Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 142
Mal-entendido


Notas iniciais do capítulo

Heeey-hoo! ٩(◕‿◕)۶
K.K. surgindo aqui para dar um aviso muito, muito difícil.... haah... ▓▒░(╥_╥)░▒▓
Gente, vocês sabem (ou talvez devam se lembrar) de que eu estou em um Mestrado, correto? E até aqui eu consegui conciliar ambas a história, o Mestrado, meus projetos paralelos e meus freelances tranquilamente. ٩(× ×)۶ Mas acontece que recentemente K.K. descobriu que na verdade ela não estava era conciliando Mestrado porcaria nenhuma! Porque eu simplesmente me deixei atrasar com a minha dissertação e agora estou em uma situação que vai exigir 100% de dedicação se eu quiser me formar o mais rápido possível! Σ(°△°|||)
Então é, vocês devem já ter entendido o que isso significa... K.K. vai ter que entrar em um hiato novamente com Black Desert por falta de opção (ಥ﹏ಥ)... então bora para as suas possíveis dúvidas a respeito disso:

— "Por quanto tempo esse hiato vai demorar?":
Até K.K. terminar a dissertação, o que ela espera que aconteça até julho, no mais tardar agosto. (Faltam 3 capítulos, a revisão, um artigo, e daí tem a defesa... ufa) (・・;)ゞ

— "Você vai realmente largar Black Desert por 3 meses?":
Na verdade não, fins de semana existem e eu posso escrever algo nesse meio tempo fazendo uma postagem inesperada. Só não quero criar expectativas em vocês ou em mim, então por favor fiquem de olho nos alertas do site. Se houver alguma postagem surpresa durante esse período vocês serão avisados. (¬‿¬ )

— "Esse hiato vai ser que nem o último?":
Não!! Definitivamente não! Vocês têm a minha palavra nisso! Sem mais 1 ano de hiato, pelo amor de deus! Porque minha vontade é terminar Black Desert esse ano e estamos muito perto disso!! ( ╯°□°)╯ ┻━━┻

— "Se eu quiser te perguntar algo, você ficará de olho nas mensagens do site?
— Provavelmente sim, não vou entrar regularmente mas prometo ficar de vigília para caso vocês precisem me contatar. (⌐■_■)

Então é isso gente. (╥ω╥) Peço desculpas por essa situação mas realmente me vi acuada agora e eu quero tirar esse pedregulho do meu caminho o mais rápido possível para voltar a ficar livre para vocês! (´꒳`)♡ Por isso aproveitem o capítulo de hoje, cruzem os dedos por mim, se cuidem nesse meio tempo, e nos vemos no próximo capítulo de Black Desert.... assim que as rodas do destino voltarem a girar ao nosso favor!! ☆°˖✧ヽ( ̄ω ̄(。。 )ゝ



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Eu podia sentir o calor do sol sobre a minha pele e a claridade do dia já querendo invadir os meus olhos que teimosamente continuavam tentando se manter fechados. Percebendo por todo o meu corpo o desejo de continuar imóvel e enrolado no familiar tecido do meu manto, ao que, após alguns segundos a mais de incapacidade em voltar a dormir os meus olhos subidamente se abriram assustados por eu finalmente me dar conta de onde eu estava e do por quê eu não podia continuar tranquilamente dormindo ali!
"M-minhas roupas, eu estou sem-...! Espera... a noite passada, e-ela...! Aquilo não foi só um sonho, nós realmente fizemos-...!!"

Enfim eu sentei percebendo com minha mão o acelerar do meu peito junto a confusão de acordar e notar pelo meu estado que aquela noite realmente havia acontecido -não, eu não tinha sequer como duvidar. Eu e Damian realmente fizemos-...!!

— "Eu não queria acordá-lo..."

De repente o meu fôlego pareceu escapar ante a figura de Damian saindo -já completamente vestido e com dois copos de barro em mãos- da tenda ao nosso lado, me olhando ele com uma calma que sequer me fazia mais saber se eu tinha ou não a necessidade de me sentir constrangido por aqueles inescusáveis impulsos que as noites tinham o hábito de saber perdoar -mas as manhãs seguintes nem tanto. Ao que em meio a minha confusa contemplação cercada por um misto de euforia e vergonha eu me toquei -graças ao gemido inconveniente de um dos camelos ao fundo- que aquela não era a hora e nem o lugar para eu ficar me perdendo nesses pensamentos!

— "Essa não, os comerciantes! Se eles voltarem e nos virem assim, eles podem-!!"
— "Não se preocupe, o sol está baixo no horizonte. Eles ainda vão demorar um pouco para começar a aparecer."

Me dizendo aquilo sem parecer ligar muito para a minha agitação Damian então largou sobre uma pilha de caixas empilhadas ao lado da tenda os dois copos e se aproximou do fogo à minha frente, atiçando-o com um longo galho até ele voltar a queimar vividamente. No que não sendo capaz de continuar nervoso diante de sua inabalável calma eu finalmente tentei respirar fundo e recompor os meus pensamentos, lhe perguntando sem na verdade conseguir duvidar muito de sua certeza.

— "Como você sabe disso?"
— "Eu fiquei por aqui na noite passada e acabei aprendendo a rotina deles."
— "Por aqui..."
— "Sim, nesse conjunto de acampamentos tem água limpa, comida, cobertura contra o clima e poucos Humanos transitando na maior parte do tempo -mesmo que o cheiro não seja muito agradável. Além de que graças à falta de prédios eu consigo perceber eles se aproximando antes que também possam me ver. Por isso eu me escondi por aqui."
— "Então foi por essa razão que você estava tão despreocupado sobre sermos pegos ontem-..."
— "Eu não teria feito nada daquilo se não tivesse essa certeza. Por isso pode se levantar com calma, ainda temos algum tempo de sobra."

Após falar aquilo com um tom gentil Damian voltou a se levantar tirando de trás do fogo o que parecia ser um jarro também de cerâmica bem desgastado, levando-o consigo até os dois copos que ele havia abandonado sobre as caixas e despejando neles um líquido claro que meus sentidos podiam perceber estar imbuídos entre diversas folhagens que boiavam em seu interior. Antes dele então voltar até o meu lado e me estender um desses copos como se eu não tivesse outra opção senão apenas aceitá-lo de suas mãos.

— "Beba."
— "O quê... é isso?"
— "Chá. Eu encontrei uma caixa de ervas secas lá dentro, não sei bem que planta é essa mas estava entre outros suprimentos então devem ser para consumo."
— "E-eu não sei se eu deveria..."
— "Você precisa beber alguma coisa. O seu corpo com certeza está desidratado depois de ontem e eu sei que essas bebidas ajudam vocês a se revigorarem -minha mãe sempre bebia isso quando estava cansada."

Não sabendo recusar o gesto inocente de um Skrea que -diferente de mim- tinha poucos motivos para se preocupar com envenenamentos acidentais, eu então peguei o copo de suas mãos e o levei até o meu nariz com cautela -na esperança de que aquilo fosse ser seguro. Notando rapidamente o familiar cheiro amargo do chá verde assim como o formato de suas folhas, no que eu então o levei até a minha boca sem mais preocupação. Sorrindo de forma boba pelo gesto atencioso de Damian independente do fato de que seu chá estivesse fraco demais para eu afirmar que ele sequer sabia o que estava fazendo.

— "E-está bom..."
— "Não precisa mentir, eu posso perceber que não está. Mas não tem muita coisa nessa tenda que eu posso também te dar e você precisa tomar alguma coisa, a noite passada foi bastante desgastante para o seu corpo."

Ao ouvir aquilo eu então voltei a me ajeitar por sob o meu manto não imaginando que havia mais motivos para eu tentar esconder tanto dele quanto de mim o fato de que meu corpo estava completamente exausto e dolorido -e não apenas onde seria o esperado. Colocando por fim então aquele copo do meu lado e cedendo à curiosidade de passar os meus dedos por sobre cada parte desprotegida da minha pele que ainda latejava de alguma forma. Primeiro pelo meu peito, depois os meus ombros, o meu pescoço, e notando por cada um deles nuances de arranhões ou de mordidas mais descuidadas que Damian acabou me dando ao ponto de deixar para trás marcas evidentes até mesmo ao meu toque -isso com certeza vai levar algum tempo para desaparecer!

"Haah, ele realmente não brincou quando disse que poderia perder o controle e me machucar."
Enfim eu então suspirei, não me sentindo honestamente chateado com nada daquilo mais do que porém eu agora podia me sentir com a noção da difícil tarefa que eu iria ter para conseguir esconder dos outros cada marca daquela -ou a razão por trás desse meu estado lamentável. No que talvez sem deduzir muito o motivo para eu me sentir chateado Damian com um jeito um tanto reticente me interrompeu.

— "...Me desculpe por isso."
— "Ah! Não, não... está tudo bem. Você mesmo disse que isso ia acontecer, então eu não estou..."
— "Mas eu preferia que não tivesse acontecido. Haah... já fazia tanto tempo desde a última vez que eu tive esses hábitos infantis..."
— "Hábitos... infantis?"

Eu olhei Damian um tanto confuso quanto ao que ele realmente estava falando. Não imaginando que talvez estivéssemos sequer conversando sobre o mesmo assunto, no que ele por outro lado apenas ignorou a minha expressão caótica e se sentou ao meu lado na areia, tomando um longo gole de seu copo antes de conseguir finalmente se sentir capaz de me explicar aquelas suas palavras.

— "I-isso que eu fiz... de ficar mordendo e arranhando, essas eram coisas que eu sempre fazia quando menor -especialmente durante as minhas crises de raiva. Por isso a minha mãe também vivia cheia de marcas pelo próprio corpo."
— "S-sério?"

Eu tentei manter a seriedade da minha voz para não menosprezar a importância que Damian parecia estar dando àquela história. Só que quanto mais eu pensava a respeito daquilo, menos eu conseguia ser capaz de esconder um riso que traía a minha falsa capacidade de levar aquilo tudo à sério!
"Então ele realmente agia que nem um animal selvagem antes mesmo de aprender a falar direito!? Pfff-... não consigo nem imaginar que ele já foi assim!"
Finalmente, no que quase eu engasguei então com o seu chá a minha voz acabou escapando sem querer.

— "Pff-..."
— "N-não ria! Isso era...! Tsc."
— "Haha, não fique bravo Damian. É que imaginar você fazia isso quando menor soa tão... diferente, da pessoa que você é agora -mesmo que você também tenha me feito sentir isso na pele. Quero dizer, imaginar que você era tão feroz assim... chega a ser engraçado."
— "Na verdade é bem comum para todas as crianças da minha raça serem um tanto... selvagens. Pelo que escutei elas só começam a perder esse hábito após os 6 anos quando finalmente aprendem sobre disciplina e obediência."
— "'Pelo que escutou'? Falando assim faz parecer até que você nunca viu uma criança Skrea pessoalmente."
— "E eu nunca vi. Não é fácil chegar até elas porque as Matriarcas as deixam em isolamento até amadurecerem um pouco mas, honestamente, mesmo se eu tivesse a oportunidade eu jamais iria tentar me aproximar de uma..."
— "E por quê não?"
— "Simplesmente porque eu nunca fui uma boa influência para Skreas com dentes ainda muito afiados. Acredite. Nem mesmo das crianças mais velhas eu me arriscava chegar perto quando fui trazido para cá. Eu apenas-... não, não era muito seguro ficar perto delas."
— "Pff-...!!"

Mais uma vez eu precisei correr para tapar a minha boca antes que o riso pudesse quase me fazer cuspir o chá que eu continuava tomando na tentativa de me manter calado. Não conseguindo porém me conter por muito mais tempo, ao que o pavor incomum na voz de Damian simplesmente me tentou a imaginar aquele Skrea tão imponente sendo completamente acuado por um grupo de pequenos Skreas -mais viciosos do que um mangusto feroz- tentando lhe morder a todo custo!

— "Hahahaha!"

"Não acredito que após enfrentar tantas coisas o grande ponto fraco de Damian acabaria sendo logo crianças, hahahaha!!"
Eu não conseguia parar de rir, no que em resposta ele então franziu as suas sobrancelhas para mim seriamente até que eu precisei parar para recuperar o fôlego, notando-o finalmente permitir um sutil riso também lhe escapar, antes dele me olhar de uma forma mais relaxada e contente como se nem mesmo a sua mente também pudesse mais se levar mais a sério.

— "Yura."
— "?"
— "Eu só... queria te agradecer por me escutar. Eu nunca pude conversar assim com outra pessoa e... até que não é nada mal."
— "Damian, eu-... eu sei que às vezes é difícil nos entendermos mas, eu gosto de saber mais sobre você, sobre o que você está pensando. Então sempre que você quiser me falar qualquer coisa eu vou te ouvir. Não importa o que seja."
— "Obrigado... por me dizer isso."

Aquietado pela estranha compreensão que pairou entre nossos olhares eu então voltei com a minha atenção para o copo de chá quase vazio. Tomando o seu resto sem conseguir ignorar a forma gentil como ele continuava a me observar sem dizer mais nada...
"Até que isso realmente não é tão ruim... esse gosto. Essa sensação amarga mas suave por ele estar aqui comigo. Nada disso é ruim..."
Meu coração se preencheu com um bom sentimento mesmo que velhas lembranças de arrependimento com o apego ainda pudessem reaparecer na minha mente. Não sendo elas porém fortes o suficiente para intimidarem o prazer que eu agora estava sentindo ao tê-lo do meu lado, assim como o meu desejo de finalmente abandonar todos aqueles velhos sentimentos e apenas voltar a resguardar comigo a felicidade que graças a ele eu me recordei ser possível.

— "É, até que... esse gosto não é tão ruim."
— "?"
— "D-do chá! Quero dizer!!"
— "Cozinhar não é exatamente uma especialidade minha... Mas eu me viro se for preciso."
— "É, eu sei bem como é isso..."

Eu respondi Damian admirando-o como se pela primeira vez eu pudesse dizer que entendia todo o sentido por trás de suas discretas palavras, e por trás de seus esforços que, pelo visto assim como os meus, nunca foram poucos para conseguir sobreviver naquela cidade. Esticando eu então uma de minhas mãos até a sua direção como se palavras não fossem mais o suficiente para saciar o meu apreço por ele, e tomando com isso em minhas mãos as mechas do seu cabelo ainda um pouco bagunçados enquanto acariciando o seu rosto confuso que, por um instante pareceu se surpreender com aquele meu gesto, antes dele mesmo tomar a minha mão e me sorrir de volta perguntando de forma provocativa.

— "O que foi?"
— "Nada, eu só... Só percebi que acabei desarrumando as suas tranças por acidente."
— "Não se preocupe com isso. Os meus irmãos me ensinaram a fazê-las desde pequeno, então eu já estou acostumado a consertá-las."
— "Elas combinam com você... Mas se quiser, dessa vez eu posso ajeitá-las."
— "N-não precisa... eu posso cuidar disso sozinho."

Percebendo Damian então dar uma sutil recuada como se aquele meu convite pudesse ter lhe incomodado, eu também afastei a minha mão não sabendo se havia lhe dito alguma coisa errada ou imprópria. No que ele, após um instante de reticência, resolveu se corrigir como se sua resposta tivesse sido causada mais por uma falta de jeito do que pela real intenção de o fazer.

— "Mas... na próxima vez em que tivermos mais tempo, eu deixo você ajeitar para mim."
— "Heh, combinado."

Eu não pude evitar de sorrir com a mais inexplicável e pura felicidade que eu acho que poderia ter sentido naquele momento. Não sabendo exatamente se aquilo era só porque ver Damian tão aberto comigo pudesse ser uma experiência completamente inebriante, ou se porque simplesmente qualquer palavra trocada entre nós fosse capaz de tornar aquela manhã mais sublime do que era possível dela ser... eu não sei. Mas ao menos, eu podia afirmar que defintiviamente tanto para ele quanto para mim aquela sensação era mútua... ao que logo em seguida ele me deu um honesto sorriso. Tomando Damian enfim a coragem de tirar de dentro de si uma última confissão que àquela altura só serviu para me embevecer ainda mais.

— "Yura..."
— "Sim?"
— "Obrigado. Obrigado por ter tomado por mim ontem aquela decisão que eu não podia... e por ainda ser capaz de se sentir feliz por ter feito isso. Eu sei que talvez eu nunca-... nunca tenha o direito de me tornar tão especial para você a ponto de substituir na sua vida o lugar daquela Humana, Sáshia, mas... Mas se pelo menos você apenas puder continuar a se sentir bem assim comigo, pelo tempo que Skreevah permitir-...! Então eu já terei comigo tudo que eu poderia desejar..."

As palavras me faltaram por um momento. Se eu pudesse ter ainda qualquer dúvida das intenções de Damian a meu respeito então estas acabaram de se calar em meu peito, me deixando sozinho com apenas a certeza de que, Skrea ou não, os seus "sentimentos" por mim não iriam de fato serem menores do que aquilo que eu também já estava sentindo a respeito dele. Só que enquanto uma parte de mim se sentia atordoada pela verdade em seu olhar que às vezes falava muito mais alto do que as palavras que ele às vezes insistia não poder admitir, uma outra porém continuou confusa por ouvi-lo decidir envolver o nome de Sáshia nisso tudo...

— "Damian, você já é especial para mim, mas... por quê você iria querer substituir o lugar de Sáshia na minha vida? Quero dizer, isso seria impossível para qualquer um."
— "Essa humana... você realmente a amava muito, não é?"
— "Bem, com certeza, mas... não teria como ser diferente afinal Sáshia era a minha irmã mais velha!"
— "O quê!?"

Com uma reação de surpresa Damian então quase derrubou o copo de sua mão, não sabendo eu por quê a razão do seu espanto mesmo que pensando por um instante, eu não pudesse afirmar que sequer já havia chegado a lhe contar direito qualquer coisa sobre ela ou o meu passado! No que prontamente eu então tentei remediar aquela situação, enquanto ainda pudesse restar chá suficiente em seu copo para ajudá-lo a engolir as minhas palavras junto à estranha tensão que se instalara em sua expressão.

— "Eu acho que nunca te expliquei o meu passado direito, não é? Eu morei até os meus 6 anos nos Desertos Profundos com minha mãe, a minha irmã mais velha Sáshia e a minha irmã caçula Anina. Mas uma noite um bando de saqueadores nos atacou e... aqueles que não morreram tentando fugir durante o incêndio acabaram sendo pegos por eles e foram tornados escravos. Eu perdi a minha mãe naquele incêndio e, Sáshia e Anina foram separadas de mim no meio da confusão... Depois disso eu passei 10 anos vivendo como escravo até ir parar na Citadela e 2 anos depois reencontrar Sáshia, por acidente, nas ruas da Ala Oeste."
— "..."
— "Eu não esperava que iria ser tão fácil assim reencontrá-la, mas como sempre fomos muito parecidos eu não pude evitar de reconhecê-la quando acabamos nos cruzando. E daí em diante nós dois voltamos a viver juntos -o apartamento aliás onde eu moro era originalmente dela."
— "Mas isso não durou muito tempo, pelo que eu soube."
— "... Sim. Talvez eu devesse ter desconfiado das intenções de Grivah quando ela nos permitiu tão facilmente esse reencontro. Mas naquela época como eu poderia ter imaginado que 2 anos depois eu iria perder novamente a minha irmã para uma guerra civil?"
— "Então foi nessa época que aconteceu... Eu e meus irmãos ainda estávamos sendo mantidos em isolamento naquele período, por isso não presenciamos a confusão. Só ouvíamos os boatos a respeito."
— "Aquela guerra foi mais do que apenas uma 'confusão', e eu estive bem no meio dela para poder confirmar isso. Afinal não só dia após dia Sal tinha que me pedir ajuda para resgatar os feridos pela rua enquanto eu tentava entregar suprimentos que os contatos de Ebraín conseguiam desviar pela cidade, como eu também precisava ficar atrás da minha irmã para tirá-la dos confrontos constantes envolvendo os Skreas -afinal ela fazia parte da SevenRoses e estava sempre envolvida na maioria deles."
— "..."
— "Eu não queria honestamente participar de uma revolta contra os Skreas, para mim, tudo que eles faziam de ruim na Citadela era para nos manterem protegidos contra as coisas de ruim que fazíamos fora dela. Só que Sáshia não pensava como eu... para ela, desde que fomos separados qualquer autoridade passou a se tornar um lembrete de sua frustração por não ter conseguido me proteger no passado. E como seu espírito sempre foi muito mais forte do que a sua cautela, eu também não consegui convencê-la a parar de querer lutar..."
— "..."
— "Então um dia enquanto eu tentava tirá-la do meio de um massacre que estava acontecendo nas Avenidas, um Skrea acabou nos seguido para dentro de alguns becos mais afastados... Nós dois tentamos correr mais do que ele mas era impossível, então Sáshia me mandou deixá-la para trás. Estávamos em desvantagem e eu estava muito assustado para saber o que fazer, eu nunca tinha enfrentado um Skrea na minha vida, então eu...! Eu a obedeci. E acabei assistindo de longe quando ele finalmente a alcançou e-... haah..."
— "Eu sinto muito."
— "Sabe... você não errou quando achou que eu poderia querer me vingar dela. No começou eu desejava sim muito isso, e foi quando então eu acabei 1 ano depois me envolvendo escondido com a BlackHole e as ideias de Gale para acabar com os Skreas... só que, quanto mais eu andava com eles mais eu passava a ver refletido em mim a figura de Sáshia, e na BlackHole o destino da SevenRoses. Então foi quando eu desisti dessa idéia... eu não podia me fazer repetir naquela cidade a mesma tragédia de 4 anos atrás só porque eu não conseguia superar a minha própria. Não era certo."
— "..."
— "...Afinal, eu perdi a minha irmã por duas vezes, e não importava de quem tinha sido a culpa, eu jamais iria ser capaz de consertar ou superar isso. Então um dia eu apenas decidi que iria voltar a me importar mais com as pessoas que eu ainda podia tentar proteger, e parei de pensar em me vingar."
— "..."
— "...”
— "E a sua outra irmã? O que aconteceu com ela?"
— "Anina? Anina... eu não sei de nada sobre ela. Apenas sei que após fugirem dos traficantes e chegarem na Citadela Sáshia a entregou para uma família de confiança e cortou laços com ela, para mantê-la em segurança. Fora isso ela nunca me disse muito ou me deixou saber muito do seu paradeiro."
— "Mas você ainda quer reencontrá-la?"
— "Eu... Honestamente, eu estive trabalhando na Boate da Cidade Baixa esse tempo todo para juntar dinheiro na esperança de comprar qualquer informação que pudesse me levar até ela. Só que... eu também tenho medo. Agora que ela é toda a família que me restou, eu tenho medo de descobrir que algo possa ter acontecido com ela assim como aconteceu também com Sáshia e que eu não tenho mais ninguém, então eu só-... tento. Mesmo não tendo muito a coragem de realmente me esforçar para conseguir achá-la."
— "..."
— "Heh, você deve estar me achando um tolo por agir assim, não é?"
— "... Pelo contrário."

Damian então apoiou uma de suas mãos sobre o meu ombro me olhando de uma forma pesada como se ele entendesse que não haviam palavras possíveis para diminuir o tamanho do medo que eu sentia a respeito do paradeiro da minha irmã. Deixando ele então que apenas o seu silêncio tomasse o seu tempo para me consolar, até que eu conseguisse voltar a me conformar com os meus próprios bloqueios e lhe devolver aquele olhar paciente com um esforçado -porém mais leve- sorriso.

— "Bem... essa é toda a história. Então Damian, o que você esteve mesmo pensando esse tempo todo que Sáshia era minha?"
— "Esqueça isso... não importa mais."
— "..."
— "Na verdade Yura, me esclareça outra coisa."
— "O quê?"
— "Aquele velho que nos abrigou, ele sabia que ela era sua irmã?"
— "Quem? Ebraín? Sim, claro. Ele, Sal, Gale (eu acho), Rigur... e parece que V. também, todos eles sabem."
— "Tsc, aquele desgraçado-...!!"

De repente eu pude sentir a mão de Damian sobre o meu ombro se contrair por um momento, junto a sua expressão que ficou rapidamente enfurecida fazendo quase algumas faíscas escuras escaparem por sobre seus ombros! No que eu então rapidamente tentei impedi-lo de ser levado ainda mais por aquele sentimento que eu agora sabia por quê ele não gostava, lhe dizendo de forma agitada!

— "N-não pense muito nisso, ou no que ele pode ter te dito!! V-você só precisa saber que... não tem ninguém na minha vida que você seja capaz de substituir porque nunca antes houve alguém na minha vida que eu quis amar dessa maneira-...!"

Eu falei aquilo afastando então a sua mão de mim e abrindo os meus braços para lembrá-lo de que eu estava ainda sem roupas por conta das coisas que aconteceram na noite passada, e que não importava o que qualquer outra pessoa pudesse lhe dizer, palavras não seriam capazes de superar aquele fato que estava mais do que claro e bem na sua frente! Fazendo Damian entender tão rapidamente onde eu queria chegar que nem mesmo ele foi capaz de continuar irritado, quase soltando um riso graças a minha reação exagerada.

— "Yura?"
— "S-sim?"

Damian então se inclinou sobre o meu corpo desprotegido aproximando o seu rosto tão despreocupadamente do meu -como se não houvessem mais quaisquer limites entre nós dois- para enfim me pedir de um jeito quase tentador.

— "Me diga novamente... aquilo que você ficou me dizendo ontem enquanto nós dois estávamos-..."
— "!!"
— "Me diga. Só mais uma vez."
— "E-eu... eu te amo."

Eu não sabia dizer se eu estava me sentindo tão quente por dentro graças ao sol sobre o meu corpo que crescia cada vez mais no horizonte, ou se graças ao calor de sua respiração batendo contra a minha pele e me fazendo estremecer,  ou se graças a eu estar mesmo voltando a ficar excitado com tudo aquilo...! Mas após sussurrar então aquelas palavras em seu ouvido tão discretamente que apenas ele pôde ouvi-las, Damian terminou de me envolver em um beijo voltando a me segurar em seus braços e me fazendo lembrar por quê era tão perigoso ficarmos constantemente próximos daquela maneira -afinal se V. sequer pudesse ter tido certeza de alguma coisa a nosso respeito foi que definitivamente eu estava atraído sexualmente por ele! Mesmo que ela estivesse errada sobre a parte de que isso iria tão facilmente passar após uma única noite -ah, mas como ela estava errada...

Só que o tempo, por mais que este estivesse um pouco ainda à nossa disposição ele não estava exatamente a nosso favor para que por mais um instante nós nos entregássemos àquele indesculpável descontrole. Precisando eu me conter de todas as formas ali para não implorar que Damian apenas continuasse, enquanto que ele, igualmente consciente de que não podíamos abusar da sorte, logo também me soltou ofegante. Voltando então a se levantar como se precisasse de algum espaço e me oferecendo as minhas roupas antes de me dar as suas costas e voltar para o jarro de chá como se tentando proteger algum resto de autocontrole que ainda havia nele.
Sendo assim eu então tentei fazer o mesmo e comecei a me vestir, me atrapalhando um pouco em minha destreza graças às dores pelo meu corpo no que antes mesmo que minha mente pudesse voltar a focar na figura de Damian, eu tratei de ir até o oásis ali perto e entrar nele para retomar o meu juízo -sob a desculpa de também precisar lavar o meu manto para poder conseguir vesti-lo.

No que assim que eu voltei então para a tenda nós dois tratamos de sair dali e voltar para Nahalt antes que nossos passos pudessem acabar se cruzando com os dos mercadores que, logo ao entrarmos na cidade, vimos passarem pela rua principal carregando alguns sacos de produtos consigo tanto para a direção dos acampamentos quanto para omercado que ficava no centro da cidade.
Porém, no que nós dois fomos então nos afastando das ruas mais movimentadas e nos aproximando do largo onde a RedLight se encontrava, totalmente vazia e sem o menor sinal das pessoas que àquela altura já haviam retornado para as suas casas, Damian decidiu parar não ousando dar um passo a mais.

— "Damian, o que foi?"
— "Eu... eu ficarei por aqui. Ainda não sou bem-vindo lá dentro e não quero te colocar novamente em uma posição complicada depois da noite passada."
— "..."

Eu o ouvi com consciência do que ele queria dizer, afinal, as únicas coisas que acabaram sendo resolvidas ontem foram entre nós dois -e não entre V. ou Gale. Então não era como se levar Damian até lá apenas porque eu queria pudesse resultar em algo melhor do que o que acabou resultando na última vez...
"Só que, da última vez eu também não sabia mais o que estava fazendo. Eu não sabia nas palavras de quem confiar, então foi por isso que as coisas deram tão errado... diferente de agora que eu sei exatamente por quê eu não posso mais deixar que elas deem errado!"
Certo daquilo eu então segurei a mão de Damian com força e o encarei, firme de que dessa vez eu seria capaz de fazer aquilo -por nós dois!

— "Você disse que confiaria em mim para te proteger quando você não pudesse, não é?"
— "..."
— "Então confie em mim agora. Porque eu vou te proteger de V.!"

Sem me responder nada Damian então apenas me olhou de volta por um instante, balançando finalmente a sua cabeça em concordância e dando um passo adiante para ficar ao meu lado. Eu não sabia se ele realmente estava convencido de que eu conseguiria melhorar a última impressão que ficou entre ele e V., mas pelo simples fato dele não recuar ou novamente dizer que seria melhor nos separarmos foi que eu pude dizer que algo havia mesmo mudado de verdade entre nós dois! Algo, que fazia com que mesmo diante de qualquer receio nós agora pudéssemos ser capazes de encontrar a força necessária para continuarmos sendo egoístas e contrariarmos esse desejo alheio de todos que queriam nos ver separados -sim, não estávamos mais tão dispostos assim a continuar dando ouvidos à todas essas pessoas. Não mais.


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