Coletânea: Realidade Abandonada escrita por Cloo Muller


Capítulo 3
12 de Outubro


Notas iniciais do capítulo

Oie...
Agradeço por estarem lendo ♥
Espero que gostem deste capitulo.
Eu li, li de novo e revisei trocentas vezes. Agora tenho quase certeza que é digno da sua leitura.
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Agradeço Mini Line e Marcondes Pereira pelos comentarios. ♥
Não sabem como eu amo eles. São minhas relíquias. ^^



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Hoje é onze de outubro. Todos sabem, certo?

Essa data é a véspera do Dia das Crianças. Provavelmente, os pequeninos estão ansiosos para o amanhã chegar e ganhar seus presentinhos. Tem grande chances das lojas estarem lotada de pais comprando os presentes de última hora.

Da janela do meu quarto eu vejo as crianças correndo de um lado para o outro, talvez esses abriram os presentes cedo demais, ou será a ansiedade tomando conta? Não importa.

 

Outubro não é um mês que me faz sorrir, muito pelo contrário. Me traz pesadelos.

 

Há oito anos atrás, quando eu ainda tinha meus dez anos, minha antiga escola organizou um acampamento próximo de uma cachoeira, como presente de Dia das Crianças para os alunos dos quintos anos, éramos três salas..

 

Me lembro perfeitamente, aquele final de semana começou alegre, mas terminou com tristeza e...

Oito anos antes.

Era sábado, já estávamos no acampamento há um dia. Os professores nos levaram para conhecer a trilha da floresta no período da manhã, e de tarde fomos tomar banho de cachoeira. Foi muito divertido para mim e para a maioria da turma, os meninos de calção e as meninas de maiô.

Eu e minhas cinco amigas, estávamos sentadas na beira do rio quando ela apareceu. Aquele maiô tinha ficado ridículo nela. Meu grupinho começou a rir e fazer piadas de mau gosto, “Olha a baleia”, “você parece um bujãozinho”, “Não sabia que Hipopótamos usavam óculos”. Confesso que fui eu quem desde o início implicava com a Camile. – Ela era baixinha, usava óculos tão forte que seus olhos ficavam minúsculos com ele, sem falar que era gorduxinha. – Desde que ela entrou na escola e tentou fazer amizade comigo, eu sempre a humilhei e pus apelidos maldosos.

Ela ficou magoada e voltou para as barracas. Os professores não notaram.

Ao anoitecer, o toque de recolher foi acionado por um professor através de um apito, todos foram para suas barraquinhas. Cada uma tinha três crianças, mas Camile teve que dormir sozinha, era grande demais e a barraca pequena demais para ela e mais duas meninas.

Eu não conseguia dormir, fiquei acordada até tarde, imagino. Ao ouvir passos e principalmente uma sombra grande e familiar se projetando do lado de fora da minha barraca, seguindo em direção a cascata, saí com cuidado do meu quarto improvisado para não acordar minhas amigas e a segui. Camile estava na beira do penhasco, –  Não era muito alto, talvez uns cinco metros, nunca soube. – ela olhava para o céu iluminado, no dia eu nem ao menos o apreciei.
— Está pensando em pular? – provoquei com um sorriso esnobe cruzando os braços.

— Por que pularia? –  perguntou desviando os olhos do céu para o rio logo abaixo. Camile sempre fora uma menina inteligente e doce. Eu sentia inveja, por isso fazia de tudo para rebaixa-la.

— Então porque está aqui? – me aproximei, estava exatamente a um passos atrás dela. – Você deveria se matar. Não percebe que é feia demais para viver – menti, ela tinha os olhos verdes-azulados mais lindos que já havia visto. – Esse seu corpo gordo e nanico, ainda por cima não enxerga sem essa coisa nos teus olhos, e teus cabelos…

— Para! – Camile implorou baixinho, mesmo não olhando para os olhos dela, pude saber que estava segurando o choro, a voz rouca a dedurava. – Não aguento mais isso. – Ela se virou para me encarar, mas se assustou ao me ver tão próxima, deu dois passos para trás, perdeu o equilíbrio quando suas pernas encostaram em uma barra de metal que impedia a ultrapassagem. Pude ver seu rosto antes do corpo rolar e cair no abismo escuro. Aquela cena me deixou em choque, estava apavorada, perturbada.

voltei para a barraca o mais depressa possível. Não consegui dormir e também não contei a ninguém o que eu tinha feito com a minha própria colega de classe. 

 

O choque passou, mas eu contínuo apavorada e perturbada.

O que eu fiz? Por que fui tão ignorante e deplorável?

Depois que o corpo de Camile fora encontrado sem vida no domingo – doze de outubro – Os adultos perguntavam para as crianças o que sabiam sobre ela. No jornal da televisão, eles disseram que ela havia cometido suicídio, pois sofria bullying na escola. – Ela não queria morrer, queria viver e eu vi em seus olhos antes de cair. Mas, me calei. Eu era uma assassina, ninguém poderia saber.

Estava com medo.

Ano passado fiquei sabendo que os pais e os dois irmão vão todo ano visitar a cascata. Todo Dia das Crianças eles estão lá, lamentando a perda.

 

Mesmo que ver essas crianças brincando me cause dor, mesmo que ver esses sorrisos – Sorrisos que arranquei de uma família – me trazem pesadelos, não quero parar de ver-los.

 

Como desejo uma máquina do tempo, quero tanto mudar aquele passado desprezível, iria fazer de tudo para que Camile sorrisse, seria amiga dela.

Me odeio, me detesto.

Não consigo me perdoar. Quero trazer paz para o meu coração, mas não consigo.

O que eu faço? como faço para isso acontecer? Por favor, me ajude.

Eu imploro.


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Notas finais do capítulo

Então? Gostaram desses temas?