Tudo ficou preto.Ficou preto por cerca de 2 segundos, quando deu conta de si, não sentia nada.
Literalmente não sentia nada
  Tentou mover a cabeça, mas ela não respondia. Tentou mover as mãos, mas elas pareciam presas. Parecia tudo calmo, estava um silêncio absurdamente incômodo, e sua mente estava calma, estranhamente calma porque ele geralmente se preocupava com tudo.
Quando tentou abrir os olhos, suas pálpebras responderam lentas. Aos poucos pôde abri- las mais, sua visão estava turva e sua audição tinha um chiado ensurdecedor. Logo, seus olhos se ajustaram à luz.
Capricórnio estava de cabeça para baixo.
Seu corpo estava preso firmemente ao banco do motorista, graças ao cinto de segurança, sua cabeça estava colada ao teto, que amassou ao colidir com o chão, suas pernas...ele não conseguia sentir suas pernas. Quando foi olhar para baixo para ver se as tinha quebrados ou estavam presas, sua espinha congelou e seus olhos ficaram imediatamente marejados.
O corpo da esposa estava sobre suas pernas, sangue escorria em quantidade da testa dela, e sua cabeça estava virada numa posição nada natural.
Aquilo era demais para ele.
Tentou chamar pelo nome de sua esposa, mas sua garganta estava trancada, mal passava ar nela, seu coração estava batendo tão rápido que podia ouvi-lo nos próprios ouvidos.
Tirou as mãos que estavam presas ao volante, e pôde sentir o sangue voltando a circular nas veias de seus braços, fizera tanta força pra não gritar que suas mãos ficaram brancas. Estava desesperado e esse era um ótimo motivo desta vez.
Tinha que sair daquele carro, e ligar para uma ambulância o mais rápido possível.

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Ao sair lá de dentro, pôde ver o tamanho estrago que aquilo causou no carro. Estava como um sanduíche amassado na sanduicheira, ainda não sabia como havia sobrevivido a queda. Sentia dores pelo corpo todo, com certeza tinha hematomas também...mas não havia quebrado nenhum osso, e seus óculos estavam apenas rachados.
Quando ia sair de perto do carro para chamar ajuda, algo lhe chama a atenção.

—...Papai.. -Uma voz fraca e abafada vinha de dentro do carro.

Era sua filha Clarisse.

—Filha?! -Capricórnio correu desesperado para a porta do passageiro.

Agachou-se e olhou pela janela quebrada, Clarisse estava presa junto ao banquinho infantil ,mas não se mexia.

—...Papai..- Sussurrou novamente, seu rosto estava virado para o outro lado, não conseguindo virar para olhar o pai.
—Vai ficar tudo bem filha! Vou te tirar daí o mais rápido possível!

Capricórnio puxa com tudo a porta do passageiro para abrir, mesmo com ela antes trancada, consegue abri-la facilmente. O banco de Clarisse só não havia caído pois um dos prendedores ainda estava lutando contra a gravidade. Ao tira-la de lá, seu coração deu um salto em sua garganta.
O seu pescoço não se mexia...pois havia sido cortado pelos estilhaços de vidro. O rosto de sua filha estava cheio de cacos afundados em sua pele nova, e um olho estava sangrando.

—Papai...veio me salvar..? -Ela sussurrava, tremia enquanto tentava olhar para o próprio pai.
—Eu tô aqui filha, vai ficar tudo bem! -Abraçava ela com força, tremendo também.
—Papai... eu tô com muito frio...
—Clarisse, por favor fique acordada!- Capricórnio suplicava, sentindo seu batimento cardíaco diminuir aos poucos.
—Papai...c-cadê a mamãe...e o Pimbu? -Ela indagava ,procurando os dois sem sucesso.
—A mamãe... -Ele hesita, fazendo força para não chorar na frente da filha -Ela...f-foi buscar o Pimbu no Castelo do Bruxo Mau,ela irá voltar daqui a pouco...
—Ah... -Clarisse suspira, sentindo suas pálpebras pesadas demais -Acho...que vou tirar um cochilo...
— F-Filha...n-não!
—Boa noite papai..
—Clarisse!

A menina caiu mole no corpo do pai, já sem vida.
Um homem sozinho, deixado para trás pela sua esposa e filha. Tudo parecia tão melancólico, que chagava a ser cruel.

—Isso só pode ser um maldito pesadelo.. -Capricórnio cobria os olhos com uma mão livre ,enquanto a outra segurava o corpo inerte da filhinha -Um daqueles bem cruéis...

Um sorriso de escárnio brota em seu rosto ,como se estivesse tirando sarro de si mesmo por parar naquela situação. Isso, aquilo só podia ser um pesadelo! A qualquer momento o despertador iria tocar e ele acordaria pra se preparar as pressas denovo para o trabalho, isso não é real! É tudo um sonho de mau gosto que sua mente criou para ele! Uma lição para passar mais tempo com a sua família!
Mas nada aconteceu.
Esperou ,esperou mais, e esperou mais...Parecia que estava há horas sentado naquela mesma posição, esperando o despertador tocar.
Mas nunca tocou.
Ele ouviu uma vibração, que seguiu de uma música, um toque padrão dos celulares da Sanseng tocando no carro. Alguém estava tentando ligar para ele.
Arrastou-se para a porta do carro sem pressa. Não havia motivos para ter pressa, seu céu e terra haviam sido tirados de si ,tudo em menos de 2 minutos.
Mas quando chegou na porta e pegou o celular que estava todo rachado, a ligação havia sido encerrada. Capricórnio olhou aquilo com indiferença, mas foi checar quem era o ligador.
Era Libra, um dos cientistas do centro hospitalar e científico que trabalhava, era um dos colegas mais próximos dele.
Quando ia discar o número para retornar a ligação, um som repentino e estrondoso vindo do carro chama sua atenção.
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Havia um homem em cima do carro, sua corcunda era saliente, parecia que havia quebrado a espinha de tão grande que era, tinha os joelhos flexionados e havia dedos faltando em suas mãos, tinha pele esbranquiçada e veias roxas e pretas saltavam de sua pele.Mas o que mais amedrontou Capricórnio foi o seu rosto, sua mandíbula estava quebrada, pendendo por pedaços da sua pele rasgada na bochecha e garganta, havia espuma saindo de sua boca e seus olhos eram nitidamente brancos, sem vida. Não havia dúvida de que aquele homem não era mais humano, e nem dócil.
Em um piscar de olhos, a criatura salta do carro e assustando Capricórnio ,que se abaixa defensivamente. Mas a atenção do monstro não estava voltada para o secretário.
Estava voltada para o corpo da filha dele.
Numa corrida cambaleada ,o monstro corre para o corpo da menina e se abaixa ao lado dela, mordendo diretamente o braço e rasgando a sua carne ainda morna.

—Ei! Seu filho da puta, O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!! -Capricórnio grita com o homem, que não se dá nem ao trabalho de virar para ele.

Estava tendo uma visão que fazia seu estômago se revirar por inteiro, sua filha estava sendo dilacerada na sua frente. Aquela criatura já não era mais humana, parecia mais um daqueles monstros de filme de adolescente, um morto vivo.
O desespero toma conta de si, agarrado ao carro, olha dentro dele a procura de alguma coisa que poderia matar aquela...coisa.
Pega um apoio de cabeça que havia saído do banco. Olha para trás e se levanta subitamente , correndo o mais rápido possível na direção dos dois, seu coração batia tão rápido que não escutava mais nada à sua volta.
Ao se aproximar do homem, no mesmo segundo que ele iria virar para atacar, Capricórnio enfia no rosto dele as duas estacas de ferro presas à almofada da couro sintético, fincando nos seus dois olhos.
O rugido do monstro foi alto e amedrontador, mas Capricórnio não pensava em mais nada e continuou a fazer força ,fincando mais fundo ainda nas suas órbitas até que uma hora ,o monstro para de reagir e cai duro no chão, finalmente morto.
Havia acabado.
Capricórnio mesmo ofegante, se ajoelha ao lado da filha, tremendo e com lágrimas caindo de seus olhos, seca-as constantemente, agora entendia o que estava acontecendo.
O porquê das ruas estarem vazias, o porquê de atropelarem aquele homem, o porquê do Libra ter ligado, e o porquê de ter matado aquela criatura. Ele era uma vítima, assim como sua esposa e filha.
Ele precisava de ajuda, precisava achar um local para se esconder, ele precisava...
Ele precisava ir pra onde trabalhava. Se Libra o ligou, quer dizer que estava seguro lá ,com certeza haviam cientistas e doutores trabalhando numa cura lá!
Capricórnio teve seus pensamentos interrompidos com um rugido ao fundo. Haviam mais criaturas daquelas por lá, e estavam chegando mais perto.
Por ora, ele tinha que sair dali.