Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 15
XV




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MURILO

 

 — Não, devolve! — Gritou Murilo correndo de um lado para o outro tentando pegar seu caderno das mãos dos colegas de classe. — Devolve agora cara!

— Devolve agora cara! — Imitou um dos moleques, rindo alto.

— Por favor! — Ele pediu quase chorando. Estava desesperado. E então o que temia aconteceu.

— Ah olha só, quem é esse? É o seu namoradinho? — Perguntou o mais alto da turma.

— Por favor, me devolve! — Ele não pode se controlar. O choro veio forte, as lágrimas passaram a descer com força.

— Oh, o veadinho beija mesmo garotos! — Gritou alguém. — Como era que a gente o chamava mesmo?

— Murilo beija garotos! — Falou o altão rindo e balançando o caderno de Murilo perto dele, mas nunca deixando o menino pegar de volta.

— Murilo beija garotos, o Murilo beija garotos! — Todos começaram a gritar feito um bando de crianças. Estavam sendo mais babacas que o habitual. — Fala pra gente como é beijar um garoto, fala vai bichinha! — Completou alguém.

— Você quer um beijinho meu? Você quer veadinho? — Perguntou um gordinho que era alvo dos ataques quando não estavam todos juntos atazanando a vida de Murilo.

— Por favor, devolve o meu caderno! — Ele falou um pouco mais alto.

Um grande grupo de alunos estava reunido na porta da sala agora, e Murilo notou que alguns riam, mas outros estavam indignados, mas ninguém dizia nada.

— Que está acontecendo aqui? — Falou a professora chegando perto dos alunos com seu jeito brigão. — Estou falando sério, vamos todos para dentro da sala. Que algazarra aqui no corredor, sorte que sou eu e não a Dona Maura.

“Sorte?” Pensou Murilo, o garoto ainda chorava. Então sentiu o caderno acertar seu peito e cair no chão aos seus pés. Ele abaixou-se e pegou. Começou a correr na direção contrária da sala de aula.

— Murilo, volte aqui! — Gritou a professora brava. — Volte aqui agora ou não poderá entrar na classe depois.

Ele continuou correndo. Correu pelos longos corredores e pelas escadas, hora ou outra se encontrava com alguém e se esquivava para não se chocar. Sabia que era proibido correr nos corredores, mas também eram proibidas as atitudes dos colegas, e eles ainda assim faziam.

Correu até o fundo da quadra, não estavam tendo aula de Educação Física no momento. O garoto sentou encostado ao muro e chorou. Chorou por muito tempo, não queria voltar para aquela sala nunca mais.

Retirou o celular do bolso e logou no Skype. O namorado estava online, ele logo fez uma ligação de vídeo.

— Oi meu amor! — Falou Daniel animado. Então seu sorriso diminuiu. — O que houve? Você está chorando?

— Não, não estou! — Falou Murilo chorando ainda mais em frente à câmera. Ele só queria um abraço naquele momento.  — Estou sim, mor. Ai Dan, eu queria tanto que você estivesse aqui.

— O que aconteceu? Fala pro seu amor, diz o que houve que o morzão da um jeito! — Disse Daniel sorrindo novamente. Era o sorriso mais lindo que Murilo já tinha visto em sua vida.

— O mesmo de sempre. Os babacas da minha sala pegando no meu pé. Eu não aguento mais isso! — Ele falou chorando.

— Eu sei meu amor, eu sei que é difícil.  Porém eu te garanto que isso tudo vai passar. Vai acabar no final do ano. Estamos em setembro, faltam apenas menos de três meses. Então você não terá que olhar mais para eles, e ainda vamos estar juntos. Eu vou te proteger de tudo e todos e lhe dar muitos beijos por causa de cada coisa que esses babacas disseram. — Falou o namorado loiro.

Murilo sorriu entre o choro.

— Eu te amo, Daniel!

— Eu também te amo, muito!

 

I've said I love you but I lied cause love never got me this high. I've said I love you but I lied cause everything's different this time. I've said I love you but I lied cause love never got me this high.

Eu disse que te amo, mas eu menti porque o amor nunca me deixou tão alta. Eu disse que te amo, mas eu menti porque tudo era diferente desta vez. Eu disse que te amo, mas eu menti porque o amor nunca me deixou tão alta.

 

— Você conhece aquele cara? — Tomaz perguntou apreensivo. Ele parecia mais pálido, parecia estar nervoso. Provavelmente sabia a resposta, mas ainda assim insistiu em fazer a pergunta.

Ele balançou a cabeça em afirmativa. Estava muito nervoso, sentiu o estômago revirar e engoliu em seco. “É claro que conheço, eu o conheço muito!” Pensou. O choro estava querendo tomar forma. Precisava se controlar.

— Eu conheço, é o Daniel. O cara que me abandonou sozinho na rodoviária! — Ele falou baixinho e virou para Tomaz.

— Porra e agora? — Perguntou Tomaz. E Murilo entendia bem o porquê, o plano ira por água abaixo agora mesmo. Será que daria tempo deles fugirem? De voltarem?

— Eles estão vindo pra cá! — Falou Tomaz.

“Porra, não daria. Vai tomar no cu destino!” Ele pensou. O plano iria todo ser estragado agora. Os garotos chegaram logo. E começaram a cumprimentar todos. Murilo se colocou um pouco atrás de Tomaz e respirou fundo.

— Oi, Tomaz! — Ele conheceu a voz de Daniel. O homem falava com seu amigo como se o conhecesse bem, como se fossem amigos de infância. E isso o irritou — Quem é o seu namorado?

— E aí! — Falou Tomaz totalmente seco, não respondeu mais nada. Murilo sabia a razão.

Ele continuou atrás do namorado. Não queria aparecer muito. Ele só queria poder sair dali. Estava vendo a hora que Daniel diria que o conhecia e que tudo iria acabar. Que a farsa iria acabar e que os dois seriam desmascarados. Mas o que ele podia fazer?

— É o Rafael! — Disse Augusto que se aproximou do namorado, então riu ironicamente. — Oi, Rafael!

— Oi! — Ele disse baixo. “Que?” Lembrou-se de como o Augusto tinha sido legal com ele outro dia, e agora estava sendo irônico? O que estava acontecendo?

— Nós estávamos esperando vocês! — Falou Augusto sorridente.

Murilo então notou que tinha algo de diferente no rapaz.  Ele o olhava como se estivesse se divertindo, como se soubesse de uma piada que ninguém mais sabia. “É coisa da sua cabeça!” Talvez estivesse bêbado, notou também que Daniel o ignorava por completo. Sequer olhou muito em sua direção.

— Então vamos sair daqui. Nossa estou me queimando todo. Vamos, vamos! — Falou Augusto rindo e puxando o namorado junto a si.

— Porra velho, eu estou louco para cair na água! — Falou Ogrão. — Está calor demais.

— Nós imaginamos o que você quer ir fazer na água. Lembre-se que todos vão perceber se você fizer isso, a água vai mudar de cor seu imundo! — Falou Mônica.

— Ah poxa! — Ele reclamou caminhando e seguindo os amigos para o quiosque.

— Como você é nojento cara. Existe a porra de um banheiro não muito longe! — Falou Caco chateado.

— É isso que dá chamar a ralé pro rolê! — Disse Joana rindo.

— Vai tomar no cu! Você está linda com esse biquíni, já disse isso barriu? — O amigo resmungou para a menina.

Eles caminharam todos para o quiosque que o casal estava. Murilo sentiu-se mal. Não tinha ideia do por que. Era ver o seu grande amor com outro? Ou era ele nem ter notado? “Será possível que ele sequer me conheceu?” Ele engoliu a tristeza e sentou-se ao lado de Tomaz. Ele olhou para o próprio corpo de sunga. Magricela. Era o oposto de Augusto. Bonito, malhado e com uma bunda invejável. Era isso que Daniel procurava.

— Então vocês estão juntos há quanto tempo? — Perguntou Joana toda feliz. — Achei lindo, shipei forte.

Murilo sentiu que Tomaz tremeu de raiva. “Será que porque ela não disse isso sobre eles?” Então ele percebeu que Tomaz não tirava o olhar de Daniel. O olhava fixamente e sua raiva só parecia crescer. Augusto por sua vez só enviava sorrisos debochados.

— Estamos juntos há um ano! — Augusto diz sorrindo. — Porém, ele estava namorando um cara à distância, um babaca que levou galha esse tempo todo. — Ele ri.

Murilo sente a raiva crescer dentro de si e olha para Daniel que está vermelho. Ele aperta suas próprias unhas na mão tentado conter sua raiva.

— Então nós esperamos ele terminar pra assumir. Ele ainda achava que daria certo com o moleque, pelo visto não deu, não é meu amor? — Augusto perguntou dando vários selinhos no namorado.

— Não acredito que o namorado seja babaca. Ele que é! Enganar alguém por tanto tempo, fazer juras de amor e depois abandona-lo como se fosse nada. Eu acho que sua concepção de babacas está equivocada! — Murilo se pega terminando a frase encarando os dois.

Estão todos em silêncio.

— É eu acho que concordo com o Rafael! — Falou Ogrão. — O menino que namorava era daora. Não sabia desse seu lado.

— Realmente o Rafael tem toda razão. — Fala Mônica meio seca. Ela olha para Daniel com outros olhos agora. Murilo percebe que todos eles não estão gostando daquele assunto.

— Pois eu acho que o garoto foi bem estúpido. Corno! Quem manda se envolver com quem não conhece da internet. — Falou Augusto sorrindo maliciosamente.

Murilo pegou um copo de suco na mesa e não pensou, não pensou mesmo, apenas jogou na cara de Augusto. Os dois se olharam. Augusto começando a inflar de raiva. E Murilo o encarando totalmente estressado, então ele sorri sem graça.

— Escapou, desculpe! — Ele falou sorrindo ironicamente.

Os amigos olham todos espantados, ninguém sabe o que está acontecendo. Tomaz olhou para ele sem graça e totalmente triste com sua atitude. Ele não ligou. Levantou.

— Eu vou pegar outro suco! — Ele começou a sair, mas ainda ouviu a voz de Daniel dizer que iria acompanhar.

Daniel correu e acompanhou.

— O que você está fazendo aqui, velho? Porra, Murilo. Que brincadeira é essa? — Ele perguntou bravo.

— O que eu estou fazendo aqui? E desde quando isso é da sua conta? — Ele perguntou sorrindo de forma agressiva. — Pelo que eu me lembre: nada do que acontece comigo é da sua conta.

— Porra velho. Eu me preocupo com você! Eu fiquei mal depois que fui embora. Voltei e tentei te encontrar, mas você já tinha ido. — Daniel diz baixo.

— Você se preocupa comigo? Você me largou sozinho numa cidade que eu mal conheço e se preocupa comigo? Você me traiu todo esse ano que ficamos juntos, e então acredita nisso? Você... Você se preocupa comigo? — Ele riu. — Pega toda essa sua preocupação e enfia no seu rabo, filho da puta.

— Eu sei que tem motivos para estar bravo. E que não vai acreditar em mim. Mas eu fiquei arrependido. Eu mandei mensagem para você no facebook, Skype e whatsapp. Porém você não respondeu nenhuma delas! — Daniel segurou o braço do outro.

— Dá pra você me soltar? — Ele gritou puxando o braço. Olhou para o outro e sentiu vontade de chorar. — Eu não sei se notou, mas meu namorado está sentado naquele quiosque agora mesmo, junto ao seu amado, aliás.

— Que porra de namorado. Você conhece esse cara há quantos dias? E que história é essa de Rafael? — O outro questionou.

— Eu não lhe devo satisfação de nada! — Murilo disse seguro.

— Eu acho melhor você me contar o que tá pegando, ou eu vou voltar lá agora mesmo e vou dizer pra todo mundo que você não se chama Rafael. — Disse Daniel.

Murilo olhou sério. Estava preparado para rebater quando ouviu a voz atrás de si.

— Você não vai fazer nada. Vai voltar lá e se comportar a conversa agora é entre mim e ele. — Disse Augusto com sarcasmo.

Murilo encarou o garoto que ele julgou ser legal há alguns dias atrás. Daniel se afastou.

— Então não é, Murilo! — Disse Augusto.

— Então você sabia...

— Eu sei desde o dia que te vi. Olhei você e liguei os pontos. Primeiro fiquei confuso. Então resolvi mandar mensagem para o Niel. E ele confirmou que vocês tinham acabado. Porém isso não dizia nada. Ainda não fazia sentindo você estar ali. Foi então que me lembrei das conversas estranhas que eu tive com o pudim. Ele me deu as respostas mesmo sem querer.

— Jura? E o que você ganha com isso? O que ganhou ao ser simpático comigo? Aquele dia na pizzaria você foi tão simpático comigo.

— Claro que fui. Eu precisava sondar o terreno. Eu precisava saber se você ainda gostava do Daniel. E você, foi tão bobo, tão ingênuo. Eu podia ver nos seus olhos que você gostava do meu amigo. Então foi fácil. Você estava fora do caminho. O Daniel não parava de falar o quanto estava preocupado com você...

Murilo olhou sério para o garoto em sua frente.

— Então eu planejei de fazer vocês se encontrarem na festa de aniversário na balada, e você não foi. E eu percebi que seria mais divertido ganhar algo em cima disso, do que só desmascarar você para os meus colegas. O Tomaz me contou tudo, me confiou tudo. Eu sei todinho do plano de vocês.

Ele riu. Murilo sentiu raiva. Nunca imaginou que aquele moleque simpático se mostraria tão falso.

— E o que você espera que vai ganhar com isso?

— Eu ainda não sei, mas acho bom você andar na linha. Ou eu conto tudo para eles, como vai ficar o pudim, se por sua causa os amigos passarem a fazer ele de chacota. O que os pais dele vão pensar quando souberem que ele mentiu e levou um impostor? Me fala Rafael. — A ironia exposta em sua voz.

— Você está me ameaçando? É isso mesmo?

— Não, ameaçando não. Estou dando um conselho. Não fique no meu caminho e não faça nada que eu não goste. Não vou esquecer esse suco...

— Jura? Acha mesmo que eu quero algo com o seu namorado? Não pretendo nada com aquele escroto. E sinceramente? Sabe o que você merece?

— O que eu mereço?

— Você merece que eu quebre a sua cara!

— Acho melhor você se controlar, não coloque gasolina na fogueira.

— Eu vou lhe dizer uma coisinha, só uma Augusto! — Ele sorriu de forma irônica. Murilo não estava se conhecendo. Ele sempre baixou a cabeça para as ameaças dos amigos da escola. “Não estou na escola!” Ele pensou. — Você é que precisa tomar cuidado com o que fala, por que eu acabei de gravar tudo isso. — Ele mente mostrando o celular, está blefando.

Augusto congela e o sorriso some de seu rosto.

— Você está blefando!

— Acha que estou? Então pague pra ver!

— Você não... Me dá esse celular agora! — Augusto grita e avança para Murilo

Murilo se afasta e olha pro outro.

— Se você não ficar quieto agora. Eu vou mostrar isso para todos os seus amigos, o que você acha que eles vão pensar quando descobrirem que você estava tentando tirar vantagem em cima do ‘melhor amigo’ — Ele diz a frase fazendo aspas com os dedos.

— Veado escroto!

Quando dá por si Murilo já derrubou Augusto e está por cima dando, não tem certeza do que está fazendo, se são socos ou tapas. Ele só quer descontar toda a raiva que está sentindo naquele momento. Ele cansou de ser fraco, cansou de ser ameaçado e ficar quieto. Ele prometeu para si mesmo que deixaria essa vida lá no interior, aqui em São Paulo seria diferente.

— Socorro! — Gritou Augusto tentando se desvencilhar dos golpes de Murilo.

Murilo sentiu alguém lhe segurar e puxar de cima do outro.

— Me solta! Me solta agora! — Ele gritou em resposta. E sentiu a boca de Tomaz ao seu ouvido.

— Para, por favor. Para!

Ele parou de se debater e saiu de cima do outro. Ficou olhando para Augusto no chão. O garoto tinha ajuda dos amigos para se levantar.

— O que aconteceu? — Perguntou alguém.

— Não sei esse louco. Ele me atacou do nada! — Augusto falou chorando.

Murilo mostrou o celular para o amigo, a raiva crescia dentro de si. Augusto se encolheu e calou a boca. Murilo se virou para Tomaz, estava estampado seu desapontamento. Os amigos novos o olhavam como se ele fosse louco. E tinha ele. Ele estava lá, Daniel o olhava como se não o conhecesse mais. Ele gostou disso.


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