Os rios e lagos da região com água fresca e cristalina, e o céu tornava-se límpido e belo na manhã seguinte... E já por volta da metade do dia quando os raios solares estavam um pouco mais fortes, Feri e Lang lutavam sendo assistidos pela alcateia de certa distância, próximos ao rio... Simulavam uma luta e tentavam vencer um ao outro por horas...

E seus momentos de distração acabaram por leva-los para dentro do leito... Que estava por demais fria num primeiro instante, porém era rasa, e o sangue quente pelo esforço físico e a sede terminaram por fazer Feri pular na água corrente ao lado de seu irmão peludo...

A moça selvagem sorria, quando notou estarem sendo observados e o sorriso se fechou... Suas narinas e Lang rosnando mantendo a guarda, mesmo de dentro da água, confirmaram sua certeza!
Olhando de relance através dos raios de sol Feri podia jurar que havia visto uma silhueta de mulher... Porém lá estava ela: a solitária loba cinzenta novamente... Sentada na margem, observando-os quieta e atentamente...

Ela então abaixou a cabeça para beber um pouco da água do rio... Enquanto Feri se aproximou rapidamente da margem saindo da água, podia sentir nela a mesma energia estranha de antes...

Os sutis raios de sol tocavam-lhe a pele enquanto ela se esgueirava lentamente apoiando-se abaixada e com as mãos no chão, tal como um lobo sobre as patas... Lang havia parado de rosnar e espreitava por perto...

A loba ainda lambia a superfície da água quando a mão humana e trêmula encostou-lhe de leve a cabeça... Os olhos do humano lupina então encararam os olhos lupinos da fêmea cinzenta... De uma expressividade que ela nunca vira nem sequer em Lang! E em instantes a felpuda criatura correu livre pelas estepes logo desaparecendo..

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Os dias transcorriam... Lang, Feri e sua alcateia se esforçavam para conseguir caçar e sobreviver, obter comida era prioridade...
Numa certa tarde ensolarada caçavam uma corça pelas planícies, verdejantes e úmidas, num local próximo ao rio... O mesmo aonde aquela loba fora vista pela última vez... A moça acompanhava seus familiares lobos na caçada...

Mas infelizmente, ao menos para eles, ao se enfiar no rio o animal em seu desespero acuado por salvar a própria vida, acabou conseguindo escapar...

– Não se preocupe Lang, você fez o melhor que podia! Aconteça o que acontecer ficaremos juntos até a morte! – Feri acariciava os pelos da cabeça de seu irmão lobo, e tentava animá-lo e a si mesma...

Eram tempos difíceis, cada um tentando sobreviver como podia, cada espécie tentando defender sua própria existência! Eram dias em que o sol tendera a aparecer, entretanto isto parecia não estar sendo de tão grande valia...

Apesar da época, a escassez do fim do inverno ainda se fazia presente e Feri, Lang e os outros de sua alcateia ainda não conseguiam encontrar comida com facilidade naqueles dias... Passavam por fome e privações... Contudo alguns dias se passaram até que estranharam o fato de encontrarem outra humana, desta vez esta dormia perto da cachoeira...
...e pareceu sequer acordar quando Lang faminto avançou em sua jugular e toda alcateia banqueteou seu corpo, incluindo Feri, tal qual a outra vez...

Por mais duas vezes com o passar das noites os dois, o lobo Lang e a humana lupina Feri, encontravam aquela loba solitária nas madrugadas... Seu cheiro era inconfundível, e àquela altura também seu profundo olhar...

Os dias corriam e a escassez persistiu... E a alcateia sofria... então já pela terceira vez em menos de um mês uma humana descuidada apareceu no pior momento de crise...
...e a alcateia pôde se alimentar com fartura novamente... contudo pouco antes de matá-lá por um ínfimo instante Lang pareceu hesitante e Feri parecia... reconhecê-lá...?

Mas como tal impressão fora apenas momentânea, por segundos, e a sobrevivência da alcateia era de veras mais importante, eles a dilaceraram e se alimentaram dela com vontade matando sua fome e de todo grupo mais uma vez...

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