How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 7
Novas ameaças




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O escritório de Peggy ficava a poucos metros da casa dos seus pais. Era pequeno, mas ela não se importava com isso. Tinha lutado muito para conseguir se estabilizar na vida, por isso se sentia muito realizada de ver o seu sonho concretizado. Estava apenas no começo ainda, mas ela tinha a convicção de que logo conseguiria bons clientes. Finalmente, tudo parecia estar dando certo para Peggy, tanto na sua vida profissional, quanto na pessoal.


Quando ela achava que as coisas não podiam melhorar mais, Pierre reapareceu na sua vida para completá-la. Peggy se sentia a mais feliz das criaturas desde aquele domingo em que Pierre a beijou pela primeira vez. Quando estava com ele, nada mais tinha importância. Nada mais fazia sentido. Tudo o que ela queria era estar com ele. Ficar com ele até o último dia de sua vida.


Sentada na sua mesa, ela esperava ansiosamente por Pierre. Como ela ia fechar o escritório mais cedo naquele dia, tinham combinado de passar a tarde juntos, na casa dele. Quando ela olhava pela milésima vez para o seu relógio de pulso, finalmente foi despertada de seus pensamentos pela chegada de Pierre.


-Demorei? – ele perguntou, sorrindo para ela e indo lhe dar um abraço apertado.


-Bem, vamos ver: estou a mais ou menos uma hora olhando para esse relógio na esperança de ver essa porta se abrindo. Mas acho que você ainda está dentro do prazo!


Ele arregalou os olhos para Peggy, mas a garota simplesmente riu, dizendo:


-Brincadeira, seu bobo! Terminei o serviço antes, porque ainda não tenho muitos clientes, mas tudo bem, não faz mal esperar um pouquinho!


-Que bom! Achei que tivesse me atrasado!


Peggy se levantou da cadeira, ainda sorrindo, e se aproximou de Pierre lhe dando um longo beijo. Quando se separaram, ele disse:


-Então, está pronta para a melhor tarde da sua vida?


-E quem disse que ela vai ser a melhor tarde da minha vida?


-Ora, você está falando com Pierre Bouvier, o rei dos dias perfeitos!


-É mesmo? Não sabia que você era tão convencido assim.


-Sabe, normalmente eu não sou, mas é que hoje eu estou com a garota dos meus sonhos, então... acho que acabei ficando um pouquinho convencido!


-Sei! Nesse caso, então, eu te dou um desconto – ela disse, lhe dando um selinho, antes de terminar – agora me ajude a fechar essa porta e podemos ir.


Como nunca tinha estado lá antes, Peggy foi imaginando, no caminho, como seria a casa de Pierre. Pensou que encontraria uma casa vazia, triste e cheia de recordações. Talvez ela estivesse até mal cuidada, já que Pierre ficava ali por pouco tempo.


Assim que chegaram, ela percebeu que estava mesmo certa. A sala era uma verdadeira caixinha de lembranças do passado de Pierre. Espalhados por todos os lados, havia porta-retratos que ilustravam uma família feliz. A mãe e o pai de Pierre estavam juntos em todas, sempre sorrindo e de mãos dadas. Em uma delas, Pierre beijava a bochecha de sua irmã mais velha, que se encontrava ajoelhada no chão para que o irmão pudesse alcança-la. A estante estava repleta de objetos que não combinavam nem um pouco com o estilo de Pierre. Sua mãe devia ter escolhido cada um deles com muito carinho para enfeitar a sala. Até o sofá bege com almofadas de estampas em xadrez tinha um toque maternal. Mas as teias de aranha acumuladas no teto e uma enorme mancha escura no chão contrastavam com o lugar, deixando transparecer o desmazelo com que era tratado pelo seu dono.


-O que aconteceu com esse chão? – perguntou Peggy, se referindo a tal mancha escura.


-Ah, isso... já faz muito tempo! Foi só uma garrafa de vinho que se quebrou, mas eu nunca consegui limpar...


-Poxa – ela exclamou, continuando a andar pela sala e observando os objetos.


-Hei! Não sabia que você tinha vindo até aqui só para ficar bisbilhotando as minhas coisas! – disse Pierre, abraçando Peggy por trás.


-E você tem alguma idéia melhor? – tornou Peggy, virando-se de frente para ele.


-Muitas! Muitas idéias!


-Ah é? E eu posso saber quais são? – ela disse, sorrindo.


-Melhor que isso! Posso te mostrar, se você quiser – Pierre sussurrou em seu ouvido, fazendo com que todos os seus pelinhos se arrepiassem.


-Eu ia adorar – respondeu Peggy, também sussurrando.


Pierre passou suas mãos pela cintura de Peggy, a beijando com intensidade. Ela respondeu passando uma das mãos pelo pescoço de Pierre e, com a outra mergulhada em seus cabelos, o pressionava contra si, como se não quisesse nunca mais se desgrudar dele. Pierre a conduziu para o sofá, onde eles se jogaram, ainda se beijando. Mas Peggy o afastou por um momento, dizendo:


-Espera, Pierre! Não era melhor a gente ir pro quarto?


-Não! Eu já esperei tempo demais para ter você – ele lhe respondeu, dessa vez sério.


Eles se olharam fixamente, como se pudessem aspirar um ao outro pelo simples olhar. Então, Pierre passou sua mão pela nuca de Peggy, a puxando novamente para si. Ela acariciava suas costas com movimentos de vai e vem, chegando na bainha de sua camisa. Ela a puxou para cima, até que conseguisse tira-la por inteiro, deixando nu o peito de Pierre. Ele a beijou com mais intensidade, deslocando seus lábios para o pescoço de Peggy. Suas mãos passeavam pelos corpos de ambos, querendo descobrir e explorar cada pedacinho do outro.


 E eles tiveram uma linda tarde de amor juntos. Uma tarde que estavam certos de que jamais se esqueceriam.

                                                                  ***

As almofadas tinham caído do sofá e se espalhavam graciosamente pelo chão da sala. Recostada em seu peito, Peggy ainda abraçava Pierre. Ele acariciava suavemente as mechas de seu cabelo, enquanto pensava fixamente em uma idéia que lhe ocorrera dias antes e que, agora, ele ensaiava mentalmente para dizer a Peggy. Então, tomando coragem, ele iniciou:


-Sabe de uma coisa, Peggy?


-O que?


-Eu já estou cansado de viver aqui, nessa casa, sozinho. Você não imagina o quanto eu me sinto solitário! É claro que quando eu estou em turnê, viajando com a banda, eu nem me importo, mas... toda vez que eu chego aqui, eu sinto um vazio enorme dentro de mim...


-Pierre... o que você está querendo dizer? – ela disse, se virando para ele.


-Que... bem... que você podia vir morar aqui comigo...


-Morar aqui? Mas você não acha muito cedo para pensarmos em morar juntos?


-Cedo? Não, não acho que seja cedo... pra que esperar mais? Eu te amo e quero ser feliz com você! Qual é o problema disso?


-Não, não tem problema nenhum, mas só que... nós começamos a namorar agora, Pierre! E se não der certo?


-Mas não tem porque dar errado! Afinal, nós já nos conhecemos há anos e...


-Não é tão simples assim... eu tenho medo... – ela desviou os olhos para as almofadas no chão.


-Mas você não precisa ter medo – ele o queixo de Peggy, fazendo com que ela se virasse novamente para ele, e olhou fundo em seus olhos – não vai acontecer nada de errado! Eu te amo! Quero ficar com você para sempre!


-Eu também te amo!


-Então, diz que vem morar comigo, Peggy! Vamos ser felizes juntos! Vamos construir uma vida juntos, ser uma família!


-Eu...


-Por favor! Diz que aceita!


-Eu... eu aceito!


-Você não sabe o quanto me faz feliz! – comemorou Pierre, abrindo um sorriso do tamanho do mundo.


-Mas você vai ter que esperar um pouco até os meus pais aceitarem isso! Eles vão ficar tristes quando souberem que sua filha vai embora de novo.


-Eu espero o tempo que você precisar – disse, beijando-a novamente.


Mas o beijo logo foi interrompido pelo toque estridente da campainha. Peggy se separou de Pierre, perguntando, com as sobrancelhas franzidas:


-Você estava esperando alguém?


-Não! – exclamou Pierre, tão surpreso quanto Peggy.


-É... melhor você ir ver quem é, então! – ela disse, indo vestir suas roupas, apressada.


-Certo – ele limitou-se em vestir sua bermuda e foi atender a porta.


Peggy acabava de abotoar a calça quando Pierre a abriu, deixando escapar uma exclamação de surpresa:


-Chuck!?


-Pierre, ainda bem que você está aqui! – ele disse, entrando na casa sem a menor cerimônia, e sem reparar que Pierre estava apenas de bermudas – precisamos conversar sobre aquela música que você está compondo... – sua voz foi morrendo assim que ele percebeu quem se encontrava no local e seus olhos se cruzaram com os de Peggy.


Um silêncio incômodo perdurou sobre o recinto por um longo momento. Os olhos de Chuck iam de Pierre a Peggy, tentando absorver toda aquela cena que ele presenciara. Sua expressão, porém, não era a de quem estava constrangido.


-O que ela está fazendo aqui? – ele disse, com raiva.


-Aqui é a minha casa, Chuck! E eu trago quem eu quiser pra cá!


-Mas, Pierre...


-É melhor você nem continuar, Chuck! – Pierre se aproximou de Peggy, abraçando-a protetoramente pelos ombros – Peggy vai vir morar aqui comigo!


-O quê?


-Isso mesmo que você ouviu! E é melhor trata-la com um pouco mais de respeito daqui pra frente, se não quiser que isso acabe em uma briga séria e sem volta!


-Eu... eu realmente preciso conversar com você – tornou Chuck.


-Pode dizer então!


-É uma conversa particular! – indignou-se Chuck.


Pierre ia responder, mas foi interrompido por Peggy:


-Tudo bem, Pierre! Já está mesmo na hora de eu voltar para casa, está ficando tarde!


-Mas...


-Eu volto amanhã, está bem? – ela disse, se despedindo com um breve beijo. Chuck desviou os olhos, bufando, de mal-humor.


Pierre levou Peggy até a porta e logo voltou, ficando a sós com Chuck.

-Você não estava falando sério quando disse que ia traze-la para morar aqui, estava?


-É claro que estava! Não consigo entender o por quê dessa sua implicância com a Peggy.


-Não é implicância! Será que você não percebe que ela não presta? Vai acabar estragando a sua vida!


-E o que te faz pensar assim?


-Ora, você sabe! Ela não pertence ao nosso mundo, Pierre! Vem de uma família pobre e ignorante. E depois, não se esqueça de que ela pode te trocar por outro qualquer como ela fez no baile do colégio!


-Isso não tem nada a ver, Chuck! Eu amo a Peggy de verdade e não me importo com a quantidade de dinheiro que os pais dela têm. E esse baile aconteceu já faz tempo! Nós éramos muitos jovens ainda e não sabíamos como lidar com os nossos sentimentos.


-Não acredito! Ela só pode ter te enfeitiçado para você estar tão cego assim!


-Já chega, Chuck! – gritou Pierre – Eu não agüento mais ouvir você falar essas coisas da Peggy. É melhor parar com isso se não quiser perder um amigo!  


-Calma, Pierre! Não precisa ficar alterado assim, só estamos conversando!


-É, mais vamos acabar brigando se você insistir com isso!


-Olha... eu não quero brigar com você! A nossa amizade é forte demais, não quero estraga-la por causa de uma garota idiota!


Vendo que Pierre fechava a cara, estreitando os olhos e ficando muito vermelho, Chuck apressou-se em dizer:


-Mas eu não vou mais insistir, se é assim que você quer! Afinal, se vocês querem ficar juntos, eu não posso fazer nada para impedir, não é? Mesmo não concordando com isso, não direi mais nada!


-Ótimo, então! Porque eu não ia desistir da Peggy só pra satisfazer a sua vontade.


-É melhor não tocarmos mais nesse assunto! Mas, de qualquer forma, quero que saiba de uma coisa Pierre: torço para que seja feliz, de verdade. Sei que já sofreu muito na vida. Você, mais do que ninguém, merece toda a felicidade do mundo!


-Eu vou ser feliz, Chuck! Vou ser muito feliz ao lado de Peggy!


-Bem, acho melhor eu ir embora, então – finalizou Chuck, com uma pressa repentina.


-Hei! Você não disse o que veio falar comigo, afinal! – chamou Pierre.


-Ah, não era nada de importante! Depois a gente se fala – disse Chuck, dando de ombros, e saindo da casa com uma pressa anormal.


Na rua paralela à casa de Pierre, Peggy esperava por um táxi para que ela pudesse voltar para sua casa, quando foi surpreendida pela chegada ameaçadora de Chuck.


-Você pensa que pode ir se intrometendo assim na vida de Pierre?


-O quê? Você está louco, Chuck?


-Não pense que vai se dar bem com isso, porque eu não vou deixar!


-Do que você está falando? Eu e Pierre nos amamos e vamos ficar juntos. E nem você e nem ninguém no mundo pode nos impedir!


-Isso é o que você pensa! Porque se depender de mim, vocês não terão muito futuro juntos.


-Porque esse ódio todo, Chuck? Porque isso?


-Porque eu sei quem você é de verdade! E não posso ver você estragar a vida do Pierre sem fazer nada.


-Quem vai acabar estragando a vida do Pierre é você, Chuck Comeau! Se ele soubesse quem você é de verdade, se ele conhecesse você realmente, Chuck, nunca mais iria querer olhar para a sua cara!


-Acontece que ele não vai descobrir. Sabe porque? – Chuck se aproximou de Peggy, agarrando seu braço com brutalidade – Porque eu vou destruir a “linda” relação de vocês antes disso.


-Me solta, você está me machucando – ela disse, empurrando-o para trás com violência – você não pode fazer isso! Não tem nada que você possa fazer para nos separar!


-Separar talvez não. Mas de uma coisa você pode estar certa, Peggy: sua vida com Pierre não vai ser nada fácil! Eu vou transforma-la em um inferno. Um inferno tão grande, que você vai querer voltar correndo para a casa dos seus pais!


-Eu não tenho medo de você, Chuck! Você pode fazer o que quiser, mas não vai adiantar nada!


-Isso é o que nós veremos – ameaçou Chuck, olhando para Peggy com ferocidade, antes de se afastar pela rua lateral.


Nesse momento, o táxi finalmente tinha chegado. Peggy adentrou o veículo com extrema rapidez. Tudo o que queria naquele momento era sair o mais rápido possível daquele lugar e se afastar o máximo possível de Chuck.


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