Winchesters Brothers escrita por Kel Costa


Capítulo 12
Capítulo 12




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POV Bella

Dean estava super estranho e parecia querer me evitar, então fui tomar banho para esfriar a cabeça e ver se ele deixava a loucura de lado. Justamente quando eu tinha a oportunidade de ficar sozinha com ele, o doido começava a agir assim?

Saí do banho e olhei-me no espelho, ainda com o corpo molhado e notei que tinha um seio levemente maior que o outro. Aquilo devia ser efeito sobrenatural, assim como as outras coisas que eu via durante meu passeio com os irmãos Winchester.

Enxuguei-me e vesti uma roupa confortável e fresca, pois apesar da insanidade de Dean, o dia estava quente. Abri a porta e precisei fechá-la na mesma hora. O quarto lá fora estava quase igual a um iglu. O ar-condicionado deveria estar ligado no máximo para ter baixado tanto a temperatura do quarto. Respirei fundo e saí corajosa, correndo até a cama.

- Ficou maluco, Dean? Estou congelando, desliga isso!

- Falei que estava frio.

- Agora sim está frio. Desliga o ar!

- Não é o ar que está te causando frio, Bella... Basta você ficar quietinha debaixo da coberta e não irá sentir frio.

POV Dean

Eu podia jurar que ela estava rosnando. Ou pronunciando palavras incompreensíveis. Bella saiu de debaixo do cobertor e veio furiosa na minha direção, desviando até o ar-condicionado.

- Ficou maluco, Dean?

- Ei, não ouse mexer aí...

Ela ousou. Puxou uma cadeira e subiu nela, para desplugar a tomada do ar. A baixinha atrevida me olhou com um sorriso vitorioso enquanto balançava a tomada em sua mão.

- Satisfeito?

- Isso é uma tremenda falta de educação, Bella. Você perguntou se eu queria que desligasse o ar?

- Não. Eu pedi para fazer isso e você ignorou.

- Mulheres!

POV Bella

Mas que droga! Dean levantou e saiu do quarto, me deixando sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo. Das duas uma: ou ele não gostava de ficar comigo, ou ele definitivamente não gostava de ficar comigo. Eu era um estorvo, fato.

- Não precisa usar uma droga de ar-condicionado para me evitar, ok? Basta dizer que não vai com minha cara e pronto!

Gritei para ele, que tinha deixado a porta aberta. Bati a droga da porta com força e fui me deitar, rezando para pegar rápido no sono e não sentir as horas torturantes passarem. O dia seguinte ia ser horrível, tendo que conviver com a idéia de Dean não me suportar.

Quando acordei, ouvi as vozes dos dois irmãos antes de abrir os olhos. Sam estava contando como tinha conseguido pegar o inventário do leilão com Sarah e Dean zombava dele por ter ido até a casa da garota e não ter feito nada que “importava” de verdade. Estava sem nenhuma vontade de acordar para a vida e interagir com eles.

- Ei Dean, achei algo aqui. Olhe isso: “Retrato da família Isaiah Merchant, feito em 1910”. O mesmo nome que consta no diário do papai. O quadro foi comprado em 1912 por Peter Simms, que morreu no mesmo ano. O mesmo aconteceu em 1945 e em 1970.

- E pelo visto o quadro estava guardado durante todo esse tempo.

- Sim, provavelmente foi colocado em um leilão e comprado por nada mais nada menos do que nossos amigos Telesca.

Eu já estava mesmo por dentro de toda essa onda de sobrenatural. Não estavam falando comigo, mas eu sabia perfeitamente aonde Sam queria chegar. O quadro era amaldiçoado.

- Vamos queimar alguma coisa hoje?

POV Sam

Bella finalmente acordou e nos surpreendeu com sua pergunta. Ela realmente estava conseguindo nos acompanhar nas teorias e ultimamente estava mandando bem. Na medida do possível.

- Bom dia, Bella.

- É. Bom. Para você.

Algo estava estranho no ar. Bella de cara azeda e Dean com cara de quem comeu e não gostou.

[...]

Tínhamos deixado Bella de fora disso, já que invasões não deveriam ser o forte dela. Íamos entrar na casa de leilão no meio da madrugada e precisávamos ser rápidos. Uma garota pulando muros e se machucando não estava em nossos planos.

-Tem certeza que foi prudente ter deixado Bella no carro? Da última vez que fizemos isso...

- Ficamos desesperados achando que ela estava morta e, no entanto, estava no hotel com nosso pai.

- Certo.

Não era bem o momento ideal para conversar, mas Dean estava mesmo muito estranho e não consegui esperar por outra oportunidade. Ele foi o primeiro a entrar na casa e pegou o quadro, trazendo-o para fora e me ajudando a rasgar a tela. Não precisávamos carregar moldura pesadas por aí.

- O que aconteceu ontem enquanto eu fui jantar com Sarah?

- Nada.

- Dean... Você e Bella estão estranhos.

- Não aconteceu nada, Sam! Podemos acabar logo com isso?

POV Dean

Não queria falar sobre o assunto, pois por um lado me sentia arrependido de deixá-la pensando que eu não gostava dela. Sabia que Bella estava chateada, mas esperava que ela esquecesse logo aquilo. Sam, porém, não iria ajudar se ficasse insistindo em saber da história.

POV Bella

Tinham determinados momentos em que eu achava aqueles dois irmãos uns verdadeiros patetas. De que adiantava me poupar e me deixar no carro, se não me deixavam com a chave? Caso acontecesse alguma coisa e uma alma penada viesse me pegar, eu nem tinha como fugir. Inacreditável!

- Conseguimos! Agora só precisamos queimar essa coisa horripilante.

Sam falou assim que abriu a porta do carro com pressa, chegando a me assustar por ter estado distraída. Dean também entrou, mas não falou nada e nem me olhou. O irmão mais novo virou para trás enquanto Dean manobrava o carro para sairmos de lá.

- Bella, está tudo bem entre vocês dois? Eu perguntei a Dean, mas já que ele não quer contar...

- Está tudo ótimo, Sam. Apenas o fato de que seu irmão me detesta, está tudo ótimo.

POV Sam

Ok, talvez eu devesse ter ficado mesmo na minha.

O clima entre aqueles dois estava super tenso. Por um lado era bom que Bella tivesse deixado para trás toda aquela mentira sobre nós dois termos dormido juntos, mas por outro lado, era bem chato ter que agüentar os dois com cara de poucos amigos. Como se já não bastasse Dean e seus problemas.

- Então, depois que queimarmos isso, vai ficar tudo bem, certo? Poderemos dar o fora dessa cidade?

- Bem, é isso que esperamos, mas ainda precisaremos ficar mais alguns dias por aqui para ter certeza de que tudo voltou ao normal.

- Ótimo! Mais alguns dias presa naquela droga de quarto com...

Bella parou a frase pela metade, mas eu imaginava o que ela diria em seguida. Dean revirou os olhos e acelerou fazendo com que a garota grudasse as costas no estofado do banco.

POV Bella

Eu preferi ficar dentro do carro enquanto os rapazes queimavam o quadro bizarro e amaldiçoado. Tínhamos parado numa parte sinistra do cemitério daquela cidade – que também era sinistra – e de lá eu podia vê-los perfeitamente. Só precisaria gritar uma vez caso algum defunto levantasse da cova para me atacar. Felizmente, nada do tipo aconteceu.

Assim que chegamos ao hotel, Dean se deu conta que não estava mais com sua carteira e que só podia ter deixado cair enquanto roubava o quadro ou queimava-o.

- Não está aqui, Dean. Só pode ter ficado lá no leilão...

Tínhamos voltado ao cemitério e procuramos por todos os lados. Ficou decidido que retornaríamos à casa de leilão logo pela manhã e tentaríamos sair de lá o mais depressa possível.

[...]

- É impressão minha ou isso aqui hoje está ainda mais cheio?

- Parem de conversar e procurem minha carteira!

Nos separamos por entre os pontos onde os dois estiveram ontem de madrugada e eu tentava disfarçar o máximo possível. Os olhares que os velhos e ricos colocavam sobre mim era assustador. Deviam estar se perguntando quem era aquela garota que não fazia parte da sociedade deles e se vestia como um garoto.

- Sam?

Era tudo que a gente não precisava. Eu estava afastada dos rapazes quando vi a sirigaita da Sarah se aproximar dos dois. Sam estava com certeza numa enrascada já que ela achava que ele tivesse ido embora ontem.

- Sarah! Tudo bem?

- Tudo ótimo. O que fazem por aqui novamente?

- Sam não conseguiu ir embora, sabe? Ele quis ficar mais uns dois ou três dias. Disse que tinha coisas a resolver.

Dean era ridículo. Ele tinha frisado aspas no ar ao falar “coisas a resolver” e no final deu uma piscadinha para Sarah. Não estava perto deles, mas tinha certeza de que Sam estava controlando-se para socar a cara do irmão.

POV Dean

Era melhor deixar o casal de pombinhos a sós um pouco. Podia ser que esse nosso retorno ao leilão fosse coisa do destino, para dar um empurrão em meu irmão e finalmente tirar a quase virgindade dele. Sim, há tanto tempo que ele não fazia sexo que se fosse possível acontecer, ele provavelmente voltaria a ser virgem.

- Meu Deus!

Olhei para o outro lado da sala, onde Bella fazia um escândalo. Cara, ela até podia ser gostosinha, mas era muito doida.

POV Sam

Bella tinha chamado a atenção de todos no local. Também pudera, ela estava de olhos arregalados e apontando na direção de um dos quadros que estava exposto em outra parte da casa.

- OMG.

- O que foi, Sam?

Eu olhava para onde Bella apontava e entendia o nervosismo dela. O quadro era exatamente igual ao que tínhamos roubado e queimado lá no cemitério. Não, não era igual. Era o mesmo.

- Sam? Você está bem?

- Sim. Já volto, Sarah... Vi um quadro que achei... lindo.

POV Bella

Em questão de segundos os dois irmãos estavam ao meu lado, encarando aquela coisa horrenda. Não era apenas o fato do quadro ser uma das pinturas mais feias que eu já tinha visto. Era simplesmente por nos três termos visto aquela coisa horrível ser queimada. Ontem. Nem tinha assim tanto tempo. Não era possível que tivessem substituído a peça. Não era uma foto que a gente podia simplesmente revelar o negativo.

- Vocês estão vendo o que estou vendo?

- Sim.

Dean e Sam ficaram calados, olhando um para o outro e não notaram que Sarah chegava para juntar-se a nós. Ela os encarou com atenção, provavelmente curiosa pela nossa reação exagerada.

- Vocês gostaram desse quadro? Mesmo?

- Não sabia que seu gosto era tão peculiar, Sam.

- Me interesso por todos os tipos de arte.

- Esse quadro me dá arrepios toda vez que o olho.

Se ela soubesse da missa a metade, teria arrepios constantemente. Dean interrompeu o amor entre os pombinhos, empurrando discretamente Sam para trás dele e sorriu para Sarah. Aquele sorriso que ele usava para conquistar 99,99% das mulheres que cruzavam seu caminho. Claro que com aquela garota não daria certo, ela já era caidinha por Sam.

- O que sabe sobre o quadro?

POV Dean

Fui eu quem perguntou, mas ela respondeu diretamente para Sam. O que via em meu irmão? Sério. Não, sério mesmo. Gostaria de saber.

- Bem, nós vendemos esse quadro para a família Telesca. Justamente na noite em que eles morreram.

- E estão vendendo novamente?

- Eu realmente não queria, mas meu pai insiste. Sinceramente, eu acho horrível.

Meu irmão começou a mostrar um certo descontrole e isso me fazia ver que já era hora de tirá-lo de lá. Sam intercalava olhares assustados entre a pintura maldita e a garota apaixonada. Por ele. Inacreditável.

- Não o venda, Sarah! Não deixe que seu pai venda o quadro!

- Você... quer comprar isso?

POV Bella

Dean começou a puxar o irmão pelo braço antes que Sam chamasse mais atenção do que já estávamos chamando até o momento. Ele alterou um pouco o tom de voz, fazendo com que as outras pessoas mais uma vez voltassem a prestar atenção em nós três.

- Precisamos ir, Sarah. Está na hora do remédio do Sam!

- Remédio?

A garota olhou para mim, na esperança que eu fosse mais explicativa. Mulher sempre buscava apoio de outra mulher nessas horas. Sorri gentilmente enquanto corria para acompanhá-los.

- É só brincadeira do Dean. Eles gostam dessas brincadeiras.

A pobre pareceu ter ficado mais relaxada com minha desculpa. Mais uma vez eu repito: se ela soubesse da missa a metade...

- Pelo visto não fizemos a coisa certa.

Os dois me olharam enquanto entravam no carro. Eu já estava me ajeitando no banco traseiro quando Dean sorriu do seu jeito cínico.

- Não diga! Obrigado por finalmente nos avisar!

- Será que vocês dois podem dar um tempo nessa briguinha ridícula? Temos coisas mais importantes para resolver!

- Concordo. Como por exemplo, você pegar a Sarah de jeito. Ela está caidinha por você!

POV Sam

Bella agora agia que nem Dean. Até as mesmas zoações ela começava a fazer comigo. Aonde íamos parar?

- Bem, até onde sei, geralmente o sujeito do retrato é quem o amaldiçoa.

- Acontece que não tem apenas um sujeito na droga da pintura.

- Precisamos descobrir tudo sobre aquela família bizarra.

- Ei rapazes, sem querer incomodar... Mas isso significa que não vamos mais embora, certo?

Pela forma como a olhamos de volta, imagino que Bella tenha sacado a resposta. Decidimos ir até a Câmara Municipal para descobrir qualquer informação que eles pudessem nos dar sobre a família do quadro. Um senhor barrigudo e de bigode grisalho nos atendeu e nos mostrou todos os recortes de jornal que falavam sobre um trágico destino para a família de Isaiah Merchant.

Pelas notícias da época, ele tinha assassinado toda sua família para em seguida cometer suicídio. O cara tinha cortado a garganta de todos eles.

POV Bella

O homem simpático disse que o cara maluco era barbeiro. Eu com certeza nunca mais enxergaria uma navalha e um homem de avental da mesma forma.

- Aqui no jornal diz que ele era um cara mesmo difícil de lidar. Era sempre severo com a mulher, os filhos e a filha adotiva. A mulher tentou fugir com as crianças, mas Isaiah os pegou antes que ela conseguisse.

Por algum motivo que eu desconhecia, Dean estava rindo junto com o velho. Ou ele representava muito bem, ou era completamente insano. Eu não sabia qual opção descartar.

- O que houve com os corpos? Foram enterrados?

- Não. Foram todos cremados.

Pelo pouco que eu já conhecia da nossa rotina, sabia que o fato dos corpos terem sido cremados iria dificultar um pouco nosso trabalho. Se não havia corpo amaldiçoado, então o que?

- Estou dizendo, há alguma coisa de diferente nesta foto.

- É a mesma do quadro, Dean.

- Não, não é Sam. É como se o pai estivesse numa posição diferente.

- Como você tem tanta certeza disso se nem ficamos tanto tempo assim olhando para o quadro?

Eu estava quase dormindo no banco do Impala. Sam e Dean tinham conseguido tirar uma cópia de uma foto da família Merchant. O simpático moço da Câmara Municipal não havia se importado em nos dar essa cópia. Ele muito provavelmente nos achava um bando de malucos.

- Eu sei o que estou falando, ok? Temos que voltar para olhar o quadro mais uma vez.  Assim você aproveita e tenta se entender com Sarah.

- Parem de me jogar para cima dela! Vocês dois!

Me sentia cansada demais para retrucar, portanto, continuei de olhos fechados. Podia ouvir os dedos de Dean baterem freneticamente no volante como acompanhamento da música de AC/DC.

- Só estou tentando adiantar seu lado. Desde que estamos na estrada você fica aí, largado pelos cantos. Nunca pega ninguém, nunca dá umazinha... Isso sobe para a cabeça, Sam! Bem, teve a vez com a Bella, mas isso talvez não conte.

- Não conta mesmo! Não rolou nada entre eu e Bella!

Opa, isso sim era o tipo da coisa que me despertava. Abri os olhos e endireitei-me no banco, encontrando o olhar de Dean no retrovisor. Oh não, maldito Sam! Ele tinha mesmo que dar com a língua nos dentes?

- Ora, é mesmo? Vocês estavam fingindo esse tempo todo?

- Isso é coisa da Bella.

- Sam!

- O que? É verdade e você sabe disso.

Dean abriu um sorriso e começou a assobiar, tirando uma com a minha cara. Só pode. Ele deu um tapa na nuca de Sam, que se assustou e revidou.

- Posso saber o que foi isso?

- Imbecil. Então é por isso que você continua rabugento. Como eu não percebi? Se vocês dois realmente tivessem transado você não estaria com todo esse mau humor de sempre!

POV Dean

Conhecia meu irmão e sabia que havia algo mais que ele não estava me contando. Sabendo agora de que toda a história com a Bella tinha sido forjada, estava óbvio que Sam possuía problemas para se relacionar. Ele não tinha a minha beleza, mas também não era de se jogar fora. Além disso, as mulheres frequentemente se mostravam interessadas. Era ele que as recusava.

- Sam, isso tudo tem a ver com o que houve com a Jéssica? Você ainda não superou, não é?

Ele suspirou, mas não me respondeu. Também sabia que a presença de outra pessoa ali no carro não o faria se abrir comigo. De qualquer forma, estava óbvio para mim que tudo tinha a ver com a morte de sua namorada. Sam carregaria aquele dia para sempre.

- Não acho que ela gostaria de vê-lo desse jeito, se excluindo do mundo.

- Realmente não quero falar sobre isso, Dean.

- Não precisa falar. Apenas... pense.

POV Bella

Tudo que remetia ao passado dos dois ainda era um pouco incógnito para mim, então eu meio que fiquei de fora daquela conversa estranha. Nem chegava a ser uma conversa, já que Sam pronunciou poucas palavras. Ele pegou o celular, convencido a falar com Sarah para que pudéssemos ver o quadro mais uma vez.

Eu e Dean estávamos curiosos por causa do rumo que a conversa tonava e conforme a voz de Sam ia se alterando. Por fim, ele desligou o celular e encarou o irmão.

- O quadro foi novamente vendido.

Por que sempre quando a gente torce para que tudo dê certo e se resolva, acontece exatamente o contrário e as coisas pioram ainda mais? Sarah tinha dito que uma senhora que morava sozinha havia comprado o quadro logo depois da nossa última visita. Qual o motivo para uma mulher de certa idade, que não possui uma figura masculina e protetora em casa, adquirir algo tão incrivelmente bizarro e assustador?

- Sam! Dean! O que está acontecendo?

A filha do leiloeiro concordou em nos dar o endereço da nova proprietária do quadro, mas esqueceu de avisar que também iria até lá. Quando saímos do carro, Sarah terminava de bater a porta do seu. Não era exatamente o tipo de lugar e situação propícios para um encontro dela e Sam.

- Sarah, o que faz aqui?

- Vocês disseram que a Evelyn corria perigo. O que houve?

- Precisamos que fique aqui fora, ok?

Ela olhou para mim logo que Dean falou isso, provavelmente querendo saber o motivo para eu também não ser obrigada a ficar do lado de fora. Quis dizer que eu já fazia parte da gangue, mas não seria muito maduro de minha parte.

A mocinha parecia não dar muita atenção às ordens que recebia, então correu para a casa na nossa frente e foi a primeira a entrar. Ela também foi a primeira a alcançar a tal de Evelyn imóvel em sua cadeira de balanço. Assim que pisei na sala, Sarah já estava sacudindo a senhora, que ao ter seu corpo balançado, deixou a cabeça pender, ficando apenas um pescoço. A cabeça tinha ido ao chão.

POV Dean

Horrível. E a garota provavelmente teria pesadelos durante o resto de sua vida. Pelo menos dessa vez não tinha sido Bella a gritar. Acho que a pobre merecia um descanso mesmo. Foi preciso bastante tempo – depois de fazê-la mentir para a polícia – para que Sarah se recuperasse do susto e ouvisse nossa história. Ou melhor, a bizarra história por trás daquele quadro.

POV Bella

Eu estava começando a me encher daquela garota. Ela tinha dito que se achava um pouco culpada por todas aquelas mortes e queria participar da destruição que daríamos ao quadro. Queria ver com seus próprios olhos, foram suas palavras.

Quando comparamos a imagem copiada que pegamos na Câmara Municipal, com a imagem retratada no quadro, percebemos que havia sim algumas diferenças praticamente imperceptíveis. Uma delas era um quadro que estava pendurado na parede, atrás de Isaiah. Na imagem da Câmara Municipal era um determinado quadro. Na imagem da pintura assombrada, era outro completamente diferente.

- Isso é um mausoléu.

- Pelo que está escrito aqui, é o mausoléu da família Merchant.

- Interessante.

[...]

- Meio que dá para entender porque a família era problemática...

Deixei escapar, esquecendo a presença da leiloeira enquanto olhava para a construção horrenda. Estávamos em pleno cemitério durante o dia, mas a imagem daquele mausoléu deixava tudo mais assustador. Os rapazes realmente estavam dispostos a entrar naquele lugar e eu cheguei até a cogitar em ficar do lado de fora. Quando vi alguns corvos sobrevoarem minha cabeça, achei melhor acompanhar os verdadeiros caçadores.

- Ei, esperem por mim!

POV Sam

Me incomodava um pouco ter Sarah ali conosco, arriscando-se por um mundo que ela não fazia idéia de como era. Ela, no entanto, parecia empolgada com tudo aquilo. Não de uma forma estranha, mas demonstrava coragem em querer acabar com a maldição.

- Ok, essa é a coisa mais assustadora que já vi.

Sarah estava curvada na frente de uma redoma. Olhava para uma boneca de porcelana que deveria ter pertencido à menina da foto.

- Isso era algo comum naquela época. Colocar os brinquedos favoritos das crianças em uma redoma perto do túmulo.

Senti Bella me cutucar e olhei para ela, que tinha uma expressão de quem se esforçava para concluir uma idéia.

- Não sei se vocês também notaram, mas só tem quatro urnas aqui dentro. A da mãe e as das crianças. Onde está o pai?

POV Dean

Foi quase como um soco no estômago. Bella enxergou algo super importante que nós não havíamos visto.

POV Bella

Foi preciso voltar à Câmara Municipal mais uma vez para conseguir informações de onde o corpo de Isaiah tinha sido enterrado. O cara foi colocado num local do cemitério onde era destinado ao enterro das pessoas mais pobres naquela época.

- Eles fazem isso com freqüência?

Sarah me perguntou enquanto assistíamos os garotos cavarem a terra e abrirem o caixão do falecido amaldiçoado.

- Frequentemente, sim. Eu evito participar nessas horas. Minhas unhas quebram com facilidade.

- Entendo.

Era nojento, essa sim era a verdade. Dean verificou que o esqueleto ainda estava lá para então queimar os ossos. Era a penúltima etapa do nosso processo. Agora faltava apenas dar um fim de vez no quadro bizarro.

POV Dean

Fiz questão de convidar Sarah para vir junto e ao chegarmos novamente na casa de Evelyn, segurei Bella pela manga da camisa.

- Deixe-os irem.

- Você não vai, Dean?

- Não, Sammy. Vou esperar no carro com  a Bella. Temos algo para conversar.

POV sam

Não entendi muito bem o que Dean estava planejando, mas se ele fosse dar uns amassos em Bella, eu preferia mesmo não estar por perto.

POV Bella

Sam e Sarah entraram na casa escura e eu pulei para o banco do carona enquanto Dean ligava o som.

- O que quer conversar?

- Nada.

- Como assim?

- Só queria que os pombinhos fossem sozinhos. Pode ser que Sam se anime e pegue a moça de jeito. Um escurinho... Quem sabe, né?

Juro que se eu não gostasse tanto dele, furaria seus olhos com meus próprios dedos.

POV Sam

Tinha algo de muito esquisito no quadro. Olhei para Sarah, quase perguntando se ela também via o mesmo que eu. A menina da pintura tinha sumido. Evaporado. Como se nunca tivesse estado lá.

- Sarah, não é só a menina que sumiu. A navalha também.

POV Dean

Ouvi um barulho super estranho vindo de dentro da casa – e não era parecido com um orgasmo.

- Ouviu isso, Bella?

- Sim...

Então de repente, a porta da frente bateu. Saí correndo do carro, mas não tive sucesso. Tinha sido trancada por dentro e algo me dizia que Sam não tinha feito de propósito.

POV Bella

OMG. Agora era aquele momento que sempre dá tudo errado e alguém se ferra. Uma coisa bem comum em nossa rotina.

- Sam!

O celular de Dean tocou e Sam falava tão alto que era possível ouvir toda a conversa. Disse que a garota do quadro sumiu

POV Sam

- Sarah, rápido, tente achar um pouco de sal!

- Sal? Sal de cozinha?

- Sim, sal! Olhe em todos os cantos, ok?

Sabia que não tínhamos muito tempo para pensar em outras soluções. Todas as janelas tinham sido trancadas e uma ventania varria o cômodo, espalhando papéis por todos os lados.

- Oh, Sam!

Sarah olhava apavorada para outro canto. A menina da imagem vinha arrastando a boneca que vimos no mausoléu. Nunca foi Isaiah. Peguei uma barra de ferro da lareira e atravessei o corpo da criança, que sumiu temporariamente.

POV Dean

- Dean, precisamos descobrir o que está segurando essa garota aqui! Nós vimos, ela foi cremada!

Estava tentando achar um ponto fraco na casa por onde pudesse entrar, mas estava tudo selado.

- Sarah está dizendo que antigamente as bonecas eram feitas com pedaços de cabelos dos donos. Aquela boneca que nós vimos no cemitério...

- Sim, já entendi!

POV Bella

Eu ainda estava tentando arrombar a porta da frente quando Dean voltou correndo e me puxou pela mão.

- Temos que voltar ao cemitério.

POV Sam

As luzes apagaram-se por completo e uma escrivaninha voou em minha direção quase esmagando meu quadril. Caí para trás e o móvel caiu sobre meu corpo, impossibilitando-me de sair dali. Sarah agora estava indefesa e a garotinha estava bem atrás dela.

POV Bella

- Oh Deus! Não, Dean!

O louco entrou no cemitério, com o portão fechado. Tive que fechar os olhos com medo de que nos espatifássemos em todo aquele metal. Ele nem desligou o carro quando chegamos na frente do mausoléu e saiu com tanta pressa que deixou o revólver cair.

POV Dean

A droga do vidro que protegia a redoma não quebrava de jeito nenhum. Já tinha socado de todas as formas e com toda minha força.

- Dean, sai da frente!

Virei-me para olhar Bella atrás de mim. A louca levantou o braço, exibindo meu revólver e atirando no vidro, que se espatifou em mil pedaços e liberou a boneca maldita.

- Depois nós vamos conversar sobre armas...

POV Bella

Ele deveria era agradecer por minha ajuda, isso sim. Dean pegou a boneca e levou para o lado de fora, tentando queimá-la com um isqueiro que não funcionava. Eu me perguntava como estavam indo as coisas com Sam e Sarah.

- Droga! Não quer funcionar!

POV Sam

Por mais força que eu fizesse, o móvel não se movia sequer um milímetro. Sarah tinha sido encurralada pela menina e parecia estar machucada, sem conseguir se levantar direito.

POV Dean

Merda! Merda! Merda! Já começava a entrar em desespero quando a boneca foi arrancada de minhas mãos e queimada por um mini maçarico.

POV Bella

Uma garota vestindo casaco preto e calça jeans puxou a boneca e queimou por conta própria, começando pelos cabelos cacheados e ruivos até tocar fogo em todo o brinquedo.

POV Sam

- Sarah, fuja!

Quando a garotinha estava prestes a tocar em Sarah, o milagre aconteceu e ela foi arrancada de lá. Seu espectro queimou quando provavelmente Dean fez o mesmo com seu brinquedo.

POV Bella

As cinzas iam caindo ao chão enquanto a garota retirava o capuz da cabeça e exibia cabelos negros e compridos. Seus olhos eram tão escuros quanto seus cabelos e sua altura era quase a mesma que a minha.

- É esse isqueiro patético que você usa para esses fins?

- Quem é você?

- Hayesha, mas pode me chamar apenas de Hay.

POV Sam

Estava com Sarah do lado de fora da casa, esperando por Dean e Bella. Torcia para que os dois chegassem logo, não por querer evitar Sarah, mas aquela noite já não tinha mais romance para nada. Tudo havia dado errado e eu imaginava que a garota quisesse se livrar de nós.

- Então, agora que resolverem esse problema, imagino que estejam indo embora, certo?

- Com certeza. Você não precisa se preocupar.

- Não estou preocupada, Sam.

Ela me encarou como se eu tivesse insultado-a ou coisa parecida. Se Sarah ainda alimentava alguma atração por mim depois de tudo que aconteceu, ela então deveria ter um parafuso a menos.

- Sarah, escute, eu...

- Para que falar sobre isso? Eu meio que entendo, Sam.

POV Dean

Quando chegamos, Sam e Sarah estavam conversando mas algo me dizia que até então nada havia rolado ali. Eu o deixava sozinho com uma garota que estava nas mãos dele e o idiota não fazia absolutamente nada? Não era possível que tivesse sangue Winchester naquelas veias...

- Quem são aqueles?

- Meu irmão e a garota que ele não pegou.

POV Sam

O Impala parou perto de nós e Dean desceu, seguido de Bella e de... uma garota que eu nunca tinha visto na vida. Levantei-me rapidamente, imaginando ser algum parente da falecida Evelyn. Só não entendia o que ela estava fazendo com Dean.

- E aí? Estão bem?

- Sim, obrigado por perguntar só agora.

Puxei-o para longe, evitando que ouvissem nossa conversa e sussurrei para meu irmão.

- Quem é a garota que chegou com vocês?

- Ah sim... Essa é uma longa história.

- Dean!

- Ela apareceu no cemitério e meio que te salvou.

- Me salvou?

- Meu isqueiro não queria funcionar...

POV Bella

Eu tinha certeza que os dois estavam falando sobre Hayesha. Dean devia estar explicando o inconveniente com o isqueiro e a forma como ela apareceu milagrosamente para salvar o dia. Para ser totalmente sincera, não tinha ido muito com a cara da menina. Não que ela parecesse chata ou algo do tipo. Não era isso. Era apenas que ela tinha roubado completamente o meu momento de glória.

POV Sam

- Espera, Bella atirou na redoma de vidro?

- Sim, mas esse não é o lance. A garota tinha um maçarico, Sam!

- Isso eu entendi, mas ainda estou tentando assimilar Bella com uma arma na mão. Como você continua vivo eu não sei.

Ele me olhou com aquela cara de besta contrariada e deu de ombros. Observei Bella de braços cruzados encostada no Impala e olhando nós dois. Ela no mínimo devia estar furiosa por aquela intromissão toda.

- Tudo bem, eu entendi mais ou menos a história, mas para que a trouxe até aqui?

- Não a trouxe, ela já estava vindo... Apenas dei uma carona.

A garota começou a se aproximar de nós dois e estendeu a mão para me cumprimentar. Ela parecia ser tão nova quanto Bella, mas algo em seu olhar dizia que tivera que se transformar em adulta antes do esperado.

- Prazer, Hayesha.

- Sam.

- Sim, eu sei.

- Dean já falou de mim?

- Não. Conheço por conhecer mesmo. Qual caçador que nunca ouviu falar nos irmãos Winchester?

POV Bella

Lógico que eu não ia ficar de fora. Não era uma Sarah da vida. Eu participava ativamente da vida dos meninos e por isso cheguei junto para saber o que rolava ali na conversa. Hayesha me deu um sorriso simpático e não deu para não retribuir, mas se ela estava achando que iria me comprar...

- Há quanto tempo já faz isso? Nunca tinha ouvido falar em você.

- A Bella não é caçadora. Ela é uma amiga da família.

Sam fez questão de despentear meu cabelo para deixar bem claro que eu era a criança de quem eles tomavam conta.

- Entendo. Não sei como você agüenta essa vida de estrada.

Ela estava me chamando de fraca por acaso? Inflei o peito e levantei o queixo.

- O que? Isso? Tiro de letra...

- Quando ela não está aos berros com medo de alguma coisa, ela tira de letra.

- Qual o seu problema, Sam?

POV Sam

Bella me olhou de um jeito que nem os demônios olham. Nada que falei foi proposital para menosprezá-la, simplesmente saiu. Também não havia nenhum motivo para todo esse ciúme.

- Bem, eu não quero atrapalhar. Vou só entrar para pegar o quadro e já irei me retirar, ok?

- Espera. Pegar o quadro?

- Sim. Para queimar.

POV Dean

Sam não gostou muito do que ouviu e eu sabia que nem era mesmo por causa da preciosidade que era aquela pintura. Sarah é que teria problemas depois se o quadro sumisse misteriosamente.

- Por que queimar se já resolvemos tudo?

- Porque é horroroso! E traz más recordações.

- Jura?

- Olha, só estou fazendo meu trabalho.

A garotinha baixinha era metida a esperta demais para meu gosto. Ainda por cima estava achando que tinha todo o direito de fazer o que bem entendesse naquela cena ali. Como se fosse a única caçadora.

POV Bella

- Bella, puxe-a pelos cabelos.

- Que?

- Puxe. Você é mulher, não fica feio se fizer isso...

Não foi preciso fazer nada, pois Sam já estava bloqueando a passagem dela. A caçadora parecia estar se irritando, pois tentou se desvencilhar dele sem nenhum sucesso e cruzou os braços.

- Qual o problema?

- Não vai queimar o quadro. Se ele deve ser queimado ou não, talvez não seja você a decidir isso.

- Bem, se eu não tivesse aparecido na hora exata, você não estaria aqui para me impedir de coisa alguma, concorda?

POV Dean

Ui, ela jogava baixo. Sam me olhou meio carrancudo, mas o que eu podia fazer? O isqueiro não tinha funcionado. Cacete!

- Te agradeço por isso, mas mesmo assim não posso deixá-la tomar essa decisão. Chegamos aqui antes.

- E fizeram tudo errado.

- Como é que é?

POV Bella

Eu queria mais mesmo é que ela irritasse bastante os dois irmãos para que colocassem a caçadora para correr dali. Eu poderia voltar a ser bendito o fruto.

- Vocês fizeram tudo errado. Eu vi que retiraram os ossos de Isaiah da cova para queimá-los. Vocês nem imaginavam que era a garotinha.

- Descobrimos no momento certo.

- O momento certo deveria ter sido quando descobriram que a menina era órfã porque os pais verdadeiros foram assassinados enquanto dormiam. Ah, mas esperem. Vocês não chegaram a descobrir isso.

Agora ela já estava começando a me irritar também, mas eu não gostava de brigas. Sempre detestei todo aquele lance de garotas brigando, puxando cabelo e arranhando-se com as unhas.

- Certo, tudo bem. Façam o que acharem melhor. Já está mesmo na hora de eu partir para outra.

- Que outra?

POV sam

A garota puxou o capuz do casaco para frente e o soltou sobre a cabeça. Foi até o carro e tirou uma mochila lá de dentro, jogando-a nas costas e sorrindo para nós.

- Outra caçada.

- Qual seria?

- Desculpe, rapazes. Eu trabalho sozinha. Bella, foi um prazer! Não os deixe no comando o tempo todo, ok? E meninos, tentem não morrer enquanto eu estiver ausente.

A garota nos deu as costas e saiu caminhando pela estrada. Apesar de estar indo embora para um lugar que eu não fazia idéia de qual era, algo me dizia que a veríamos em breve. Muitas outras vezes.




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Notas finais do capítulo

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