Girls Talk Boys escrita por Glads


Capítulo 11
Trouble




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Layse

Depois de longas 16h em um avião particular, colocar os pés no Brasil fez tudo ficar ainda mais real.

Calum, não me soltou por um segundo.

Foi chorando nos ombros dele que eu passei aquele terrível dia.

Vê minha mãe dentro de um caixão, vê esse caixão ser enterrado... Não foi fácil!

Eu simplesmente não entendo! Ela me mandou mensagem! Ela estava bem! E de repente, não estava mais.

Os pais de Naomi pareciam tão devastados quanto eu... Eles diziam que a Naomi iria querer falar comigo se soubesse do que aconteceu, mas eu não queria.

Na verdade, implorei ao Sr. Hood, pai da minha amiga, para proibir a filha de vim atrás de mim.

Eu preciso me recuperar antes de encarar todo mundo.

Cal, assim como eu, não dormiu em nenhum momento. Nem sei se ele chegou a ir ao banheiro porque lembro dele sempre está abraçado a mim.

Algumas pessoas foram no velório, mas eu não conhecia nenhuma delas... Todas as pessoas eram empregados do próprio pai da Nam que trabalhavam com a mamãe... Elas me abraçaram - tentaram, porque eu não saí de perto do Cal - e lamentaram, mas eu não conseguia prestar muita atenção.

Agora, pela primeira vez, saí do abraço do meu amigo para ele trocar sua camisa social preta e sua calça jeans.

Nós dois havíamos trocado nossas roupas no meio da viagem para vestir o luto porque assim que chegamos já era a cerimônia.

Nunca vi Calum saí tão apressado. Assim que me deixou sentada na cama, ele tirou a camisa rapidamente e saiu correndo para o banheiro do quarto.

Ele não queria me deixar sozinha.

E eu apreciava isso.

Tão rápido quanto entrou, ele saiu.

— Você vai tomar banho? – perguntou enxugando o dorso.

Seu calção branco estava um pouco abaixo do quadril revelando um pedaço da sua cueca vermelha.

— Obrigada por estar aqui, Cal. – murmurei passando a mão no rosto tendo a certeza de que estava péssimo.

— É só minha obrigação, Lay. Somos amigos. Certo? – ele abriu um sorriso tímido.

— Eu acho. – dei de ombros – Mas ainda te odeio.

Ele se aproximou e segurou meu rosto.

— Eu odeio ainda mais.

A porta se abriu num estrondo e recuei assustada.

— Oh! Desculpem... – a mãe de Naomi disse em inglês – Não sabia que vocês estavam ahn...

— Não estamos, tia. – Calum afirmou indo em direção a mala em cima da cama de casal do quarto.

— Eu... Bom, precisamos conversar sobre sua situação, Layse. – a senhora falou.

Ela me trazia tantas lembranças da mamãe que eu queria poder chorar, mas as lágrimas tinham acabado.

— Pode ser amanhã? – pedi  mesmo vendo em seu rosto que era algo importante– Estou cansada.

— Claro. – ela assentiu passando a mão no cabelo exatamente como Naomi faria – Então vou mostrar ao Calum o seu quarto.

— O quê? Não! Deixe ele dormir comigo, por favor. – implorei sabendo que não conseguiria ficar longe dele.

— Tia... Nós não vamos fazer nada. Prometo. – Calum garantiu olhando para mim preocupado.

— Tudo bem.– ela cruzou os braços sobre o vestido preto elegante e me olhou pesarosa – Boa noite, querida.

Assenti sem dizer coisa alguma e ela fechou a porta.

Olhei para o Cal.

— Espero que não se importe... Está sendo difícil para mim e ter você aqui...

— Tudo bem.– Cal falou– Vá tomar o banho e eu te espero aqui.

Fui ao banheiro, tomei um banho demorado e não consegui chorar.

As minhas lágrimas acabaram depois do enterro.

Enxuguei meu corpo com uma toalha branca e vesti um pijama que haviam providenciado para mim.

— Você quer que eu durma no chão?– Cal perguntou assim que saí do banheiro.

Ele havia tirado a sua mala, a única que trouxemos da Austrália, da cama e deixado um prato com arroz, feijão e um pedaço considerável de carne.

— Espero que você coma alguma coisa.– ele murmurou quando viu o que eu olhava.

Lembrei da vez que a mamãe disse para eu comer todo o prato para crescer forte e saudável.

— Tudo bem.– sussurrei me sentando na cama.

Comi um pouco menos que a metade do prato com Calum me observando atentamente.

Ele levou o prato para cozinha, enquanto eu escovava meu dente.

Quando o garoto voltou mordendo o lábio eu soube que tinha algo errado.

— O que foi?– perguntei.

— Os meninos estão preocupados. Acabei de falar com o Luke e ele quer conversar com você.

—Eu não consigo falar com eles. Não estou bem. É muito egoísmo?

—Não. Cada um tem uma reação diferente diante da dor.– ele sentou na cama.

—Como a Nam está?

—Ela passou aquele dia deitada, mas sentiu sua falta. O Luke conseguiu esconder dela o que tinha acontecido até o dia seguinte, no caso, hoje para eles... Ela queria largar tudo e vim pra cá, mas o Michael a acalmou. Ela está chateada por você não a querer aqui, mas no fim, entendeu. Ah! O Ash está cobrindo você no trabalho. E parece que o Luke tá tendo alguma conversa importante com eles.

Assenti deitando em um lado da cama e me encolhendo.

—O Michael e ela se beijaram.

—O quê?– abri um leve sorriso– Sério? Ele conseguiu?

—Sim, mas eles não estão juntos.

—Eu passei anos na Austrália e justo agora que não estou lá, o Michael beija a Nam.– disse para não falar "justo agora minha melhor amiga perde o bv".

—Exato! Eu também pensei isso!

—Desculpa pedir para você vim comigo. Não queria te atrapalhar.

Calum subiu na cama e se deitou ao meu lado olhando para o teto.

—Você não me atrapalhou...

O olhei incrédula.

— Ok, só um pouco porque íamos gravar um novo vídeo. Mas, está tudo bem, é como você disse, estou aqui porque me odeia. - ele virou a cabeça para mim.

—Cal... Eu já falei... Não te odeio, não de verdade...– sussurrei olhando para ele.

—Desculpa.– ele fechou os olhos– É que você me falou aquilo no avião e desde então eu não... Ah! Sou um idiota. Você acabou de sofrer uma perda e eu aqui falando dos meus sentimentos.

Coloquei uma mão em seu rosto e perguntei:

—Que sentimentos, Cal?

Ele abriu os olhos nervoso.

—Já chega de escondermos isso.– ele murmurou colocando a mão na minha cintura.

—Esconder o quê?

—Esse falso ódio é outra coisa.– ele subiu a mão pelo meu corpo e parou no meu rosto– E você sabe. Pelo menos espero que saiba.

—E-eu sei.– sussurrei.

Nos aproximamos lentamente, mas ainda estávamos longe quando Cal disse:

—Por favor, não me iluda. Não faça isso se for apenas para se distrair depois de tudo.

Em um instante eu cheguei a pensar na minha mãe e lembrei do seu sorriso confiante, um que eu nunca mais veria.

Foi isso que me deu coragem para puxar Calum pelo ombro e unir nossos lábios.

Não soube o que fazer então só fiquei ali, de olhos fechados, com a boca colada na de Cal.

Ele esboçou um sorriso e se afastou.

—Vamos fazer direito. Ok, O'Brien?

—Como assim?– perguntei envergonhada.

—Que tal irmos aos poucos?– sugeriu– Depois de voltarmos para casa.

Não quis falar que talvez não voltaria para a Austrália.

Sorri e acariciei seu rosto.

—Posso dormir na cama?– ele perguntou.

—Onde dormiria senão aqui?

—Ah. Achei que ia me colocar para dormir no chão.

Abri um sorriso e logo me repreendi.

Sorrir agora é trair a memória da mamãe.

—O que foi? Também estava imaginando nosso casamento?– Calum brincou.

—Eu não me sinto confortável ao sorrir por causa do que aconteceu.

Cal me puxou para perto de si e deitou minha cabeça em seu peito.

—Vai ser sempre assim, Lay... A dor estará com você para sempre, mas com tempo vai se acostumar... Uma coisa é certa, sua mãe odiaria saber que seu sorriso maravilhoso nunca mais foi visto depois que ela faleceu.

—Obrigada...– sussurrei abrindo um leve sorriso querendo mudar de assunto– Quer dizer que estava imaginando nosso casamento?

—Claro... E não só a festa... Imagine quando eu for um astro do rock mundialmente famoso e você minha esposa...

—Pensei que fosse querer ser do tipo que sai com um monte de garotas.– arqueei a sobracelha.

Ele riu.

—Para quê ter várias se eu vou ter a melhor?

—Uou. Ganhou pontos comigo, Hood.– cutuquei a sua barriga magra– E que história é essa de "vou ter"?

—Nós vamos casar, Layse O'Brien. Guarde minhas palavras.

***

Na noite anterior, Calum dormiu assim que terminamos de conversar, mas eu não consegui.

A ideia de eu está em um quarto respirando e minha mãe à sete palmos da terra, era simplesmente doloroso demais.

Assim que Calum acordou, tomamos café e os pais de Naomi pediram para que fôssemos até o escritório deles.

O pai de Naomi estava atrás de uma mesa caríssima de madeira e a mãe dela estava em pé atrás dele.

Sentei numa cadeira que deve custar dez vezes o meu salário e Cal me acompanhou.

—Como você sabe o dinheiro que sustentava parte do seus remédios vinham do salário da sua mãe.– Sr. Hood tratou de começar.

Concordei segurando a mão de Calum.

—Então, agora você não terá mais esse valor.– a mãe de Nam completou me olhando mordendo os lábios.

—Não se preocupem.– falei– Eu não sou responsabilidade de vocês. Só peço ajuda para pegar meus documentos escolares na Austrália para continuar os estudos aqui. Sei o quando gastaram comigo e com o velório, então me proponho a trabalhar no lugar da minha mãe como forma de pagar vocês nos próximos anos.

—O quê?– Calum olhou para mim desesperado– Você não pode fazer isso!

—Não tenho escolha, Cal.

—Calma, Layse.– o pai da Naomi cruzou as mãos em cima da mesa– Você não vai jogar tudo para o alto por causa do que houve.

Franzi o cenho e a mãe de Naomi explicou:

—Temos uma proposta para você.

Cal e eu nos entreolhamos e o Sr. Hood tratou de explicar:

—Você será emancipada. E queremos que termine seus estudos sem se preocupar com gastos, os deixe com a gente.

—Eu agradeço, mas não posso...– murmurei.

Calum parecia nervoso com a possibilidade de eu ficar no Brasil.

—Escute... Eu entendo, de verdade. Mas você irá nos pagar... A Naomi disse que você quer cursar Direito. Certo?– o homem falou.

Concordei começando a sentir esperança.

—Nós precisamos de alguém de confiança.– a Sra. Hood disse– Precisamos de um advogado bom, alguém que estudou nos melhores colégios, alguém que fez a melhor faculdade e se dedicou a isso.

—Aonde quer chegar?– Cal questionou por mim.

—Se você, Layse, estiver disposta a se tornar essa pessoa e trabalhar para a gente, poderemos lhe manter do mesmo jeito até que se forme.

Pisquei uma, duas, três, quatro vezes.

—Vo-vocês vão me sustentar?– perguntei me sentindo animada de repente, até lembrar da minha mãe e angústia voltar.

—Não. Quando trabalhar para a gente, iremos descontando aos poucos tudo que você usufruir a partir de hoje.

Eu sabia que a família Hood havia gastado muito comigo antes, mas a essa altura eu não me importava.

Não soube de onde, porém, lágrimas surgiram e tudo o que pude fazer foi agradecer aqueles seres humanos maravilhosos, meu segundo pai e minha segunda mãe.

Calum me abraçou tão forte como se eu fosse sumir a qualquer momento.

—Isso seria um sim?– o Sr. Hood perguntou com um esboço de um sorriso.

—Sim. Muito obrigada.– falei.

Os dois pareceram emocionados por um momento.

—Querida, eu sei que os últimos dias tem sido difíceis.– o pai de Naomi continuou– A notícia, o velório, o enterro, mas sua mãe não ia querer que eu esperasse mais um dia para te contar isso.

Pensei que ele contaria os detalhes de como foi que tudo aconteceu. Mas eu já tinha ficado sabendo por um dos empregados... O dia tinha começado normalmente, minha mãe me mandou mensagem, lavou a louça do almoço sentindo uma dor de cabeça forte. Acabaram a levando para o hospital onde ela sofreu o AVC e não resistiu.

—Eu já sei tudo o que houve... Não se preocupe.

—Não é isso.– a mãe da Nam disse e eu franzi o cenho.

—Sua mãe contou como conheceu seu pai?– o homem questionou.

—Sim, ele era cliente do restaurante que ela trabalhava.

—Essa parte é verdade, mas ela não lhe contou tudo.– ele anunciou.

—Como assim? O que o senhor quer dizer com isso?

—Sua mãe se envolveu com um estrangeiro. Seu pai aos poucos a conquistou e eles chegaram a morar juntos por alguns meses, mas quando ele soube da gravidez dela, simplesmente sumiu.

—Eu sei quem é meu pai. A ma-mamãe me levou ao túmulo dele... Ele se chamava Roberto e morreu salvando minha mãe de um incêndio quando ela estava grávida.

—Roberto O'Brien, descendente irlandês, era melhor amigo da sua mãe. Ele era apaixonado por ela e no fim, curou seu coração partido e se casou com ela dizendo que assumiria você.

Absorvi aquelas palavras sem acreditar em nenhuma palavra.

—Minha mãe não mentiria.

—Entenda.– a mãe da Naomi olhou para mim– Sua mãe não queria que soubesse da existência desse homem porque quem a salvou do incêndio, quem queria ser seu pai, era o Roberto.

—Você está me dizendo que meu pai está vivo?

—Exatamente isso.

—Eu... Eu acho que preciso de um tempo.– disse me levantando– Só mais uma coisa... Como vocês sabem disso?

—Ela nos contou no dia do seu aniversário porque disse ter visto alguém parecido com seu pai biológico.

Arregalei os olhos.

—Não se preocupe, não era ele. Ela disse que o menino parecia ter a mesma idade que você.

—Onde ela viu esse menino?– Calum perguntou se levantando também.

Os pais de Naomi pareceram nervosos.

—Onde?– questionei percebendo que escondiam algo.

—Quando ela ligou para você.

—O menino é o Ashton. Não é?– fechei meus olhos sentindo o sangue sumir da face– Ela deixou o celular cair quando viu ele.

—Sim.– o pai da Naomi respondeu baixinho.

Ia caindo para trás finalmente entendendo tudo, mas Calum me segurou apoiando meu corpo contra o seu.

—O que foi, Layse?– Cal tentava entender o que eu estava pensando.

—O Ashton é meu irmão.– sussurrei– E o Gregory é nosso pai.

[...]


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