Minha terra tem palmeiras... escrita por Tyke


Capítulo 11
Sete domingos antes do domingo


Notas iniciais do capítulo

Oi espero que gostem
E comentem, lá finalzinho. Fiquem avontadade :)



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Aulas, aulas, aulas e mais aulas. Era isso todo dia durante a semana. Nada fora do esperado afinal estamos falando de uma escola.

Os alunos da Castelobruxo tinham uma agenda apertada: acordar cedo, ir para as aulas que acabavam por volta do meio da tarde, fazer intermináveis lições no resto de qualquer tempo livre, estudar desesperadamente para as provas que ameaçavam chegar e ainda existiam os clubes extracurriculares... Alguns alunos pareciam gostar de ficar atolados de afazeres e entravam em diversos clubes, por exemplo: Ylara que participava do Clube de Arte da Tia Maricota, do Clube de Corrida e do Clube de Antiguidade Antigas.

Danilo não tinha interesse em nenhum clube, a não ser o Clube de Quadribol que organizavam os times da escolas e os campeonatos, mas só era permitido participar a partir do Segundo Ciclo... Sacanagem! Como diria Lucas. Mas eram regras, fazer o que? Então, por conta de seu único interesse não ser permitido, Danilo se focava apenas nas tarefas obrigatórias da escola e assim ele vinha descobrindo que era um fracasso em Herbologia, por exemplo.

O professor Florêncio, em seu jeito todo delicado, dizia que qualquer um podia aprender. Por outro lado Tião reproduzia as palavras do senhor seu pai: "Tem que ter a mão"... Nisso Danilo concordava com o senhor Xerófilas, pois ele não tinha mão nenhuma e de quebra nem os pés para Herbologia. Acha exagero? Na primeira aula sobre mandragoras, a muda  do menino o odiou a primeira vista e gritou tanto que acabou trincando os óculos de Letícia. O professor teve que tomar-lhe a plantinha das mãos e sumir com ela antes que algum aluno tivesse os tímpanos estourados...e não vamos mencionar que ele conseguiu afogar uma planta aquática... Felizmente, a salvação de Danilo na disciplina era Sebastião, sua dubla, que por sorte se dava muito bem com terra e vasos.

Na modalidade "Até que não sou ruim" vinha: Poções, Feitiços, Devesa Contra Artes das Trevas, História da Magia, Estudo dos Trouxas, Artefatos Mágicos e Leitura Astral. Já na lista de "Isso sim é minha área" estavam: Transportes e Treino de Voo, Magizoologia e Transfiguração.

Transportes e Treino de Voo, lecionado pelo treinador Kuzosk, nada mais era do que aprenderem sobre as locomoções bruxas, aprender a montar vasoura e futuramente, no Segundo Clico, aprender aparatar. Obviamente Danilo adorava os dias que iam para o campo de voo, quando ele podia voar e mostrar que era realmente bom naquilo... a parte teórica era chata, entretanto fácil de relevar.

Magizoologia. Danilo sempre amou animais, logo as aulas de criaturas mágicas rapidamente o encantaram. Era a aula mais esperada na semana pelo menino. No primeiro dia a professora Madilda trouxe um filhote de bezerro apaixonado para os alunos conhecerem. Foi uma diversão! O bichinho sustentou-se nas patas traseiras e começou a dançar para o encanto dos alunos, mas quando alguns se aproximaram demais o bezerro parou e ficou assustado. De todos, apenas Danilo e Bruno conseguiram acariciar o filhote sem que ele fugisse.

— Eles sentem quem possuí carinho verdadeiro — A professora disse aos dois — Transpassar segurança é a principal qualidade para lidar com criaturas mágicas.

E por fim, Transfiguração era sem dúvida a vocação de Danilo. Não é tanta surpresa se parar para refletir que a primeira manifestação mágica do garoto foi transfigurativa, quando ele fez mudar a cor dos pelos de Taw, o gato preto de Sally. Assim, é claro, Danilo se destacou muito nas aulas do professor Osmar... Sério! Ele não precisava de mais do que uma tentativa para executar os encantamentos.

Em um fim de tarde de uma sexta-feira, última aula do dia, os alunos do primeiro-ano estavam acomodados cansadamente em suas carteiras e miravam, alguns sem ao menos entender, a explicação do professor Osmar sobre um novo feitiço de conjuração.

— Muito bem, alunos. Agora vamos para a parte prática. Agitem a varinha, pronunciem Avis e tentem conjurar um passarinho — O docente instruía — Podem começar.

Avis.

Avis!

Avis.... Avis.

As vozes começaram a ecoar pela sala de aula. Bruno agitava a varinha com força de mais e ela quase escapuliu de suas mãos. Letícia Cutia fazia tudo corretamente, porém nem um mosquito aparecia diante dela, isso a deixava mais irritada a cada segundo. Tião balançava sua varinha de um lado para o outro e dizia "Avis" cada vez mais entediado. Apenas Danilo ainda não tentava fazer.

— Não consigo! — Tião suspirou alto — Transfiguração é muito cricri.

— Tenta não balançar tanto — Danilo aconselhou ao lado, eles sempre sentavam de dupla em quase todas as aulas — Assim: avis.

Agitou a varinha devagar e, em uma fumaça azulada, surgiu um passarinho pequeno que voava orientado pela varinha do menino. Danilo sorriu para o animalzinho de magia e o fez voar até o lampião da sala, dar-lhe duas volta, então perdeu o controle e ele se desfez em penas de fumaça.

— Muito bem, Danilo! — Professor Osmar elogiou por trás dos óculos de lentes grossas.

Danilo sentiu o rosto corar quando as outras crianças o olharam e fizeram comentários: "Como ele consegue?"... Não era nada de mais, ora pois! Ele apenas era bom em Transfiguração assim como era um desastre em Herbologia...

— Por que pararam? Continuem tentando.  — O homem chamou a atenção dos demais alunos e logo "Avis, avis,avis" começou a ecoar pela sala de pedra  novamente — Não, Uriel! Não agita...

Plaft! O porta giz de vidro, que estava sobre a mesa do professor, se espatifou em milhares de pedaços.  Osmar murmurou "Reparo"  para o objeto e depois olhou com desaprovação para o menino desastrado.

O resto da aula se passou com Danilo tentando ajudar Tião... Tarefa fracassada. Como se diz? Ah, sim! "Tem que ter a mão" e o garoto dos olhinhos miúdos não a tinha. Por fim os sinos altos tocaram indicando o final das aulas.  Os alunos guardaram os materiais com uma pressa fora do normal e correram para os corredores... deve ser porque é sexta.

— Danilo! — Professor Osmar chamou antes que o menino pisasse fora da sala — Posso falar com você por uns minutos?

Tião encarou o colega com os olhinhos arregalados, o professor, depois sussurrou "Boa Sorte"  e saiu da sala. Danilo caminhou, desconfiante, parando de frente ao homem que havia tomado seu lugar atrás da imponente mesa de professor.

— Sente — Mandou e Danilo obedeceu. Se acomodou na cadeira indicada ao lado. E o homem examinou algumas papeladas antes de virar suas grossas lentes de vidro para o aluno — Você tem se mostrado um verdadeiro prodígio nas minhas aulas. Acredito que a grade do primeiro ano não acompanhe a sua capacidade, por isso gostaria que entrasse para o grupo avançado.

— Hum... — O menino não foi capaz de articular uma resposta coerente. Primeiro por estar surpreso e segundo porque aquele professor tinha um ar levemente intimidador e severo.

— Certo. Você tem algum interesse em animagos?

— Sim,  senhor! — Danilo respondeu prontamente fazendo o professor sorrir como se já esperasse aquela reação.

— Alunos do Segundo Ciclo com alto desempenho em Transfiguração passam por um teste para ver se possuem capacidade para essa habilidade. Se for o caso, os alunos são ensinados até conseguirem a Transformação — O homem, com as mãos em concha sobre a mesa, observou, se divertindo, o estado ligeiramente sonhador do menino.

— Eu vou ser um animago? — Falou tentando no máximo conter a euforia.

— Isso depende. Se frequentar as aulas avançadas, aprender o bastante, passar no teste e conseguir desenvolver a Transformação. Sim, você poderá ser um animago.

— Quando? — Danilo falou alto de mais e sua voz ecoou pela sala vazia — Quando começam essas aulas avançadas?

— Sábado que vem, as oito da amanhã. Posso contar com sua presença?

— Sim, senhor! — Sorriu mais do que animado.

— Ótimo! Está dispensado — O professor levantou e acompanhou o menino até a porta — Boa festa! — Desejou antes de fechar Danilo do lado de fora.

— Festa? — Ele perguntou confuso para uma porta de madeira.

A madeira não vai responder... Dando de ombros, Danilo se pois a caminhar ao dormitório. Estava muito ansioso para contar a seus amigos sobre sua futura possibilidade de ser um animago. Pelo trajeto ele estranhou a agitação de diversos alunos que corriam de um lado para o outro carregando pedaços de panos, vasos ornamentais e... Ok! O que está havendo? Danilo paralisou quando viu um bando de garotas mais velhas saírem do banheiro feminino vestidas com saias muito coloridas e descalças.

Receoso com qualquer que fosse o significado daquilo, o menino direcionou-se para o penúltimo andar o mais rápido possível e encontrando mais e mais pessoas em vestes esquisitas pelo caminho. Foi como se ele estivesse em um sonho muito louco, quando entrou no quarto 02 no corredor das carpas e topou com um bigode gigante na cara de Sebastião.

— Então, Osmar te deu um tranco? — Tião indagou enquanto ajustava um pincenê na ponta do nariz.

— Não, ele me convidou para fazer parte do grupo avançado — Danilo analisava as vestes bruxas antigas que se agitavam em volta do corpo magricela do colega de quarto.

— O QUE? — O menino parecia prender a respiração e só foi interrompido de explodir por alguém que invadiu o quarto sem bater na porta.

— Ta berrando por quê? — Lucas indagou repreendendo Tião.

Danilo olhou de seu colega de quarto para seu amigo. Eles tinham algo muito em comum naquela loucura: estavam incomunmente fora do comum. Mas, diferente de Tião, Lucas vestia calça e camisa de panos esbegiados com as extremidades repicadas formando franjas, usava uma pena na cabeça e pintou dois risco de tinta vermelha em cada bochecha.

— Danilo vai ser uma animago! — Tião respondeu apontando o garoto parado, um tanto atônito, ao lado deles.

— Ai meu pâncreas! — E levou as mãos ao peito — Osmar te colocou nos avançados? Já sabe que animal vai ser?

— Aposto em cágado — O de bigode profeciou.

— Esperem! — Danilo falou alto fazendo os outros dois meninos engolirem qualquer coisa que tivessem a dizer — O que é isso que estão vestindo?

— Eu sou um dono — Lucas sorriu — Norte americano no caso, porque os brasileiros meio que andavam pelados e eu não vou exibir meu corpinho por ai. E você, Tião, é um...

— Barão.

— Uau! Não esperava que tivesse capacidade de humor autodepreciativo.

— Você não me conhece, caboclo — Empinou o nariz e levou as mãos para segurar as bordas da capa — E você, Danilo, vai se fantasiar do que?

— Fantasiar? Por quê? O que está acontecendo?

— Oxe! Pra festa de carnaval, abestado!  — Enquanto Tião falava seu bigode movimentava de forma cômica em cima dos lábios.

— Carnaval? — Danilo serrou as sobrancelhas para si própria e foi observado com compreensão por Lucas.

Sim! Ele conhecia a festa... de nome. O mundo inteiro conhece, mas nem todos sabem exatamente o que é. Danilo não esperava esbarrar com aquele evento na escola. Ele fez um esforço tentando se lembrar dos seus cinco anos para trás... Ah sim! Ruas coloridas, músicas, danças, crianças correndo pela vila, alguns fantasiados... Tudo apenas pequenos fleches. Vago, muito vago...

— Vem! Vamos arrumar uma fantasia pra você — Lucas se adiantou tirando o amigo da tentativa de lembranças e o puxou sem aviso. Tião os seguiu.

Pelos corredores do dormitório esbarravam com garotos alegres e exibindo pros amigos suas vestimentas. Danilo foi levado pela escola e quando se deu conta estava no teatro. O lugar estava abarrotado de gente correndo de um lado para o outro. Então uma garota com vestes brancas rasgadas, cabelo armado e despenteado e com uma maquiagem sombria em volta dos olhos... de arrepiar... caminhou na direção deles.

— O que estão fazendo aqui? — Com um choque Danilo a reconheceu, era Ylara.

— Pode arrumar uma fantasia pro Danilo? Ele não sabia da festa — Lucas respondeu.

— Vocês não podem estar aqui agora! — Ela bateu o pé e falou ríspida.

— Oh! Vai mesmo negar ajuda a um amigo? — O garoto sorriu sugestivo fazendo-a se mexer desconfortável.

— Tudo bem, mas vocês dois cai fora daqui antes que a Tia Maricota veja — Apontou para os dois garotos fantasiados — Vem, Danilo, rápido.

Ylara puxou o menino para o fundo do palco do teatro onde havia incontáveis fantasias. A menina começou a vasculhar os cabides, arrastando um atrás do outro. Danilo ficou imóvel num cantinho se perguntando do que, pelas almas que se foram, a garota estava fantasiada.

— Yla, o que está fazendo? — Um garoto surgiu do nada fazendo os outros dois sobressaltarem.

Parado diante deles estava Maurilo Oliveira, o "primo" de nome de Danilo. Ele estava na turma de Lucas e Ylara e no Clube de Arte. Aparentava simples e um tanto galã. Naquele exato momento não traja fantasia nenhuma e olhava para os dois alunos, pegos no fundo do palco, de forma desconfiada.

— Danilo não sabia da festa. Estou tentando achar alguma fantasia.

— Ah tá! — Ele deu de ombros despreocupado-se — Aquela de jornal não serve nele? — E espichou os olhos pro garoto, analisando sua estatura.

— É... Boa ideia! — Ylara sorriu por trás da maquiagem sombria e chamou Danilo com um gesto de mão — Vem!

— Acho que tem uns retalhos do Verídico ali na sala — Maurilo quase gritou para os dois que se afastavam quase correndo.

Danilo e Ylara pararam de frente a uma parte da interminável fileira de roupas. Ela mexeu em um cabide aqui, outro ali e por fim puxou um conjunto acinzentado, todo estampado com palavras e imagens em movimento... Que roupa mais... doida? Danilo examinou incerto a fantasia de jornal que lhe era estendida pelo cabide.

— Gostou? — Ylara sorriu para ele transpassando expectativa.

— Claro, é bem legal — Sorriu de volta — Obrigado!

— Ótimo! Agora você tem que vazar daqui — Apoiando as mãos nas costas do menino começou a empurra-lo delicadamente — Encontro vocês na festa.

— Certo.  Você está vestida do que? — Ultimamente sua curiosidade absurda estava mais controlada, mas Danilo não conseguiu evitar fazer a pergunta.

— Pisadeira — Ela deu um sorrisinho travesso.

— Ela é desse jeito?! — O garoto arregalou os olhos para a aparência macabra da menina.

— Mais ou menos. Uma vez eu e o Lucas...

— Yla! — Maurilo os alcançou perto da saída dos fundos do palco. Ele vinha trazendo uma dobradura de jornal que tinha uma forma pontiaguda. Estendeu para Danilo — Aqui está, soldado de papel — Sorriu divertido.

— Ann... Obrigado — O primeiranista pegou a dobradura e foi imediatamente empurrado para fora do teatro por Ylara.

Danilo seguiu para o dormitório, tomou banho, vestiu sua veste de jornal, penteou os cabelos e ficou olhando para a dobradura de Maurilo sem saber o que fazer com ela... Lucas! O amigo logo ajudou, porém antes riu da cara dele. "É um chapéu, mané!" sem a menor delicadeza, Lucas abriu as extremidades da dobradura e a enfiou na cabeça de Danilo até, quase, tampar os olhos.

— Até que não ficou ruim — O garoto-dono elogiou. Ele estava radiante, nem um traço da conhecida melancolia estampava-se naquele rosto pintado com tinta vermelha — Agora. Marchando, soldado! — Lucas o empurrou... Danilo ponderou que estava sendo empurrado e puxado demais naquele dia.

Juntos os meninos foram para sala principal do dormitório, onde encontraram Tião ao lado de um Pablo fantasiado de lobo... Caramba! Danilo ficou admirado com as orelhas, o fussinho e as presas de transfiguração que próprio garoto fez no rosto.

— Pablo também está no grupo avançado — Tião anunciou para o colega de quarto.

— Legal! — Danilo sorriu para o castelhano e este lhe sorriu de volta.

Pouco tempo depois, os quatro garotos estavam a caminho do campo de voo, nos fundos da escola, onde inciava-se a festa...

 


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Notas finais do capítulo

Comentem, Comentem, Comentem :)

O desenho da Ylara no cap anterior estava muito embaçado, porque eu tirei foto do pepel e a minha câmera é ruinzinha. Então decidi digitalizar os desenhos que eu for postando, mesmo que demore pacas. Fica mais bonitinho.

Nova capa :). Mas quem quiser ver o brasão da escola eu coloquei ele no cap 2 :)

Então gostaram a ideia de ter Carnaval na escola? Não se preocupem, não vai ter globeleza sambando no próximo cap kkkk. Eu me basei mais nas antigas comemoração do Carnaval (época da bisavó) e no significado que ele realmente deveria ter para o nosso povo. ( e não é aquela coisa de "adeus a carna". Que acho muita brisa, fazer uma festa dessas pra dizer que não vai comer carne na quaresma)
Enfim...

Comentem, Comentem, Comentem :)



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