Prezado Sr. Pai, Eu te odeio! escrita por May Winsleston


Capítulo 16
16. Astros mirins, avós e segredos que não deviam ser escondidos


Notas iniciais do capítulo

Oiie pessoas lindas e maravilhosas do Nyah! Como estão? Bem, primeiramente, desculpa a longa espera pelo capítulo. Esse foi um dos mais dificies para eu escrever - não por ser triste, mas pelas muitas pontes que ocorreram nele-, então eu fiquei literalmente dias o escrevendo, e ele está gigante kkk. Espero de todo o coração que gostem e antes do fim o mês posto o próximo. Gostaria de agradecer a todos vocês, sejam novos leitores ou antigos, por lerem e acompanharem a fic ♥ Um agradecimento muito especial à essas pessoinhas que tiraram um tempo para comentar e compartilhar seus pensamentos comigo, muito obrigada Kammy, Rezenae, Nana e Lakel ♥, suas lindas!

Boa leitura, pessoal!



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Não sei porque imaginei que o retornou às aulas seria diferente. Desde que voltei de viagem tudo parecia bastante igual, exceto pelo fato de que o Mauricio achou que era necessária a minha mudança para sua casa. Seus argumentos até que foram bons: além de passar mais tempo com o Nick, não teria que me preocupar com aluguel ou com o pobre do Henrique que havia quadruplicado seu trabalho desde minha chegada. Mas como uma pessoa independente e orgulhosa, eu decidi que só faria a mudança depois que avisasse à Emma e a Diana, afinal não queria duas loucas espalhando cartazes de desaparecida pela cidade, caso elas fossem ao meu apartamento e encontrassem apenas a poeira. Além de que, do jeito que eu as conheço, elas iriam gostar de um dia de mudanças. E como sempre, eu estava errada. A Emma havia esquecido que já era hora de voltar, até por conta das aulas e a Diana, bem, eu não entendi mais nada depois que ela começou a gritar. A volta às aulas começou de um jeito normal, porém ao mesmo tempo foi único.

 

 

— Eu ouvi dizer que vamos receber um aluno transferido ainda hoje.

— Emma falou, enquanto saia do carro – Ah! Obrigada pelo carona, Henrique. – disse, lançando seu melhor sorriso para o motorista.

— E eu não recebo nada? – perguntei, um sorriso bobo na cara.

— Fez mais do que sua obrigação de amiga! – falou, mostrando a língua. Revirei os olhos para Emma e me voltei ao homem do volante.

— Muito obrigada, Henrique. – sorri, saindo do carro junto com minha amiga. – Mas enfim, como soube?

— Acho que todos já sabem. Quer dizer, todos menos alguém que devia estar ocupada demais para ler as mensagens. – o olhar de Emma me fez corar.

— Você sabe que não é assim. – comecei – Até porque está recente e estamos dormindo em quartos diferentes. – seu olhar pareceu confuso. Como se perguntasse o quê uma mulher adulta e já experiente estava esperando para dar o próximo passo num relacionamento mais ou menos sério. Decidi explicar. – É que, eu sei lá... Eu só quero que dê certo. Eu já era apaixonada pelo Nicolas, mas o Mauricio, o Mauricio me pegou desprevenida e de um jeito único. Não lembro de ter me sentido assim antes... – falei, sentindo meu coração palpitar. Era assim que os protagonistas dos romances épicos que meus pais assistiam se sentiam? Suspirei, tentando entender meu coração. 

— Nem mesmo comigo? Lembra quando dormíamos juntas na faculdade? – sua cara selvagem me fez rir.  

— Só com você. – rimos – Você sabe algo sobre o garoto novo? – questionei, retornando ao assunto anterior.  

— Não muito, mas pelo que eu entendi a família dele está relacionada ao mundo da fama.  

— Seus pais são famosos?  

— Não sei se são os pais, mas acabei de concluir que o boato era verdadeiro. Olha lá. – Emma apontou em direção à entrada do Colégio Primeiro Passos. O local que sempre pareceu calmo e pomposo, agora exalava caos, por conta do número excessivo de pessoas com câmeras e celulares preparados para o próximo click.  – Bem que a coordenadora falou que isso iria servir como um ótimo marketing! Eles bem que podiam aumentar nossos salários. – disse, avançando sem medo na direção dos repórteres e passando por eles como se eles nem estivessem ali. A acompanhei, me sentindo uma diva e em pouco tempo já estávamos dentro da instituição. 

— Alice, finalmente. Preciso conversar com você, urgentemente! - a voz forte e cantante da coordenadora me fez virar e encontrar seu olhar pregado a mim. 

—Por acaso tem a ver com um novo aluno? - a minha intuição gritava que sim. 

— Esse é o caso, Alice. Não é um aluno qualquer. Vamos na minha sala para que possamos conversar antes de sua aula. - Emma me lançou um olhar curioso e eu entendi na hora que ela queria detalhes da nossa conversa, acenei com a cabeça e com um sorriso forçado, segui a diretora com passos relutantes. 

 

 

—Ele é um ator mirim? - repeti, tossindo a agua que acabara de beber. - Então ele é famoso? 

—Bem, atores normalmente são famosos, Alice. - sua risada disfarçava a patada. 

—Tá, mas porque logo a minha turma?   

—Temos ótimos motivos para isso. O primeiro é que o G4B, a sua turma, tem apenas 14 alunos, enquanto o G4A tem 16. E o segundo motivo é por conta do avanço que ocorreu com os alunos da sua turma, tomando por destaque o próprio Nicolas. - Droga! - Você deveria se sentir lisonjeada por ser a escolhida. - sorriu, um sorriso tão falso quanto minha bolsa da Gucci. - Ah, e mais uma coisa, Alice. Como eu te disse, escolhemos sua turma pelo avanço de seus alunos. Portanto, creio que você já imagina que o Augusto não é um garoto fácil de lidar, apesar de ser tão novo. 

—Os pais não são presentes? - ou a morte da mãe fez com que o pai se esquecesse que tinha um filho? 

—Na verdade não. Talvez por um tempo eles não estivessem tão presentes, porém agora eles são bastante dedicados ao garoto. - franzi o cenho, tentando entender o real problema do menino. Ele já possuía uma família estável, o que faltava para ele? - Os seus pais estão mais preocupados com a falta de limite e o péssimo relacionamento que a criança mantém com o próximo, por isso me pediram uma atenção especial para ele.  

—Ah! Então o problema dele é a alta de limites... 

—Exato. Pelo que entendi, o garoto cresceu na fama, estando em propagandas ainda bebê, e o fato de ter todos os seus desejos realizados no momento em que ele queria e por todos a sua volta criou nele uma personalidade difícil. Ele não possui amigos, pois as crianças ao redor dele não o suportam... E, a sua missão, não é exatamente por os limites nele, mas sim fazer com que ele crie laços com as outras crianças. - respirei fundo ao final de sua explicação, computando tudo que havia sido dito e tentando achar o lado positivo daquilo tudo, porém parecia inexistente. 

—Tá. Você quer que o garoto que é rejeitado pelas outras crianças, por conta de seu comportamento nem um pouco amigável, crie laços com uma turma na qual todos já possuem suas próprias preferências com relação a amizade? - resumi, desejando que meu entendimento estivesse completamente errado. 

—Infelizmente, sim. - Porque está sempre certa, Alice? 

Senhora Ferraz, me perdoe, mas sabe que essa missão não é nem um pouco fácil, não é? Já é difícil incluir um aluno novo na turma no meio do ano, imagina um aluno mimado que gosta de rebaixar os outros a fazer suas vontades? E eles já estão mais crescidos, seria diferente se eles tivessem dois anos, mas algumas das minhas crianças já completaram cinco. 

—Eu não disse que seria fácil, Alice, e foi exatamente por isso que te escolhemos. Apesar de ser uma professora nova na escola possui uma aceitação gigante pelos pais e como eu disse antes seus alunos avançaram de um modo surpreendente, e quando falo alunos, não me refiro apenas ao Nicolas, apesar dele ser o maior destaque, mas também a Geovana, a Yui e muitos outros que estão conseguindo driblar barreiras tanto educacionais quanto sociais. - suspirei, sem saber se estava amando os elogios ou os odiando – Mas agora vá, logo o sinal irá tocar e é bom que esteja na sala. Assim que o Augusto chegar eu o levo lá. - assenti, um pouco cabisbaixa. Me levantei da cadeira e sai da coordenação, andando relutantemente até minha sala. Porque eu imaginei que o retorno às aulas iria ser diferente?

 

 

— Calma, muita informação ao mesmo tempo! – Acho que foi a primeira vez que ouvi a Diana reclamar da quantidade de novidades que eu tinha para ela. – Deixa ver se eu entendi. – ela levantou o dedo indicador, como se pedisse um minuto para pensar – Temos um aluno novo. – assenti – Ele é famoso e irritante e gosta de mandar nos outros. – ela levantava mais um dedo para cada afirmação que fazia, e eu assentia a cada uma. – Você e o Mauricio se beijaram! – disse, elevando um pouco a voz e dando pulinhos, o que me deixou envergonhada, mas não deixei de assentir. – Agora estão morando na mesma casa.

— Isso você já sabia...

— É, sabia, mas me disse uma coisa. Já rolou? – ela lançou um olhar que faria qualquer um pensar que a Diana não era tão inocente quanto parecia. Senti meu rosto corar na hora.

— Não! – bufei – Porque você e a Emma estão tão entusiasmadas para que isso aconteça?

— Eu não sei a Emma, mas eu realmente quero detalhes de como é o Mauricio na cama. – ela riu. Diana, por favor, volte a ser fofa e inocente!

— Diana, você está parecendo uma... – o som do sinal soou e o susto me fez pular – Está na hora. Preparada? – ela assentiu com um sorriso. Eu realmente amava a positividade dela.

A manhã estava começando a melhorar. As crianças entraram na sala felizes, não havendo choro ou gritos por conta do tempo que passaram com os pais, mas pelo contrário, todas estavam bastantes animadas com a volta às aulas. O Nicolas foi um dos últimos a chegar acompanhado do pai.

— Desculpa a demora, alguém estava muito preguiçoso hoje, não é? – disse, fazendo cócegas no Nick que ria. Abaixei na altura da criança.

— Então quer dizer que você virou um bicho-preguiça. – brinquei.

— Eu ainda sou o Nick, mamãe! – encostei o dedo nos meus lábios, indicando que ele não podia me chamar de mãe ali. Mauricio agachou no mesmo instante.

— Filho, aqui você tem que chamar sua mamãe de pró Alice. – sussurrou, próximo a orelha da criança. – É nosso segredo, lembra?

— Segredo? Tá bem! – sorriu, pulando em meus braços. – Se o Nicolas for um bom garoto, quando voltar pra casa você vai ser minha mamãe, né? – assenti, sorrindo.

— Claro que sim, meu pequeno príncipe. – o abracei apertado.

— Alice. – uma voz feminina me fez olhar para cima e dar de cara com a Sra. Ferraz e outras duas pessoas que eu nunca tinha visto antes. Me levantei num pulo. – Gostaria de te apresentar o Sr. e a Sra. Demaziel.

— Prazer, Natasha. – ela sorriu, revelando dentes extremamente brancos. Que inveja.

— Olá, sou o Mateus. – o homem se apresentou, puxando minha mão e depositando um beijo nela. Fiquei paralisada com o ocorrido, talvez pelo fato da mulher dele estar bem ao meu lado.

— Eu te conheço Mateus? – Mauricio falou, se metendo no meio de nós dois. - Sei lá, achei seu rosto conhecido.

— Creio que não...

— Mauricio, Mauricio Miller. Dono da bem sucedida franquia de super mercados Millers.

— E eu sou Mateus Demaziel, pai do astro Augusto Demaziel. – encaramos os dois, sem saber se devíamos parar aquela disputa idiota ou não.

— Você já disse seu nome. – eu não sei o que podia acontecer depois daquilo, mas a cara do Sr. Mateus não pareceu nenhum pouco amigável. Decidi interceder pelo Mauricio.

— Então, Sr. e Sra. Demaziel, onde está seu filho? – falei, explicitamente tentando mudar o assunto.

— O Augusto? Bem... – Natasha começou – ele não quis sair do parque. – Quê? Acho que não entendi.

— O seu filho famoso está no parque sozinho?

— Obvio que não, ele está com o segurança. – esta foi a vez do pai falar. Respirei fundo, aquilo não ia ser fácil.

— Tá. Eu gostaria de fazer um pedido. – eles apenas acenaram com a cabeça um “sim”. – Vamos todos lá e eu me apresentarei a ele. Depois quero que o senhor, a sua esposa e o segurança saiam e deixem ele no parque.

— Só isso? – Mateus perguntou – achei que ia ser mais difícil. – rimos, mas por dentro eu queria chorar e lançar uma granada em alguma casa bilionária.

— Somente isso. – forcei o sorriso mais falso do ano.

— Eu não disse que nossa Alice era uma professora incrível? Podem confiar nela. – a Sra. Ferraz falou, finalmente.

— Sim, uma ótima professora. – Mauricio disse, antes de se virar e avançar para a saída – Tchau filhão, obedeça sua pró, tá bem! – ordenou, saindo do local e me deixando mais calma.

— Vamos! – chamei.

Fomos em direção ao parque, que não ficava muito longe dali e após a apresentação, nem um pouco educada por parte do garoto, os pais e toda a trupe dele saíram, deixando apenas nós dois ali.

— Augusto! – chamei, enquanto o pequeno corria pelo parque – Vamos para a sala, querido, a pró adoraria te apresentar aos seus novos amiguinhos. – ele gargalhou, uma gargalhada pesada demais para uma criança de apenas 4 anos.

— Quantos anos acha que eu tenho, 3? – riu, subindo no escorrega.

— Pela idade mental ou corporal? – resmunguei, respirando fundo e pedindo paciência ao Senhor. – Vamos, meu amor, não quer conhecer seus coleguinhas?

— Eles são tão chatos quanto você? – gritou. Ora, seu moleque! Cravei os dentes nos lábios, invocando a Alice doida e malvada que estava presa desde que viu esse menino.

— Quer saber, fique aí. – falei, o tom mais alto que o normal. Minha fala o fez parar e me observar. – E boa sorte caso seja raptado ou sequestrado por um maluco, enquanto brinca sozinho aí no parque. – comecei a me afastar do menino – Aliás, eu me esqueci, você não deve ter medo, afinal não tem mais 3 anos, não é? – e virei as costas para o garoto mal-educado.

— Ei, aonde pensa que vai? – chamou, a voz um pouco mais fina que o normal.

— Para a sala, dã! Ah, e caso veja algum estranho totalmente coberto, fuja! – pisquei antes de seguir para a sala.

— Não pode me deixar aqui só! – gritou, era notável o medo em sua voz.

— Já deixei! – retribui seu grito, uma leveza possuiu minha alma e um sentimento de vitória inundou meu ser quando ouvi os passos rápidos do garotinho, e antes mesmo que pudesse chegar ao meu alcance de visão, falei – desistiu de ficar no parque?

— Eu cansei de lá. Quero conhecer meus colegas agora. – disse, fazendo um bico enorme.

— Ótimo, mas lembre-se, Augusto – agachei, me colocando do seu tamanho – Eles são seus colegas de sala. Se você tiver humildade e respeito eles se tornarão seus amigos, mas nunca, nunca os trate como seus empregados, eles estavam aqui antes de você e vão continuar caso você saia, então se preocupe em criar boas lembranças, e não servos. – o garotinho assentiu, uma pequena tristeza foi exposta em seus olhos, provavelmente consequência de relações malsucedidas.

— E se eles não quiserem brincar comigo? – sorri, ao perceber que realmente havia um garotinho de 4 anos parado em minha frente.

— Eu duvido que isso aconteça, você me parece ser um menino incrível. Quer me dar a mão? – ofereci.

— Eu sei andar sozinho! – revirei os olhos, seguindo até a sala atrás do pequeno homenzinho.

A recepção de Augusto Demaziel foi melhor do que eu imaginava. Os alunos o receberam com muita alegria e receptividade. E o mesmo continuou durante os primeiros dias da semana, até o Augusto começar a ser muito “mandão” e “chato”, de acordo com os próprios coleguinhas.

Os únicos que ainda mantinham contato com o garoto eram o Nicolas, por ter uma paciência e bondade que eu admirava, mas às vezes não entendia, e a Yui, mais por conta do incentivo do Nicolas do que por vontade dela, pois eu tenho quase certeza que a vi resmungando quando o Nick chamou o Augusto para brincar com eles. E apesar das minhas tentativas de conversar e aconselhamento, o Augusto não parecia disposto a mudar e depois de um tempo, parei um pouco de insistir, principalmente pelo fato de que apesar dos meus esforços serem ou parecerem inúteis, o Nicolas estava conseguindo, de alguma forma, extrair algo bom do mais novo amigo. Algo que estava me deixando feliz como professora, mas ao mesmo tempo temerosa como mãe.

— Não é que eu não apoie a amizade entre o Nicolas e o Augusto. Eu estou feliz, extremamente feliz, até porque o Nick está sorridente e ele vive falando do mais novo melhor amigo em casa, mas sei lá, o Augusto é um garotinho mimado e rude. Tenho medo que o Nicolas perca seu jeito doce e gentil na companhia dele, ou pior, que ele se machuque de algum modo... – levei a mão à cabeça, numa tentativa frustrada de conter a enxaqueca – Acha que estou sendo errada por pensar isso? – perguntei, mordendo o lábio inferior.

— Não acho que esteja errada como mãe. – Diana falou, parando de cortar coraçõeszinhos de papel e colocando seu foco em mim – É normal se preocupar com seu filho e se as companhias com as quais ele anda irão trazer benefícios ou malefícios a ele, mas como educadora... aí eu acho que o pensamento tá meio falho. Eu digo isso porquê os dois estão juntos há quase três semanas desde o início das aulas, e o comportamento do Nick não mudou. Pelo contrário, eu estou vendo no Augusto uma criança mais feliz e até mais obediente. Eu lembro que antes, ele nem jogava a caixinha de suco fora e hoje em dia eu nem preciso pedir para que ele faça isso. – suspirei, tentando espantar a insegurança do meu ser – Acho que ele não está sendo uma má-influencia para o Nick, mas o inverso, acho que o seu filho está sendo o bote salva-vidas do Augusto. Acho que o Nick está impedindo que o Augusto afunde, ele está fazendo com que o garoto entenda que apesar de ser famoso, ele ainda é uma criança que possui direitos e deveres.

— Acha mesmo? – perguntei. Talvez eu estivesse errada, mas eu não conseguia acalmar meu coração. Seria isso que minha mãe sentia quando eu ia contra a sua vontade? — Diana apenas assentiu e voltou ao seu recorte. – Eu preciso ir. – disse, já levantando e pegando meu caderno de anotações – A Sra. Ferraz me espera.

— Boa sorte. – riu, aquela garota estava ficando muito irônica!

Revirei os olhos e saí para o corredor, caminhando até a sala da coordenadora. Bati na porta e a abri, ouvindo a voz rouca da Sra. Ferraz em seguida.

— Bom dia, Emma! – anunciou, se levantando e abrindo os braços, me convidando para um abraço. Algo bom aconteceu, ela normalmente não fazia isso.

— Eh, bom dia. – respondi, indo em sua direção e recebendo o carinho. – Alguma coisa aconteceu?

— Deu para perceber? – Não. Só estamos agindo como melhores amigas. Nada demais. — Eu te chamei para, além de tratar sobre o dia dos avós, te parabenizar pelo ótimo trabalho com o Augusto. Os pais dele estão extremamente satisfeitos, e estão refletindo inclusive sobre o cancelamento do divórcio. – Pera, eu ouvi direito?

— Divórcio?

— Sim! Ah... – ela levou o dedo aos lábios como se pensasse em algo – Acho que esqueci de te avisar, certo? – apenas assenti seja lá o que fosse – Um dos principais motivos para o Augusto vir para nesta escola e ainda pedirmos uma atenção especial foi por conta de sua família. A situação da malcriação do garoto começou a ficar tão ruim que os pais começaram a culpar um ao outro e isso acabou resultando num planejamento de divórcio. Porque acha que a Natasha ficou tão tranquila ao ver o marido flertando com você? – corei. Então não foi apenas birra do Mauricio.— Mas vamos falar sobre o próximo evento, está tudo preparado para amanhã?

— Sim. Fizemos o último ensaio da música hoje, as lembranças e cartões das crianças para os avós já estão prontas e Diana está preparando os últimos itens para decorarmos a sala e assim que sair daqui vou lá ajuda-la. – expliquei, orgulhosa do nosso trabalho duro.

— Ótimo! – ela abriu um enorme sorriso – Então não te prendo mais. Parabéns novamente pelo trabalho incrível. Relembrando que amanhã as crianças sobem direto para o teatro, e após a apresentação todos descem. As crianças se encontram com seus avós na sala e assim que acabar toda a apresentação, estão liberados. – assenti. – Boa sorte amanhã, Alice. – sorri e com um aperto de mão me despedi de Aurora. E assim, terminamos a nossa manhã, colando enfeites e corações que nos deixaram com raiva, orgulhosas e muito cansadas.

O resto do dia foi tranquilo. Decidi ficar na casa da Emma já que a mãe do Mauricio estava chegando de viagem e não precisávamos de mais pessoas sabendo das desventuras da pobre e impulsiva Alice, e apesar do Mauricio jurar que sua mãe era uma boa pessoa e que iria compreender tudo aquilo, preferi manter segredo por enquanto, algo que eu me arrependi um pouco, quando de noite não recebi beijos de boa noite e nem li uma história qualquer, mas sim chutes e roncos de minha melhor amiga e irmã.

 

 

Eu não estaria mentindo ou me gabando se dissesse que a apresentação foi incrível, afinal não era mentira para ninguém. Ao fim da música e de todos os agradecimentos, descemos para a sala e começamos outras comemorações e brincadeiras, mas dessa vez com a presença direta dos avós.

Foi divertido, e conhecer a mãe do Mauricio foi algo sensacional. Apesar de já tê-la visto, perceber seu carinho pelo meu filho me fez admirar e amar aquela senhora quase que de imediato, além dela ser espontânea e leve. Mas, de acordo com o Mauricio, nem sempre foi assim, pois com o falecimento do esposo há pouco mais de cinco anos, a Sra. Lucia quase definhou, afinal haviam se apaixonado ainda jovens e cultivaram o amor por anos, construindo um império com seus esforços e companheirismo. Sorri. Era uma história linda, porém um pouco triste, mas o nascimento do Nicolas deu a ela uma luz, cujo brilho ainda resplandece em seus olhos castanhos.

— Pró Alice! – o Nick gritou vindo em minha direção. Agachei para receber o abraço que tanto senti falta. – Vovó disse que você pode ir para casa hoje. Papai também está sentindo saudades. – arregalei os olhos.

— Ha, não, querido, a sua avó...

— Realmente acha que você faz falta naquela casa enorme. – a Sra. Lucia cochichou próximo a mim – Já estava na hora de alguém pôr alguma ordem nesses dois, principalmente no meu filho cabeça dura. – riu.

— É, perdão, mas eu não sei...

— Não se faça de desentendida. Eu conheço muito bem meu filho e não demorou muito para eu arrancar a verdade dele. Fico feliz de ele ter escolhido uma garota tão alegre e bonita como você. – sorriu. Era para eu estar nervosa, mas aquela senhora me acalmava, me fazia sentir segura.

— Eu sinto muito não ter falado a verdade antes, eu só não queria ter que envolver a senhora nessa mentira, mas muito obrigada por entender. Eu realmente amo o Nick e estou verdadeiramente apaixonada pelo seu filho. – sorri, um sentimento bom preencheu todo meu corpo – Prometo que vou cuidar bem dos dois.

— Não precisa prometer, querida, se em tão pouco tempo ao seu lado eu já consigo enxergar o brilho nos olhos do meu filho. Ele sofreu tanto durante a separação, temi que ele desistisse de vez do amor. – seu sorriso desapareceu, dando lugar a uma expressão de pena e dor. Lembranças enterradas que voltavam vez ou outra.

— Deve ter sido difícil quando a ex-mulher dele morreu. – rompi o silêncio. – Meus sentimentos. – Lucia me olhou confusa e abriu a boca como se fosse falar algo. – Tudo bem?

— O Mauricio te disse que a Mariana morreu? – acenei um “sim” com a cabeça. Agora a confusa era eu. – Eu achei que ele havia superado tudo aquilo, mas aparentemente não superou. – ela deu um longo suspiro e colou seus olhos nos meus. – Talvez eu não devesse falar isso, mas acho errado que o relacionamento de vocês comece com uma mentira. A Mariana não morreu. Ela abandonou o meu filho.

— Quê?! – franzi o cenho, enquanto beliscava discretamente o espaço entre os meus dedos polegar e indicador esquerdos, tentando discernir se aquilo era um sonho ou se eu estava no mundo real.


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Notas finais do capítulo

Curiosos para saber como é o pequeno Augusto? Olha o link! :D

Augusto Demaziel - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/6d/b6/56/6db6566cbef172f632bc78b656ba2130--little-boys-fashion-boy-fashion.jpg (Seu nome real é Alonso Mateo - um insta kid)



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