Violinos escrita por Agatha Wright


Capítulo 5
Capítulo V




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710457/chapter/5

Samantha acordara cedo naquela manhã. Depois de alguns dias ela conseguiu seguir hábitos normais de sono durante a estadia na Casa do Lago, mas o fato de estar debaixo da terra com certeza tirava dela qualquer noção de tempo. Ela sentia falta da luz do dia, das plantas, da vida. Esses últimos dias com Erik haviam sido tranquilos, mas ainda assim depois de um tempo isso começava a fazer falta.

Erik nunca tirara a máscara depois daquele dia e Samantha não insistia no assunto. Mas ela se lembrava da aparência pálida e viscosa da pele de Erik, e ela tinha certeza que um tempo ao ar livre seria ótimo para a aparência dele. Ela estava planejando um modo de dizer isso para ele. Segundo os relatos de Christine no livro, Erik a levava para passeios e ela estava definitivamente ansiosa para isso acontecer. "Seu" corpo implorava por oxigênio fresco.

Ela escolhera um vestido azul claro de um tecido leve. O corpo de Christine não parecia ser muito sensível ao frio, isso se deve talvez pelo fato dela ter sangue escandinavo. O vestido lhe caia muito bem, Erik parecia saber com exatidão quais roupas ficavam bem nela, seu bom gosto era indiscutível.

Ela normalmente dispensava o espartilho. Ela tentou usar aquela coisa, mas era impossível um ser humano normal se enfiar naquela coisa. O uso daquilo deveria ser considerado tentativa de suicídio. Depois de se vestir o mais adequadamente possível, ela foi até o banheiro para se olhar no pequeno espelho que havia nele, provavelmente o único espelho da casa. Deus! O que ela não daria para ter um espelho de corpo inteiro. Era tão irritante se vestir e não poder ver como ficou. Ela teria uma conversinha com Erik sobre isso.

Ela deixou seus cachos loiros caírem soltos pelos seus ombros e deu uma ajeitada rápida neles, com um sorriso ela saiu do quarto para encontrar Erik que estava sentado ao piano tocando para si mesmo.

Ela percebeu na hora que havia algo errado.

"Bom dia, Erik." Disse ela fingindo não ter notado nada de estranho.

Nenhuma resposta. Realmente havia algo de errado.

Ela repassou mentalmente o dia anterior. Não havia nada errado, eles cantaram, ele tocou piano para ela, eles foram até a biblioteca, Erik se trancou no seu quarto, provavelmente compondo, e ela foi para o seu onde ficou até adormecer. Não houve nada de anormal nem nesse nem nos últimos dias.

Quantos dias faziam que ela estava ali? Ela perdera toda a noção de tempo. Dias, datas, horários. É engraçado como a gente fica confusa com essas coisas.

"Erik?" Tentou ela novamente.

Dessa vez ele parou de tocar e se virou para ela.

"Bom dia, Christine. Como você está?"

Samantha ergueu uma sobrancelha.

"Eu é que deveria perguntar. Está tudo bem, Erik?"

Ele olhou para ela por alguns segundos e disse num tom de genuína inocência.

"Não estou entendo o porquê da pergunta."

Samantha deu de ombros.

"Nada demais, você parecia incomodado com alguma coisa e eu fiquei preocupada."

Erik ficou feliz por estar usando uma máscara para que Christine não visse sua expressão de puro choque.

"Christine está preocupada... com Erik?"

"Você fica estranho quando fala na terceira pessoa, Erik. Por favor, pare." Disse Samantha cruzando os braços. "E sim, eu me preocupo com você. Tem algo errado com isso?"

Erik se levantou de um salto da banqueta do piano, e em um segundo ele estava de pé segurando as mãos dela.

"Repita isso, por favor." Disse ele com lágrimas correndo pelo seu rosto e aparecendo por debaixo da máscara.

Samantha estava chocada. Ela sempre se esquecia de que Erik não reagia a certas coisas como a maioria das pessoas. Ela precisava aprender a pesar suas palavras quando falava com ele.

"Erik, por que você está chorando?" Disse ela capturando com os dedos uma das lágrimas que caia de seu rosto.

"Só... Repita, por favor, minha doce Christine. Diga isso novamente."

"E-eu me... preocupo com você... Erik. É claro que me preocupo com você. Não somos amigos?"

Ela percebeu que havia repetido o mesmo erro quando Erik começou a soluçar.

"Oh! Erik. Não há razão para tanto." Disse ela abraçando-o.

Mas Erik rapidamente se desvencilhou do abraço dela e falou num tom estranho que Samantha não entendeu.

"Tola Christine! Como Christine pode dizer que Erik é seu amigo, se Erik é um monstro que mentiu para sua doce Christine enquanto ela foi tão boa para ele? Como Christine pode se preocupar com Erik? Christine está mentindo!"

Samantha tinha cara de quem estava com um ponto de interrogação laranja-neon piscando em cima da cabeça. Do que diabos Erik estava falando?

"O que você está dizendo, Erik? O que você disse que era mentira? Por favor, fale coisas coerentes eu não estou entendendo nada." Disse ela segurando Erik pelos ombros forçando-o a olhar para ela.

"Erik é egoísta. Erik não quer deixar Christine ir mesmo tendo prometido a ela."

Ah! Então era isso. Erik não ia deixa-la ir ao fim dos cinco dias como prometido. Bem isso não era surpresa, segundo o livro, eles iriam ficar juntos por duas semanas. Se Erik estava se culpando por isso significava que ele tinha alguma consideração por ela. Se esse era o motivo dessa depressão repentina, cabia a ela o dever de acalma-lo.

"Oh! Então já se passaram os cinco dias." Disse ela se fazendo de burra "Incrível como o tempo passa rápido quando estou com você." Ela sorriu para ele maternalmente. "Você quer que eu fique mais tempo?"

Erik olhou para ela timidamente. Ele não era mais a figura imponente dos últimos dias, ele agora era nada mais que uma criancinha indefesa ousando se permitir um feixe de esperança no seu mundo escuro.

"V-você ficaria mais tempo com Erik?" Disse ele, era a primeira vez que ela ouvia a voz angelical de Erik falhar.

Samantha ergueu uma sobrancelha e disse num tom divertido.

"Se você parar de falar na terceira pessoa quando se refere a si mesmo, porque isso é muito esquisito, eu fico."

Ela automaticamente passou seus braços ao redor dele, pois sabia que isso iria fazê-lo chorar.

"Shhh, está tudo bem, Erik. Eu estou aqui. Eu prometi que você nunca ficaria sozinho. Vou ficar com você por quanto tempo for necessário. Eu prometo jamais abandona-lo. Você é importante para mim, você é meu amigo querido." Ela afagou seus cabelos com delicadeza enquanto esperava ele parar de chorar.

Samantha se surpreendeu com a veracidade das suas palavras, ela não conseguia acreditar no quanto ela ficara próxima de Erik nesses poucos dias. Ela se sentia estranhamente ligada a ele. Era como se Erik fosse parte dela, como uma espécie de irmão que ela perdera quando era criança. Eles não se conheciam há muito tempo, mas ela podia sentir um laço se formando entre eles.

E de algum modo ela também sentia que isso não iria acabar bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Violinos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.