ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 6
CAPÍTULO 5 | A Terrível Ilha dos Shamargs


Notas iniciais do capítulo

Eril e Kore partem para a inóspita ilha dos shamargs, onde o clima, o ar e até mesmo a gravidade são estranhas. A busca é pelo membro mais poderoso do time, o invulnerável Radagart. Conseguirão nossos heróis recrutá-lo?



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A dupla prossegue seu caminho por dois dias. Passam por uma pequena cidade onde se hospedam à noite. Lhes é oferecido montaria, porém, Kore nega. Os animais não iriam sobreviver na terrível ilha para onde se dirigiam.

Após uma pausa para o almoço, eles caminham por mais uma hora, até que avistam a ilha.

Uma única ponte de pedra, extremamente reforçada, liga o continente à ilha. A ponte é larga o suficiente para passar um exército e bem extensa, levando um total de quinze minutos de caminhada, para atravessá-la. A medida que cruza a ponte, Eril parece ficar mais cansada. O suor escorre por sua testa e ela percebe que não se trata de um cansaço normal, seu corpo está pesado e a respiração mais difícil. Cada vez que puxa o ar, seus pulmões parecem queimar. Ela olha para Kore e percebe que ele está estranhamente feliz.

— Só um louco acharia divertido estar em um lugar desses. — diz a elfa.

— Não posso evitar. É meu espírito de luta, falando. Será que o Radagart vai cooperar ou vai nos esmagar como ervilhas? Os shamargs são imprevisíveis.

— Se isso acontecer, essa viagem terá sido bem curta.

O clima esfria rapidamente, chegando ao ponto de se tornar visível o vapor saído da respiração de ambos. Eril se encolhe de frio, já Kore, nem tanto. A resistência dos monges à mudanças climáticas é invejável.

Após terminar de cruzar a ponte, a dupla avista uma pequena loja, afastada de tudo, solitária. Analisando, nota-se se tratar de uma loja de roupas, um tanto conveniente para a situação.

Ao se aproximarem, o dono da loja, um anão careca, gordo e forte, vestindo roupas de inverno feitas de pele de animal, com um largo sorriso no rosto, os saúda.

— Bem vindos à ilha de Tuonela, forasteiros. Eu sou Kallo Koponya, da rede de lojas Koponya. Vejo que necessitam dos meus produtos. Entrem, entrem. — diz o anão, apontando para a loja.

Kore e Eril adentram no estabelecimento, onde o frio é um pouco mais brando, olham ao redor e avistam diversos tipos de roupas, algumas para frio e outras leves, para dias quentes.

— Muito conveniente uma loja aqui. — diz a elfa, agradecendo pela sorte que teve.

— Apesar da fama ruim desta ilha, muitos viajantes vem para cá, levados pela curiosidade. — explica o anão, passando a mão pela longa barba negra. —  Como o clima aqui muda muito, quase sempre eles estão despreparados e é aí onde eu lucro. Nossas lojas estão sempre espalhadas nos pontos mais convenientes, estrategicamente posicionadas.

— Isso é ótimo. Assim não precisaremos procurar por uma loja no centro da cidade. — diz Eril, enquanto escolhe um casaco.

— Não iria mesmo encontrar, milady. — informa o vendedor gorducho. — shamargs não usam roupas de inverno. Eles não precisam. Aquela couraça que cobre sua pele os protege das mudanças climáticas.

— Entendo, agora percebo o quão estrategicamente posicionada está sua loja. Mas me diga, como lida com o ar tóxico?

— Pode não parecer, mas sou muito forte. Ainda sim, mesmo para mim, os primeiros dias foram difíceis. Fiquei doente por três vezes, antes de me acostumar com esse ar. Aconselho que  não fiquem por muito tempo. Logo se vê que vocês não são pessoas comuns, ainda sim não fiquem mais do que uma semana.

A maga sinaliza com a cabeça em afirmação e volta às compras. Eril escolhe um casaco de pele, comprido até a altura das canelas e extremamente quente, enquanto Kore fica com um casaco comum, mais leve. O monge, já vestindo o casaco, soca o ar algumas vezes, testando se a vestimenta iria restringir seus movimentos. Satisfeito, ele paga ao vendedor, com algumas moedas de bronze.

Devidamente protegida do frio, a dupla parte para a cidade, no coração da montanhosa ilha, passando por uma estrada estreita entre dois enormes paredões rochosos e cobertos de neve.

Em pouco tempo eles avistam a enorme cidade. Ela é composta basicamente de casas pequenas e mal feitas, todas de pedra com portas e janelas de madeira, quase todas iguais.

Mesmo com a neve, é possível já avistar alguns habitantes caminhando pela rua.

Os shamargs possuem a pele cinza, apenas dois furos no lugar do nariz, suas orelhas são protuberâncias com um buraco no centro e possuem cabelos com cores incomuns como azul, verde e roxo. Todos os shamargs possuem a musculatura extremamente definida, apesar dela ser um pouco diferente da musculatura dos humanos, possuindo músculos que cobrem partes mais desprotegidas nas demais criaturas, como costelas e coluna. A vestimenta dos shamargs consiste em calça e peles de animais, que pouco cobrem a parte superior do corpo, mesmo com o frio intenso. A grande maioria anda descalço.

O chão, coberto com uma fina camada de neve, é irregular e pedregoso.

Eril está com uma aparência abatida, seu cansaço é aparente.

— Mas que lugar! — repudia a elfa.

— É mesmo. É perfeito para treinar. — responde Kore, entusiasmado, interpretando erroneamente a frase de Eril.

— Precisamos conseguir informações. — prossegue, ignorando o comentário do monge. — Acho que devemos começar por um lugar de maior trânsito de pessoas. Esse tipo de gente deve ter uma taverna ou coisa do tipo, onde se reúnem.

Kore acena com a cabeça em afirmação e ambos seguem para o centro da cidade.

Todos os cidadãos avistados pela dupla são shamargs, ainda sim, a presença da dupla não parece incomodar ou sequer chamar a atenção dos demais, que continuam seus afazeres, praticamente todos envolvendo algum esforço físico.

No caminho pode-se ver dois shamargs carregando pesadas pedras como se elas mal tivessem peso, amontoando-as em um canto, preparando para construir uma casa. Outro passa carregando uma árvore enorme, sozinho, apoiando-a no ombro. Ao longe, o que parece ser o final de uma briga, onde um Sharmag esmurra outro, que está caído no chão, já derrotado. Próximo à eles, uma casa com uma das paredes destruída e uma árvore próxima foi derrubada. Também há três pequenas crateras no chão, próximos da árvore.

— Eles parecem bem violentos. — sussurra Eril.

— Você viu aquela destruição? — pergunta Kore. — Acho que foram aqueles dois caras brigando que causaram. Essa gente é forte.

— E perigosa.

Já um tanto zonza, por causa do ar tóxico da ilha, Eril esbarra em um shamarg à sua frente, que se volta para ela com um olha amedrontador. Eril fica estática por um instante.

— Me desculpe! — clama a elfa.

O shamarg fita seus olhos por um instante e então seu semblante muda totalmente para um bem humorado sorriso.

— HÁ, HÁ, HÁ! Não foi nada. — responde o brutamontes, enquanto da um tapa nas costas da garota, quase derrubando-a no chão. — O que dois vermes fazem por aqui?

Vermes, para os shamargs, não é exatamente um xingamento, eles utilizam esse termo para se referir à qualquer pessoa que não seja de sua raça, comparando sua força física à de vermes.

— Estamos procurando por uma pessoa. — responde Eril, com uma das mãos atrás do ombro direito, onde o Sharmarg lhe golpeou. — Procuramos pelo grande Radagart.

— HÁ, HÁ, HÁ, HÁ! Aquele cara é demais. Mas tenho um pouco de pena dele, é tão forte que nem deve se divertir numa luta. Quem ele enfrenta se quebra como um graveto.

— Sabe onde podemos encontrá-lo.

— Não vejo ele à muito tempo, mas a cidade é grande. A casa dele fica pra lá. — apontando para frente, em direção à um rochedo. — É fácil de achar, é a única casa com flores.

— Obrigada!

A dupla segue cidade à dentro, na direção que lhes foi orientada, caminhando por pouco mais de quarenta minutos. Ao se aproximarem do rochedo eles procuram ao redor e, rapidamente, avistam uma casa com um canteiro de flores na parte de trás, a casa parece muito mais bem cuidada do que as demais.

Eril bate à porta e um shamarg alto mas mais magro do que a maioria atende, sua expressão é muito gentil.

— Em que posso ajudá-los? — pergunta o esguio shamarg.

— Olá! Desculpe o incômodo, mas estamos procurando por Radagart e nos apontaram essa casa como sendo a dele.

— Hum, entrem por favor. — convida, respeitosamente.

Eril e Kore entram na casa que é muito bem decorada por dentro. Observando o olhar de surpresa dos visitantes, o anfitrião explica:

— Eu sei, não é muito comum uma moradia tão decorada vindo de uma raça guerreira como a nossa. Mas eu sou um pouco diferente da maioria. Ao invés de gastar meu tempo em brigas desnecessárias, prefiro um bom livro ou meu passatempo favorito, a jardinagem.

A dupla se entreolha, estranhando a situação.

— Eu me chamo Ogrod, um dos irmãos de Radagart.

— Hum, logo vi que não poderia ser você. — diz o monge, sem modos.

— Somos quatro irmãos ao todo, ou pelo menos éramos. Um de nós morreu, enfrentando um exército inteiro sozinho.

Enquanto explica, Ogrod agarra um regador improvisado, talhado na pedra, e rega suas flores.

— Nosso pai era um guerreiro fortíssimo, um dos mais fortes da cidade, mas nossa mãe era meiga e inteligente, contrastando com a personalidade do restante da cidade.

— Meiga e inteligente? — estranha Kore. — Bom, se me dissessem que existia um shamarg assim, antes de conhecer você, eu diria que era mentira.

— Na verdade, nossa mãe era uma elfa.

A dupla fica boquiaberta por algum tempo, pensando no que uma elfa teria visto em uma criatura violenta e bárbara como aquela?

— Qualquer raça, cruzada com um shamarg resultará em um shamarg, com excessão dos humanos. Mas não existe um meio shamarg meio humano, ou sairá humano ou sairá um shamarg.

— Você, claramente, puxou a personalidade da sua mãe. — diz o monge.

— Parece que sim, mas isso acabou me isolando um pouco dos demais. Minha infância não foi nada fácil. Falando em hereditariedade, uma coisa bem interessante aconteceu na nossa família. Dos quatro irmãos, houve uma combinação exata das características dos nossos pais. Eu puxei a inteligência de minha mãe e também a força dela, que era quase nenhuma. — conta Ogrod, com um sorriso no rosto. — Radagart puxou o melhor de ambos, a força de nosso pai e a inteligência de nossa mãe. Dabba puxou a força de nosso pai e a inteligência dele também. Digamos que ele não era muito inteligente. E, por fim, Voughan, que ficou com a pior parte.

— Inteligência do pai e força da mãe. — completa Kore. — Ou seja, esse é um fracote.

— Parece que sim.

— Então é isso? Radagart é um shamarg inteligente e forte?

— Não exatamente. Isso foi apenas modo de dizer. A força do Radagart vai muito além do que eu consigo lhes explicar com palavras. Ele nunca precisou se esforçar em uma luta. Um único golpe e derrotava qualquer oponente. Com seu punho ele pode partir montanhas. Algo surreal.

— Partir montanhas? — pergunta a elfa, espantada. — Isso também é “modo de dizer”?

— Não, ele realmente pode partir montanhas… literalmente. Mas isso ainda não é o mais impressionante.

— E o que seria mais impressionante do que partir montanhas? — pergunta Kore.

— Como vocês sabem, nossa raça possui uma couraça muito resistente que cobre nossa pele. Essa couraça nos protege de ataques físicos e até de mudanças climáticas, porém, se receber um golpe muito forte, ela quebra, deixando de absorver os próximos impactos. Essa couraça, no meu irmão Radagart, é totalmente diferente. É literalmente indestrutível e já tivemos provas disso. Ele já foi alvejados pelos mais diversos tipos de ataques, golpes poderosíssimos e saiu sem um arranhão sequer. Ele é realmente invulnerável.

— E onde ele está? — pergunta o monge, curioso em conhecer tal guerreiro.

— Infelizmente não o encontrarão nesta cidade. Ele partiu à quase dois anos e fiquei sabendo que hoje trabalha para o Império Mundial.

O desânimo cai sobre Eril que, mais uma vez, não conseguiu recrutar a pessoa de sua lista.

— Droga. Se ele está com o Império Mundial então está fora do nosso alcance. Vamos embora, Kore.

— Espera. Onde está o seu outro irmão? — pergunta Kore ao shamarg.

— Deve estar na taverna do caolho. — se dirigindo até a janela e então apontando para um casarão ao longe. — É ali.

— Certo, vamos atrás dele agora mesmo.

Eril mal tem tempo de se despedir e Kore a empurra para fora, indo em direção à taverna. O gentil Ogrod fica em sua porta, acenando com um sorriso no rosto.

— Hei, porque estamos tão apressados? — pergunta a elfa.

— O irmão mais forte, depois do Radagart, ainda está por aí. Vamos ver o quanto ele é forte.

— Ogrod disse que um deles morreu enfrentando um exército sozinho, e se quem morreu foi o mais forte?

Kore fica pensativo por um instante. — Não tinha pensado nisso.

— Ainda podemos voltar e perguntar.

— Não, tem outra forma de descobrir.

A dupla finalmente chega na taverna. Homens e mulheres shamargs comem e bebem, enquanto alguns fazem queda de braço na mesa. Tudo no local é reforçado ou feito de pedra de forma bem rústica.

O monge sobe em uma mesa, ficando em pé sobre ela.

— Procuramos por um shamarg chamado Dabba.

Ninguém dá a mínima para o humano. Kore pensa por um instante e decide usar o que os shamargs mais gostam: Lutar.

— Vim aqui desafiar Dabba para uma luta.

Alguns olham para Kore mas ainda sim não dão importância, continuando com o que estavam fazendo. Eril apenas observa pela porta, ficando do lado de fora da taverna.

O monge, então, tenta uma medida desesperada. Ele afasta os pés, se concentra, e então golpeia a mesa a qual está em cima, partindo-a ao meio.

— Eu disse que vim desafiar Dabba para uma luta.

Desta vez ele finalmente ganha a atenção, ainda sim, a reação dos shamargs não é de surpresa. Tudo indica que estão acostumados com esse tipo de destruição.

— Dabba, é? — diz um shamarg, sentado em frente ao balcão. — Você veio procurando briga e parece que acabou de encontrar.

Ele é alto e levemente mais magro que os demais, mas igualmente musculoso. Apesar de esbelto, seus ombros são largos. Seus cabelos são azuis e amarrados para trás, iniciando um fino e longo rabo de cavalo, que começa entre a nuca e o topo da cabeça e se estende até metade da canela. Ele veste apenas uma calça marrom e polainas de pelos, além de uma espécie de saiote de peles. Não usa sapatos, expondo seus pés com seus quatro dedos, como todo shamarg. Em seus pulsos à uma pulseira grossa, parecendo ser de algum tipo de metal escuro, um pouco diferente do convencional e, em seus tornozelos, à um adorno praticamente igual aos dos pulsos.

O homem se aproxima de Kore, que ainda está em cima dos escombros da mesa. O monge decide descer para encará-lo e, ao fazê-lo, percebe como aquele shamarg é bem grande quando visto de perto.

Um suor escorre em sua testa e ele engole seco, mas pelo menos encontrou quem ele queria.

— Então te encontrei. Precisamos conversar.

Alguns poucos instantes após as palavras de Kore, o monge é arremessado para fora da taverna, atravessando e quebrando uma das janelas do local. Ele cai no chão mas em seguida se levanta, com uma das mãos nas costas, visivelmente dolorido.

Os olhos de Eril se arregalam quando o shamarg sai porta à fora atrás de Kore.

— Calma aí! — implora o monge. — Deixa eu explicar. Só precisava encontrar você.

— E encontrou. — diz o brutamontes, enquanto avança para atacar novamente.

Kore, desesperado, decide fugir e o shamarg o persegue, enquanto os outros vibram ao assistir o espetáculo.

Apesar do tamanho, o shamarg é veloz e Kore parece ter dificuldade para despistá-lo.

O monge corre em zigue-zague em meio às árvores, mas o shamarg simplesmente às ignora, atropelando e derrubando as árvores e a vegetação em seu caminho.

Mais à frente ele tenta despistar o grandalhão entrando em uma casa e então saindo por uma janela na parte de trás da mesma, porém, o shamarg simplesmente derruba a parede, como uma locomotiva desgovernada.

Avistando o paredão rochoso, Kore tem um ideia. Com uma série de saltos calculados, escala rapidamente um pedaço da muralha natural de quase vinte metros, chegando em uma parte plana, coberta de neve. Achando estar em segurança, ele cessa a corrida e olha para trás, porém, com um único salto, o shamarg vence a enorme altura, aterrissando em sua frente.

— Aí já é sacanagem. — desiste, impressionado. — Calma aí, grandão, não quero lutar com você.

— Mas vai. — responde, já atacando.

Em um misto de agilidade e desespero, Kore desvia dos socos desferidos pelo brutamontes. Após desviar de um soco mais aberto, Kore decide contra-atacar e o golpeia com um forte soco na mandíbula, porém, é como se ele socasse uma parede sólida. O punho de Kore parece doer e o shamarg sequer parece ter notado que foi golpeado, avançando contra o oponente golpeando com os punhos diversas vezes enquanto o monge apenas desvia. Até que, então, um turbilhão de vento atinge o chão, próximo à eles, com força, trincando o solo. Ao que o vento se dissipa se pode ver que é Eril.

— Já chega, Dabba. Não viemos lutar, mas podemos lhe proporcionar ótimas batalhas para o lugar onde nós iremos. — com isso, prendendo a atenção do shamarg.

— Do que vocês estão falando?

— Precisamos de sua ajuda em uma missão. Você nos empresta sua força e, em retribuição, terá tantas lutas quanto quiser. — dialoga a elfa, tentando persuadi-lo. —  Tenho certeza que você irá … se divertir muito.

Por menos de cinco segundos o shamarg faz uma pausa para pensar e então da sua resposta: — Tudo bem, eu vou com vocês.

Eril e Kore estranham a facilidade com que ele foi convencido e agradecem a sorte que tiveram.

Os três acabam voltando para a casa de Ogrod, visto que a noite começava a cair. O anfitrião prontamente oferece quartos para que passem a noite. Como não há cobertas na casa dos shamargs, tanto Kore quanto Eril dormem usando suas roupas de frio, compradas na entrada da ilha, ou congelariam na madrugada.

 

Uma tempestade de neve atinge a cidade, o frio se torna insuportável, a camada de neve no chão engrossa cada vez mais e uma figura, em meio à noite, vaga pela escuridão.

Muito pequena para ser um shamarg, pequena até para um homem humano. O longo cabelo dourado denuncia que a figura se trata de Eril. Ela se encolhe enquanto anda, por conta do frio, e mal se consegue ver o caminho por causa da tempestade.

Então, de uma forma totalmente inesperada, a tempestade cessa e um leve tremor pode ser sentido. Algumas rachaduras surgem no solo, engolindo a neve até que uma enorme fissura se abre abaixo da maga. Ela começa a cair mas consegue segurar-se na beirada do abismo. Ela olha para o enorme buraco e se pode ver o magma agitado em seu fundo. Usando uma das mãos, a maga tenta um movimento, como se tentasse lançar uma magia, porém, nada acontece. Uma força invisível começa a puxar a pequena garota para baixo e ela começa a escorregar na parede inclinada que se formou, cada vez mais próximo da lava. Ela se esforça ao máximo para não cair mas parece impossível evitar.

Os vapores e o calor tornam a respiração difícil e então o pior acontece. A elfa despenca para a morte certa.

Ao tocar o magma, então, a elfa se vê em seu quarto, acordando de um terrível pesadelo.

O suor escorre por seu rosto e, ainda confusa, demora alguns instantes para perceber o que é que a está incomodando.

— Mas que calor infernal é esse? — indaga a maga, removendo suas vestes, ficando apenas com um pijama, que consiste em uma blusa curta e um short.

Ela se levanta e sai do quarto. O calor é realmente escaldante. Ao cruzar a porta, ela ouve vozes vindas da entrada, parece uma conversa animada em meio à gargalhadas.

Chegando ao local, percebe os dois irmãos shamargs e Kore sentados à mesa, comendo uma montanha de panquecas.

O monge está usando seu calção de dormir e sem camisa, Ogrod está usando uma espécie de robe e seu irmão o que parece ser a mesma calça do dia anterior.

— Mas o que está acontecendo aqui? — pergunta, desnorteada.

— Ah, você acordou. — percebe Kore, ainda rindo um pouco. — Esses caras são demais, conta pra ela a história de quando deixaram aquele orc em coma.

— Kore! — chama Eril, pedindo atenção. — O que aconteceu aqui? Porque está tão quente?

— Ah, isso? Bom, o clima mudou um pouco.

— UM POUCO?

— Essas coisas acontecem nessa ilha. Achei que tinha te avisado.

— Precisamos sair deste lugar maluco o mais rápido possível.

— Ok, nós vamos. Mas primeiro vamos terminar o café. Ogrod fez panquecas.

— Sirva-se à vontade, senhorita. — oferece o educado shamarg.

Meio relutante, a elfa decide se juntar ao grupo.

Algum tempo depois, o trio se prepara para a viagem, despedem-se de Ogrod e partem em direção à entrada da ilha. Kore e o shamarg conversam o tempo todo sobre brigas e coisas brutas, enquanto Eril caminha mais à frente, um tanto atordoada pelo clima.

Não só o calor a incomodava, como a gravidade aumentada e o ar tóxico dificultavam o raciocínio. Isso somado ao fato da ilha drenar aos poucos o Mahou, era um péssimo lugar para uma maga.

Kore está carregando seu casaco no braço, mas Eril não está levando o seu.

— Eril, acho que você esqueceu seu casaco.

— Não esqueci, só não vou precisar mais dele.

— Mas e se fizer frio em algum dos lugares onde iremos em seguida?

— Compro outro.

— Você pensa que dinheiro nasce em árvore é? Alias, na próxima cidade vamos precisar fazer uma pausa, meu dinheiro está acabando. Estava pensando em ir atrás de alguns procurados para pegar a recompensa.

— Há, desta parte eu gostei. — concorda o shamarg.

O trio se aproxima da ponte e, quando começa a cruzá-la, o vendedor da loja de roupas os avista e acena.

— Até mais visitantes, até mais Voughan.

Os três acenam, até que Eril percebe algo, cessando sua caminhada.

— Voughan? — repete a maga, lembrando-se da história que Ogrod contou. — Voughan não era o irmão mais fraco da família.

— Ah, é o que dizem. — responde o grandalhão. — Parece que fiquei com o pior da mamãe e do papai.

— O QUÊÊÊÊ??? — indagam Kore e Eril em uníssono.

— Mas você disse que era o Dabba. — questiona Kore.

— Eu nunca disse que era o Dabba. — responde Voughan.

— É verdade, mas você não disse nada quando eu te chamei por este nome, quando você estava atacando o Kore. — contesta Eril.

— Chamou? Realmente não lembro. Não devo ter prestado atenção.

— Mas que droga! Se era pra trazer um shamarg comum podíamos ter pego o primeiro que aparecesse na nossa frente. — esbraveja a elfa, bufando de raiva.

— Calma, Eril, você viu a força dele. Não é como se ele fosse fraco, acho que ele será de grande ajuda.

Eril coloca as mãos na cabeça e pensa por um instante, enquanto se acalma.

— Quer saber? Não me importa. Só quero sair desse lugar logo. Se quiser vir, tudo bem, mas a responsabilidade sobre ele será sua, Kore.

— Pode deixar comigo. — concorda o monge, enquanto dá um soco de leve no braço de Voughan, que devolve o golpe, jogando Kore da ponte, direto na água.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.