldeirão Furado para devolver seu anel. Seu estômago gelou; um medo que não sentira há algum tempo.

 

Ela o estaria esperando, mas a questão permanecia, ele deveria ir?

 


 

No próximo capítulo... Hermione espera Snape para uma conversa definitiva.


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