Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 120
(D) A adaga de Grivah


Notas iniciais do capítulo

Ya-hoo! K.K. dayo! \(^▽^)/
Gente, gente, espero que estejam todos bem e saudáveis em meio a essa pandemia (não se esqueçam, uma boa leitura pode apaziguar a mente e o coração durante maus momentos). ♡( ◡‿◡ )
Então, ignorando um pouco o mundo real porque acredito que todos estamos já muito exauridos por ele, eu preciso dar um rápido aviso...
( ˙▿˙ ) err, então, o capitulo anterior estava um tanto seguindo por direções questionáveis e não muito reutilizáveis para meus propósitos. Então eu reeditei ele! ᕕ( ᐛ )ᕗ
Por favor, não me batam! ┬┴┬┴┤~ω~) Mas é... quem quiser, puder e se interessar, dá pra reler porque eu alterei umas coisas lá para ele se encaixar bem melhor com o capítulo de hoje. Só que claro que se você não quiser, não vou dizer que será também um divisor de águas para entender a história! Nah, fiquem tranquilos. ┐( ̄∀ ̄")┌
Então é isso, sem mais adendos, limpem sempre seus computadores e celulares com álcool, coloquem máscaras em seus gatos, e tenham todos uma ótima leitura hoje!! K.K. se despede! (・∀・)ノ



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Ouvindo aquilo como se recebesse um golpe, Damian foi incapaz de esconder o seu próprio choque! Piscando os olhos algumas vezes como se ainda estivesse tentando assimilar o verdadeiro peso da ordem que recebera até que enfim a ideia terminou de lhe descer com tudo e a voz do seu coração fugiu de seu controle -respondendo ela à Oráculo com uma agilidade que nem mesmo o seu bom senso teve como dessa vez interceptar.

— "Não..."
— "Heh, você tem certeza de que essa será a sua resposta? Eu só estou te dando duas opções aqui... ou a sua vida, ou a do Vessel. E não estou prometendo com isso que pouparei o Vessel também caso você insista nessa decisão. Então eu te pergunto, a sua vida vale mesmo um sacrifício tão irrelevante como esse?"
— "Ghh-..."
— "Hehehe, pobre Skrea... Você finalmente está entendendo que eu não vou deixá-lo ter uma segunda chance para fazer as coisas como você quer, não é? Mas até que compreendo a sua dificuldade em me dar a resposta certa. Afinal eu sei que essa vida nunca foi muito fácil para você, criado por humanos, desprezado pelo seu pai, e impedido de provar o valor de seu próprio sangue..."
— "..."
— "Não me admira que você tenha cedido tão facilmente ao afeto de um reles Humano após ter perdido as ultimas duas pessoas que ainda se importavam com você nesse mundo, não é mesmo?
— "..."
— "Heh, não precisa me responder, mas eu sei exatamente o que você está passando... afinal eu também já estive nessa posição. Eu já passei por essas mesmas dificuldades e humilhações que você também passou. E até mesmo por culpa desse desespero acabei, assim como você, também acreditando que iria conseguir encontrar algum resto de acolhimento nos sentimentos de um Vessel... mesmo sabendo que eu só estava na verdade me iludindo assim."
— "!-... O que você está tentando insinuar?"
— "Ora garoto, o óbvio. Que o que eu ou você sentimos através de um Vessel jamais vai significar aquilo que eles realmente sentem por nós! Afinal eles são Humanos dissimulados, levianos! E o que quer que você pense que é esse falso afeto que sente vindo dele é apenas ele lhe manipulando a seu próprio favor! Ou você acha que eu insisto na morte desse Humano apenas porque ele é um Vessel Primário? Não, as minhas razões são muito maiores do que isso! Eu o faço porque quero te salvar!"
— "Me salvar!?"
— "Sim, te salvar! Ou você realmente acha que há alguma chance das nossas duas raças coexistirem em um final harmonioso? Isso nunca será possível, e quanto mais tempo você levar para entender isso, mais tempo aquele Humano irá ganhar para fazer com que ele, e não você, sobreviva a esse futuro! Então aceite o meu conselho, a oportunidade que estou te dando, e aja como um verdadeiro Skrea! Tome de uma vez a decisão correta e evite as consequências das quais eu já estou tentando lhe alertar!"
— "!"

A Oráculo disse aquelas coisas incentivando mais uma vez Damian a pegar a adaga de sua mão. Falando ela aquelas coisas, porém, não mais em um tom manipulador ou ameaçador como sempre fazia, mas sim com uma nuance tão sincera que Damian sequer foi capaz de suspeitar da veracidade de suas palavras dessa vez. Fechando-se ele dentro de si, no que o olhar sugestivo dela continuava tentando lhe induzir a agir de acordo sem lhe dar um segundo direito para raciocinar sobre um assunto que já estava se tornando muito delicado em sua mente.

Damian já estava se sentindo muito confuso a respeito das intenções de Yura a seu respeito. Intenções essas que ele não conseguia sozinho enxergar que existiam, mas que todos ao seu redor pareciam conseguir enxergar - até mesmo a Oráculo, que sequer sabia sobre suas tão recentes dúvidas... E tomado pelo receio de estar sendo tolo demais em sua própria confiança sobre o Humano, o jovem Skrea então não conseguiu mais afastar o valor que residia em tantas arriscadas indagações.
"Se o que ela disse realmente aconteceu com ela... então isso significa que as minhas dúvidas sobre ele tem realmente fundamento? E se tiverem, será mesmo que eu devo considerar o resto das coisas que ela está me dizendo...?"
Ao que Damian ousou enfim considerar aquela perigosa dúvida, seus olhos discretamente foram até a direção daquela adaga. Pensativo como se a dúvida o paralisasse mas a curiosidade, ao mesmo tempo, o incentivasse a tomar uma atitude que ele não sabia mais considerar como certa ou errada. E no que ela enfim percebeu isso em seu olhar, a Oráculo então lhe sorriu dizendo.

— "Vamos, pegue. Eu não estou mais te oferecendo apenas a chance de se se tornar importante -e ter a chance de viver para ver isso acontecer. Mas também estou te oferecendo a oportunidade de voltar a ter alguém com quem você possa contar de verdade. Alguém em quem de fato você poderá confiar - diferente de um Vessel."
— "... Por quê?"
— "Por quê? Bem, porque eu-..."
— "Você diz que que eu posso contar com você. Mas se é assim, então por quê dessa vez quem precisa matá-lo sou eu?"
— "Porque... Não é óbvio? Porque da primeira vez que eu tentei poupá-lo você abusou da minha confiança! Então considere isso como um mínimo para ficarmos quites."
— "Então isso seria uma punição?"
— "Se quiser chamar assim..."
— "Humph, o meu pai já me puniu muitas vezes, mas os meus irmãos nunca me trataram assim. Se eu realmente pudesse contar com você, teria então que existir mais do que apenas essas razões pessoais para você estar me pedindo uma coisa dessas -afinal você mesma disse que entende a minha posição."
— "Espera-...!! Haah, certo. Eu admito, existe também uma razão maior para eu estar te pedindo isso."

A Oráculo enfim cedeu à pressão de Damian respondendo-o secamente enquanto seu olhar desviava para o lado em desagrado. Para o seu contentamento o jovem Skrea parecia estar enfim demonstrando-se um pouco mais acessível à ela do que inicialmente pareceria ser possível -muito provavelmente por conta de algo convincente que ela acertou em lhe dizer. Só que ao mesmo tempo que isso para ela se tornava uma vantagem, por outra ela também percebeu que acabara colocando-se em uma posição um tanto quanto complicada.
Dividir suas reais intenções, seus planos e suas falhas era algo praticamente fora de sua capacidade! Derak e os Patriarcas sabiam o mínimo possível sobre sua missão porque confiavam nas ordens do Grande Conselho. E até mesmo o Grande Conselho ela também conseguira convencer com o mínimo de informação possível, já que abrir mão do conhecimento que a tornava única para eles significaria o mesmo que tornar a sua importância mais tarde substituível!

Sendo assim ela não podia! Não devia! Mas-... não via outra escolha senão cooperar com o desejo de Damian em saber a verdade por trás de suas radicais ordens. É claro que negá-lo a verdade ainda seria sim uma opção, mas ele claramente mostrou hostilidade quando ela o tentou fazer. E a Oráculo não estava disposta a abrir mão da praticidade de tê-lo de verdade ao seu lado, ao invés de continuar batendo de frente contra o ímpeto daquele jovem até arriscar em algum momento perder a sua curta paciência e matar de vez o único Skrea do qual ela realmente dependia agora -não, ela iria precisar abrir uma exceção dessa vez pelo próprio bem de seus interesses.
Suspirando então de uma forma bem pesada e repensando um pouco mais enquanto recuava a adaga em sua mão do alcance de Damian. Ela levou-a até a direção de seus olhos antes de sua voz enfim começar a revelar parte da verdadeira situação na qual ela estava agora se encontrando.

— "Essa adaga aqui é a real fonte de todo o meu experimento."
— "A adaga?"
— "Sim, ela é uma relíquia feita de alguns restos físicos de Grivah, tirada do local onde o seu corpo sucumbiu há 4 gerações atrás."
— "Então ela é uma parte da deusa dos-!?"
— "Exato. Uma escama para ser mais precisa. Que -acredito eu- se usada da forma correta poderia vir a atrair a energia da deusa de volta para seus restos, contendo-a dentro deste fragmento do qual não escaparia mais."
— "... Então o seu propósito não é exterminar realmente os sentimentos, mas isolá-los de volta dentro do que sobrou de Grivah?"
— "Sim. Talvez isso ainda não sane a existência deles entre nós, mas certamente isso iria extinguir de vez o renascimento dos Vessels. E quem sabe até mesmo a força da influência destes sentimentos no mundo já que eles voltariam a residir dentro de um recipiente físico capaz de acomodar a sua intensidade -um recipiente sem a consciência necessária para utilizar tal poder, e com a capacidade de impedir que ele voltasse a transbordar livremente pelo mundo."
— "..."

Damian ao ouvir aquilo voltou então a encarar a adaga na mão da Oráculo. Enfeitiçado pelo brilho dela que entoava diversas cores ao mesmo tempo enquanto reluzindo a luz daquele cômodo da mesma maneira na qual os antigos livros citavam que Grivah também reluzia a luz, ao voar pelos céus enquanto o sol alcançava o seu pico -ele não podia dizer que a Oráculo estava mentindo, aquela arma definitivamente emanava uma presença estranhamente divina diante de seus olhos.
Só que se os restos de Grivah fossem realmente capazes de ainda conter a energia dela, então como que os Vessels poderiam sequer existir? Afinal, qualquer Skrea sabia que os restos de Grivah ainda residiam em um calvário distante nas montanhas guardado por eles próprios. E com aquilo Damian não teve como entender a lógica da Oráculo por conta própria sem acabar tendo que incentivar o assunto.

— "Mas se o corpo dela é capaz de sugar de volta sua energia, como que isso já não aconteceu naturalmente?"
— "Bem... é aí que minhas teorias se iniciam. Acredito que sozinhos os pedaços de seu corpo não possuam a capacidade de atrair de volta a energia de Grivah, eles não possuem mais uma vida ou presença que ressoe no mesmo nível dela para atrair a energia de volta. São apenas restos de uma carapaça vazia. Porém se induzidos pelas mãos corretas-..."
— "A energia poderá ser atraída de volta a eles."
— "Exato. E é aí que nós Híbridos entraríamos, nossa presença é metade Humana. Ela não significa muito, mas eu acreditava que poderia ser o suficiente para induzir alguma ponte entre a energia dentro do Vessel e o fragmento de Grivah caso nenhuma outra presença maior do que a nossa restasse para conduzir erroneamente essa energia."
— "Então por isso as mortes..."
— "Sim, infelizmente elas são necessárias para que os meus testes consigam ter alguma eficácia, não há outra maneira já que a presença de Skreevah que carregamos reduz a nossa afinidade com tudo que venha de Grivah. Até mesmo esse fragmento de escama, se um Skrea puro segurá-lo ele não conseguirá diferenciá-lo de uma mera pedra mal entalhada. E essa dualidade genética nos dá claramente muita desvantagem para reconduzir a energia se o Humano receptor ainda estiver vivo atraindo-a de volta para si."
— "..."

Damian olhou então com isso por uma terceira vez para aquela escama, seduzido pela forma como ela parecia reagir vividamente nas mãos daquela mulher. Era um sentimento estranho, ele não queria ceder a um objeto tão corrompido pelo seu próprio propósito mas... não dava para apenas ignorá-lo. Será que era aquela a sensação que um Deus causava em suas criações? Ele indagou completamente rendido não só agora à presença daquele artefato, como também à sensação de que não haviam questionamentos para se fazer contra a teoria da própria Oráculo.
E se aquela ferramenta realmente pudesse mitigar de vez os sentimentos que tanto afligiram a sua raça, os seus irmãos-... então o que ele poderia fazer para se convencer de que não gostaria de fazer parte daquilo? O que ele poderia fazer para se convencer de que Yura significava muito mais para sua vida do que aquilo iria significar? Damian enfim apoiou com isso a mão em seu rosto sacudindo sua cabeça um pouco -que conclusão perigosa a se chegar! Ao que a Oráculo igualmente parecia observar aquela adaga em admiração, não notando no olhar de Damian a dualidade de razões tomando-o por dentro!

— "Mas se então tudo o que você precisa para fazer isso funcionar é um Híbrido, você mesma pode continuar com o experimento. Não teria por quê depender de mim."
— "Sim, você está certo nisso. E certamente eu preferia sequer ter que envolvê-lo em meus assuntos mas, eu não estou tendo sucesso em meus planos por conta própria. Acho que minha presença ainda não é forte o suficiente para conseguir induzir a energia até a adaga. Sempre que eu tento fazê-lo, ela vem em minha direção mas acaba escapando pelos meus dedos e voltando a se dissipar pelo ar -é inútil, eu já tentei várias vezes!"
— "Mas se você não está conseguindo então que diferença fará me colocar no seu lugar? O resultado continuará sendo o mesmo-..."
— "Não se faça de tonto garoto, você sabe muito bem aonde eu quero chegar. Eu estudei o seu perfil e sei quem você realmente é -não se finja de ingênuo sobre isso. Eu e você podemos ser 'iguais', mas não somos precisamente iguais... Sua relação com Grivah e com os Humanos é um pouquinho maior do que a de qualquer outro Híbrido que eu tenho disponível no momento e é isso que pode se tornar a chave para esse experimento enfim funcionar!"
— "Essa é só uma suposição sua. Eu ainda sou parte Skrea, a minha origem pode não fazer qualquer diferença no seu teste."
— "Sim, é uma possibilidade. Mas enquanto você mesmo não comprovar se estou certa ou errada, estará também postergando a sua melhor possibilidade de futuro. E você pode imaginar não? Se você de fato conseguir fazer algo que nem mesmo eu consigo fazer, a sua importância aos olhos do Grande Conselho superará até mesmo a de todos os Oráculos! Então, o que me diz? Eu posso contar com o seu interesse dessa vez?"

Falando aquilo a Oráculo então sordidamente voltou a oferecer para Damian a adaga em sua mão. Fazendo-o olhá-la cada vez mais intensamente, no que a sua mão lentamente foi indo até a sua direção. Tocando a ponta daquela lâmina com o dedo como se o receio de aceitar tal convite continuasse se chocando contra a tentação de fazê-lo, até que enfim a Oráculo perdeu um pouco de sua paciência e lhe repetiu.

— "A vida de um Vessel não vale tudo isso. Eu sei que não parece agora, mas no futuro quando até mesmo o seu pai tiver que abaixar a cabeça diante de sua presença você concordará comigo. Apenas faça-o, prove que a minha teoria está certa e deixe o resto por minha conta! Faça por você, faça pela memória de seus irmãos... faça por todos os Híbridos que ganharão enfim um significado maior na nossa raça caso comprovado que esse mundo só poderá ser purificado pelas nossas mãos! Ajude-os, antes que esse mundo os condene da mesma forma que seus irmãos foram condenados..."

Ao ouvir aquilo os olhos de Damian então se arregalaram, quase como se de repente através do encanto das palavras da Oráculo ele pudesse começar a ver refletido naquela adaga a sua imagem de quando criança! Encarando-o de volta pelo reflexo da adaga com aquela fúria e solidão que sempre o acompanharam como uma sombra, junto com a verdade à qual ele teve que obrigatoriamente se conformar desde cedo -a de que sua presença jamais iria deixar de ser mais do que uma inconveniência para seu pai e toda a sua raça.

Então será mesmo que aquilo era possível? Será que seria mesmo possível quebrar aquele destino, a memória daquilo que ele sempre enxergou como inevitável em sua vida? E até mesmo com isso poupar as próximas gerações de Híbridos de sofrerem as mesmas coisas que ele precisou sofrer durante a sua infância, durante a sua vida? Ele não conseguia mais apenas se perguntar aquilo tudo sem continuar porém a não fazer nada... e dessa forma foi que sua mão finalmente tomou então com firmeza o cabo da adaga! Com determinação! Com raiva! Com expectação... mesmo que em algum lugar de seu coração ainda houvesse o desejo de resistir à toda aquela tentação, ele não estava mais sendo capaz de ser conduzido apenas por um único desejo.

Ao que assim que Damian então tomou aquela adaga para si, a Oráculo rapidamente recuou de seu alcance impossibilitando-o de também voltar atrás! Sorrindo ela de uma forma engenhosa, no que podia-se ver uma expressão de desgosto e anseio disputando a expressão do jovem Skrea enquanto ele continuava a encarar aquela adaga! Aquele olhar de sua versão ainda criança lhe encarando de volta. Aquele destino que ele tanto odiava admitir ser o seu. E a chance de poder eliminar tudo aquilo que ainda o atormentava dentro de si para o resto de sua vida -enfim!

— "Você pode confiar em mim. Tenho certeza de que dará certo."

A Oráculo com isso sibilou mais uma vez -como uma serpente que se dependurava por entre os galhos de uma árvore sussurrando a tentação nos ouvidos de Damian. Afogada no prazer de estar vendo-o enfim cooperar com ela, no que gradualmente seu corpo foi então se afastando dele... passo a passo, lentamente até se aproximar daquela porta em uma tentativa de impedir o Skrea de ter sequer a chance de repensar sobre aquela decisão.
No que assim que, porém, a sua mão conseguiu tocar na maçaneta da porta, um estalo do ferro se ajustando sob sua palma ressoou pelo quieto cômodo fazendo Damian finalmente desprender sua atenção da arma voltando a encarar a perspicaz Oráculo com um familiar e racional desagrado!

— "Antes que você vá, só me responda mais uma coisa. Não existe de verdade qualquer motivo específico para que o Vessel que eu tenha que matar com essa arma seja o do amor, não é?"
— "... Não, não há. Mas eu faço questão de que seja ele."
— "..."
— "Se você realmente for a solução para minha experiência, então eu não poderei arriscar perdê-lo para um Vessel como aquele. Prefiro tê-lo eliminado antes que ele vire um problema."
— "Ou eu posso apenas me afastar dele, e matar qualquer outro Vessel no seu lugar..."
— "Não tente agir com esperteza. Se essa adaga funcionar nas suas mãos o Humano acabará de todo modo tendo que ser morto por você. Então se é para isso acontecer, que seja o quanto antes. Nem mesmo durante os extermínios gostávamos de deixar esses Vessels de sentimentos afetivos vivos por muito tempo... nós tentávamos caçá-los assim que eles nasciam, afinal, quanto mais tempo vivos mais eles conseguem juntar pessoas ao seu redor dispostas sacrificarem tudo por eles. E eliminá-los acaba se tornando uma verdadeira dor de cabeça..."
— "Tsc"
— "E além disso o Vessel também é um Feiticeiro -e eu odeio deixar Feiticeiros vivos por aí, são muito inconvenientes. Mas é claro, se você ainda estiver com alguma dificuldade para acatar as suas ordens eu posso lhe ajudar. Vamos ver... eu lhe darei exatos 3 dias para eliminá-lo, ou revelarei para o seu pai a sua traição e aí serão ambas -a sua cabeça, e a dele- que passarão a ficar à prêmio. Entenda o meu lado garoto, eu quero te ajudar e posso estar precisando de você, mas a sua importância também só vai até onde você quiser se fazer útil para mim. Se você decidir porém que não vai cooperar da forma certa, não haverá então mais motivos para eu querer mantê-lo vivo -especialmente após você já ter diversas vezes agido como uma pedra no meu caminho."
— "..."
— "E nem pense em tentar me enganar sobre o Vessel também. Enquanto ele ainda estiver vivo e andando por essa cidade eu vou saber, afinal os artefatos do Capitólio estão à minha disposição e poderei usá-los para monitorar o seu progresso de longe. Considere isso como uma medida necessária, até eu poder voltar a ter a certeza de que estamos do mesmo lado."

Finalizando aquela frase em um tom um pouco mais ameaçador, a Oráculo finalmente deu as costas para Damian e começou a girar a maçaneta daquela porta na intenção de deixá-lo ali abandonado aos seus próprios pensamentos -certa de que não lhe deixara com nenhuma outra opção senão dessa vez apenas obedecer, querendo ele ou não.
Só que antes que sua mão terminasse de abrir aquela porta, sua voz lembrou-se de lhe sussurrar uma última coisa.

— "Ah sim, eu vou distrair o guarda para você poder ir embora sem ser detido. Considere isso como um sinal de boa vontade. E quando você concluir com a sua parte, me procure aqui no Capitólio. Eu estarei lhe aguardando e deixarei os guardas na entrada informados disso."

Terminando com isso de abrir a porta, ao que seu corpo agilmente passou por um pequeno vão antes de voltar a fechá-la com força! Em um estalar tão alto, que o som da madeira batendo contra o batente reverberou por todo o corpo de Damian atordoando-o por uma fração de segundo sem porém conseguir tirar ele de sua face uma expressão muito irritada!
"Grr... Ela fez questão de não me deixar com qualquer saída!"
Ele remoeu aquilo dentro de si apertando ainda mais fortemente o cabo daquela adaga entre seus dedos! Forte, mas tão forte que até mesmo sua mão -já recuperada- pareceu voltar a arder sob aquelas bandagens! E com isso os seus olhos acabaram retornando para o belo brilho daquela relíquia que agora estava em sua posse.

— "Haah... O que eu faço agora?"

Damian suspirou apoiando com sua outra mão o seu rosto, no que agora que aquela sórdida mulher havia saído dali ele podia honestamente demonstrar o quão pouco ele queria de fato cooperar com ela... Afinal, mesmo que ele pudesse até considerar muito tentadora a possibilidade de se libertar daquele destino ruim de Híbrido, o seu coração ao mesmo tempo não conseguiria se ver usando Yura para conseguir aquilo. Não, especialmente sabendo Damian que a morte de Yura não era em nada necessária para ele conquistar tal libertação! E nisso, suspirando então por uma segunda vez, ele olhou de modo grosseiro para aquela adaga em sua posse...
"Eu não preciso matá-lo... mas enquanto ela achar que eu não o fiz será impossível escapar dessa obrigação."

Nisso Damian tentou respirar profundamente por uma segunda vez. Pensativamente.... Talvez Yura se torne sim um problema em sua vida no futuro, e a Oráculo até tenha boas razões para querer que isso não chegue a acontecer. Só que Damian não iria simplesmente entregar à ela qualquer decisão final a respeito da vida do Humano -e ainda por cima usando Damian como ferramenta para isso! Certa ou errada, ele não confiava nela o suficiente para dar-lhe tamanho poder, e as consequências por se envolver com Yura diziam respeito apenas a ele -e a mais ninguém!
Sim, talvez ele precisará um dia realmente pesar a vida dele contra a de Yura como ela disse que pode acontecer... só que se um dia isso de fato tiver que ser, não será por conta da escolha dos outros e sim pela sua -apenas!

Só que se Damian não iria então matar Yura... o que ele poderia fazer para resguardá-lo? Como o fazer, sem colocar a sua vida em perigo junto? Porque afinal a Oráculo não estava também errada... simplesmente trocar a sua vida pela de Yura não iria significar nada além de um sacrifício inútil e muito tolo. Sem Damian por perto o Vessel estaria ainda mais indefeso contra as artimanhas daquela mulher -e honestamente Damian não iria também abrir mão tão facilmente da sua vida assim por ninguém que fosse.
Sendo assim os seus olhos apenas se fecharam de um modo impaciente e ele começou a ponderar em cima de tudo que a Oráculo lhe falou... ele sabia que nenhum plano era perfeito, e até a armadilha na qual ela o colocou deveria de ter algum tipo de falha. Alguma falha para que ele pudesse sumir de vez com Yura do caminho deles dois forçando-a a assim a aceitar a morte de qualquer outro Vessel em seu lugar...
"Sumir de vez... Sumir de-...!"
De repente os olhos de Damian então se abriram abruptamente!

— "Eu já sei o que fazer!"

Ele alegou com firmeza, ao que mesmo ainda muito sério por saber que tal solução não garantiria a sua própria sorte, Damian ao menos poderia conseguir proteger Yura do risco contido naqueles próximos 3 dias -significando já metade do caminho livre para ele também tentar se salvar!
E com isso Damian pôde voltar a se apressar -afinal o tempo mais uma vez poderia se tornar um inimigo de seus planos- ao que segurando com força o cabo daquela adaga ele a prendeu com uma das correntes de sua calça na lateral de sua cintura -longe de seus olhos e escondida pelo seu manto, ao que ele não queria ter que encarar aquela arma enquanto perto de Yura. Ele não queria voltar a ser seduzido pelo destino que aquela adaga carregava consigo enquanto perto de Yura!
Não, haveria tempo para isso após Yura estar a salvo dele e da Oráculo, e quando isso acontecesse Damian então poderia voltar a mais uma vez se permitir tocá-la, observá-la, considerá-la. Ao que até lá, ele iria ter que tentar se manter longe de todos aqueles pensamentos arriscados, e da cruel lembrança de uma solidão que talvez pudesse enfim vir a ser desfeita de sua vida uma vez que finalmente aquela adaga achasse sua próxima vítima -através de suas mãos!


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