Eu havia passado por um momento de muito estresse e precisava me afastar de tudo e de todos que pudessem me causar algum tipo de nervoso. Essa fora a recomendação quando acordei no hospital, após ter saído do prédio de Kyle. Eu estava surpresa por ter sido levada pra lá por Ash. Eu me lembrava sim de tê-lo visto na rua, mas logo depois apaguei. Me senti constrangida ao acordar e vê-lo do lado da cama, olhando para mim. Seus cabelos loiros estavam um pouco armados, ele vestia um casaco jeans azul escuro e uma calça de sarja bege.
—Ei, como você está? - ele pergunta.
Olho para meu braço esquerdo furado e suspiro.
—Ótima. O que aconteceu? - pergunto voltando minha atenção para o seu rosto.
—Você desmaiou na rua e seu nariz estava sangrando. Essas coisas nunca são bom sinal, então... eu meio que me apavorei sabe. Te trouxe pra cá. - ele passa a mão pelo queixo.
Concordo com a cabeça e me sento. Sinto meus olhos inchados quando olho ao redor. Estou num leito da enfermaria separado por uma cortina em tom azul bem apagado.
Respiro fundo.
—Obrigada por ter me trago. Desculpe o transtorno.
—Sem problemas. - ele murmura e senta-se na maca ao lado das minhas pernas.
Acho aquilo um pouco estranho e não posso deixar de franzir o cenho. Ash parece ignorar isso.
—O que aconteceu?
Estreito os olhos.
—Não se faça de bobo. Por favor. - rebato. - Sei que você já ligou pra ele.
—Liguei. - ele concorda com a cabeça. - Olha, posso te dizer uma coisa?
Fico quieta por um instante e acho que ele está esperando eu dizer sim ou não. Por isso concordo com a cabeça.
—Sei que não somos próximos nem nada; você é a garota do Kyle ou era sei lá. - ele dá de ombros. - Mas é o seguinte: você está com pessoas erradas. Isso não estaria acontecendo se você não estivesse no meio de pessoas como nós. - ele coça o maxilar. - Há muita coisa que você não faz ideia, situações que você não viu acontecer enquanto estava na fraternidade. E olha que você já presenciou muita coisa.
—O que está querendo dizer? - pergunto.
—Que você tem que sair desse meio. Você não vai ter sossego. Kyle e Matt não vão parar até que você não seja de nenhum deles. Você acha que apontar uma arma um para o outro foi absurdo? Eles são capazes de muito mais.
Balanço a cabeça negativamente e Ash comprime os lábios  numa linha fina.
—Sinto muito. Sei que gosta de Kyle. - ele dá de ombros. - Mas se for inteligente, vai sair dessa agora. O Matt jamais te apontaria uma arma se não estivesse drogado, mas ele sempre está. Noventa e cinco por cento do tempo. E Kyle também não é muito pacífico.
Ouço aquilo com atenção,olhando bem fundo nos olhos de Ash. Ele está bem sério, parece estar sendo firme no que está dizendo. Olho para minhas mãos.
—Sinto muito. Claro que a escolha é sua, mas você tem que saber que isso vai continuar. Eles são dois idiotas e infantis. Os dois.
Fico ouvindo aquilo e então o médico entra para me ver.
***
Quando o médico faz todas as recomendações de não se estressar e outras coisas, me dá alta.
Enquanto me levanto da maca, vejo Ash digitando freneticamente no celular.
—Você quer que eu te leve? - ele pergunta.
—Ah... não precisa incomodar. Você já fez muito.
—Não, é sério. Eu posso te levar. É melhor, só para garantir que você não passe mal de novo.
Engulo em seco. Não posso ser mal educada com ele.
—Tudo bem. - concordo com a cabeça. - Vamos nessa então.
Saímos da enfermaria e nos dirigimos lado a lado entre os corredores brancos do hospital.
Quando estamos chegando perto da porta de vidro automática para sair, paro abruptamente. Ash continua a andar e logo para olhando para mim, há alguns passos para trás dele. Ele segue meu olhar. Sinto minhas mãos gelarem na mesma hora. Kyle está se aproximando, sua mão direita está parcialmente enfaixada, apenas metade da palma.
—O que aconteceu? Como é que você está? - ele me cobre de perguntas e vem se aproximando.
Ash se coloca entre eu e ele.
—Ei, vamos com calma aí. - Ash coloca uma mão no ombro de Kyle que o olha com as sobrancelhas unidas.
—Tira as mãos de mim Ash. Já estou cansado das pessoas ficarem entre eu e ela.
—Abaixa sua bola aí, tá legal? - Ash rebate - Primeiramente ela só está aqui porque você e Matthew são dois idiotas. Eu tenho é dó dessa garota, sabia? Vocês dois estão acabando com ela. O médico disse que ela está entrando em depressão e precisa de sossego, não é pra se estressar.
Kyle olha para mim por cima dos ombros de Ash. Engulo em seco.
—E você sabe muito bem como é depressão, não sabe Kyle? Então sugiro que você faça a coisa certa. Estou levando ela para casa.
Kyle olha para ele e dá um passo para o meu lado.
—Como é? - ele pergunta com as sobrancelhas arqueadas olhando para Ash.
—É isso aí. -Ash olha para mim e dá de ombros. - Se ainda quiser.
Olho para Kyle que olha para mim.
—Preciso conversar com você. Foi para isso que foi no meu apartamento, não foi?
Fecho meus olhos e tento respirar fundo. Eu estava com tanta raiva que não estava conseguindo olhar para a cara de Kyle. Eu quase tinha me esquecido do motivo de ter ido para seu apartamento.
Quando abro meus olhos novamente, Ash e ele estão me olhando.
—Pode deixar que vou para casa sozinha. Obrigada Ash. - olho para ele e faço um maneio com a cabeça.
Saio andando o mais rápido que posso e ouço Kyle chamar meu nome quando passo pela porta automática de vidro. Sinto a neve cair e empapar meu cabelo. O céu já está tão negro que o contraste branco no chão me assusta um pouco; me surpreende.
—Alice.
Fecho os olhos e continuo andando.
—Alice. Ei. - sinto a mão dele pegar meu cotovelo.
—O quê? - pergunto bruscamente quando me viro para olhá-lo.
Os olhos verdes de Kyle se arregalam ligeiramente. Balanço a cabeça negativamente.
—Não vê que estou cansada disso tudo? Não vê isso? Você tem mesmo que me pressionar?
—Eu quero você de volta, quero cuidar de você, eu...
—Você não tem o que querer. - sinto meus olhos começando a arder. - Quem tem que querer algo aqui, sou eu. E eu quero paz. Não quero entrar na casa do meu namorado e ver um louco apontando uma arma para ele. E não quero me descontrolar e atirar no teto do seu apartamento. - as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Kyle me puxa para perto dele e me envolve num abraço apertado. A neve nos molhando. Senti-lo tão perto assim era melhor do que eu lembrava.
—Me dá um tempo, por favor. Eu vou... dar um jeito de sair da cidade então não me procura. -faço menção para me afastar dele, mas ele segura minha mão.
—Vamos viajar só eu e você. - ele diz. - Vamos. - ele engole em seco e balança a cabeça. - Será um tempo só nosso para você ver que vale a pena lutar pelo o que temos, Alice.
Começo a chorar de verdade enquanto o fito. Vejo seus olhos marejados.
—Eu entendo que você esteja com raiva e chateada, porra eu entendo. Perdi minha razão de reclamar de qualquer coisa. Não quero tocar no nome do Matt nem falar sobre vocês dois eu só quero... você. De volta.
Ele segura minhas duas mãos. A direita ele não consegue fechar muito por causa da faixa.
—Por favor.
Olho para nossas mãos juntas e fecho os olhos. Sinto os flocos de neve caindo no meu rosto e o queimando.
—Me dá um tempo, Kyle. Não vem atrás de mim, por favor.
Solto sua mão e dou as costas para ele. Começo a me afastar rapidamente antes que mude de ideia.