Profundezas escrita por Nathalia Schmitt


Capítulo 4
Maluwala




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Após o recrutamento, Auho iria ajudar os feridos que ainda eram muitos e precisavam de acompanhamento. Rire ficaria no lugar da amiga mais tarde.

— O plano, de acordo com Ihoy, é invadir a colônia de globies mais próxima e ver o que descobrimos. — conversava Rire despretensiosamente, em seu novo ninho na toca de Auho.

— Ele falou algo sobre cercar e capturar, não foi? — Auho fitava a caixa de pedra onde guardava sua comida e Rire quase ouvia-a se perguntar se comia agora ou mais tarde.

— Sim. O objetivo é tomar deles informações. Estão preparando o lacar. — o calabouço dos nereides. Auho fitara a amiga.

— Ihoy nunca foi a favor do lacar. — Rebatera Auho.

As jovens não desconfiavam, mas Ihoy estava, como líder que era, preocupado e inquieto com o bem-estar de sua colônia, com a segurança e em como lidar com a situação. Procurava diferentes abordagens, defesas, mas não sentia-se tão confiante e dividia tudo com Kahan. A invasão fora uma surpresa infeliz e Ihoy sentia-se, pela primeira vez em muito tempo, perdido naquela vastidão banhada em sangue. E a morte de Marama o assombrava todas as noites. No entanto, havia outras prioridades também e não podia dar-se o luxo de sofrer em luto.

— Acho que as coisas mudam. — Rire dera de ombros. Auho aproximara-se de sua grande caixa e abrira a tampa superior. Havia uma tela acima da comida, para que não saísse boiando quando a caixa fosse aberta. Em cada divisão da tela, um saquinho, e a mais velha sabia exatamente o que havia em cada um.

— Mas as criaturas não. Quer dizer — começara a outra, retirando um saco com alguns frutos. — Ihoy nunca foi favorável a tortura. Não acho que a ideia partiu dele. “Matar sim, torturar não”, é o que ele diz. Você sabe. — fechara a caixa e sentara-se em seu ninho.

— Você acha que pode ter sido Kahan? — a pequena aproximara-se distraidamente de Auho e roubara-lhe um fruto.

— Tenho certeza, na verdade. — finalizara, comendo mais um fruto. Rire inspirara lentamente e a mais velha parecera ter lembrado de algo.

— O que foi? — Rire sentara-se a seu lado.

— Globies são carnívoros — pensara alto, fitando a mais nova. — e muitos praticavam rituais de sacrifício; existiam lendas e mitos sobre isso, um mais terrível que o outro. 

Rire lembrava-se com clareza da primeira que ficara sabendo, sobre serem canibais, mas não lhe vinha à memória algo sobre serem agressivos, dominadores e sequer terem algum tipo de tecnologia como bombas.

— E…? — incentivara Rire.

— Não consigo lembrar se são violentos. — Auho parecia decepcionada consigo mesma. Desviara o olhar e suspirara.

— E sobre terem tecnologias? Você sabe algo? — Rire estava mais curiosa em relação às bombas usadas do que com a natureza do inimigo. A outra franzira o cenho.

— Até onde sei, globies não deveriam ter tecnologia alguma. São mais… — Auho pausara, pensativa. - arcaicos.

— Acho que são. Bom, vou até as ruínas. — dissera simplesmente.

— Já está nas ruínas, Ri. — Auho passara mais um fruto para ela e prendera o saquinho a um cito de couro de tubarão, cinza e branco, em sua cintura. Rire comera o frutinho.

— Não demorarei. — disseram com a boca cheia. Despedira-se e nadara até onde um dia fora a maior fonte de maluwalas da colônia. De acordo com as lendas, aquele lugar havia sido criado por um tritão que, apaixonado, trouxera sementes da grande fonte de maluwalas, Maluwii, do oceando para cortejar seu grande amor, uma jovem muito bonita chamada Hawa, que dá nome ao lugar. Maluwii era um grande campo oceânico, composto por maluwalas brilhantes. Seu caminho era desconhecido por muitos. Não há nereide que saiba se o lugar realmente era real. Na entrada de Maluwii, diziam, jaziam dois grandes troncos em arco, conhecido como santuário purificador da vida. Chamavam-no de Arkondi e alguns acreditavam ser uma divindade da natureza.

Rire observara o local onde haviam as pequenas plantas brilhantes para o cortejamento de nereides — eram dadas à nereide a ser cortejada pelo macho interessado, como um presente enquanto o Hallula não chegava, em sinal de respeito e admiração. Antes de possuir apenas pedras e vestígios do local lindo que já fora, aquele estreito caminho com parte da flora era muito procurado para o cortejamento. Algas resplandescentes, pilares de pedras rústicas abraçados por plantas aquáticas e casais tímidos enchiam o lugar todos os dias. Agora tudo isso era apenas uma vaga lembrança de quem refugiava-se das responsabilidades enquanto sua colônia adormecia, invadindo o lugar de uma melancolia e solidão imensas.

Apreciava o silêncio do oceano e sentia-se feliz por estar longe de conversas exaltadas ou murmúrios lamentosos, porém toda a situação era tão estranha a ela que ficar sozinha estava causando-lhe arrepios. Sentia que a qualquer momento um globie poderia surgir acompanhado de mais devastação. Pegou-se pensando sobre as bombas, lembrando-se dos clarões.

Estou com a mente fixa nisso, pelo visto”, pensara, enquanto pegava uma das plantas que pareciam flores com quatro longas pétalas; morreria se não fosse realocada em algum lugar, ou talvez já estivesse morta, esperando o resquício de vida ir embora com a maré. Rire sentara-se em uma pedra, aglomerada com outros pedregulhos.

Atualmente possuímos apenas duas bombas: a fotossintática, que emite luz quando explode e é a preferida para fins de defesa, Ihoy tem muito orgulho dela; A toxitática, que espalha lentamente um veneno paralisante, dói muito e exige o uso das máscaras, pois atinge diretamente o sistema nervoso central. Pergunto-me se Ihoy usará uma como contra-ataque…, Rire não conseguia organizar seus pensamentos, mas sentia que estava faltando algo.

Ajeitara-se e desviara o olhar do horizonte iluminado, porém destruído para observar a flor em suas mãos, enquanto pensava sobre tudo o que acontecera e tudo o que poderia acontecer. Esse talvez fosse seu último dia de descanso antes do ataque aos globies. O futuro era incerto e todos corriam perigo. Estavam com medo, alguns queriam fugir para outras sedes, outros tinham dificuldade em seguir seus dias com o peso da morte de seus entes queridos e seus lamentos podiam ser ouvidos de longe.

Kahan aproximara-se de Rire, absorta em pensamentos, que não percebera sua presença, assustando-se quando o tritão sentara-se a seu lado. Parecia disposto, seus deveres no Centro de Treinamento haviam acabado e ele pensara que pudesse animar Rire. Nunca a vira tão séria e silenciosa, nadando pelas águas de Hapori, esgueirando-se pelos destroços como uma sombra.

— Preocupada? — perguntara Kahan, percebendo o incômodo latente de Rire.

— Pode ser que sim. — Voltara a fitar a flor que, sabia, amanhã já não estaria tão brilhante.

Kahan a observava, cauteloso.

— Maluwala significa “flor que brilha”. — comentara Rire para quebrar aquele silêncio desagradável. Não sentia-se facilmente à vontade com Kahan como sentia-se com Auho, mas a amiga estava ocupada e era o que tinha no momento.

— Sim. — ele parecia estar preocupado com outras coisas que não o significado do nome da flor. - Você sabe por que elas são usadas para cortejar?

Rire o olhara e encarara aqueles olhos negros e profundos, verdadeiramente curiosa. Kahan sorrira. Conseguira a atenção da jovem sereia, finalmente.

— Há uma lenda sobre isso. Kia nunca contou?

— Não! Qual?

Ele olhara para a frente, para os destroços.

— Há incontáveis séculos atrás, havia uma jovem nereide chamada Naya. Curiosa e cheia de energia graças à sua juventude, fugiu para desbravar o mar em busca do que diziam ser artefatos do planeta. Em uma de suas buscas, vislumbrou a lua, que não pode ser vista de nossa colônia; apenas em superfícies ou fora da água. Naya, apaixonada pelo brilho da lua, ia toda a noite de lua cheia admirá-la, encantada. Prometeu a si mesma ser fiel à lua que, ouviu dizer, era um guerreiro que levava suas amadas para junto de si. Porém, uma noite, foi sequestrada por criaturas da superfície com redes e morta ali mesmo. A lua, não podendo levar sua admiradora como diziam, deu a ela parte de sua luz em agradecimento ao seu amor: transformou-a na maluwala. Dessa forma, nós teríamos nossa própria luz da lua.

Rire ficara em silêncio, refletindo sobre a lenda que não conhecia.

E com o silêncio, viera o desconforto.

— Notei que você não participa dos Hallula. Por quê? — Kahan perguntara abruptamente, fazendo com que Rire o agradecesse para si.

Aquela planta tinha ligação direta com cortejamento que, obviamente, tinha ligação com o evento.

— Nunca pensei sobre isso. Acho que não tenho interesse em reproduzir. — respondera Rire, sincera. — Mas você também fica só olhando.

Kahan suspirara.

— Hallula não é um evento para todos.

— Talvez.

— Você já foi cortejada? Por fora… — Rire sabia que haviam alguns nereides que se arriscavam e aproximavam-se de seus amores, investindo até o evento ou, por vezes, enchendo-se de inspiração e coragem para relacionarem-se sem depender de um ritual. Mas nunca pensara onde ela poderia encaixar-se num contexto romântico.

— Não. — A jovem olhava para a planta. O que pareciam pétalas moviam-se lentamente, agraciadas com o sopro do oceano, um movimento sutil e aconchegante. Porém, Rire não estava aconchegada. Sentia-se cada vez mais incomodada. Nunca conversara sobre isso nem com Auho e, se não conversara com Auho sobre algo, não sentia que qualquer outra criatura tivesse autorização para saber sobre. Estava intrigada com o que poderia levar Kahan a querer abordá-la dessa forma. Kahan, ao contrário, não parecia perceber que Rire estava mais curiosa em saber suas razões do que seus assuntos.

— Mesmo? — a jovem fitara-o, sem entender.

— Até onde eu tenha percebido, mesmo! — o tritão parecera confuso por um momento. Rire gostava de conversar com ele, apenas não lhe era um tópico muito agradável.

— Pois deveria. — respondera o outro, encarando-a. Rire decidira mudar o rumo que as coisas pareciam tomar.

— Sinto muito pela morte do seu irmão. — Kahan desviara o olhar. Falar de Marama visivelmente o incomodava. De repente havia um muro de tensão entre os dois. Rire tentara desconversar focando no que podia. — Ele me falou há uns anos sobre uma terceira bomba. Sei que Hapori tem duas, mas não consigo lembrar-me da outra. Você sabe sobre algo? — o nereide tensionara o maxilar.

— A bomba de demolítio desparaceu há mais de duzentos anos. — respondera, ríspido. Rire fizera sinal concordando sobre a afirmativa, sentindo-se leve por lembrar. O potencial destrutivo era enorme, tinha um alcance muito grande e, por isso, havia sido escondida a sete chaves. Apenas um grupo restrito sabia da informação, porém invadiram o local e levaram-na. Nunca encontraram o responsável e o lugar nunca fora divulgado, tampouco a bomba fora recuperada. - Ele não era tão bom quanto parecia, de qualquer forma. — continuara Kahan sobre Marama, ignorando a abordagem sobre a bomba. — Matou um dos nossos, sabe? Encobri tudo, inclusive de nosso pai. Vivia envolvido em problemas. Desconfio que essa tomada de território dos globies seja por algo que ele tenha provocado. — Rire olhava-o sem saber o que dizer. — Acredito que tenha sido melhor assim. Paz a todos.

— Mas nossa colônia foi destruída… — começara Rire, arrependida de ter tocado na morte prematura de Marama, mas fora devidamente interrompida por Kahan.

— Um preço pequeno a se pagar. Sabemos que disso não passará, logo estaremos recuperados. — Kahan parecia tão otimista e corajoso que soava supérfluo. Rire precisava de tempo para absorver todas aquelas informações. Ela conhecia Marama, mas talvez não tanto quanto o irmão e também entendia que cada indivíduo possuía uma forma de lidar com suas tristezas e feridas. Preferira respeitar Kahan e sua dor por ora. Poderia tentar incutir esse assunto em um momento mais propício.

Quando Rire respirara fundo para respondê-lo, foram abordados por Auho indo em sua direção, clamando por Rire, pois precisavam dela um pouco mais cedo com os feridos. Kahan as cumprimentara com um movimento sutil da cabeça e se afastara.

— Interrompi alguma coisa? — perguntara Auho, sorrindo.

— Não, nada!

— Vocês teriam filhos muito bonitos, sabe?

— Auho!

— Ok! Filhos feios, então, que seja. Você que sabe.

— Auho…

— O quê? — Auho nadava como um golfinho filhote brincando, fazendo piruetas, nadando de barriga pra cima em volta de Rire.

— Eu estava contando a ele como você admira sua arma, mesmo que não saiba usar nada. — instigara Rire. Sua amiga estava passando mais tempo do que era saudável com nereides feridos, amputados e destroçados. Talvez fosse melhor espairecer um pouco. Auho parara de brincar e aproximara-se da amiga que levantara-se dos escombros.

— Você não fez isso.

— Claro que não! Mas perguntei se Marama notou em você e…

— Rire! Não brinque comigo! Isso não tem graça! — Rire respondera com um sorriso e afastara-se, seguida pela amiga.

As duas seguiram até os feridos enquanto Rire divertia-se às custas da outra na tentativa de distraí-la um pouco. Auho mal sabia que tudo o que a menor queria era lhe contar sobre o roubo da bomba de demolítio de duzentos anos atrás.

Auho ficara um pouco mais ajudando Rire. Muitos nereides estavam sem membros, com hemorragias internas intermináveis, ossos quebrados, cegos, deformados, sem cauda, com braços – e vidas – destroçados pelo verópodes.

Uma parcela dos sobreviventes ainda estava desacordada e inconsciente, pois o verópodes havia mastigado alguns em seu caminho. Aparentemente, nereides não faziam parte de seu cardápio, já que nenhum foi, de fato, ingerido.

— Ri, você é melhor que eu com gente estrupiada. Sabe onde encontrar as coisas todas, certo? Ótimo, estarei na ala dos mortos, caso precise de mim. Boas costuras! — Auho parecia alheia ao sofrimento de seu povo. Ajudar fazia com que mantivesse seu humor agradável. Rire observara em volta; nunca vira o ambiente tão lotado. Aproximara-se de Whaakaro enquanto a mesma juntava algas e pedaços de corais específicos para serem preparados.

— Whaakaro? — chamara baixinho.

— Sim? — perguntara a madura nereide sem perder o foco do que estava fazendo. Rire olhara em volta novamente.

— O que houve exatamente? Tudo isso foi resultado das bombas? — Rire tentava não falar alto para não alarmar os feridos.

— Não. A bomba foi jogada na praça central e no centro de treinamento. Quem foi atingido morreu na hora. — respondera Whaakaro, demonstrando calma absoluta, uma de suas características mais marcantes; fora por muito tempo mentora de Auho.

— Então… — Rire olhara com espanto para o local e olhara para a responsável que usava uma longa pedra com a ponta plana como base para o que fazia. - esses foram atacados pela criatura?

— Sim. O estranho é que verópodes são solitários e nutrem-se de peixes ou pequenos mamíferos. Querida, pode alcançar-me um daqueles potes? Obrigada.

— Isso tudo é estranho.

— Peças, minha pequena. A imagem fará sentido apenas quando completa, mas cada peça tem sua razão de ser e é importante para o contexto. - ela guardava delicadamente os ingredientes para fins medicinais.

— E se eu quiser saber mais sobre o verópodes? - Rire queria o máximo de informações possíveis antes de partir com o primeiro grupo. Whaakaro olhara para Rire enquanto tampava o último potinho.

— Procure-me quando terminar seus afazeres aqui. — sorrira e afastara-se, com seu coque milimetricamente bem preso e manchado na lateral, com círculos disformes e cheios de melanina, sequelas de uma doença que quase resultara em sua morte quando criança.

Rire fora até a estreita entrada onde haviam pastas, frutos medicinais e suprimentos para tratar ferimentos. Montara um kit em uma pedra lisa e fina, leve, que lembrava vagamente um prato. Aproximara-se de um tritão que havia tido sua cauda dilacerada. Ele estava com uma máscara que liberava um sonífero anestésico como a maioria ali, para poder ser tratado adequadamente e não sofrer. A jovem cuidadora começara a limpar sua cauda — ou o que restara dela — usando a pasta que havia pego. Como era espessa, não havia problema em ficar molhada. Então começara a costurar a pele, um procedimento feito adicionando pele de peixe fresca para fechar o ferimento e remover o excesso. Sua musculatura já havia sido cuidada por outros nereides. Quando terminara, fora pegar mais suprimentos no corredor interno daquela caverna.

— Rire! — intervira uma das jovens cuidadoras.

— Olá. — cumprimentara Rire, organizando sua bandeja de pedra.

— Fiquei sabendo que você foi recrutada. — a nereide falara baixinho.

— Sim. — aproximara-se de algumas caixas dispostas como estantes e abrira uma delas.

— Você não tem medo? — Rire pegara o que precisava e virara para a jovem. Não lembrava-se dela.

— Medo é uma definição oblíqua para essa situação. — Ela aproximara de sua bandeja, terminara de organizar e pegara-a, esperando que a outra desse passagem para ela terminar o que estava fazendo.

— É, pode ser. Mas eu não iria de jeito nenhum e…

— Ainda bem que cada indivíduo é único, então! — Ela não tinha a paciência de Auho e nem a maestria de Whaakaro. A estranha parecia ter sido pega de surpresa, concordara com Rire e saíra do caminho. Havia muitos pontos de distribuição de cuidadores e muitos estavam esforçando-se. Fizeram uma ala separada somente para as crianças e ovos salvos que decidiram que era melhor deixar no subterrâneo. Aquele era apenas um deles. Assim que Rire ajudara com os ali alojados guardara tudo e procurara por Whaakaro.

Aproximara-se e sorrira. Whaakaro fizera sinal para segui-la e entrara em uma das passagens internas.

— O que você quer saber, criança? — perguntara, atenciosa.

— Verópodes. — respondera a mais nova, com sua ansiedade de costume.

— Ah, sim! Sente-se. O que sabemos sobre essa criatura é que ela volta a seu local de nascimento duas vezes ao ano: uma para reproduzir e outra para dar a luz. A criatura do ataque, estranhamente parecia estar com os globies, como deve ter percebido, mas pelo seu tamanho e mandíbula, sabemos que é uma jovem fêmea. Todavia, não é habitual da espécie ser feroz. - esclarecera com parcimônia. Rire pensara por um momento.

— E por que você acha que ela está com a colônia de globies? — perguntara a nereide. Whaakaro inclinara a cabeça novamente.

— Minha opinião não é relevante, querida. Aquieta-te a mente e preste atenção: se essa jovem fêmea está a favor dos globies, pode ser que não esteja por vontade própria. Está tarde. É melhor acolher-se ao ninho. Boa sorte amanhã. — Whaakaro sorrira. Rire despedira-se, agradecendo as informações e retirara-se.

Quanto mais Rire sabia, mais confusa ficava. As investigações não estavam rendendo qualquer informação válida. Quanto menos sabiam dizer, mais a colônia encarregava-se de criar histórias acerca disso. Tudo o que a jovem sabia, porém, era que globies não eram muito inteligentes.

Os sobreviventes — feridos ou não — não sentiam-se muito bem com tudo da forma que estava. Nem sequer haviam reerguido a colônia para mantê-la funcionando. Parecia estar abandonada num grande luto.

Rire fora até sua toca esperar pela mais velha. Concluíra que talvez Kahan estivesse certo em ser otimista e, quem sabe, precisassem de mais nereides como ele.

Não demorou para que Auho fosse liberada e chegasse.

— Como foi por lá? — perguntara, cumprimentando a mais nova. Auho parecia cansada.

— Foi… — Rire observava enquanto a amiga guardava o óculos de proteção antibomba juntamente do seu. — encantador.

Auho rira e sentara em seu ninho.

— Pronta para amanhã? — soltara. O plano era claro e começaria no dia seguinte, bem cedo. Ihoy tocaria o clambor, um artefato musical dos nereides, muito usado em rituais para atrair prosperidade e sorte; funciona como um clarim, só que emitindo sons de baixa frequência. Quem não comparecesse, estaria fora da primeira equipe de guerra.

— Você está? — Rire não tirava a reunião que ocorreria em Muçuri, onde todos almoçariam e se preparariam para os detalhes do plano da mente. Ela estava animada, principalmente por participar ativamente e saber tudo em primeira mão, mas não tinha um bom pressentimento; não estava tão segura de si sobre participar de algumas possíveis batalhas.

— Não sei. — deixar seu pequeno território era incômodo para Auho, que sempre fora muito apegada a seu ninho. Sentiria falta do seu conforto, pois sabia que levaria algum tempo até que voltassem. Se é que voltariam.


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