Estava chovendo quando a Bela passou pelo grande portão de ferro da biblioteca, mais ou menos uma hora depois de ter se despedido da amiga que trabalha na biblioteca.

Normalmente a biblioteca não fica muito cheia. Hoje em dias as pessoas não se interessam mais em ter o hábito de ler, pelo contrário, quando alguém diz que gosta de ler, há quem olhe surpreso ou de cara feia, como se ler fosse a coisa mais anormal do mundo. Mas dessa vez a biblioteca estava repleta de alunos do Ensino Fundamental que foram pegar livros emprestados para fazer uma prova de um colégio próximo a biblioteca.

De longe ela avista um homem de cabelos castanhos no balcão e se aproxima para perguntar do Adam.

— Sou eu - ele responde - Posso ajudar?

— Sou Isabela, mas pode me chamar de Bela - ela estica a mão para ele apertar, mas é em vão. Ao perceber isso ela puxa a mão.

— Prefiro Isabela mesmo.

— Tudo bem - ela dá uma pausa - Bom, meu pai trabalha aqui, o Maurício.

— O que desmaiou?

— Ele mesmo.

— Cadê ele falar nisso? Tenho vários livros para organizar e ficar de frescurinha não vai fazer eles irem para o lugar.

Por alguns instantes a jovem pensa em retrucar, mas se ela fizesse isso era certo de que seu pai seria demitido na hora e ele precisa desse emprego, então resolveu simplesmente respondeu a pergunta.

— Em casa. Pedi a ele que ficasse para descansar que eu viria no lugar dele.

Ele ri.

— Você só pode estar brincando! - e para de rir ao perceber que ela está falando sério - Você não está brincando?!

— Não, é sério. Conheço essa biblioteca como a palma da minha mão. Posso trabalhar no lugar dele hoje.

— Certeza?

— Absoluta.

— Então pode começar - ele diz a entregando vários livros grossos de uma vez.

O resto do dia passa tranqüilo. A Bela consegue trabalhar muito bem e de quebra, de vez em quando reparar no jeito da Fera, quer dizer, do Adam. Ele tem um jeito de quem tem um bom coração, mas não sabe para quem abri-lo e tudo isso por medo de algo, ela só não sabe o que, mas por algum motivo que não sabe qual, ela quer saber e principalmente, ajudá-lo a se abrir.

Quando todos já estavam indo embora, Bela aproveita para trocar seu livro antes de ir. Enquanto ela anota o nome do livro para deixar registrado que o pegou, o Adam se aproxima.

— Isabela né? - ele pergunta e ela assente - Você se saiu bem hoje.

— Obrigada, eu gosto muito de vir aqui, estar com esses livros.

— Bom, se você achar que seu pai deve descansar mais, pode vir o tempo que for preciso no lugar dele.

— Estou pensando em fazer isso. Seria bom se ele descansasse e você já parece disposto a conversar - ela diz enquanto ajeita a bolsa no ombro.

— Está me convindo para tomar café um dia desses?

— Quem sabe? - e vai embora deixando a Fera, ou melhor, o Adam, sozinho pensando.