How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 6
Um encontro muito suspeito




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Bel saía apressada do cursinho. Seu primeiro dia de aulas no Canadá tinha sido uma correria e tanto. Como ela tinha chegado muito depois do início das aulas, tinha que correr atrás das matérias acumuladas e estudar o dobro dos outros alunos. Mas ela se esforçaria o máximo possível, afinal, não podia decepcionar os pais. No fim do curso, pretendia ingressar na Universidade de Toronto, a mais conceituada do Canadá. Desde quando resolveu deixar os Estados Unidos, tinha decidido que sua prioridade seria a sua carreira profissional, e que, se preciso fosse, passaria noites em claro estudando, tudo para conseguir a tão sonhada vaga.

Mas assim que ela alcançou a porta do prédio, avistou uma coisa muito estranha, que a fez parar com um choque de surpresa. David estava do outro lado da rua, aparentemente indeciso se permanecia ali, ou se ia embora antes que fosse visto por alguém. Tinha uma expressão engraçada no rosto, um misto de ansiedade e preocupação. Como muitos alunos saíam ao mesmo tempo do prédio, conversando alto e fazendo uma algazarra total, David ainda não tinha visto Bel. A garota teve vontade de rir daquela situação, mas resolveu controlar o riso e se aproximou de David, que agora estava de costas e já se preparava para ir embora dali.

-David? – chamou Bel.

-Bel! Que surpresa! – ele disse, se virando para ela com os olhos arregalados e um meio sorriso indefinível nos lábios.

-Eu estudo aqui, David!

-Ah... é claro que estuda! Que cabeça a minha!

-Você está bem? Parece meio estranho!

-Eu... estou... tudo bem! Na verdade, eu... só estava passando por aqui quando me dei conta de que hoje era seu primeiro dia de aulas e resolvi vir até aqui para te dar um oi, só isso...

-Você estava passando por aqui? – ela perguntou, desconfiada, com as sobrancelhas levantadas. 

-Estava... er, na verdade, tenho um amigo que mora aqui por perto...

-Hum...

-Bem, mas se você não gostou de me ver eu posso ir embora – ele se apressou em dizer, virando as costas para Bel.

-Não, espera! É claro que eu gostei de te ver – ela disse, puxando o braço de David e fazendo com que ele se virasse novamente – eu só não esperava... quero dizer, que você aparecesse, entende?

-Sério?

Ela assentiu, sorrindo. David ficou olhando para ela, sem saber o que dizer. Depois de um tempo, disse por fim:

-Então... como foi o seu primeiro dia de aula?

-Ah, uma correria danada! São muitas matérias para estudar e eu ainda tenho que correr para colocar tudo em dia!

-Nossa, sua vida deve estar uma bagunça! E ainda tem que se acostumar a viver em país estranho, diferente do seu...

-Pois é... a Peggy tem me ajudado bastante, mas ainda assim é difícil...

Nesse momento, porém, Bel deixou cair o seu horário de aulas no chão. David se apressou em pega-lo e devolveu para a garota, depois de dar uma boa olhada no papel.

-Caramba, como é que você pretende se arranjar com tudo isso? Parece que tem umas vinte matérias aí – admirou-se David.

-Ah, eu me viro. Sei que é muita coisa, mas com o tempo, vou me organizando aos poucos. Bem, parece que o meu único problema vai ser com a física, eu nunca consegui entender nada daquele monte de fórmulas – ela disse, suspirando.

-Sabe, eu costumava ser bom em física!

-Sério? – ela perguntou, incrédula.

-Ah, é verdade sim! Eu sempre passava cola para o Chuck, porque ele não tinha a menor chance de passar sozinho. Ele não era bem o que se pode chamar de um “cara estudioso”.

-Desculpe, mas você não tem cara de quem entende muito de física – falou Bel, achando graça.

-Está duvidando de mim? Bem, você não duvidaria se visse as minhas provas! Aliás, pensando bem, eu podia até te dar umas aulas particulares.

-Você está falando sério?

-É claro que estou!

-Bem, depois dessa, eu fiquei até curiosa para ver suas habilidades em física!

-Pois eu vou te mostrar!

-Está bem, vou ficar esperando então! Agora eu preciso ir, fiquei de passar no escritório de Peggy para almoçarmos juntas.

-Ah... certo. Tchau então!

-Tchau, David!

E ela se afastou, ainda rindo de David. 

*** 

Ele estava sentado em uma mesa nos fundos de uma lanchonete mal cuidada. Era limpa na medida do possível, mas seus azulejos quebrados, os móveis antiquados, a pintura descascada e o balconista barbudo e mal encarado davam ao lugar uma aparência sinistra. A sua volta, só uma mesa estava ocupada. O sujeito palitava os dentes, sem se preocupar com as pessoas ao seu redor. Era magro, de aparência abatida e apática.

Chuck destoava do lugar, como tivesse ido parar ali por engano. Mas a sua postura não era a de alguém que estivesse preocupado. Olhando para o relógio de cinco em cinco minutos, ele parecia esperar por alguma coisa, ou por alguém. O balconista, já desconfiado daquela demora, se aproximou de sua mesa, postando-se a sua frente.

-Vai querer alguma coisa ou veio até aqui só para ocupar a mesa? – ele disse, olhando para Chuck com cara de poucos amigos.

Chuck apenas levantou a cabeça para o tal sujeito e esclareceu:

-Estou esperando uma pessoa...

-Mas vai ter que consumir alguma coisa se quiser continuar esperando, não é? Ou você acha que eu vivo da brisa dos ventos?

Chuck ergueu os olhos para o balcão. Não estava nem um pouco a fim de consumir um daqueles salgados gelados e duros. Avaliou um pouco os produtos visíveis, antes de dizer, por fim:

-Você... pode me trazer um drink então...

O sujeito apenas deu as costas para ele, com um bufo, e voltou para trás do balcão. Logo em seguida, David passou pela porta da lanchonete e foi se sentar na mesa de Chuck, ficando de frente para o amigo.

-Você demorou – censurou-o Chuck.

-Eu nem devia ter vindo, se quer saber! Afinal, porque você foi marcar justo em um lugar como esse?

-Porque eu não queria que ninguém ficasse sabendo dessa nossa conversa, não é? Mas deixa de enrolação e me diz logo se você conseguiu ou não – Chuck tinha urgência na voz.

-Bem, eu vou dar aulas particulares de física para a Bel – ele respondeu, suspirando.

-Excelente! Isso é melhor do eu imaginei! Vai ser bem mais fácil você conquistar ela se começarem a se ver freqüentemente. A idéia das aulas é genial – comemorou Chuck, com um largo sorriso de excitação no rosto. David, por outro lado, não parecia nem um pouco animado com aquilo.

-Ainda não entendi porque você quer que eu faça isso. Peggy e Pierre estão juntos agora, porque você não os deixa em paz?

-Nunca! Não vou descansar enquanto não tirar Peggy do caminho de Pierre. Ele é meu amigo, não posso deixar que ele se envolva com uma... garota daquelas!

-Não sei porque você tem tanto ódio assim da Peggy. Ela é uma garota legal! Sabe, talvez no passado ela representasse alguma ameaça para nós, mas não vejo como ela poderia destruir o Simple Plan agora.

-A questão não é essa, David! Será que você não percebe que a Peggy vai atrapalhar as nossas vidas se eles continuarem juntos? Temos que acabar com esse namoro! Pelo bem do próprio Pierre. Você não quer vê-lo mal de novo por causa de uma garota, quer?

-É claro que não! Mas eu também não queria da última vez, e ele acabou se machucando pra valer, não foi?

-David, não seja burro! Peggy vai acabar com as nossas vidas se continuar com o Pierre. Temos que impedir que isso aconteça – ele disse, meio desesperado.

Mas David não pode responder porque, nesse momento, o balconista trouxe o drink que Chuck havia pedido. Ele perguntou se iam querer mais alguma coisa, mas Chuck o dispensou logo, com um aceno de mãos, impaciente. O homem voltou para o balcão xingando baixinho.

-Mas eu ainda não consigo entender porque temos que fazer isso com a Bel. Eu não queria que ela sofresse.

-Ora, se a Peggy achar que o Pierre teve alguma coisa a ver com isso, eles acabar se separando, não acha? E nós ficaremos livres delas para sempre!

-Hum... não sei...

-David, você não pode dar para trás agora que já colocou o plano em ação! E depois, não se esqueça de que eu ainda posso contar a verdade para o Pierre!

-Eu não disse que ia desistir! Você não precisa me ameaçar de novo com isso, ok?

-É bom mesmo que você não desista! Agora vamos embora logo, antes que aquele homem resolva nos colocar para fora a força – ele disse, se referindo ao balconista, que agora encarava os dois de cara amarrada.

Chuck pagou o drink que ele não tinha bebido. O balconista pegou a nota com ferocidade e lançou um olhar de desprezo a Chuck. Eles se apressaram em sair daquele lugar.

A cabeça de David, porém, dava voltas e mais voltas. Ele gostava de Bel, não queria que a garota sofresse. Mas, por outro lado, as ameaças de Chuck o impeliam a fazer algo que ele sabia que não terminaria bem. Nunca imaginara que o amigo fosse capaz de chantagia-lo daquela forma. Sempre que falava de Peggy e Pierre, Chuck exibia um brilho sinistro nos olhos, que deixavam David preocupado. Há anos que eles se conheciam e eram amigos, mas agora, David tinha a nítida impressão de que não conhecia o amigo tão bem quanto imaginava. Ultimamente, as atitudes de Chuck estavam deixando David com medo. Medo por ele, e pelas pessoas que poderiam ser afetadas pela obsessão doentia de Chuck com relação a Peggy. 

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Notas finais do capítulo

Gente, só pra organizar as coisas, agora eu vou postar quinzenalmente, para não virar bagunça. Assim, eu vou poder me revezar e continuar postando as minhas duas fics ^^