Naomi

Suspirei encarando Layse.

Ela andava de uma lado para o outro em frente à porta do banheiro do seu quarto.

— Você pode se acalmar? – pedi cruzando as pernas, sentada na cama.

— E se der positivo? O que eu vou fazer? – ela sussurrou.

— Você vai sentar, se acalmar e contar pro Calum. – falei.

Não preciso dizer que estou com tanto medo quanto ela.

— Não posso. – de repente ela começou a chorar – Viu? Até chorando por nada eu estou...

Os soluços aumentaram e me levantei a puxando para um abraço.

Por sorte, Calum e Ashton estavam resolvendo rapidamente alguma coisa relacionada a banda.

Eles não podem sonhar que Layse desconfia estar grávida.

— Qual o problema de contar para o Cal? – perguntei passando a mão no cabelo claro da Lay.

— Nós... Nós... – ela se afastou e continuou – Temos brigado.

— O quê? – franzi o cenho.

— Cal reclama que eu não sei cozinhar. Que mal uso o gás de cozinha e...

Fiz uma careta, meu primo estava tendo uma atitude machista.

Suspirei e fiz uma pergunta à minha amiga:

— Sim. Eu vi o Ash twittando que a conta de gás é baixa, mas o que isso tem a ver? Quero dizer, por que brigar por isso? – a interrompi querendo que ela fosse direto ao assunto.

— Eu não sei. São brigas bobas. Ou acabamos nos reconciliando na cama ou ele sai de casa e só volta de manhã.

— Você acha que ele está te traindo? – questionei pronta a defender meu primo.

Sei que ele não é capaz de fazer isso.

— Não. – ela soltou meu ombro e se sentou na cama – Eu sei que não. Só não aguento mais fingir que está tudo bem.

— O Ash percebeu? – quis saber.

— Acho que sim, ele mora aqui, afinal...

— Lembra do que a Lydia falou? São apenas problemas de convivência. Tenho certeza que vocês vão se resolver, com ou sem o pequeno Cayse.

— Pequeno o quê? – ela me olhou de um jeito engraçado.

— Cayse. Vai ser o nome do bebê de vocês, o bom é que esse nome é unissex.

— Meu Deus. Eu nem sei se estou grávida! – ela gargalhou se levantando.

Fiquei feliz em distraí-la.

— Eu tenho certeza. – levantei as mãos para cima – Já pensou? O Calum descobre que vai ser pai perto do dia do aniversário de 21 anos dele...

— Vamos vê. – vi as mãos trêmulas da minha amiga abrirem a porta do banheiro onde o exame de farmácia, para saber se ela está ou não grávida, se encontrava.

— E aí? – perguntei sentindo meu coração acelerar quando ela mostrou o resultado.

Uma linha vermelha.

— O que significa? – perguntei desesperada.

— Não estou grávida.

— Como assim? – perguntei.

Ela exibe todos os sintomas, desde enjoos à pele limpíssima.

— Não estou. – sua feição ficou triste por um instante – Mas é bom. Não é?

A imagem de um bebê bonitinho – que claramente só puxaria para minha amiga pra poder ser bonito – se desfez da minha mente.

— Sim. Você vai se acertar com o Calum e na hora certa, o Cayse ou a Cayse vai chegar. – tentei animá-la.

— Eu estou bem. – ela falou.

Assenti.

Foi quando ouvimos a porta do apartamento ser aberta.

— Meu primo continua sem bater. Não é? – revirei os olhos.

Lay concordou rindo e acrescentou:

— Pelo menos a casa é dele, agora.

— LAYSE, SURPRESA PRA VOCÊ. – Calum gritou.

Nos entreolhamos, Lay jogou o exame farmacêutico e corremos para fora do quarto encontrando Luke Hemmings na nossa sala.

— Ahhhhhh. – pulei em cima do loiro.

Não víamos ele há meses, já que o garoto sempre dava um jeito de passar sua folga com a Arzaylea, ou Sandália, como Layse, Lydia e eu costumamos chamar.

— NAM! – ele apertou meu corpo contra o dele.

— Dessa vez não tem selinho? – fiz biquinho.

— Deixa eu abraçar ele logo, mulher. – ouvi Lay reclamar – E você já está cansada de saber que agora o nosso Lulu tá namorando.

— Com aquela esquelética, mas tá. – alfinetei.

Luke e Arzaylea já namoram há muito tempo, mas sempre faço questão de deixar claro que não gosto dela, assim como a maioria das fãs.

— Que tal uma noite como antigamente? – Luke sugeriu depois de soltar Lay de um abraço fraterno

— Só se os meninos estivessem juntos. – murmurei.

Automaticamente peguei no bolso da minha calça jeans o bilhete que anda comigo sempre.

O bilhete que Mike deixou na última vez que dormimos juntos ano passado. Depois daquilo, veio o final do ano e com ele, o anúncio do namoro oficial de Michael com uma tal de Crystal.

Doeu muito mais do que quando ele apareceu com Lydia, anos atrás.

Os dois pareciam verdadeiramente felizes e ele a olhava como se... Bom, preciso admitir, como se ela fosse a melhor coisa da sua vida.

Eu não ia naquela festa de fim de ano. Não ia mesmo. Mas Lay insistiu em levar Lydia e eu.

Foi horrível quando Michael me apresentou aquela mulher esbelta que ainda por cima parecia se esforçar em ser legal com a gente.

Passei a primeira hora de 2017 chorando com Lydia me dando uma lição de moral dentro de um banheiro minúsculo.

— Eles estão vindo. – Cal abraçou a esposa e notei os olhos dela ficarem surpresos – Tudo bem por você, meu amor?

— Sim. Sim. Sim. Sim. Claro. Claro, Calum. Claro, meu amor. – ela soou nervosa.

Luke e eu rimos.

— O pessoal tá indo para o apartamento de vocês, Nam. – o garoto ao meu lado disse – Podemos ir pra lá e deixar esses dois sozinho por um tempo.

Notei meu amigo piscar para o outro.

— Ok, vamos então. – puxei o meu melhor amigo pela mão.

Peguei a chave no meu bolso, ao lado do bilhete de Mike, e entrei no meu apartamento.

Lydia está trabalhando no momento.

— O Mike também vem. Não é?

— Sim. Tudo bem por você? – o Hemmings perguntou se jogando no sofá.

— Sim. Eu acho.

***

— Como o rosto de um homem muda depois de uma... – Mike começou a falar.

Calum e Layse estavam entrando no nosso apartamento de mãos dadas.

Como sempre, Cal não bateu, só foi entrando.

Minha amiga piscou para mim como se dissesse que está tudo bem e pisquei de volta.

— Cara! Ela é minha irmã! Por favor, não diga isso. – Ash pediu deitado na minha perna.

Todos riram e tive vontade de acompanhar, mas estamos falando de Michael Clifford.

— Você podia parar de ser indiscreto, Mike. – pedi.

Ele estava no sofá à minha frente, com os pés de Luke em cima das suas próprias pernas.

— Eu o quê? – ele franziu o cenho olhando para mim.

— Levanta, Luke.  – meu primo bateu na perna do Hemmings – Queremos sentar, também.

— Vão para a poltrona. – o loiro respondeu – Quero ficar deitado.

— Mas só cabe uma pessoa. – Lay se justificou.

— Justamente. Aí você fica no colo do Cal. Que mal tem?

O casal suspirou e se encaminhou para minha poltrona.

Calum sentou e Lay parecia muito tímida, tanto que quando se apoiou contra o marido, corou.

Voltei a encarar Mike e ele parecia querer me fuzilar pelo olhar.

— Sinceramente, como conseguem ficar na seca tanto tempo? – Luke levantou o questionamento.

— Quando se ama, a parte física não é o principal na relação. – falei olhando diretamente para Mike.

A tensão entre a gente começa a aumentar.

— Quando se ama você não tenta esquecer tudo o que houve com outra pessoa. – ele respondeu.

— É mesmo, Clifford? – ri de canto – Quem fez isso mesmo? Deixa eu lembrar...

— Naomi. – Layse falou meu nome em tom de alerta.

— Não vou citar todas as garotas, Michael, basta lembrar da Abigail Breslin. Não é?

Vi o garoto fechar os olhos como se contasse até dez.

— Lembra da parte da música que diz...

— Naomi. – dessa vez foi Luke.

— Gente. Eu preciso falar. – aleguei – Então, Michael Gordon Clifford, você lembra da parte que diz: And I bet you didn't know (E eu aposto que você não sabia)/ I talked to all the girls that you were with (Eu falei com as garotas com que você já ficou)/ When you were with me (Quando estava comigo)/ And they said (E elas disseram)/ You really suck (Você realmente é um idiota).

— Meu Deus! Não acredito! – Ashton soltou de olhos arregalados.

— Quem você acha que falou com a Abbie? Quem, Mike? – confessei me sentindo poderosa.

Ele abriu os olhos e pareceu querer me matar com os olhos. O vi ficar de pé, engoli em seco e falar:

— Você acha que isso vai me machucar? Faz muito tempo desde que vi a Abigail a última vez e mais tempo ainda daquela música idiota... E você acha mesmo que eu não sabia que foi você? É óbvio que eu sei, assim como também sei que você fez um acordo para que ela não contasse ao mundo sobre a Layse e o Calum em troca da sua ajuda com a letra da música. E sinceramente? Nunca me importei, porque entendi que você fez isso para ajudar a nossa amiga. A única coisa que não consigo entender é porquê está tentando me deixar com raiva de você.

O olhei indignada tirando a cabeça de Ashton de cima de mim, me levantando também.

Nós ficamos uma seis vezes, depois dessa música idiota. Se ele sabia por que dormiu comigo?

— Eu...

— Não me importo, Naomi. – ele me interrompeu – Eu não ligo! Pela primeira vez estou completamente "ok" com tudo. Eu não ia ficar sofrendo por você para sempre. Pensei que tivesse entendido isso.

Senti algo se formando na minha garganta.

Eu não sabia o que dizer.

A porta do apartamento se abriu me salvando.

— OH, MEU DEUS! LUKE HEMMINGS! – Lydia surgiu jogando a bolsa no chão e se jogando em cima do Luke no sofá.

Como estava de pé, encarei o chão e fui fechar a porta que Lyd deixou aberta.

— A que devo a honra, Luke? – minha amiga disse – Pensei que tivesse esquecido da gente.

— Nunca esqueceria, Lyd. – ele puxou a garota contra si a deixando praticamente deitada em cima dele.

— Nossa. Não precisa falar comigo, Lydia. – Ash falou.

— Ownt, Irwin, não fique chateado. – ela sentou no colo dele e o abraçou.

De repente, para a surpresa de todos, os dois começaram um beijo lento.

— Mas o quê? – ouvi Layse falando.

Lydia sussurrou algo para Ashton e ele riu.

Sentei e Mike me olhou pelo canto do olho fazendo a mesma coisa.

— Bom, temos uma novidade. – o irmão de Lay riu.

— Então era isso que você ficava fazendo? – acusei Lydia – Por isso você sumia.

— E você também, Ash. – Calum falou – Você estava me traindo com a minha amiga! Como pôde?

Lay riu e deitou a cabeça no ombro do marido.

Ele rapidamente roubou um selinho da esposa.

— Quando isso começou a acontecer? – Luke quis saber.

— Ah... Não sabemos... Foi rápido. – Lydia respondeu.

Ash apertou os braços ao redor da garota.

— Vocês estão namorando? – perguntei.

— Não sei. Estamos? – Lyd olhou para ele.

— Também não sei. – o garoto respondeu rindo – A gente já pode pedir pizza?

***

— Pronto! – falei colocando as pizzas na mesa entre os sofás – Vamos comer!

Abri a caixa da pizza que o entregador tinha acabado de trazer.

Peguei um pedaço e mordi, vendo meus outros amigos pegando um pedaço para eles também.

Mike e eu não dirigimos a palavra um para o outro nenhuma outra vez.

Ashton tirava uma foto de Calum e Luke na minha poltrona, enquanto Layse ria de pé.

Minha intuição me fez observar melhor Lay e vi seu rosto ficar pálido e ela sair correndo.

Calum franziu o cenho vendo ela correr e todos se calaram quando ela entrou no banheiro social.

— Ela está bem? – Luke perguntou para Calum se levantando.

Vi meu primo dá de ombros e se esticar para pegar mais um pedaço de pizza.

Ouvimos Lay vomitando e Lydia reagiu primeiro do que eu, saindo correndo para lá.

— Calma, vai ficar tudo bem. – foi o que eu ouvi Lyd falando assim que cheguei na porta do banheiro.

— Deve ser uma reação ao meu novo remédio. –  ela falou nos encarando ajoelhada em frente ao vaso sanitário.

— Como assim novo remédio? – perguntei.

— A doutora passou remédios mais leves para evitar ataques do pânico constantes. – explicou se levantando e ligando a torneira para lavar o rosto.

— Por que ela fez isso? – Lydia perguntou.

Apesar de Lay ter dado de ombro, eu sabia o motivo... Se Layse estivesse grávida, os remédios antigos poderiam ser prejudiciais para o bebê.

— E aí? Ela tá bem? – Calum apareceu atrás da gente com a boca suja de molho.

— Por que não pergunta pra ela? – questionei irritada – Antigamente você sairia correndo atrás dela.

— Não sou mais como antigamente. – ele murmurou esticando o pescoço para observar Layse enxaguando a boca.

— Você não quer ir para o hospital, Layse? – Lydia sugeriu.

— É uma boa ideia. – concordei – Você leva ela, Cal?

— Não posso. Se me virem com ela...

Vi Lay suspirar chateada.

— Quer saber? – minha melhor amiga falou puxando a descarga do vaso sanitário e fechando a tampa – Dane-se Calum. Dane-se tudo.

— Ahn? – ele soltou.

— Estou cansada de não poder ir no supermercado com você, de não poder sair e ter uma vida normal. Não aguento mais! Meu marido não pode me levar no hospital porque podem descobrir sobre a gente!

Ela nos empurrou e saiu bufando do banheiro.

Fui atrás e vi Luke perguntar:

— Você está bem, anjo?

— Não quer ir ao hospital? – Ash perguntou alerta.

— Nós te levamos. – Mike falou.

Layse virou e fuzilou Calum atrás de mim.

— Não precisa, garotos. É apenas um efeito de um remédio.

— Você não vai conseguir comer. Não é? – Lydia perguntou voltando a sentar.

Lay negou com a cabeça.

— Podemos pedir outra coisa. – Luke sugeriu fechando a caixa de pizza – Que tal?

— Não precisa. – ela sussurrou – A noite acabou para mim. Depois nos falamos.

Vi Lay sair do apartamento e fechar a porta.

— Seu grande idiota! – virei para meu primo sem expressão – Você está perdendo a Lay por culpa desse maldito medo de descobrirem sobre vocês.

— O que quer que eu faça? Você sabe como atacam as namoradas dos meninos!

— Mentira! As fãs gostavam da Bryanna! – falei me referindo à ex-namorada do Ash.

— Não posso correr riscos. E se a Lay desistir de mim depois que sofrer ataques na internet ou na vida mesmo?

— Ela te ama. Como poderia desistir? – Mike perguntou.

— Ela já tá fazendo isso... Conheço a minha irmã, ela não aguenta mais esconder tudo isso. – Ash falou – Ela está desistindo.

— A Layse sabe o que pode acontecer se você revelar ela para as fãs e ainda assim ela não se importa. – Lydia defendeu.

Suspirei e me sentei entre Mike e Luke sem pensar muito.

— Vocês não tem ideia de como a fama pode ser horrível. – meu primo sussurrou.

— Cara, eu vou precisar bater ou você vai sozinho atrás da sua esposa para salvar o casamento de vocês? – Luke falou sério.

— O quê? – Cal pareceu confuso – Meu casamento está mesmo em crise?

— Sim. Você não tem sido bom para minha irmã. – Ash falou – Mas sei que a ama e vai fazer o melhor para ela.

Houve um silêncio tenso.

Olhei para meu primo e quase pude ver as engrenagens do seu cérebro a todo vapor.

— É, vou fazer o melhor. – ele murmurou.

Sorri animada e o vi sair com os olhos a ponto de chorar.

— Eles vão se resolver. – Mike falou e segurou minha mão no sofá – Os dois se amam e vão se resolver.

— Como sabe? – questionei o encarando.

— Acredito no amor. – deu de ombros – Ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

— Nossa. Michael Clifford lê a Bíblia? – Lydia perguntou surpresa.

— Sempre. Quem você acha que nos deu todo esse sucesso? – ele riu sem soltar minha mão.

— Deus. – Ash respondeu.

— Por isso agradecemos a Ele todos os dias. – Luke continuou.

— Meu Deus. Nunca imaginei vocês falando de Deus. – falei.

— Mulher de pouca fé. – Michael brincou comigo.

O empurrei de lado rindo.

— Cala a boca, Clifford.

Meu coração acelerou ao perceber que aquilo era um pedido de paz.

— Senti sua falta, Naomi Hood. – falou me abraçando de lado.

— Eu sempre sinto, Mike. – respondi me encostando levemente no braço dele.

— QUE LINDOS! MEU OTP SE RECONCILIOU! – Lydia soltou – Espera. Vocês se reconciliaram. Não é?

Olhei para o Michael e demos de ombros.

— Amigos? – ele foi o primeiro a perguntar.

— Melhores amigos. – respondi.

Luke cochichou:

— Já vi isso antes. Os papéis vão se inverter.

Ninguém pareceu ter ouvido, apenas eu.

E não pude deixar de me perguntar o que ele quer dizer com isso.

[...]