Minha terra tem palmeiras... escrita por Tyke


Capítulo 12
Olhalá o hipogrifo, o hipogrifo olhalá...


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da festinha de carnaval



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Era lindo!

Fitas coloridas flutuavam no ar, brilhando, e decorando de uma ponta a outra toda a área do campo de voo. Vagalumes bem treinados, pela professora Maldilda, voavam ao redor iluminando o ambiente. Em uma canto havia sido colocado uma mesa de comes e bebes. No outro, um largo e chamativo palco de madeira decorado com penas coloridas e vasos de plantas dançarinas.  E próximo a estátua do Imperador tinha uma câmera fotográfica enfeitiçada, bastava parar na frente dela e se posicionar que ela batia sozinha.

Puts!... Danilo sorriu descontrolado ao ver a estátua do Imperador vestida com um tutu cor-de-rosa, uma pluma laranja e uma mascara azul brilhante. Seja lá quem fez isso merecia um troféu!

Os alunos da escola povoavam o campo de voo. Grande maioria do Primeiro Ciclo, mas ainda haviam bastante dos mais velhos. Quase todos fantasiados e conversando uns com os outros por cima da música animada que tocava. Ylara, que estava no palco ajudando com últimos detalhes de decoração, avistou os quatro garotos e correu feliz na direção deles.  Ela cumprimentou cada um deles radiantemente alegre, o que não combinava nada com sua fantasia sinistra de Pisadeira.

— Você ficou muito bem — Ela se dirigiu para Danilo, sobre o fantasia de jornal, e ele sorriu sem graça.

Juntas, as cinco crianças caminharam pelo campo aberto (Reginaldo estava na enfermaria como sempre). Danilo observava tudo e todos completamente admirado, ele não precisava se lembrar para ter certeza que as festas da vila onde morou não chegava aos pés daquela. Um garoto fantasiado de pão de queijo passava arrancando risadas pelo caminho. Um outro, de pelo menos quinze anos, fantasiado de Professor Florêncio andava de um lado ao outro dizendo em uma imitação muito fiel do docente: "Poção de babosa é pro cabelo ficar bunito" e passava as mãos pelos cabelos copiadamente fieis aos do professor.  Danilo avistou Amanda, a neta da amiga da vovó, no meio de algumas garotas, todas com vestidinhos de babados e mascara de gliter. Ela dava sorrisinhos junto com as amigas e olhadelas surtidas na direção de um garoto vestido de vampiro... Felipe. E este nem percebia.

— Danilo! — Felipe encontrou o primo com o olhar e assim veio até ele acompanhado por Guilherme, aquele, o Auxiliar — Me desculpe, eu devia ter te avisado sobre a festa, não consegui te encontrar esta semana... Mas pelo visto seus amigos cuidaram disso.

— Não muito bem, devo dizer — O menino falou se referindo ao fato de ninguém ter nem sequer comentado sobre a festa antes dela quase estar ocorrendo.

Lipe sorriu, todos ali sorriam com uma imensa facilidade...devia ser feitiço da festividade... e depois desviou a atenção para Ylara. Seu sorriso morreu e a boca se abriu inserta.

— Você está de Pisadeira? — Perguntou e Guilherme ao lado riu audivelmente.

— Sim — A garota respondeu envergonhada por atrair a atenção dos mais velhos.

— Nossa! Que demais! — O Auxiliar da Branchela abriu um sorriso imenso para a menina.

— Obrigada! — Ela sorriu também e Danilo sabia que o rosto dela devia estar ardendo de quente.

Depois que os alunos do Segundo se afastaram para perto do grupinho de Amanda, que não paravam de dar risinhos. Lucas se virou para a amiga com um sorriso malicioso, pronto para fazê-la pegar fogo de tanta vergonha, e falou em tom forçado:

Hmmmm! Ele tá tão na sua!

— Ah, cala a boca! — E deu-lhe um tapa na cabeça, mas acabou por acompanhar a risada dele.

— Ô pêga! Mas que Pitéu! — Tião exclamou atraindo a atenção dos outros.

Danilo seguiu o olhar do pequeno barão de imenso bigode. Encontrou uma garota com um longo vestido rosa bem justo na cintura, os cabelos louros arrumados em uma trança elaborado, no topo da cabeça uma tiara, luvas brancas nas mãos e a maquiagem impecável a deixava com um rosto perfeito. Por onde a princesa passava arrancava suspiros. E para o horror de Danilo aquela era Grimondona. Estava bonita? Sim, ela era. Mas ele não podia achar isso de uma pessoa tão ruim, certo?...

— Você está falando sério? — Ylara cruzou os braços e lançou uma expressão azeda para Tião.

— Cara, que nojo! — Lucas interviu com o rosto contorcido de uma forma similar ao da amiga.

— O que? Sei que ela encasqueta com vocês, mas não deixa de ser bonita — Ele deu de ombros. Por mais que não quisesse admitir, Danilo concordava, mas não deixou isso transparecer. E Pablo apenas balançava suas orelhas de lobos, alheio a toda a situação. Não tinham muitos castelhanos na festa.

— É impressão minha ou você só diz asneira? — Lucas riu dando um ponto final no assunto com a pergunta retórica.

— Calem a boca! — Branchela gritou de cima do palco e imediatamente conseguiu o que queria e atraiu a atenção de todos. Ela estava fantasiada de... Branchela. E usava um feitiço amplificador para falar — Antes de mais nada tem uma pessoa que gostaria de falar com vocês.

A Inspetora torcia o nariz, fava com desdém e parecia bem infeliz com a festividade. Ela deu um  passo para o lado dando passagem para uma mulher de longo vestido colorido, cabelos soltos e trançados junto a tiras de tecido coloridas.

— Boa noite, meninos e meninas! É uma honra estar na presença de vocês novamente. Para os alunos novos que ainda não me conhecem, meu nome é Paloma e podem me chamar assim — Ela sorriu simpática para todos e no fundo do palco Branchela revirou os olhos — Infelizmente não posso estar presente sempre na vida de vocês, mas faço questão de pelo menos nas festas comparecer. É algo que não perco de maneira alguma: ver vocês assim felizes, radiantes, criativos... Certo, Vinicius? — Olhou direto para o garoto do Segundo fantasiado de Florêncio.

— Poção de babosa é pro cabelo ficar bunito! — Ele gritou do meio de uma aglomeração de alunos fazendo os demais rirem, igualmente como a mulher. O professor Florêncio que estava em um canto no palco fechou a cara desgostoso.

— Muito bem! Criatividade é tudo. Onde eu estava? Ah sim, vendo vocês assim me lembro da época em que eu andava pelos corredores junto com minha melhor amiga e vestindo um uniformezinho laranja...Ah, bons tempos! Vou contar algo a vocês que nunca disse antes. Eu fui criada em um família que dizia que festas são perda de tempo, então quando cheguei aqui e me deparei com essa abundancia de festividades, eventos, campeonatos, apresentações, clubes... eu fiquei muito contrariada! Ninguém da minha família tinha estudado formalmente antes e se soubessem como era Castelobruxo me levariam para casa imediatamente.

"Então, eu fui o mais rápido possível até a diretora daquela época e a questionei... O que Benedita Dourado me disse carrego para o resto da minha vida. Nunca esquecerei suas exatas palavras: 'Do que adianta meter a cara em livros mofados se você lê frase atrás de frase e no segundo seguinte esquece toda a informação? É mais fácil aprendermos uma azaração do que uma conjuração, não é? — Nesse momento diversas risadas ecoaram pelo campo — Aprender não deve ser uma obrigação chata, porque aprender é divertido. Por tanto uma escola de verdade foi feita para se divertirem. Assim, cada festa é para fazer-lhes sorrir, cada jogo de quadribol ou corrida de vassoura para fazer-lhes torcer e cada clube extra para vocês escolherem fazer aquilo que gostam. Então, meu anjo, saia agora dessa sala e vá se divertir!'."

Palmas empolgadas foram crescendo até tomar por completo o ambiente. Assobios foram ouvidos e gritos de aprovação também. Em meio a baderna, Paloma sorria alegremente e agitava as mãos indicando para diminuírem o volume. Assim que os alunos se aquietaram ela continuou:

— Obrigada! E isso serve para vocês também. Então, agora, divirtam-se, crianças! Pois hoje é o dia que podem ser livres.

A mulher se afastou do centro do palco e as palmas tomaram conta novamente. Vinicius gritava sem parar o mais alto que podia "Babosa é bom! Babosa é bom" . Branchela voltou a tomar o centro da estrutura de madeira, olhou feio para os alunos e imediatamente eles se calaram.

— Agora, a apresentação de luzes do Clube de Arte da Tia Maricota — Falou o mais desanimada possível.

O grupo de alunos mais velhos entraram por ambas as laterais do palco vestidos com penas coloridas e mascaras que lhes cobriam o rosto inteiro. Empunhavam a varinha e assim que uma musica de tambor começou a soar eles disseram em uníssono "Lumus". As varinhas se acenderam, os vagalumes envolta do palco apagaram suas luzes escurecendo o ambiente e os alunos começaram a dançar acompanhando o ritmo marcante dos tambores. Os movimentos dos braços faziam as luzes das varinhas riscarem o ar. Sincronizadamente eles faziam círculos, espirais, e eventualmente alguns desenhos simples. De repente eles gritaram "Color"  e cada varinha assumiu uma tonalidade diferente. Todos vibraram admirados e aplaudiram fazendo estardalhaço. Quando os tambores cessaram, os dançarinos pararam, pronunciaram "Nox" e os vagalumes voltaram a acender.

Tia Maricota, que era o fantasma de uma antiga cantora de cabaré, se adiantou na frente de seus dançarinos e tomou os agradecimentos, curvou-se sorrindo como se estivesse revivendo seus dias de glorias. Danilo ainda estava de queixo caído para a apresentação. Nunca tinha visto a magia ser usada daquela forma!... Ele viu a mulher do discurso, Paloma, cumprimenta cada um dos alunos que fez a apresentação... Aquele nome lhe era familiar. Voltou-se para Lucas e perguntou apontando a mulher:

— Quem é ela?

— A diretora. Você quase nunca vai ver ela.

Oh! Danilo observou a mulher um pouco mais, reparando o quanto parecia nova. Devia ter a idade da Inspetora ou um pouco menos. Tinha idade, mas não tanto e sua alegria ajudava-a parecer mais nova.

— Diacho! — Tião exclamou somente para Danilo.

— O que foi?

— Meu irmão está me olhando — Apontou discretamente com a cabeça um rapaz bem ao longe  — Não sabia que ele vinha! Ele odeia Carnaval.

— Mas qual o problema? — Danilo serrou a sobrancelhas confuso... o que tinha de mal o irmão o ver?

— Lucas... — Tião sussurrou bem baixinho e o outro mal ouviu.

Não foi necessário mais para saber o significado... Danilo olhou preocupado na direção do rapaz com vestes pretas formal, parecia um deslocado no meio do povo com fantasias coloridas. Não pode ver com detalhes o rosto dele, mas sabia que os encarava incessantemente. Do lado dele estava...Frio na barriga! Era Grimondana e ela também os encarava sorrindo presunçosa. Coisa boa aquilo não iria significar, o menino sabia... Por que ela faria isso, caramba? Podia odiar Lucas tanto assim?... Havia algo estranho nela, Danilo não pode deixar de notar... Ah sim! Marco, ele não estava na festa.

O irmão de Sebatião se mexeu e Danilo pensou que ele viria na direção deles. Mas não. O rapaz deu a volta pelo campo indo em direção ao castelo de pedras... Ufa! Por enquanto...

— A comida está servida — Professora Joselina, de poções, anunciou de cima do palco — E mais tarde será feito a votação de melhor e pior fantasia!

Um bocado de gente correu para a mesa de comida, Tião e Pablo entre elas. E um outro tanto começou a dançar animados quando Tia Maricota começou a cantar uma marchinha acompanhada pelo Clube de Musica. As plantas dançantes do palco se movimentavam ondulamente alegres.

 

Olhalá o hipogrifo

O hipogrifo, olhalá.

Cuidado!

Cuidado, dona menina

a criatura vai pousar.

 

Na minha cabeça não.

Na minha cabeça não.

Sai pra lá! Sai pra lá!

 

Lucas pegou Danilo pelo braço e o levou até o meio das pessoas que dançavam. Não tinham passos ou coreografia para aquilo, era apenas um monte de gente pulando e improvisando. O menino de jornal sentiu uma vergonha imensa... Nunca! Nunca antes tinha feito algo do tipo. Não havia danças em Borough Clurican! Assim ele se acanhou e permaneceu parado apenas observando Lucas e Ylara darem as mãos e pularem sorrindo. Eles estavam tão felizes! Danilo sorriu também. De relance ele pode ver Felipe dançando com Amanda.

 Sem aviso prévio os amigos tomaram-lhe as mãos e o fez fazer parte de uma roda. Sem escapatória o garoto acanhado foi se envolvendo e quando deu por si pulava juntos aos outros.

 A festa foi animado e duraria até altas horas. E a Pisadeira? Como voltariam aos dormitórios? Graças a Merlin! Os amigos disseram que nas noites de festas não a deixavam sair... Aliviante!

Finalmente chegou a hora de anunciar o vencedor da Melhor Fantasia. Foi feito uma votação com os alunos e no final foi anunciado:

"Em primeiríssimo lugar: Vinícius e sua incorporação de Professor Florêncio."

O garoto subiu ao palco lançando piadinhas com babosa e outras plantas. Ele recebeu o trofeuzinho de metal do próprio professor chacotado  e este acabou se rendendo a um sorriso divertido.

"Em segundo lugar e terceiro: O pão de queijo e a Pisadeira!"

Ylara e o jovem pão subiram para pegar seus trofeuzinhos. Depois foi anunciado os vencedores da Pior Fantasia: em primeiro lugar na votação estava Branchela. A Inspetora ficou evidentemente furiosa, deu as costas saindo do palco e recusando seu trofeuzinho. A diretora Paloma se adiantou e disse para quebrar o clima:

— Nem todos sabem vencer — Os alunos riram acompanhados pela diretora — Em segundo e terceiro lugar de pior fantasia: A estátua do Imperador.

A festa ainda continuaria depois, mas Danilo se sentia muito cansado. Então junto com Ylara e Pablo subiu para os dormitórios. No caminho ele conversava sem parar com a menina sobre a apresentação do Clube de Artes... agora eles conseguiam manter assunto, afinal já se consideravam amigos.

— Aquele negocio das cores! Eu nunca tinha visto! — Danilo arregalava os olhos para dramatizar o quando ficou impressionado. A garota riu.

— Não é muito usado, sabe? Não tem muita funcionalidade iluminar um lugar de verde, por exemplo.

Chegaram no penúltimo andar. Ylara foi para o dormitório feminino e os dois garotos para o masculino. Pablo e Danilo caminharam juntos, em silêncio, até chegar no inicio do corredor das carpas. O de jornal olhou o outro sem saber muito o que fazer, então desejou:

Buenas noches! — Tião lhe havia ensinado algumas palavrinhas básicas de espanhol. Pablo abriu um sorriso enorme com seu focinho de transfiguração.

— Boa noite! — Respondeu e deu as costas seguindo reto pelos corredores.

Danilo riu consigo mesmo, pensando no quanto aquilo foi incomum. Assim,  esgotado de tanto pular com seus amigos na festa, ele seguiu o caminho até o quarto. Jogou seu chapéu de soldado em qualquer canto e se jogou na cama caindo no sono, mesmo com o som das marchinha vindo do lado de fora.

 


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Notas finais do capítulo

Oi meu leitores. Todos ( até mesmo os que não comentam). Eu amo vocês!
Essa fic não é a mais visualizada do mundo, sério, é muito pouco. Mas mesmo assim tem os que se interessam por essa história louca que não tem os personagens de HP, que não tem os shipps de HP, que não tem nem Hogwarts...
Enfim, obrigada por lerem ela, por acompanhar, favoritar e comentar. Me deixa muito feliz e me faz continuar. Eu gosto de continuar. Tenho tanto para contar ainda. Danilo só tem 10 anos! Tem muito a acontecer... E são vocês que fazem seguir em frente.
Um beijo a todos.

*Desenhinho do Luquinha



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