Era tão difícil dar as costas para ele quando, apesar de tudo, tudo o que eu queria lá no fundo, era abraçá-lo e não soltá-lo por nada. Mas eu precisava ficar sozinha. Precisava pensar em tudo o que tinha acontecido e estava acontecendo. Precisava tomar uma posição e fazer as pessoas me ouvirem, fazer com que elas respeitassem minhas decisões e parassem de me tratar como uma criança que não tem vontades e as rédeas de sua vida. Precisava de ordem.
Continuo andando na calçada do hospital. De repente um carro preto para ao meu lado e abaixa o vidro. Olho para o carro e vejo o cabelo loiro de Matt.
—Precisamos conversar. - ele diz de dentro do carro.
Paro de repente e fico olhando para ele. Matt sai do carro e contorna o capô. Os flocos finos e gelados de neve caindo sobre mim. A rua está deserta e quase escura, pouco iluminada por um poste de luz amarelada fraca.
Matt se aproxima de mim.
—Ei. - ele diz quando enfim para a minha frente.
Olho para ele, bem no fundo de seus olhos azuis e sinto a raiva crescer dentro de mim. Com um impulso levo minha mão até seu rosto com força. Ignoro o ardor na palma da minha mão direita. O estalo do atrito da minha mão com o rosto de Matt cortou o silêncio da rua.
—Sai de perto de mim. - digo em voz baixa, porém firme.
Ele olha para mim e respira fundo fechando os olhos.
—Eu sinto muito. Eu estava...
—Drogado? - termino por ele.
Ele abre os olhos e engole em seco. Concorda com a cabeça.
—Foda-se!
Recomeço a andar passando por ele. Sinto sua mão segurar meu pulso com força. Viro-me e empurro-o com toda a força que ainda me resta.
—Sai de perto de mim! - grito me descontrolando com as lágrimas. - Não encosta o dedo em mim. O que você quer que eu diga? Sabe de uma coisa? - eu o empurro novamente. - Estou cansada de tentar não magoar as pessoas. Eu cansei!Não quero nada com você, Matthew. Muito menos agora! Você vai me deixar em paz senão eu vou na polícia. Você sai de perto de mim. - grito e o empurro novamente. - Eu odeio você! Por um momento achei que você era uma boa pessoa, mas adivinha só? Mais uma vez a vida vem rindo da minha cara e esfregando nela o quanto eu sou inocente. Você só estava sendo bonzinho porque queria me levar para a cama. E adivinha só: você já conseguiu o que queria. Agora me deixa em paz!
A neve agora cai com mais intensidade. Eu tremo da cabeça aos pés, estou ficando cada vez mais molhada. Matt me olha com os olhos duros.
—Tem mais alguma coisa para me dizer?
—Não. Só quero que me deixe em paz agora que fui burra o bastante para transar com você.
Matt se aproxima mais de mim, ficando perto demais. Mas eu não me movo. Encaro-o com os olhos semicerrados por causa da nevasca.
—Você gemeu meu nome como uma vadiazinha, sei que estava gostando. Não venha dar uma de santinha porque você não é.
Levanto a mão para dar outro tapa em seu rosto, mas ele segura meu braço.
— Não levanta a mão pra mim, não. - ele diz em voz baixa. Mas seu tom é de aviso. - Eu posso perder a paciência com você.
—E o que você vai fazer? - desafio-o. - Vai me bater? Ah é, isso você já fez! Ou vai me colocar no carro e batê-lo comigo junto? Ah é, isso você já fez também.
—Eu amo você, porra! - ele grita em frente ao meu rosto.
—Isso não é amor! - grito de volta. - É uma obsessão louca que você criou. Como acha que vou querer alguma coisa com você depois de tudo o que fez? - empurro-o. - Me deixa em paz! Estou falando sério.
Viro para ir embora e dessa vez ele não me impede. Estou tremendo de raiva e frio.
—VADIA! - ouço-o gritar.
Paro abruptamente e olho para ele. Começo a andar em sua direção e paro surpresa ao ver Ash chegar e lhe dar um empurrão.
—O que diabos está fazendo, caralho? - Ash diz. - Está louco, porra?
Estou mais próxima dos dois agora. Matt me olha com os olhos duros.
—É isso o que você é. - ele aponta o dedo na minha cara, ignorando Ash entre mim e ele. - Uma vadia de primeira.
—Muito obrigada, Matthew. Obrigada! É muito bom que você seja sincero consigo mesmo e veja que você não quer uma vadia com você. Se você só quer transar, você pode arrumar isso com a Lara. Ela é mais vadia do que eu e um bordel cheio de putas junto.
Ash olha para mim com um sorriso discreto no canto do lábio e depois olha para Matt. Ele está com a mão no ombro esquerdo dele.
—Vai para cara, Matt. Anda logo.
Matt entra no carro olhando para mim.
—Espero que seja muito feliz com aquele imbecil do Kyle. Espero que ele te traia com a primeira puta que aparecer na frente dele.
—Vai se foder! - grito para ele e chuto a porta do seu carro.
—Ei. - Ash segura meu braço.
Estou arfando, como se tivesse corrido uma maratona. Observo Matt sair com o carro cantando os pneus.
—Você está bem? - Ash pergunta.
—Não. - digo e olho para ele. Sua mão ainda está segurando meu braço. - Você ficou aqui me vigiando?
—Mais ou menos. - Ash tira a mão do meu braço e coça o maxilar. - Eu... achei que você não ia conseguir táxi ou que algum dos dois ia vir atrás de você e alguma briga ia acontecer, então esperei.
Respiro fundo e concordo com a cabeça.
—Ainda é seu aniversário. O que acha de beber algumas cervejas?
Olho para Ash. Ele realmente fala sério. Não sei se é uma boa ideia, mas mesmo assim, não sigo meu cérebro.
—Claro.