Layse

Calum abriu os botões da sua camisa social azul com aquele sorriso que me deixava louca.

— O que está esperando? – perguntei maliciosa.

Mais uma vez ele me olhou da cabeça aos pés.

— Você acaba comigo, Layse Hood.

Ele ama dizer meu novo - não tão novo assim - sobrenome.

— Essa é a intenção. – disse tirando o hobby preto e revelando minha lingerie preta com detalhes vermelhos.

— EU TE ODEIO. – esbravejou passando a mão, em que usa a aliança, no cabelo.

Sorri de canto.

— Prove o quanto me odeia, Cal... – disse desfazendo a trança em meu cabelo.

Em segundos, Calum já nos jogava em cima da cama.

***

— Senti sua falta. – ouvi Cal murmurar com uma voz rouca.

— Eu também. – murmurei no mesmo tom.

— Eu te amo, Lay. – ele sussurrou passando os braços ao meu redor.

Remexi meu corpo e puxei o lençol branco para cima, antes de me deitar no ombro do meu marido.

— Eu também te amo. Muito. – beijei seu ombro.

— Odeio só ter tido quinze dias de folga. – confessou olhando para mim.

Passei a mão pela extensão do seu peitoral.

— Eu também.

— Você vai dizer "também" quantas vezes essa manhã? – ele questionou rindo.

— Calma. – reclamei – Acabei de acordar.

O alarme ao lado da nossa cama tocou.

— Hummmmmm... – murmurei triste.

— Tenho que ir, meu amor.

— Eu sei. – é sempre assim, quis dizer.

— Vou fazer de tudo para conseguir outra folga para nos vermos. – prometeu plantando um beijo na minha testa.

Assenti triste, sentindo seu corpo se afastar do meu.

Calum se levantou, e foi em direção ao banheiro.

Suspirei tentando me controlar.

É sempre assim depois de passarmos um tempo juntos. Ele sempre tem que voltar para seus compromissos da banda.

Eu sei que é o sonho dele, mas também sinto falta do meu marido comigo.

Com o lençol ao redor do corpo, fui até o banheiro e sem bater entrei encontrando Calum chorando.

— Desculpa. – pedi a ponto de deixar as lágrimas escaparem também.

Ele balançou a cabeça como se dissesse que não importava e me puxou para um abraço em frente a pia.

— Eu vou sentir sua falta. – falou começando a soluçar contra meu pescoço.

— Sempre sinto saudades.

Ele assentiu já sabendo o significado dessa pequena palavra em português.

— Me diz uma coisa. – forcei a mudança de assunto e me afastei dele – San Francisco foi escrita pelo Mike. Não é?

Calum enxugou a lágrima que ameaçava cair pelo meu rosto e entendeu o recado.

— Por que você e a Lydia sempre insistem em saber? Meu nome também está na música!

Revirei os olhos.

— O que custa dizer, Cal? – insisti.

— Tudo bem. – ele soltou minha cintura e pegou as escovas de dentes – Boa parte dela foi escrita pelo Mike sim, mas isso vocês também sabem, afinal o nome dele está na música.

— Você sabe o que queremos saber... San Francisco foi escrita pra Naomi. Não é?

Cal gargalhou.

— Só ele pode responder, amor.

Propositalmente, meu marido começou a escovar os dentes.

— Sério. Estamos em 2016 e eles continuam sem se falar direito! Até quando isso vai acontecer? – desabafei.

— Não sei mesmo. – Cal deu de ombros e falou em um tom engraçado ainda com a escova na boca – Mas mesmo saindo com outras, ele nunca a esquece.

***

— Você nunca esquece o Mike! CARAMBA! – Lydia disse indignada.

Naomi cruzou os braços e voltou a tomar sorvete direto do pote.

— Realmente não entendo, Nam. Você fica pior do que eu, depois que os meninos vão embora.

Nós estávamos no apartamento das minhas melhores amigas, que por coincidência, ou melhor que por insistência de Calum, é ao lado do meu.

Cal não queria que eu ficasse sozinha enquanto ele trabalhava, então, junto com Ashton comprou o apartamento vizinho ao que eu dividia com as meninas antes.

— Awwwwww... – ela murmurou algo esquisito e voltou a tomar aquele sorvete.

Ashton tinha passado a noite no nosso apartamento e Michael passou aqui para eles três irem juntos para aeroporto. Faziam algumas horas que tinham ido.

— Isso é por causa do Mike. – Lyd insistiu.

Naomi a encarou nervosa.

— Não é. – falei – Eles nem se falam, você sabe disso.

— Justamente... – Lydia disse – Eles ficam mal porque se amam, mas essa droga de orgulho infantil não deixa meu otp ser real!

Gargalhei.

— Calem a boca. – Naomi pediu.

— Queria ter me despedido dos garotos. – Lydia falou – Pena que meu vôo só chegou meia hora depois que eles partiram e ainda eram aeroportos diferentes.

Lydia tinha ido visitar os pais na Austrália e tinha chegado há duas horas no apartamento.

Comecei a mexer no meu celular.

— O que está fazendo, Lay? – Lyd perguntou.

— Nada. – bloqueei o celular rapidamente.

— Ela está olhando a foto do Calum com a Nia. – Nam acusou.

— QUE DROGA, HOOD. – olhei para ela chateada.

— Estou tentando te ajudar, Hood. – retrucou.

— Ah! Não! Elas já vão começar a se chamar pelo sobrenome e me confundir toda! - Lyd murmurou ao meu lado para ninguém em específico – É o seguinte: Naomi, pare de tomar esse sorvete. Layse, pare de se martirizar quando sabe que tudo o que o Cal faz é pra ti proteger. Ok?

Como duas criancinhas, Nam e eu assentimos.

— Layse, vá continuar à escrever o processo que os pais de Naomi pediram para você fazer. – ela continuou o sermão – Naomi, vá na entrevista de emprego que arranjei para você.

Ela levantou as mãos de forma dramática e nós três começamos a ri.

— O que seria da nossa vida sem você? – Naomi perguntou largando o pote de sorvete no criado-mudo e se jogando em cima da gente.

— Nada. – Lyd e eu respondemos juntas.

— Obrigada por estarem aqui. – falei olhando para elas – Sério.

— Você, Lydia, tem a nossa eterna gratidão, principalmente depois de todos os dias 26 de dezembro que passamos juntas. – Naomi falou e eu concordei.

Depois do natal vinha o "dia x", como chamamos agora já que é quando completamos mais um ano sem Lavínia, irmã de Nam e sem a minha mãe. Quase sempre, os meninos não podem está presente, então é ela que cuida da gente.

— E também me ajuda nos meus ataques do pânico. – observei.

— Oh, garotas! Eu sei que sou incrível, não precisam ficar dizendo. – falou rindo.

— Tá se achando hein... – empurrei seu ombro levemente – Mas tudo bem, você pode.

— Ok, já deu de puxar o saco da Lyd... O que vamos fazer hoje?

— COMPRAS! – falamos juntas.

***

Suguei um pouco do Milk Shake que compramos na praça de alimentação do shopping.

— Eu estou tão contente em vê o Mike feliz. – Lydia disse se sentando em uma mesa e colocando nossas sacolas ao seu lado.

— Todas estamos. – Naomi afirmou puxando a cadeira ao meu lado.

Até ela ficou preocupada quando Michael foi diagnosticado com depressão ano passado.

— Eles mudaram tanto. – comentei abrindo meu celular em uma foto antiga dos meninos e uma desse ano - Fisicamente e psicologicamente.

— As vezes eu leio uma fanfics e eles são tão românticos lá... – Naomi disse – O Calum é quase sempre bad boy.

Ri.

— O que acho mais estranho é que de todos, o Calum se casou mesmo sendo todo doidinho. – Lyd disse.

— Penso a mesma coisa. – falei – Nos vídeos que eles postam, Ashton e ele aprontam de tudo, mas no fim, quando tem uma pausa, Ash vai visitar a família e o Cal fica comigo.

— Como vocês fazem pra aguentar tanto tempo longe? – Nam perguntou, mas senti que não era sobre mim e Calum que ela queria saber.

— Por acaso você e o Ash voltaram? – soltei.

— O quê? – ela fez careta – NÃO! Só fico pensando em você dois, Lay... Você sabe o tanto de garotas que dão em cima dos meninos.

Assenti um pouco incomodada.

— Gente, mesmo que o mundo soubesse que o Cal é casado, nada ia mudar. O Luke está namorando a Sandália e nem por isso as meninas param.

Naomi e eu abrimos um sorriso ao vê Lydia usando a palavra em português que ensinamos a ela para nos referirmos a Arzaylea, namorada do Luke.

Não temos culpa se o nome dela é praticamente igual a marca de sandálias brasileira.

— Mandamos mensagem um para o outro sempre. Contamos nosso dia... Basicamente, é isso. – dei de ombros finalmente respondendo Naomi.

— E mandam nudes. Não é? – riu maliciosa.

Fechei os olhos corada.

— Esse assunto de novo não. – murmurei.

— Ah. Qual é? Sempre quisemos saber como vazou o nude do Calum e obviamente ele ia mandar pra você. – Lyd insistiu.

— Gente. Sério. Estamos em 2016. O que passou, passou. Ok? – abri os olhos.

Odeio esse assunto.

— Ok. Mas só porque quero saber quando os meninos voltam. – Lydia falou.

— Depois do fim de Sounds Live Feels Live, eles voltam e vão passar um tempão com a gente. – respondi – Mas o Cal vai tentar vim antes, só que acho difícil.

— Vai ser a primeira vez que vocês terão mais de um mês juntos. Não é? – Naomi abriu o pote com batatas fritas que tinha comprado.

— Sim. Vamos conviver por alguns meses sem nada para atrapalhar. – sorri imaginando como seria uma experiência nova totalmente boa.

— Boa sorte. – Lyd falou cruzando os braços.

Ela não comprou nada para si mesma porque estava em uma espécie de dieta estranha.

— O que quer dizer? – minha melhor amiga expressou meus pensamentos.

— Você e Calum se vêem sempre por pouco tempo, ou seja, nunca conviveram um com o outro.

— Ainda não entendi. – franzi o cenho.

— É com a convivência que você descobre os piores defeitos das pessoas e por causa disso, as discussões ocorrem.

— Mas Calum e eu nos conhecemos desde sempre e realmente nunca ficamos muito tempo juntos, mas nos amamos e sei que juntos podemos vencer qualquer problema. – me defendi sentindo algo estranho no peito.

— Assim espero, amiga.

— Ai, que papo depressivo. – Nam falou – O que vamos fazer agora?

— Esperar. – respondi.

Suspirei. Era o que eu sempre fazia.

Esperar.

[...]