Girls Talk Boys escrita por Glads


Capítulo 9
Lost




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Layse.

O natal foi maravilhoso.

Mas a voz de Luke dizendo que me amava não saiu da minha cabeça em momento algum. Por causa disso, não tive coragem de vê Luke no dia 25/12.

Ashton chegou a nos visitar, o que foi muito fofo da parte dele, mas ele foi tão rápido quanto veio.

Os meninos não param de ensaiar nem nos feriados. Quase sempre é mesma coisa, os meninos se reúnem na garagem do Ash e tocam até a mãe dele aparecer pedindo silêncio para os irmãozinhos, Lauren e Harry – lindos, por sinal – do meu amigo dormirem.

Agora, eu tinha esquecido tudo, tudo mesmo – até mesmo do Luke – simplesmente porque o dia chegou.

Há alguns anos, Lavínia, uma menininha que não tive a oportunidade de conhecer, faleceu.

De todos os dias que passo com a Naomi, esse é o único que é completamente igual.

Peguei o café que Lucy me ofereceu em silêncio e pedindo a Deus para dá força à minha amiga fui até seu quarto.

Bati na porta e ouvi um soluço.

— Nam, eu estou entrando. – disse mordendo o lábio.

O quarto estava completamente escuro, mas com a luz que entrou pela porta pude vê minha amiga encolhida.

— Trouxe café. – murmurei.

— Não quero. – ela disse em um fio de voz.

— Naomi... – me aproximei deixando a xícara de café no criado-mudo.

Ela se sentou e percebi que ela estava segurando as lágrimas.

— Faz sete anos, Lay...

Só tive tempo de sentir o impacto do corpo da minha amiga contra o meu.

— Oh! Naomi! – apertei meus braços em sua cintura e ela começou a chorar.

Murmurando coisas desconexas em meu pescoço, ela acabou dormindo.

Era basicamente isso, todo ano.

Eu via minha amiga sofrer e não podia fazer nada.

Uma vez, um médico me disse que o corpo aguenta a dor física ou mental até certo ponto, depois disso o cérebro simplesmente desliga e a pessoa acaba adormecendo.

Foi isso que aconteceu.

Na verdade, é isso que acontece todos os anos.

Depois de murmurar coisas desconexas, ela parou de falar do nada e percebi que tinha dormido.

Cautelosamente a deitei na cama e a embrulhei.

Suspirei pensando que se talvez pudesse transferir a dor dela para mim, apenas uma vez...

— Tudo bem? – Lucy interrompeu meus pensamentos sussurrando na frente do quarto.

Assenti levantando.

Fechei a porta do quarto e olhei para a senhora a minha frente.

— Vou na casa do Luke. Volto antes dela acordar.

Lucy assentiu e em menos de cinco minutos já estava na rua.

Cruzei os braços me sentindo indefesa por um momento, quase como se estivesse sozinha no mundo...

Eu precisaria de Luke para ajudar com a Naomi...

Apenas nós dois vemos minha amiga nesse estado porque ela acha que os outros pensaram que ele é fraca. Já tentamos explicar o quanto ela é forte, até para Mike poder ajudar também, mas ela não aceita.

E eu sabia o motivo de Luke não está na minha casa assim que amanheceu... O meu nervoso e simples “tá” depois que ele falou que me amava.

Cheguei à frente da sua casa e suspirei.

Assim que ia bater, Luke abre a porta e se surpreende a me vê ali.

— Eu estava indo para sua casa. A Naomi... Ela já...

— Já. – murmurei – Pensei que ia ter que te convencer a me ajudar.

— O quê? Por quê? – ele perguntou puxando a camisa preta para baixo.

— Você sabe... – olhei para meu short azul escuro – Eu não respondi...

O loiro puxou meu rosto para cima e riu.

— Eu não falei porque queria ouvir a mesma coisa de você, apesar de ter certa expectativa...

— Falou por quê? – me atrevi a perguntar dando um passo a frente.

— Para que soubesse a mais pura verdade. Layse O’Brien, eu amo você.

Mordi o lábio envergonhada.

— Não sei se mereço...

— Claro que merece. – ele afirmou colocando os braços na minha cintura.

— Se eu mereço, Luke, porque não conta a verdade sobre o Gregory...

O garoto me soltou na hora.

— Que verdade? Nunca mais vi esse cara.

— Você está nervoso. Está escondendo algo. Calum, Mike e eu tentamos descobrir o que era, mas você sempre muda de assunto quando falamos nele.

— Porque eu o odeio. – Luke deu um passo para trás – Por que insistem em falar dele? Minha mãe já terminou com ele! O que vocês querem?

— Ele anda te ameaçando. – soltei o óbvio – É por isso.

— A gente pode conversar? – ele olhou de um lado ao outro e me puxou para dentro de casa – Temos quanto tempo até a Nam acordar?

— Algumas horas. Como sabe que ela está dormindo?

— Você não viria, se ela não estivesse.

Passamos rapidamente pela sala e tudo o que consegui ver foi Sra. Hemmings beijando o pai de Luke.

Em segundos meu melhor amigo me fazia sentar na cama dele.

— Você não pode contar para ninguém! – foi a primeira coisa que ele me disse.

— Como assim, Luke? Se homem anda te ameaçando você tem que fazer algo! Não basta contar para seus pais, isso é caso de polícia!

Luke parecia está com muita raiva a ponto de me bater a qualquer momento.

— A polícia não! – ele murmurou.

— O que ele disse para você? Quando se viram? – levantei segurando os ombros do meu amigo – Me conta. Eu sou sua melhor amiga.

Meu amigo suspirou atordoado e segurou meu rosto:

— Desculpa. Desculpa.

— Apenas me conte...

Então ele despejou de uma só vez:

— O Ashton é filho do Gregory.

Arregalei os olhos e literalmente caí para trás, por sorte havia uma cama ali.

— Como assim?

— Eu não sei... Uma vez a mamãe insistiu em almoçarmos na casa do Greg e enquanto Jack e Ben tomavam banho na piscina do canalha, eu comecei a olhar alguns álbuns de fotos com a mamãe. Gregory chamou minha mãe para ajuda-lo com o almoço e continuei olhando um álbum, até que encontrei uma escondida atrás de outra. Quando puxei vi a foto de uma mulher abraçada ao lado de duas crianças, uma maior e outra récem-nascida, atrás estava escrito “Anne Marie, Ashton e Lauren”.

— E daí? Pode ser outro Ashton...

— Também pensei isso até entrar no quarto do canalha e vê um monte de fotos atuais do Ashton! Eu já o conhecia de vista por causa da Vox, então fiquei agoniado e sem saber o que fazer.

— Aí você enfrentou o Gregory. – completei.

— Tive que enfrentar porque ele me pegou na porta do quarto dele, então só vi pela fresta as fotos do Ash.... O Gregory me ameaçou e mandou ficar longe de você.

— De mim? Por quê?

— Eu também não entendi, até...

Meu celular começou a tocar e eu me assustei.

Pela tela pude vê que era a mãe da Naomi, então franzi o cenho, mas atendi.

Oi tia.

Oi, querida. – sua voz saiu afetada – Como a Naomi está?

Ela já chorou hoje, mas estava dormindo quando saí. Daqui volto para casa e lhe aviso.

Não vai ser necessário. – ela começou a chorar como se me escondesse algo.

Como assim? Tia, está doendo em todos o dia de hoje. Lavínia era uma menina incrível e lamento não ter a conhecido. – falei sem saber o que fazer.

O choro do outro lado aumentou e me assustei ao ouvir a voz masculina do meu “tio de consideração”.

Layse? Agradecemos sua solidariedade. – o pai da Naomi começou.

Não há o que agradecer, tio. – olhei para Luke que me fitava curioso por causa do idioma.

Deixe eu terminar de falar, por favor. – o tom triste que ele usava me causou calafrios e por instinto busquei a mão do Luke – Sua mãe sofreu um AVC.

Meu mundo desabou e não sei como acabei ajoelhada no chão com Luke na minha frente tentando entender o que estava acontecendo.

Você vai ter que ser...

— Ela está bem? – acabei perguntando em inglês por costume.

— Ela faleceu.

Depois disso foi como se eu entrasse em um estado de choque.

Lembro do barulho do meu celular indo ao chão e de Luke o pegando buscando entender tudo.

Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira.

Contrariando todas as reações possíveis, eu comecei a ri.

Luke me olhou incrédulo falando com o pai da nossa amiga.

Puxei o celular dele sem cautela alguma e disse para o Sr. Hood:

— Essa brincadeira foi péssima! – a risada acabou se transformando em um leve choro – Sério! Que tipo de pessoa brinca com a morte de alguém?

— Querida, não...

— Não me chame de querida! – Luke tentou me abraçar – Não toque em mim, Luke. Minha mãe está viva! Ela me mandou mensagem hoje de manhã dizendo que eu precisava ser forte pela Noami!

— Layse, preciso que me escute. Tem três passagens compradas para o Brasil. O vôo sai em meia hora. Vou cuidar dos preparativos do velório. – então o homem, meu segundo pai que por vezes vi como um herói, começou a chorar – Eu sinto muito. Também queria que fosse uma brincadeira.

Foi aí que entendi ser verdade.

Disse para o Luke algo como “Cuide da Naomi e não conte nada a ela” e então saí correndo tão rápido que nem meu melhor amigo e seus irmãos atléticos me alcançaram.

Eu não pensava nada.

Só sentia uma dor estranha que conforme eu corria foi substituída pela adrenalina.

Senti um vulto me perseguindo, mas quando olhei para trás não tinha nada. Comecei a correr mais rápido para onde quer que minha mente me levasse, tendo a certeza que tinha alguém me perseguindo.

Quando dei por mim estava entrando na casa da família Hood e abraçando um Calum só de cueca.

— Cal... – minha respiração estava muita desregulada – Por favor... Tem alguém me perseguindo.

Ouvi a mãe dele desesperada trancando a porta e fazendo perguntas.

— Escute. – ele se afastou e eu tentei forçar mais um abraço – Layse.

Ele segurou meu rosto.

— Você tem que se acalmar! Olhe para mim. Não tem ninguém te perseguindo – ele garantiu e senti minhas lágrimas escorrerem.

— É verdade. Eu vi um vulto e...

— É um ataque, Lay...

Acelerei minha respiração e simplesmente não conseguia regular.

A Sra. Hood parecia desesperava e tentava me tirar dos braços do filho, mas este não permitiu, me beijando inesperadamente.

Foi um simples tocar de lábios.

Logo, eu já estava voltando a respirar normalmente.

— Ouvi dizer que beijando alguém em um ataque, ela volta a respirar de forma correta e volta ao normal. – ele falou para a mãe dele.

Passado o choque inicial, finalmente me permiti chorar.

A mãe de Calum me segurou e me fez sentar no sofá da casa, enquanto tudo o que fazia era chorar alto observando a mulher.

— É outro ataque?

Neguei.

— Minha mãe... Ela... – o choro pareceu aumentar – Ela morreu.

Não sei como, mas ela entendeu e me abraçou apertado.

Em cinco segundos, Cal apareceu com um calção cinza e correu até mim angustiado, se ajoelhando no exato momento que sua mãe me soltou chorando.

— O que está acontecendo?

— A mãe dela...

— Morreu. – completei soluçando e sentindo as lágrimas cessarem.

Cal ficou pálido e em seguida me puxou para seus braços.

— Você não está sozinha. – ele sussurrou no meu ouvido e lembrei quando mais cedo eu disse que me senti sozinha, talvez tenha sido um pressentimento.

— Cal... – murmurei contra seu ombro.

— Eu te amo, Lay. Sei que não é a melhor hora, mas eu te amo e estou com você. Ok?

— Obrigada. – o apertei em meus braços e ele só me soltou quando a mãe dele apareceu com um copo de água.

Tremendo bebi tudo aquilo lembrando cada momento com a mamãe e as lágrimas voltaram.

— Eu quero minha mãe de volta. – solucei – Como vou viver sem mãe?

Mãe e filho se entreolharam sem saber o que dizer.

O telefone tocou e a Sra. Hood foi atender.

Era o pai de Naomi. Ele disse que eu precisava ir ao aeroporto, senão só chegaria ao Brasil em dois dias e não teria como guardarem o corpo...

O corpo da minha mãe.

Disse que não ia com Lucy e Naomi. Elas precisavam ficar por causa da Lavínia... Minha amiga não tem condições, ela não precisa passar por isso de novo.

Esse definitivamente é o pior dia para todos nós.

Calum então teve a ideia de irmos nós dois. Sua mãe não quis no início, mas quando disse que queria, ela permitiu por pena, eu sabia.

Então aqui estou eu, embarcando em um avião com o garoto que eu supostamente odeio, mas que meu coração parece amar, já que foi para Calum que ele me fez correr diante de tudo.

Cal entregou nossos documentos – o pai de Naomi tinha resolvido tudo – para a comissária e nos sentamos no avião.

— Logo estaremos, lá, loirinha. – ele falou o apelido que quase nunca usava.

Concordei deitando em seu ombro. O primo da Naomi passou os braços ao meu redor e beijou minha testa.

— Se eu pudesse tirar a sua dor... – ele sussurrou acariciando meu cabelo.

Repuxei o short jeans que usava olhando para o chão.

Nem sequer tinha trocado de roupa ou ido em casa, já que o importante, meus documentos, estavam no meu bolso porque Naomi sempre insiste em me fazer andar com eles, para o caso de um ataque em público saberem quem eu sou.

 – O que foi? – ele perguntou vendo o esboço de um sorriso no meu rosto por um segundo, pois logo fechei o rosto.

Sorri num momento como esse é uma traição!, me repreendi.

— Eu falei isso mais cedo. – minha voz saiu rouca – Por causa da Naomi...

— Ela ainda está dormindo, Luke pediu para avisar.

— Ele sabe que você está comigo?

— Eu avisei os meninos do que aconteceu.

— Por que fez isso? – me afastei dele bruscamente colocando o cinto enquanto o piloto falava algo.

— Somos seus amigos. – ele disse como se fosse óbvio – Não se preocupe, eles não vão contar para a Nam.

— Eu não quero ninguém com pena de mim. Você não entende? Por que acha que estou com você? Você me odeia, logo, não sentirá pena! – revelei surpreendendo até eu mesma.

Só tinha pensando aquilo naquele momento.

— Então você errou feio, Layse O’Brien, porque eu te amo e ninguém está sentindo pena de você! Todos estão preocupados com você!

— Você me ama mesmo? – sussurrei sem motivo.

— Você nunca percebeu? – ele questionou baixinho abrindo um leve sorriso.

Buscando aquela mesma felicidade acabei puxando o garoto pela sua camisa verde e grudando nossos lábios.

Por um momento, ele ficou surpreso, mas logo colocou a mão em meu rosto e movimentamos lentamente nossas bocas uma contra a outra de maneira prazerosa e acabei gemendo aliviada.

Assim que o beijo doce ia aprofundar, Cal se afasta bruscamente.

— Não posso fazer isso com você. Não nesse momento.

— Por quê? – murmurei – Eu preciso de você.

— Deus sabe como eu quero ouvir essas palavras, mas nesse momento, você só está tentando esquecer...

Ao perceber a razão no que ele dizia comecei a chorar novamente abraçando Calum.

— Desculpe. – pedi.

— Está tudo bem. – ele disse – Só... Só chore tudo agora. Ok? Não fique guardando para depois. Se sentir vontade de chorar, chore.

Assenti enterrando meu rosto em seu pescoço.

— Eu te amo, Calum. E não estou falando por causa do que aconteceu, eu realmente te amo.

— Eu também te amo, loirinha. – ele disse contra meu cabelo – Desde a nossa primeira briga.

Em meio às lágrimas, consegui visualizar a última imagem que tive da mamãe.

Ela mandando um beijo para mim no natal via videochamada.

Essa é a imagem que vou guardar dela para sempre.

E é como ela disse... Sempre estará em minha mente e coração.

Eu só preciso passar por isso...

Meus amigos, Cal, Lucy... Todos eles estarão comigo sempre.

Eu só preciso passar por isso.

Eu só preciso passar por isso.

Eu só...

— Você só precisa passar por isso. – Cal interrompeu meus pensamentos – Estou com você, loirinha.

Eu vou passar por isso.

[...]


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