Minha terra tem palmeiras... escrita por Tyke


Capítulo 10
Novas descobertas


Notas iniciais do capítulo

oi e voltei! Espero que gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710972/chapter/10

Querido, pai

Oi, desculpa ter demorado para mandar esta carta. Estava esperando juntar um pouco mais de informações assim vou ter mais a escrever.

Bem, até agora as aulas tem sido bem legais e outras um pouco entediante. Descobri que tenho 9 primos distantes na escola e que os Oliveiras é uma família gigantesca. Conheci um desses primos, Maurilo, e provavelmente nosso parente em comum mais próximos seja o primeiro Oliveira da Terra! Sério, a família dele mora do outro lado do país!

Falando em primos, mal tenho visto o Felipe. Encontrei com ele no corredor a três dias, mas ele estava com pressa então apenas me disse "oi". Sinto falta da companhia dele e só não sinto mais porque conheci umas pessoas bem legais do meu Ciclo.

Vou falar deles pra você. Tem o Lucas, já o considero meu amigo, está no segundo ano. Gosto de conversar com ele, discutimos coisas bem interessante e apesar dele ser um pouco melancólico é bem divertido as vezes. Tem o Sebastião, é meu colega de quarto e não tenho certeza se somos amigos ainda, mas ele é uma pessoa bem... peculiar. Ainda não sei como descrevê-lo. Tem o Pablo, ele é Colombiano e bom... eu mal falo com ele. É meio complicado entender o que ele diz. Tião sabe falar espanhol por isso os dois estão sempre juntos, assim acabo vendo Pablo todos os dias, então achei justo ele ser citado. E, por fim, tem a Ylara. É uma garota, segundo ano e está sempre com Lucas. Não sei muito dela e também não nos falamos muito.

Tem outros alunos que converso, mas acho que esses são os principais... Ah é! Tem os Gêmeos Farroupilhas ( não sei o significado desse nome. Ylara disse que foi ideia do Lucas e ele nunca explicou, mas como soa legal o apelido então acabou pegando). Esses dois são os típicos sangues-puros  que implicam com todos que não tem nome importante. Provavelmente estariam na Sonserina, se fosse Hogwarts...  Acho que já deu pra entender sobre eles.

A escola é bem bonita. Um lindo palácio Inca, como você me contou, sabia que tem uma estátua em ouro do Imperador que o construiu perto do campo de voou? Ele era bem feio.

Enfim, estou com muita saudade de você, do Círculo Norte e da Sally. Como ela está? Ontem foi o aniversário dela, eu lembrei, diga parabéns por mim.

Com carinho, Danilo.

 

Uma arara gritou quando Danilo adentrou o Avezeiro. Um barulho de galho quebrado soou a direita do menino, ele olhou assustado na direção e viu um macaquinho amarelo. Suspirou aliviado. O Avezeiro ficava na entrada da floresta e era um lugar tenebroso de ser ir sozinho. As copas altas das árvores cobriam grande parte da luz que iluminava o dia.

Danilo atravessou o lugar não sabendo muito bem o que fazer. Talvez ao perceber isso, uma arara de penas azuis e amarelas voou na direção dele e empoleirou perto de um armário feito de madeira. O menino foi até ela. A ave não possuía a bolsinha de folhas secas para carregar a carta. Por isso ele estico a carta para o bico dela.

Arraahhh! O animou gritou em protesto e deu um pequeno voo para trás. Em seguida virou os olhinhos pequenos, contornado por traços pretos nas penas brancas, na direção do armário de madeira.... Ah tá! Danilo compreendeu. Abriu o armário e pegou uma bolsinha de folhas. E sem o menor protesto a ave deixou ser vestida e incumbida de levar a carta.

— Nº 2. Círculo Norte. Borough Clurica. Londres. Reino Unido. — Ele falou o endereço para a arara e por alguns instantes pensou ter visto algo semelhante a desapontamento nos olhos dela.

Com um ultimo grito rouco a ave saiu voando e Danilo a observou até sumir. Sentindo um arrepio percorrer a espinha, ele olhou envolta esperando encontrar alguém o observando...nada. Ele deu as costas ao Avezeiro e correu para fora da floresta o mais rápido possível.

Passou próximo a margem do lado de Dilúvio e viu a sombra da criatura espreitar embaixo das águas esverdeadas. Sem perder muito tempo com a serpete-cabeça-de-ilhama, foi direto para o castelo... Seu grande medo de passar perto do lago era receber uma das famosas cuspidas fedidas.

Ele virava um corredor quando ouviu palavras de protesto vindo de alguém... Essa não! Ele suspirou quando os Pratas vinham na direção dele. Graças a Merlin, Dumbledore e todo grande bruxo que descansa em paz! Os gêmeos passaram reto e sem nem ao menos olha-lo.

— Odeio esses línguas presas. Não deveriam estar aqui — Grimondana dizia nervosa para o irmão — A escola fica no nosso território então é nossa!

— Tanto faz, Grim — Marco respondeu desinteiriçado.

Danilo foi na direção que os gêmeos saíram e assim encontrou a vítima. Um garoto, novo, de uniforme laranja e que pulava loucamente na frente de uma pilastras de luz.

Ayúdame! Mi caldeiro — Ele falou assim que avistou Danilo e apontou o topo da pilastra.

— Caldeiro. Cadeira? Algo assim?

O hermano suspirou desistindo, no mesmo instante, de continuar dialogando e voltou a pular na frente da pilastra. Danilo o observou sem saber como ajudar e decidiu em insistir.

— Eu ajudo. O que tem ali — Falou calmamente e apontou o topo da pilastra... de onde estava não via nada.

Mi Cal-de-i-ro! — O outro garoto pontuou cada sílaba, mas não ajudou nem um pouco na compreensão de Danilo.

— Caldeirão — Uma voz veio do inicio do corredor e logo foi se aproximando — Ele está dizendo que o Caldeirão dele está lá.

Danilo virou-se para trás e viu Ylara se aproximar sorrindo. Ela estava com os cabelos presos de lado e carregava livros de história da magia. Sem mochila, sem capa e descontraída.

— É meio obvio... Caldeiro... Caldeirão — Ela usou um tom que fez o menino corar um tanto envergonhado.

— Agora que sei o significado, é mesmo parecido — Não conseguiu segurar o sorriso para ela.

A garota virou para o hermano e começou a conversar com ele. Rapidamente ela entendeu " Os Pratas jogaram o caldeirão dele em cima da pilastra e ele tem um trabalho de poções para manhã" Esclareceu para Danilo... Ah! Ele se sentiu um pouquinho estúpido. Talvez efeito do tom desaprovador que ela ainda utilizava.

— Você fala espanhol? — Perguntou surpreso.

"Mais ou menos. Depois de um tempo você acaba aprendendo" Foi resposta com um pouco de vergonha pelo elogio escondido.

Wingardium Leviosa — Ylara agitou a varinha e o caldeirão levitou acima da pilastra e os três puderam vê-lo, mas esse não era o feitiço certo para tira-lo lá de cima — Accio Caldeirão.

Agora sim deu certo... Bom, mais ou menos. O objeto metálico veio com tudo na direção da menina e a acertou em cheio no rosto a fazendo cair sentada. Danilo correu para ampara-la e o hermano correu para certificar se seu caldeirão estava bem.

Gracias! — Ele agradeceu e saiu sorridente.

— Tudo bem? — Danilo perguntou e tentando examinar o rosto da garota, mas ela desviava constrangida.

— Estou, estou— Ylara protestou e por fim ela o encarou. Se olharam por alguns instantes até simultaneamente começaram rir — Caramba, preciso melhorar nesse feitiço.

— Verdade — Ele concordou balançando a cabeça e ajudou a levantar— Tem certeza que está bem?

— Tenho — Levou a mão a testa onde um pequeno galo começava a surgir — Estou indo para  a biblioteca fazer o trabalho de História com o Lucas e estudar com o Reginaldo. Você quer ir? — As bochechas dela assumiram um tom levemente avermelhado, que mal se notaria naquele tom de pele... mas Danilo notou.

— Tudo bem. Reginaldo sarou do... seja lá o que ele tinha? — Lado a lado começaram a caminhar em direção a biblioteca.

— Não exatamente. É que estudamos com ele sempre que podemos, para ajuda-lo a acompanhar as matérias já que ele quase não frequenta as aulas— Ylara deu de ombros.

Depois da última palavra eles caíram no conhecido silêncio. Incrivelmente todos os assuntos que tinham na presença dos outros despareciam quando estavam a sós.

 Passaram por uma grande janela contornada por flores rosas de uma vegetação rasteira... A janela era uma linda vista! A janela e não a vista... situação interessante, não? Danilo pensava com aquela sua mania boba de pensar nas coisas de forma engraçada.

— Eu gosto de flores — Ylara comentou, parando de andar e encarando a janela — Onde eu moro tem muitas decorando as casas e as ruas. É uma vila muito bonita.

— Legal! Onde eu moro não tem flores, nem na primavera — O menino acompanhou o assunto se lembrando da sua vila de círculos, de pedras e de pinheiros.

— E o que tem lá? — Ela puxou o assunto com força não querendo deixa-lo morrer tão cedo.

— Velhos.

Danilo não sabia como descrever melhor Borough Clurican. Velhos. Idosos ocupavam quatro quintos da vila. E o lugar era cinza, torto, composto por pedras cinzas (não douradas) e madeira velha. Cheirava pinho. E somente dentro das casas, as vezes, floresciam umas plantinhas coloridas.

De repente o menino percebeu que em sua divagação acabou cortando o mínimo assunto que surgiu com Ylara, então se martirizando ele tentou reconstruí-lo:

— E o que tem na sua vila? Além de flores eu digo.

— Tem... uma vista incrível! Ela fica no topo de um morro — Sorriu em meio a pensamentos — Eu gosto de lá.

— Eu gosto da casa da minha avó — Danilo soltou por impulso... e era sincero — Cheira café e poções de limpeza.

— Você nasceu aqui? Desculpa a intromissão é que eu não entendo muito bem sua vida — Ylara pedia desculpas, mas estava estampado que estava curiosa por saber.

— Tudo bem. Eu nasci aqui e vivi por um tempo até minha mãe morrer. Quando ficou sem ela, meu pai achou melhor irmos para o país dele — Ele falou calmamente e não estava desconfortável por isso. Se sentia bem em falar com Ylara tanto quanto sentia com Lucas.

— O que aconteceu com ela? — A menina perguntou curiosa.

— Maldição da Vida — Danilo encolheu em dizer.

— Eu sinto muito. Um tio do meu pai morreu disso — Obviamente ela estava tentando emendar um fato desinteressante para tentar aliviar a tensão que provocou.

— E a sua família? —Ele buscou algo para desviar do atual assunto.

— Nada de mais: mãe, pai, irmãozinho —Ela abanou uma mão no ar.

— Pra mim parece bastante — O menino murmurou sem conseguir se segurar.

— Eles são legais! — Ylara correu em se corrigir assim que entendeu o que Danilo quis dizer — Meu pai é segurança das Marias Fumaças e minha mãe trabalha para a Vertente na Assistência de Bruxos Idosos.

— O que é Marias Fumaças?  — Rio do nome hilário.

— Linhas de transporte mágico. Elas viajam principalmente pelo litoral.

Oh! Ele estava pronto pra fazer mais perguntas, mas... Chegaram na biblioteca! Desistiu de suas duvidas quando avistou Lucas e Reginaldo sentados em uma mesa de pedra chapiscada.

— Oi, pombinhos — Lucas sorriu para eles quando aproximaram da mesa. Ylara lhe lascou um tapa na nuca — Ai! Desculpa, fia!

— Vai estudar com a gente, Danilo? — Reginaldo perguntou olhando curioso o garoto do primeiro ano.

— Se não se importarem. Não tenho nada pra fazer — O menino deu de ombros sentando ao lado do seu interrogador e de frente para Ylara e Lucas.

— Fica a vontade. Estamos vendo Época Colonial e a Fuga dos Donos — Lucas sorriu animado, seus olhos melados brilhavam de excitação.

— Ele ama História — Ylara disse para Danilo um pouco debochada, quase revirou os olhos.

Em seguida quedaram em silêncio. O primeiranista na companhia de três alunos do segundo, estava um pouco perdido no assunto dos estudos. Danilo pouco sabia da história do país e menos ainda da magia. Atualmente estudava em suas aulas de História da Magia, com a professora Filó, o descobrimento europeu das terras nomeadas América e os primeiros bruxos colonizadores.  Mas com um pouquinho de esforço ele conseguiu entender o que acontecia na Época Colonial e a fuga dos Donos.

Os donos. Foi o nome dado aos bruxos nativos das terras americanas. Isso Danilo já aprendeu em suas aulas. Eles eram muito semelhante, culturalmente, aos chamados "Índios" pelos trouxas. Se juntavam em tribos e viviam em semi-harmonia com as tribos não mágicas.

Pelo que Danilo conseguiu assimilar das informações avançadas que recebia foi: Os trouxas fundaram a Colônia. Então iniciaram as gigantescas plantações e precisaram de mão de obra barata. Tentaram forçar os nativos a trabalharem, mas eles se recusaram causando conflitos. Por fim os Colonizadores se deram por vencidos, foram para a África e trouxeram escravos. Essa é a parte trouxa.

Os bruxos. Eles seguiram o exemplo dos outros nas novas terras. Vieram como exploradores ao saberem da existência de magia no Novo Mundo. E quando chegaram descobriram um povo pacífico que faziam sua mágica através dos dedos e rituais. Isso foi visto como primitivismo pelos bruxos europeus que iniciaram os Ensinamentos aos Donos. Tentaram mostrar a eles como utilizar varinhas, vassouras e outros.

Os nativos, mesmo atraídos pelos curiosos objetos mágicos, ainda seguiam lideres fortes. E esses lideres tinham uma visão da situação que ia além da curiosidade. Usando seu imenso poder um desses Caciques invadiu a mente de um bruxo português e viu os verdadeiros planos deles com todos aquele "mimos". Eles queriam manipula-los, pois os viam como inferiores, e fazê-los trabalhar nos Engenhos Bruxos que produziam ingredientes para poções que eram escassos na Europa.

Assim aconteceu a Fuga dos Donos. Orientados pelos poderosos Caciques quase todos os indivíduos mágicos abandonaram suas terras, fugiram para as florestas e se esconderam em alguma dimensão enfeitiçada que nem com muitos esforços os bruxos europeus conseguiram encontrar. Depois disso os donos raramente foram vistos.

— Os donos ainda existem? — Danilo perguntou curioso com as novas informações.

— Acredita-se que sim — Lucas emanava algo próximo a felicidade ao explicar dramaticamente — E que eles assumem formas de animais para espreitarem fora de suas ocas invisíveis e vigiar cada passo que damos. E a União não consegue ter nenhum controle deles.

— São animagos? — Os olhos do menino brilharam curiosos.

— Os donos tinham muita ligação com a natureza. Segundo os livros a maioria deles eram animagos — Ylara quem respondeu e muito, MUITO, menos animada que o amigo ao lado.

 — São — Corrigiu Lucas.

— Eram! Não se tem prova nenhuma da atual existência deles, Luquinha — A garota revirou os olhos.

— Eram. São. Tanto Faz! Alguém pode me explicar essa parte dos conflitos? — Reginaldo pronunciou no momento que Lucas fez menção de contra-argumentar com a amiga.

Os quatro estudaram por mais algum tempo. Por fim estavam cansados e deu o horário de recolherem-se. Danilo chegou em seu quarto no corredor das carpas extremamente cansado, devido ao incontáveis lances de escadas, e se jogou na cama sem nem ao menos tirar a capa do uniforme.

— Oi. Por onde esteve? — Tião estava deitado em sua cama na extremidade oposta lendo uma carta.

— Na biblioteca — Danilo virou o rosto na direção do colega e o encontrou com uma expressão incomunmente triste — O que foi?

— Meu pai — Suspirou — fez me dispensarem das aulas de Estudo dos Trouxas — Danilo não soube o que dizer — Não que fosse a matéria mais interessante, é um pouco, mas isso é tão... tão ele. Eu sei lá.

— Você não pode continuar indo mesmo assim?

— Meu irmão estuda aqui, lembra?  — Na verdade não. Danilo nunca tinha visto "esse irmão" então frequentemente se esquecia dele — E também a diretoria não me permitiria continuar indo depois de receber o pedido direto do meu pai.

— Eu sinto muito

— É, pelo menos ele não disse nada sobre o Lucas.Talvez ainda não saiba que sentamos juntos nas refeições — Tião apontou a carta curva em suas mãos.

— Hum... Não fica mal. Tudo que eu aprender sobre os trouxas vou te contar — Sorriu tentando animar o colega.

Sebastião apenas assentiu com um movimento, sorriu triste, jogou a carta no criado mudo e se ajeito embaixo das cobertas. Curiosamente naquela noite fazia frio e o céu estava cinza avisando da chegada das tormentas.

Pra lá da meia noite a chuva caiu, estrondosa e batendo forte contra o lago, as estufas, as árvores e as pedras da escola. Ela' umedeceu o ambiente mais ainda e trouxe a tona o cheiro gostoso de mata.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, comentem :)
Esses desenho é da Ylara.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Minha terra tem palmeiras..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.