— "Espera Damian, você está mesmo pensando em ir!?"
— "Sim. Porque a surpresa? Eu disse que não ia ficar aqui por muito tempo."
— "N-não, eu não estou surpreso. É só que... Isso então quer dizer que você vai-...?"

Receoso por terminar de verbalizar aquela pesada afirmação em alto e bom som, minhas palavras acabaram se emudecendo antes que eu pudesse conseguir terminá-las, e meus olhos com isso discretamente foram então mais uma vez até a figura de Gale que continuava tentando se manter alheio à maioria das coisas ao seu redor. Recolhendo tudo que cabia de uma só vez em seus fortes braços e carregando até a cozinha como Ebraín o indicava. No que mesmo que sua figura desaparecesse por aquela porta, meu olhar consciente não conseguia deixar de continuar se fixando no caminho por onde ele havia passado.

— "Você quer saber se isso significa que eu vou enfim acabar com aquele maldito, é isso?"
— "..."

As palavras abrasivas de Damian saíram porém -diferente das minhas- sem qualquer problema pela sua boca, como se ele pudesse sentir satisfação por apenas conjecturar aquela ideia. Me dando quase que instantaneamente uma -mais do que- óbvia resposta, no que porém ao invés de confirmar o que eu já esperava, ele apenas prosseguiu em um inesperado silêncio. Me pegando de surpresa, ao que eu só pude então encarar duvidosamente aquela sua ambígua expressão pensativa!
Depois de tanto ter aceitado a ideia de que a vida de Gale não passaria de hoje nas mãos dele, aquele estranhamento meu foi até mais do que esperado. Assim como a ansiedade de conseguir logo uma resposta sua, percebendo agora que talvez ele não fosse me dizer aquilo que eu mais estava esperando de fato ouvir!

— "Damian...?"
— "!"

Damian me olhou então de volta como se tivesse sido tirado de seus pensamentos à força. Me encarando seriamente, segundos antes de deixar que uma inconsistente calma em sua voz me passasse com firmeza a mudança dos seus próprios planos.

— "Não, eu ainda não vou fazer isso. Você pode se tranquilizar -por enquanto."
— "!!"

Ele me falou aquilo desviando então a sua atenção para o outro lado como se me evitando. Claramente incomodado com a sua própria afirmação, no que sua voz passou a me responder friamente até o ponto onde eu percebi o -irritante- distanciamento que ele propositalmente estava voltando a criar entre nós dois sem qualquer explicação!

— "Eu preciso confirmar uma coisa primeiro."
— "O quê?"
— "Nada com o que você precise se importar ainda. Mas se eu de fato estiver certo, então acho que você não vai precisar continuar se preocupando tanto assim com aquele maldito."
— "Grr, e quem disse que é com ELE que eu estou realmente me preocupando agora!?"

Eu enfim perdi a minha calma e encarei Damian tomado por um misto de raiva e frustração!
Ele podia estar certo sobre eu estar me importando com o destino de Gale, mas esse sentimento definitivamente não me significava mais do que dizer que eu me importava com ele também -e com o que quer que estivesse perturbando-o ao meu respeito! Sendo que por eu ainda estar sendo tomado pelo som da lamúria de fundo que vinha de Saret -ao ter perdido alguém tão próxima à ela-, eu me sentia ainda menos seguro para conseguir afirmar que não estava também me importando com a ideia de deixar ele sumir da minha vista naquele estado tão estranho!

"Eu sei que talvez eu não devesse me preocupar tanto assim com esse jeito incomum de Damian porque nós não funcionamos igual, mas-... Mas eu continuo sendo também um Humano! Um Humano incapaz de ignorar as atitudes da pessoa que gosta!"
E no que eu comecei a me sentir sendo desmontado por aquela realização, Damian por outro lado apenas se manteve em silêncio. Imóvel, gradualmente parecendo através dos meus sentimentos entender o que estava realmente se passando pela minha cabeça -mesmo que eu não pudesse entender o que estava se passando pela sua- sem saber porém o que fazer com isso.

— "E-eu..."

Sua voz sussurrou perdida, se interrompendo bruscamente como se ele não estivesse conseguindo encontrar nenhuma boa resposta dentro de si. Tomando então com isso mais alguns segundos para assimilar as minhas palavras como se ainda pudesse duvidar daquilo que ouviu. Contraindo as suas pupílas e respirando profundamente, antes de enfim a sua mão se apoiar em seu rosto e ele balançar a sua cabeça algumas vezes para os lados -quase como se estivesse tentando esquecer alguma ideia estranha.
Me olhando nisso por fim, da forma mais pura e contente que eu acredito que uma pessoa conseguiria ter olhado para mim naquela hora -o que dissolveu junto instantaneamente qualquer atitude evasiva que ele ainda poderia tentar ter comigo!

— "Me desculpe. Eu não estou mais acostumado com isso."
— "Com o quê?"
— "Com alguém se importando desse jeito... comigo. Eu não sei o que te dizer."

Suas palavras me acertaram como o bote de uma serpente! É claro que era estranho para mim entender o lado dele. Só que quanto mais eu parava para pensar no que Damian me dissera, e no quanto mais eu parava para relevar tudo que ele já havia me dito ou que eu havia testemunhado sobre a forma que ele era tratado pelos outros -Humanos e Skreas-, eu então consegui entender ele um pouco melhor afinal.
Mesmo agindo sempre tão preocupado comigo (talvez por ser da sua própria natureza), ele mesmo não devia de saber como seria ter alguém se importando com ele em troca -porque ninguém costumava se importar. Ou talvez porque ele cresceu entre Skreas e eu entre Humanos, é que diferente de mim ele jamais criou essa expectativa de esperar que as pessoas o fossem-no fazer.

E com isso os meus olhos enfim foram então para o chão. Incerto se aquele pensamento de algum modo iria me ajudar a entender porque Damian estava tentando se distanciar de mim. Mas ao mesmo tempo, perturbado com a mínima possibilidade de que para ele era mais fácil esperar que eu fosse me importar com qualquer outra pessoa antes de querer me importar com ele. Quero dizer, se eu tivesse ouvido uma coisa dessas há dias atrás eu não iria mesmo me incomodar! Só que, depois de tudo que aconteceu entre nós dois, perceber isso (para um Humano como eu) era absolutamente-...

Subitamente porém, a mão de Damian sem qualquer aviso veio na minha direção e se apoiou no meu rosto antes que eu pudesse lhe dizer qualquer coisa! Me fazendo quase pular em um susto, enquanto que seus dedos me acariciavam e seu olhar reconfortador eliminava qualquer pensamento desagradável de dentro do meu peito. Deixando no lugar apenas as batidas do meu coração ressoando fortemente dentro de mim, e a minha respiração se desfazendo com o gentil calor de sua mão.

"N-Não! Não posso-!!"
Minha mente de repente tentou à força me tirar daquele transe em que ele facilmente conseguia me colocar! Correndo para segurar o seu braço e afastar a sua mão de mim, no que meus olhos com muito receio tentaram observar por cima de meu ombro se Sal ou alguma outra pessoa havia visto aquilo por acidente!

— "Não precisa se preocupar. Eu não faria nada na frente delas."

Sua voz observadora me trouxe então de volta para o seu alcance. Me fazendo ainda sim estremecer um pouco com a mera idéia de que nem a presença de Sal e Saret atrás de nós dois pudesse intimidar o meu impulso de querer tocá-lo de volta também caso eu me permitisse perder aquele (já fraco) controle! Tentando me manter firme, no que Damian -indiferente àquela minha atitude- apenas sorriu com confiança me concluindo sua fala.

— "E não se preocupe, eu vou tomar cuidado lá fora."

Ele então deslizou o seu braço para fora da minha mão, segurando o meu pulso em resposta e me puxando para a direção da porta ao nosso lado como se me induzindo a abri-la para ele. No que extasiado pela sua expressão contente eu só consegui compelir com o seu desejo.
Lentamente desfazendo os trincos sem fazer muito barulho para não atrair a atenção de ninguém, no que antes porém que eu pudesse desfazer o último para Damian passar, ele me deteve segurando minha mão contra a porta e olhando discretamente para o lado. Tendo a certeza de que Sal continuava distraída com Saret e que Ebraín e Gale continuavam fora da sala, para então se inclinar próximo ao meu ouvido e me sussurrar algo com muita seriedade -definitivamente nenhum sentimento durava tempo demais dentro dele.

— "Yura, só me prometa uma coisa antes de eu ir."
— "O quê?"
— "Não saia daqui de dentro enquanto eu não voltar. Nem você, e nem eles também."
— "..."

Ouvindo aquilo eu então também me senti sendo enfim arrancado do encanto que ele estava me causando. Reagindo com uma expressão bem mais severa, antes de lhe dar -sem muita intenção- minha honesta resposta sobre até onde eu iria de fato conseguir ou não obedecer àquele seu -não tão simples- pedido.

— "Damian, eu posso esperar aqui por você, mas-... Eu não pretendo impedir Gale de ir embora se ele quiser. Eu sei que disse que não ia atrapalhá-lo mais na sua vingança, só que isso não significa que eu também irei te ajudar com ela. Me desculpe."

Damian então me olhou de uma forma desagradável, não parecendo porém se irritar com aquela minha resposta -diferente do que eu estava esperando. Balançando a sua cabeça uma única vez em afirmação antes de seus olhos se fixarem nos meus.

— "... Eu sei disso. Mas você não precisará se importar com essa parte, porque eu sei que ele não vai tentar sair daqui. O que eu quero é que você tente segurar a menina e os outros 2 Humanos aqui dentro pelo tempo que conseguir -vou tentar não demorar demais para voltar."
— "??"

Eu então o olhei confusamente.
"Como assim não vai tentar sair? Se Damian não estiver por perto, é claro que Gale vai aproveitar a chance para escapar!"
Minha mente tentou respondê-lo, enquanto que a minha voz se sentiu incapaz de fazê-lo porque eu apenas não entendia de onde Damian tão confiantemente havia tirado aquela certeza! E nisso ele então enfim decidiu me dizer algo antes de pousar discretamente sua mão naquela maçaneta e começar a girá-la.

— "Você vai entender porque eu estou dizendo isso, se o que eu estou pensando estiver correto."

Dizendo aquilo, Damian então me deu um último breve sorriso e terminou de abrir aquela maçaneta. No que seu corpo passou tão rapidamente pela porta, que no segundo em que Sal percebeu a sua saída e gritou algo, ele já havia ido -tão agilmente, que eu sequer precisei confirmar para ter a certeza de que não o encontraria, caso eu pusesse meu rosto para fora daquela porta.

— "Yura!! Você deixou aquele Skrea sair!? O que você está pensando!? Ele pode trazer os guardas até aqui!!"
— "..."

Eu me voltei para Sal que desesperadamente me olhava por cima do sofá, tendo ela soltado Saret para poder me alertar em alvoroço enquanto que a própria Saret -diferente dela- pareceu não querer dar muita importância para o que eu havia feito.
Sendo que no que Sal então tentou se levantar para ir até aquela porta às pressas, me fazendo encolher meu corpo contra a parede para conseguir sair do seu caminho a tempo, Ebraín do nada -atraído provavelmente por aquela confusão na sala- surgiu da cozinha e a deteve com uma inesperada resposta!

— "Não se preocupe com isso, Sal."
— "O quê!?"

Ouvindo aquilo, Sal então parou no meio daquela sala e encarou Ebraín com uma expressão no mínimo crítica! Não compreendendo de onde poderia estar vindo a sua calma, até que enfim ele caminhou na sua direção e colocou uma de suas mãos sobre o seu ombro.

— "Aquele Skrea não irá fazer nada contra nós. Fique tranquila."
— "Como você pode confiar tanto assim nessa ideia!? Estamos falando de um Skrea!"
— "Eu confio 'nessa ideia', porque sei que ele não tentará fazer nada contra o Yura. E enquanto o Yura estiver aqui, ele então não tentará fazer nada contra nós também."

Sal então olhou Ebraín confusamente. Se calando como se tentasse entender a situação na qual ela havia atrasadamente se metido, no que enfim os seus olhos então decidiram ir até a minha direção. Fazendo ela por um instante parecer me questionar através deles, sem dizer muito ou me permitir entender o que exatamente ela acabou deduzindo das palavras que ouvira.
Sendo que honestamente, o que eu poderia a esse ponto considerar dizer também para ela!? Que eu confiava em Damian porque para mim ele era bem mais do que "só um Skrea"!? Que ela também deveria de confiar nele porque eu podia garantir que era seguro!? Que Ebraín tinha razão em tudo que acabara de falar!?
Não importa o que eu fosse dizer para ela agora, qualquer uma daquelas frases iria acabar terminando comigo sendo obrigado a finalmente admitir publicamente para todos eles que eu estava me envolvendo com Damian! E isso, eu não estava ainda pronto para conseguir fazer. O que me obrigou então a tentar me manter quieto ante sua cisma, até que enfim Sal desistiu de me pressionar e apenas passou a olhar para o lado. Claramente chateada com a minha insistente falta de cooperação para com ela.

— "Eu também confio nele."

Subitamente então uma voz baixa se pronunciou com seriedade dentre nós 3, e todos nos voltamos para a figura de Saret que -mesmo ainda muito abatida- tentava se manter com a cabeça atentamente erguida sobre aquele sofá. Seu rosto se contraía ainda em um discreto misto de dor e autocontrole, só que sua incomum calma demonstrava o quão resistente ela realmente estava conseguindo ser à precária situação do seu próprio corpo -mais do que até mesmo se comparado ao seu psicológico.
Roubando com isso nossas atenções para a firmeza em sua voz, após tanto ter se desabado sobre ela até minutos atrás nos braços de Sal.

— "Eu confio nas atitudes daquele Skrea, também."
— "O quê-...? O quê você está dizendo, Saret?"

Sal balbuciou, impressionada com a inesperada intromissão de Saret naquele assunto. Olhando-a sem saber o que dizer, no que Saret pareceu escapar com a sua atenção de todos nós pressionando severamente as suas sobrancelhas uma contra a outra. Em um claro pesar que a fez então fechar os seus olhos e encolher pensativamente os seus ombros, cada vez mais que sua mente parecia transitar por aquelas difíceis memórias.
Nisso ela então pareceu precisar retomar o fôlego algumas vezes, antes de enfim sua voz conseguir ter a coragem de fazer aquilo que eu -por outro lado- não tive a determinação de fazer. Defender Damian às custas de acabar expondo demais sentimentos que eu não queria ter que expor.

— "O Skrea, ele-... Haah, ele t-tentou. Ele tentou salvar Minka durante o incêndio. E-eu, eu sei que ele não conseguiu mas-...! Ghh, mas eu não vou julgar mal alguém que se arriscou para tentar fazer isso por ela!"

Lutando contra as lágrimas que voltaram a se acumular em seus olhos, Saret brigou para conseguir completar aquela frase antes de Sal voltar correndo até o seu lado e apoiá-la contra o seu peito. Passando a mão em sua cabeça algumas vezes, sem ser capaz de desafiar verbalmente as convicções de Saret graças ao seu ainda muito fragilizado estado!
"Saret... obrigado."
Eu então pensei comigo, sendo aquilo o melhor que eu também conseguiria fazer no momento. O que ela estava tentando fazer, mesmo que fosse por Damian e não por mim, aquilo me significou muito mais do que eu acho que ela poderia imaginar. Respirando enfim um pouco mais aliviado por sentir que Sal com isso enfim entendeu que ela estaria em minoria caso continuasse tentando hostilizar a presença de Damian ali.

Só que enquanto todos estávamos ali tentando nos reorganizar após aquele breve e inflamado instante. Tendo Ebraín me encarado várias vezes como se contando comigo para não ter tomado a atitude errada, e Saret brigando nos braços de Sal para igualmente não se deixar novamente levar pelo peso da sua consciência. Foi então que subitamente a figura de Gale surgiu na porta da cozinha, como se incapaz de continuar distante também de toda aquela comoção que igualmente o dizia algum respeito.
E foi aí, nesse instante, que enfim Sal se deu ao trabalho de dar atenção à sua presença... reconhecendo-o instantaneamente em um pulo que seu corpo deu para fora daquele sofá, fazendo-a soltar Saret na mesma hora!

— "VOCÊ!!"
— "!..."

Ela contornou o sofá em que Saret estava às pressas, e se posicionou defensivamente na frente de Gale! Sem dar muito a entender se iria ou não tentar atacá-lo ali mesmo, no que Gale então em resposta também correu com a sua mão até um dos bolsos em sua cintura onde ele guardava as suas agulhas! Parando porém no meio do caminho, no que Ebraín prontamente se colocou entre os dois com muita calma e paciência.

— "Sal..."

Ebraín tentou chamar a sua atenção, no que eu podia ver ela sendo incapaz de tirar os seus olhos de Gale! Encarando-o enquanto ele largava o seu bolso e levantava as suas mãos em um gesto dúbio de rendição, contradizendo um pouco o sorriso malicioso que surgira em seu rosto, e os seus olhos que pareciam arder com aquela típica vivacidade de quem não pretendia desistir tão facilmente assim de lutar pela sua vida -exatamente o que até agora havia faltado à Gale porém, enquanto Damian o estivera cerceando!
Era quase como se ter a impressão de que a sua alma e o seu corpo estavam completamente desconectados em intenções, ao ponto de eu me ver então obrigado a me aproximar também dele. Temendo pela imprevisibilidade de Gale que eu tão bem conhecia, mas Sal por outro lado não!

— "O que ele está fazendo aqui também Ebraín!? O que deu em você hoje, como é que você permitiu essa pessoa e um Skrea entrassem aqui tão facilmente!?"
— "Bem, eu diria que fui motivado pela insistência do Yura, e por uma mera curiosidade de minha parte mas... Concordo que se eu tivesse previsto que você também fosse aparecer em minha porta hoje, eu não iria então ter permitido que esse encontro entre vocês dois pudesse acontecer."

Ebraín tentou falar de uma forma apologética para Sal, abaixando a sua mão gradualmente enquanto eu e Saret olhávamos aquela cena preocupados. Eu não sei até onde Saret realmente conhecia ou não Gale dada a estranha forma como ele esteve tratando ela, mas eu não podia me preocupar menos agora. Pois eu vi refletido em seus olhos, exatamente o meu medo que eu estava sentindo pelo que poderia acontecer caso não nos intrometêssemos também logo. Me fazendo então dar mais um passo afrente e, com um tom muito altivo, quebrar o que sobrou de iminência nas ações de Sal!

— "Sal, ele está aqui porque não fui eu que salvei Saret do incêndio, e sim ele."
— "!?"
— "Se não tivesse sido por Gale aparecer onde estávamos, Saret teria morrido naquele prédio ao lado de Minka. Isso porque eu não fui capaz de tirar ela de lá a tempo, mas ele foi. E eu não podia deixá-lo depois disso ferido andando pelas ruas, mesmo sabendo do risco que Gale poderia representar para você. Nós estamos devendo a vida de Saret a ele."

Firmemente eu falei cada uma daquelas palavras para ela, me posicionando lenta e prontamente ao lado de Gale. Disposto a também servir de escudo para ele, só que dessa vez muito mais porque eu não queria tentar Gale a revidar pessoalmente alguma possível investida de Sal com seus venenos -pois se ele o fizesse, Sal poderia acabar se machucando dessa vez.
Fazendo ela com isso então olhar para Saret em surpresa, no que Saret -indiferente a dor que eu pudesse tê-lo feita sentir por ter narrado aquelas coisas- apenas mordeu o seu lábio para tentar conter os seus sentimentos e balançou a sua cabeça em uma culpada afirmação.

Fazendo Sal então mais uma vez voltar com a sua atenção para mim e para Gale, como se aos poucos estivéssemos fazendo-a perder todo o seu chão. E olhando então mais uma vez para Saret, trocando logo em seguida sua atenção para Ebraín como se ela realmente estivesse com dificuldades de assimilar o que estava acontecendo naquele lugar -acho que aquela era a primeira vez que eu estava vendo Sal tão perdida assim a respeito de qualquer coisa.
Suspirando ela então finalmente, no que Ebraín pareceu olhá-la de alguma forma diferente -que eu não consegui enxergar- acalmando-a até ao ponto em que sua mão terminou de se abaixar, e a sua voz enfim se pronunciou mais comedidamente para todos nós ali.

— "Haah... Eu gostaria de ouvir toda essa história do começo. Sobre o que exatamente aconteceu naquele prédio com vocês 4, Yura?"