A floresta acordou de forma sombria naquela manhã sem sol, um frio cortante atravessava toda a região, o tipo de frio que tornava o respirar doloroso, o ar, que nunca parecia suficiente, penetrava as narinas como cristais afiados, fazendo cortes e deixando o sangue correr, queimando ao alcançar os pulmões.

Além do frio, era possível sentir o medo que pairava no ar, quase criando forma, tamanha era a sua presença, se escutassem com atenção era possível, mesmo para ouvidos humanos, ouvir um coração batendo de forma descompassada muito ao longe, o que só fazia crescer o temor da gente que vivia ao longo do rio e até mesmo nas montanhas.

O desconhecido assusta e desespera as pessoas, principalmente para gente tão simples, e gente que sabe que existem coisas que não se pode explicar, e coisas que trazem desgraça para as pessoas.

Isso era certo para os habitantes de um reino que se ergueu a margem do grande rio, Arendelle, lá todas as pessoas permaneciam em suas casas, esperando que algo cessasse a magia que corrompia as águas do reino. Sim, pois ali se sabia que tudo estava relacionado ao rio, acreditavam que o túmulo da antiga rainha possuía uma espécie de encanto, e que de tempos em tempos parecia acordar ali, no fundo das águas, no mesmo local onde seu corpo descansava.

Dessa vez, no entanto, toda a magia parecia mais forte, e para as pessoas, mais preocupante. E mesmo que normalmente humanos não consigam perceber essas coisas, principalmente por fingirem não enxergar o que está bem diante do nariz, todo o encanto era tão forte que se tornava impossível não notar.

O dia transcorreu de forma lenta e apreensiva para as pequenas pessoas, no entanto quando o sol se escondeu atrás das montanhas e a lua se ergueu no céu todos tiveram a certeza que tudo aquilo acabaria pela manhã. Conforme a lua anunciava a noite, o ar se tornava mais úmido e a floresta mais silenciosa, escutava-se apenas alguns grilos e o barulho da água corrente, a lua brilhava no céu, iluminando como se o sol ainda pairasse no horizonte.

Um corpo emergiu rompendo a fina camada de gelo do rio, parecia ser guiado pela própria luz da noite, o corpo era de uma mulher jovem, de pele alva e cabelos quase brancos presos a uma trança que se desmanchava. Podia se ver algumas cicatrizes na sua pele, havia um profundo corte em seu queixo que ainda sangrava, em seus pulsos havia marcas e ao longo de seus braços, cobertos por um tecido azul muito fino, vários hematomas. Mesmo assim não deixava de ser bela, tinha uma leveza e graça naturais, o que fazia com que parecesse dormindo um sono tranquilo, mesmo na morte.

A mulher foi depositada na grama, às margens do rio, criando para si um ninho de neve quando seu corpete encostou-se ao orvalho fresco da grama. A cor e a respiração voltaram aos poucos, como sempre acontecia com aquelas criaturas mágicas as quais uma nova chance era dada pelo homem da lua. Recuperando seus sentidos pode abrir seus intensos olhos de um azul profundo, mas havia muito pouco para se ver, exceto por um outro par de olhos azuis que se escondiam na mata.