Violinos escrita por Agatha Wright


Capítulo 4
Capítulo IV




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Samantha passou a noite chorando em silencio no quarto.

Isso tudo era tão confuso. Era estranho estar no corpo de Christine, era estranho estar no quarto Louis Phillipe, era estranho estar com Erik.

Estar com Erik.

Nessas horas que ela passou ao lado dele foram com certeza as mais estranhas e as mais interessantes de toda sua vida. Erik era realmente solitário, e ela sabia que ninguém havia sido feito para ser assim. Ela imaginava como seria se Erik tivesse nascido no tempo certo. O velhote não mencionou qual época realmente era, mas ela deduzia que deveria ser em algum ponto do sec. XXI pelo fato do velho ter recorrido a ela para tomar o lugar de Christine. Será que ele seria tratado como uma pessoa normal? Talvez, o rosto dele com certeza chamaria a atenção das pessoas. Mas provavelmente ele não seria tratado como um monstro, uma aberração.

Mas nada disso aconteceu. Ele nasceu nessa época cheia de ignorância e superstições e agora cabia a ela, Samantha Michaelis, a missão de salvar a sua alma, ou seja, impedi-lo de atentar contra sua própria vida.

Mas como diabos ela iria fazer isso? Aqueles momentos com ele foram lindos, mas ela não saberia o que fazer durante todo o tempo. Ela tinha as memorias de Christine, mas ela não era Christine. E se ela errar? Se ela magoar Erik ainda mais? Ela não entendia o porquê, mas ela se encantara por Erik. Ele tinha uma aura que lhe dava a sensação de estar completa, em paz consigo mesma. Era algo estranho e ao mesmo tempo bonito. Parecia que essa frase conseguia resumir Erik em tudo.

Ele era estranho e bonito.

Bem, ela não era Christine, mas ela foi a escolhida para isso, ela simplesmente precisava dar o seu melhor.

Com esse pensamento ela secou as lágrimas e tentou dormir um pouco.

Os próximos cinco dias se passaram sem nenhum grande incidente. Samantha estava até certo ponto grata pelo fato de Erik ter aprisionado Christine em sua morada, pois Samantha ainda não se sentia pronta para assumir totalmente a vida de Christine Daae. Uma coisa era estar só ela e Erik, outra era ela interagir com todos os amigos e conhecidos de Christine.

Segundo o livro de Leroux, Christine era uma menina meiga e agradável durante a maior parte do tempo e todos pareciam gostar dela. Isso era algo que Samantha teria que se esforçar muito para conseguir imitar. Ela era uma pessoa mais viva e tinha uma língua bem mais afiada, ela com certeza não ouviria quieta alguma zombaria de Carlotta ou de alguma menina do balé. Samantha tinha um péssimo gênio e era muito mais explosiva. Ela sempre fora a menina menor e mais magra da turma, o que a fazia se tornar um alvo fácil para valentões. Isso a fez criar um péssimo habito de "lutar com a boca", ou seja, ela sabia tantos palavrões e ofensas que colocariam qualquer um para chorar. E isso com certeza não combinaria com aquela Barbie vitoriana que era Christine Daae.

Mas aqueles dias na Casa do Lago também serviram para Samantha estudar a personalidade de Erik.

Se diziam que Samantha era bipolar, Erik era penta, hexa, decapolar. Ele mudava de humor mais vezes do que Carlotta se olhava no espelho. As mudanças bruscas de humor de Erik eram tão irritantes que Samantha tinha que segurar a língua para não responder a altura, algo que com certeza ela tinha habilidade.

Mas nos momentos em que Erik estava "normal" ele se mostrara alguém extremamente gentil e atencioso. Ele parecia um elfo domestico pronto para servir seu mestre. Ela não se surpreenderia se ele se curvasse para ela a cada pedido que ela fizesse e dissesse "Sim, milady." Samantha sempre fora independente por natureza, então ter um escravo-fã-cão-de-guarda não era algo que ela veria com bons olhos.

E o melhor. Erik era um verdadeiro gênio, Samantha simplesmente adorava quando Erik a levava para a sua biblioteca particular, lá havia tantos livros que ela provavelmente levaria a vida toda para ler todos eles. Sem contar que ali havia exemplares em mais de dez idiomas diferentes e Erik era capaz de ler e falar fluentemente todos.

Quando eles não estavam cantando, algo que eles passavam a maior parte do dia fazendo, ele a levava para a biblioteca. Inicialmente ele dera a ela alguns livros simples de contos e lendas, mas Samantha se cansou logo deles e então, para total estupefação de Erik, ela demonstrou interesse pelos livros de Ciências. Ela notou que havia dado uma fora quando quis discutir as teorias de evolução das espécies com Erik. Christine com certeza não tinha base para esse assunto, o que deixou Erik admirado. Ela imaginou o velhote abrindo seu crânio com o bastão de memorias dele depois dessa furada. Mas para sua alegria, Erik simplesmente achou maravilhoso ela se mostrar tão interessada por um assunto desses, e simplesmente não mediu esforços em mostrar todo que sabia sobre o assunto.

Erik era extremamente inteligente, um verdadeiro superdotado, ele tinha conhecimentos avançados em Química, Física, Biologia, Astronomia, e muitos outros campos da Ciência. Lógico que esse conhecimento era limitado pelo avanço cientifico da época, mas mesmo assim ele com certeza estava muito a frente de seu tempo.

O pai de Samantha era Biólogo, e isso fez com que ela tivesse uma boa base nesse ramo da Ciência.

E assim se passaram esses cinco dias, cheios de música, ciência e artes em geral. Samantha estava no paraíso.

E Erik também.

Ele não esperava que sua adorada Christine se mostrasse uma pessoa tão inteligente e com opiniões tão bem formadas. Ela era uma mulher incrível, e isso só o fazia adora-la mais ainda. Ele não conseguia sequer cogitar a ideia de se separar dela. Não agora que ela se mostrara uma pessoa com tantos dons, além de uma voz maravilhosa, de uma personalidade tão amável, e de uma beleza divina, ela também tinha uma mente afiada e cheia de conhecimento. Como Deus poderia criar uma criatura tão perfeita?

E ela era tão doce com ele. Ela vira seu rosto e não o odiava. Ela sorria para ele quando seus olhares se encontravam. Ela não tinha medo de tocar em suas mãos frias como a morte. Ela até abraçara seu corpo cadavérico, ela passou aquelas mãozinhas de anjo nos seus cabelos e ela não fugiu, ela não morreu! Ela ficou ali consolando seu pobre Erik. Deus lhe dera um presente maravilhoso. Mas ele ainda assim queria mais. Ele não queria deixa-la ir ao fim desses cinco dias, ele precisava dela ali no seu lado. Ele não queria ficar longe de seu anjo. Ele não iria suportar. Ele a amava tanto que chegava a doer.

Ele iria dizer a Christine que ele era um maldito monstro mentiroso, e que ele não iria deixa-la ir como ele prometeu. Ele precisava dela por mais tempo.

Ele sabia que não poderia mais viver sem seu anjo.


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