Zombieróscopo escrita por Turma do Amor


Capítulo 7
O Leão Covarde


Notas iniciais do capítulo

Recomendamos a leitura acompanhada dessa música: https://youtu.be/4ht80uzIhNs



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Sobreviver ao fim do mundo já era difícil o bastante. Estressante, agoniante, e sujo, tão sujo! Ele já tinha problema o bastante tendo de achar um lugar seguro, comida, água, remédios e tentando ficar longe daquelas coisas asquerosas – era MUITO nojento quando retalhava um deles e aquele sangue, os fluidos esguichavam em sua roupa. Ele nem tinha como lavar!
Tudo isso já era problema o bastante, mas pra piorar ainda tinha de servir de babá pra um moleque mimado que era quase dez centímetros maior do que si. E frouxo, froooooouxo que dava raiva.
—Leão, se não parar de respirar no meu cangote agora mesmo, o próximo cérebro espalhado pelo chão será o seu!
Rosnou, fazendo o gatinho frouxo que andava colado às suas costas se encolher ainda mais - uma cena bem ridícula, vamos ser sinceros.
—M-mas Vivi, e se outro aparecer? Você é bom com essas coisas, e-eu congelo, sou uma presa fácil!
“E esse, senhoras e senhores, é o rei dos animais, símbolo universal de força e coragem... Embora que com a cauda entre as pernas e as orelhas para trás agora não assustasse mais do que um cordeiro recém nascido.” O moreno pensava com puro esnobismo. Não podia negar, contudo, que 90% dessa birra se devesse ao fato de não gostar, em nada, do ruivo. Desde o primeiro dia em que aparecera naquela mansão como o novo paisagista, o jeito dele o irritou. Aquela cara lavada, aquele ar de superioridade, aquele achismo inconsciente, aaaargh! E daí se ele era um modelo renomado e desejado por meio país? Foda-se! Pra Virgem ele nada mais era do que um rapaz mimado que pisava em suas amadas flores com aquelas patas monstruosas que chamava de pés sempre que se aproximava miando, querendo alguma coisa.
E essa coisa, quase sempre, era depredar suas belas roseiras em busca de agrados pra pessoas que ele pegava e depois descartava como guardanapo usado.
“Viviiiiii, as tulipas já floresceram? Eu preciso de umas...seis ou oito delas.”
"Eu não me mato nesse jardim pra você vir arrancar as minhas flores e dar pra alguém qualquer só porque comeu e enjoou, Leão!" - Suspiro irritado. "E tulipas são pra pedidos sinceros de perdão, não cafajestagem!"
"Não é isso, e eu tô sendo sincero, porque você não acredita em miiim?"
"Esse seu miado não me convence, nem o fato de você aparecer ao menos uma vez por semana pra me incomodar! Pega umas rosas, vermelhas e brancas...mas não pega muitas não, depois eu arrumo as moitas...e cuidado pra não se espet..."
"Gaaaah!"
"...ar. Eu avisei, tá contaminando meu solo com sangue!"
E o enxotava com um ancinho, mas dias depois ele voltava. Cara lisa, sorrisinho sexy (que em definitivo não afetava o virginiano), como se nada houvesse acontecido. Aquele trabalho era muito bom e pagava bem, mas se ele tivesse de citar alguma desvantagem, seria Leão.
Então, porque diabos, dentre TODAS as pessoas, justamente ele havia sido o único a sobreviver e grudar em suas costas naquele fatídico dia em que o mundo acabou?
—Estamos seguros...ainda tem água na mochila? Estou morto.
—Não fale isso nem de brincadeira, Vivi!
—Já disse que não te dei intimidade pra me chamar assim, moleque!
Falar isso pra um cara mais velho era esquisito, mas ou era isso ou palavrões, e Virgem os desprezava. Com sua pá que servia como arma descansando recostada à parede (foi a primeira coisa que havia pego no meio do desespero, e estava servindo bem até), deu uma última avaliada no prédio em que estavam, confirmando que estavam mesmo seguros. Haviam barricadas nas portas e janelas, prova de que outras pessoas já haviam estado ali. Se sobreviveram...não queria pensar nisso. Não por hora. Só pegou a garrafa que o outro ofereceu, bebendo o tanto que lhe cabia no momento.
—Temos de buscar mais suprimentos...esses vão acabar logo. Talvez em prédios comerciais e locais como escolas e hotéis dê pra achar água ainda nos encanamentos, mas os pátios são abertos demais, fugir deles é um inferno...ao menos nossa comida ainda dá pra mais uns di...
Não terminou a frase, ao notar que, mais uma vez, o seu companheiro forçado estava, mais uma vez, sentado no chão, abraçado aos joelhos. Ah, droga....coçou a nuca se se ajoelhou à sua frente.
—Leão...Leão! Ei, estamos seguros...eles não estão por perto, eu prometo...
Era difícil pro mutável se fazer de gentil, compreensivo e amigável, mas ele até que tentava. Era isso ou ver o fixo se fechar numa bolha de auto proteção, medo e mudez. Ou pior, entrar em pânico novamente. Tentava não julgar, quando o encontrou, horas após o início do caos, escondido em sua casinha de ferramentas, estava salpicado de sangue. O resto da família, os empregados, todos já estavam mortos ou transformados em bestas. Não tinha como saber o que o rapaz havia feito ou visto, e ele se recusava a falar de qualquer forma. Era difícil demais.
—Olha, pega um bolinho na mochila...ainda tem um de morango, fica pra você, pode ser?
—M-mas... - A voz do ruivo era um fio. - ...são seus favoritos, você disse pra não tocar neles...
—Tanto faz, come logo isso, antes que eu enfie goela abaixo!
Leão deu um risinho, soltando os joelhos. Era um bom sinal. Catou a embalagem nos suprimentos, a abrindo e mordiscando. Outro bom sinal. O deixou comer sozinho, indo a uma janela e afastando a cortina, pra poder olhar para fora e avaliar o terreno.
—Já está amanhecendo, eles são mais lentos quando estão sob a luz direta do sol...deve ser o calor, ou ressecamento. O complicado é que fedem ainda mais, se não formos cuidadosos isso pode nos fazer desmaiar. Enfim, vamos descansar um pouco aqui e sairemos em algumas horas. Podemos precisar correr, tá pronto pra isso?
Se virou esperando uma resposta, mas era meio que inútil. Ele já havia caído no sono. Rolou os olhos meio puto...ele fazia todo o trabalho sujo e o mimadinho era quem descansava? Lindo isso...ao menos ele tinha deixado metade do bolinho pra ele. O apanhou, pegou sua pá e sentou numa posição que mais lembrava um espadachim sempre alerta, a mantendo entre os braços e pernas...iria fechar os olhos só uns minutos...só um pouco.
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—UM POUCO É UM CAR...
Quase, quaaaase, soltou um palavrão. O sol já tava alto! Não podiam desperdiçar luz do dia assim! Sem dó, arrumou bem mal arrumado os cabelos, limpou a baba do canto da boca e chutou Leão de leve, pero no mucho.
—Acorda, estamos atrasados!
Claro que o outro reclamou, esfregando os olhos, a boca seca.
—Hmmn, pra quê...não temos escola, nem trabalho...
—PRA NOSSA SOBREVIVÊNCIA, SEU MISERÁVEL! Levanta daí antes que eu te use de bucha de canhão!
Mesmo não sabendo bem o que aquilo significava, não podia ser bom. Rapidamente o leonino catou suas coisas e pôs nas costas, disparando a seguir Virgem antes que ele o largasse ali sozinho, para trás - e, ohh, ele o faria!
—O-onde estamos in... - Uma cabeça esmagada caiu a seus pés. - GAAAAH! Avisa quando for matar um, mas que merda!
—E gastar saliva com isso? NÃO DÁ PRA AVISAR, ABRE OS OLHOS, VOCÊ É OU NUM É UM PREDADOR?
Atingir seu orgulho era sempre uma arma eficaz, mesmo que os efeitos fossem temporários. Ofendido, ele fez um bico e empinou o nariz, tentando não farejar muito daquele cheiro detestável de carne podre. Usava a visão e a audição. Virando um corredor, perto da saída do lugar...
—Ali, no lado direito, perto da porta!
—Já vi!
Segundos depois, o ser voltou ao seu estado natural de morte inerte. Os olhos âmbar sempre ficavam impressionados com a frieza com a qual seu guarda costas os atacava...era belo, mas ao mesmo tempo apavorante. Sempre se pensava...e se fosse eu, será que ele me "mataria" tão facilmente também?
É...ele o faria sim.
—Não saia agora, tem mais se aproximando...
—Então seja útil e me cobre aqui!
Apanhando o que de mais mortal e próximo tinha perto de si, que era um esfregão, e joga pro maior. A cara dele de "Tá me tirando, macho?" era hilária, mas não havia tempo pra rir. O estado corajoso dele tinha prazo pra acabar, que nem os poderes do Ben 10 ou da Ladybug e do Chat Noir - quié? Ele gostava de desenho, hmpf. De qualquer forma, era melhor aproveitar logo aquele ímpeto de coragem. Como um bom comandante, rapidamente montou uma estratégia. Foi na frente, meio suicida, e Leão cuidava de quaisquer zumbis que aparecessem de surpresa por trás ou pelos lados.
—Tem um shopping a algumas quadras daqui, acha que aguenta correr?
—Vamos descobrir!
Ok, sendo sinceros o esfregão era uma arma HORRÍVEL, mal e mal dava pra se defender, mas no desespero era o que tinha pra hoje. Pra seus alívios, as análises do virginiano estavam certas, e aqueles coisos eram mesmo mais lentos à luz do dia. A maioria no máximo os espreitava protegidos por marquises e sacadas, mas puta merda, o cheiro era muito ruim! Os estômagos reviravam...ao menos a fome havia melhorado, né? Tudo tem seu lado bom.
—V-vivi...quanto mais...
—Quase lá!
Os dois estavam no início de uma desidratação leve, era perigoso. Engoliu a seco e o forçou a parar perto de algumas lojinhas comerciais, sem sequer perder tempo procurando algo útil por lá. Já deviam ter sido saqueadas, ou estarem apinhadas de mortos vivos. A regra era clara: durante o dia, campo aberto, só à noite para entrar em espaços pequenos.
—Relaxa, tamos indo bem...só mais um pouco e...
Estava quase relaxado, mas um som alto de algum aparelho super barulhento e letal sendo apontado pra si o fez quase tropeçar - aliás, se não fosse Leão o puxando pra trás com força, talvez sua jugular aberta estivesse tingindo o chão de vermelho agora mesmo.
—QUE PORRA É ESSA?
Parado à sua frente, prestes a atacar novamente, estava um insano Aquário com sua amada serra elétrica. Recuando uns bons passos, Leão e Virgem se armaram com seus risíveis arsenais, o fazendo rir até.
—Você tá maluco? Quer nos matar, seu porra?
As ofensas de Leão não o atingiam, é claro. Seu olhar estava focado em Virgem.
—Foi mal, eu vi esse aí e pensei que era um deles...branco desse jeito, como que eu ia saber que não tava morto?
—Ora seu...
Simultaneamente, Virgem impede um provável ataque suicida de Leão e seu fiel parceiro esfregão, assim como Sagitário surge, ofegante, e desfere um belo soco na nuca de Aquário, irritado.
—Eu te disse pra não correr na frente, o que pensa que tá fazendo? Seu irresponsável, não pode atacar humanos!
O menor só esfregou a nuca, o olhando com cara de "Meh" e se afastando deles, caçando mais coisas pra matar, decapitar e estripar, gritando alucinado. Com sua adrenalina praticamente toda consumida, Leão tornou a se acovardar, levando Virgem a pensar seriamente em procurar um feiticeiro num reino distante que o enfiasse coragem, nem que fosse pela bunda. Mas preferiu se concentrar em falar com o maior, ele ao menos parecia amigável...mesmo que o jeito que ele o olhava fosse meio intimidante. Acena diante de seus olhos.
—Er...oi? Você, moreno, alto...
Sagitário ainda estava meio embasbacado, vidrado naqueles olhos verdes...era era tão bonita! E tinha uma presença que...uau. A maioria das meninas ao seu redor se faziam tanto de fofinhas e femininas que era meio enjoativo e forçado, mas aquela...só reagiu ao ser chamado, corando automaticamente.
—A-ah, eu, desculpe! O-olha, desculpe pelo Aquário, ele...não bate muito bem. Em geral é inofensivo, aliás, só deve ter se empolgado.. Eu sou o Sagitário.
—Virgem. E esse gato medroso aqui é o Leão.
Certo...a voz era meio esquisita, mas isso não importava. Nem ligava pra isso. Ambos selaram as mãos (era tão macia quanto o equino imaginara, graças às luvas de jardinagem que eram quase uma segunda roupa pro moreno), ignorando a carnificina que ocorria a poucos metros dali. Quase dava pra jurar que os zumbis estavam com medo. Ignoraram também o bico do felino novamente ofendido.
—Estamos indo pro shopping, em busca de mantimentos por lá...e vocês? Estão sozinhos?
—Ahn, meio que sim.... diz aquele doido que tem um amigo que ainda está vivo e vai nos encontrar no fliperama, umas ruas abaixo, mas eu não teria tanta certeza disso...se quiserem ir conosco.
Sagi parecia desconfortável, mas Virgem não. Ter mais gente por perto aumentaria a segurança e evitaria que ele matasse seu colega num surto de fúria.
—Adoraríamos. Mas realmente precisamos de suprimentos, especialmente água.
—Sei onde podemos encontrar, também estávamos indo reabastecer. S-se quiser eu divido minha água com você!
—Melhor não, vamos contar e dividir igualmente tudo o que temos na próxima parada, é o mais sensato a ser feito. Detestaria te deixar mal suprido por um simples erro de divisão.
"O que tem de bonita, tem de inteligente e racional!" Suspirou sem perceber, mas logo sacudiu a cabeça. Precisava se policiar, calma, Sagi,calma! Os dois começaram a caminhar pelas ruas quentes, trocando informações superficiais e o alívio mútuo de não estarem mais presos estritamente a um parceiro louco e indesejável. Leão só os seguiu, ombros encolhidos, começando a se perguntar se devia ter mais medo dos zumbis ou de Aquário.
"Agora são dois pra me matar enquanto eu durmo...ótimo, Leão, melhor tomar cuidado, que o seu tá na reta.", pensava aos resmungos, observando Sagitário e tentando entender porque é que, sem nenhuma explicação, não estava indo muito com a cara daquele cara.
Instinto, talvez.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem até aqui!~
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Nem acreditamos que tem tanta gente favoritando essa fic, sério, vocês são demais ;w;



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