How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 8
Você precisa tomar cuidado com ele...




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         -Mas eu já disse que eu venho aqui todos os dias para ver vocês!

         -Você sabe que não é a mesma coisa, Peggy! Vamos ficar sem a nossa menina de novo – lamentou-se o pai de Peggy.

         -Pai, eu não sou mais uma menina – ela disse, tentando ser o mais carinhosa possível – eu cresci! Preciso viver a minha vida agora. É claro que vocês sempre terão um lugar especial no meu coração, mas eu preciso ir!

         -Você vai nos abandonar, eu sei que vai! Daqui a algum tempo, nem vai mais lembrar que nós existimos!

         -É claro que não, pai! Não seja teimoso, eu amo vocês e sempre vou amar! E depois, vocês não ficarão tão sozinhos assim, Bel vai continuar morando aqui.

         -Bel é uma boa garota, é prestativa, educada, nós nos divertimos muito com ela, mas ela não é a nossa filha!

         Peggy suspirou. Já estava cansada da teimosia do pai. Sua mãe não falava muito desde que ela havia comunicado sua decisão de ir morar com Pierre, mas ela podia perceber uma expressão de tristeza em seu rosto. De qualquer forma, porém, ela sempre fora mais aberta do que o marido, e Peggy tinha esperanças de que ela o acabasse convencendo a aceitar aquela situação, pelo bem da sua filha. Pensando nisso, Peggy voltou-se para ela, na tentativa de encontrar algum auxílio:

         -E você, mãe? Não vai falar nada?

         -Bem, o que você espera que eu diga?

         -Diz o que você acha disso tudo, ou sei lá... qualquer coisa! Só não fique assim tão calada...

         -Bom... é claro que eu não gostei nem um pouco dessa sua decisão! Não acho certo você, de repente, ir morar assim na casa de um namorado que você nem conhece direito...

         -Mas nós nos conhecemos desde a época do colégio!

         -Acontece que vocês perderam o contato durante todo esse tempo e você não sabe o que ele andou fazendo até vocês se encontrarem de novo.

         -Nós nos amamos, droga! Será que vocês não conseguem entender isso? O Pierre é tudo o que eu preciso para ser feliz – disse Peggy, numa tentativa desesperada para fazer com que seus pais finalmente entendessem os motivos que a levaram a tomar aquela decisão.

                                                                  ***

         Na sala, Bel esperava ansiosamente pelo resultado daquela conversa demorada entre os três. Sabia que o resultado dela poderia mudar a vida de Peggy e tinha medo de que tivesse que ir embora da casa da amiga. Ela acabou se afeiçoando aos pais de Peggy e não queria ter que se mudar novamente.

         Compenetrada nesses pensamentos, Bel mal conseguiu ouvir o barulho da campainha tocando. Quando deu por si e saiu correndo para atender a porta, a pessoa já estava quase indo embora.

         -David? – surpreendeu-se Bel, ainda ofegando. Atrapalhada, ela passou as mãos pelos cabelos tentando ajeita-los novamente.

         -Eu já estava pensando que não tinha ninguém em casa – respondeu David, achando graça.

         -Ah, me desculpe, é que eu estava meio distraída! Entre – acrescentou, afastando-se para que David pudesse passar para o interior da casa.

         -Vim cumprir a minha promessa. E então, está pronta para conhecer o mestre da física?

         -Primeiro vamos ver se você é mesmo o grande “mestre da física”, como você diz!

         -Tá bom, eu exagerei! Não sou tão bom assim, mas acho que ainda posso te ensinar alguma coisa!

         -Vamos ver!

         Os livros e cadernos de Bel estavam na mesinha de centro da sala. Ela tinha resolvido estudar um pouco para passar o tempo, mas não conseguiu se concentrar. Agora ela os mostrava para David, enquanto ia dizendo:

         -Sabe, foi bom você ter aparecido! Peggy está lá em cima tentando convencer os pais a aceitar que ela vá morar com o Pierre...

         -Hum... e você acha que eles vão concordar?

         -Pra falar a verdade, eu não sei! È difícil prever o que vai acontecer lá dentro... mas e então? Nós vamos ou não vamos estudar?

         -Ah, claro! Deixa eu dar uma olhada nisso aqui primeiro.

         Enquanto David lia e relia as anotações da garota, Bel o observava sem que ele percebesse. De repente, ela foi invadida por uma sensação estranha, que não tinha nada a ver com a conversa lá em cima.

                                                                 ***

         Mãe e filha se encaravam fixamente, como se pudessem enxergar através dos olhos tudo o que a outra estava pensando. Margareth se calou novamente, refletindo no que a filha tinha acabado de lhe dizer. O pai de Peggy, alheio, apenas chorava baixinho no canto oposto do recinto. Depois de um longo tempo, Margareth resolveu quebrar o silêncio, dizendo, finalmente:

         -Não posso impedir que minha filha siga a sua vida da forma que ela preferir. Eu só quero que você seja feliz, meu amor! – disse, tomando o rosto da filha entre as mãos.

         -Eu vou ser feliz! Vou ser muito feliz ao lado de Pierre!

         -Assim eu espero! Só lhe peço uma coisa, filha: tenha cuidado! Tenha muito cuidado. A vida nem sempre é tão fácil lá fora e vocês dois terão que enfrentar muita coisa juntos. Quando um casal resolve ir morar junto, tem que aprender que a vida não é feita somente de momentos bons, mas de momentos ruins também.

         Emocionada, Peggy sentiu dois filetes de lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Sentia que ia explodir por dentro de tanta felicidade. Seus braços envolveram Margareth em um abraço apertado.

         -Obrigada! Obrigada por tudo mãe! Vou me lembrar de tudo o que me disse!

         Sua mãe se limitou a abrir um sorriso compreensivo e lhe deu palmadinhas carinhosas nas costas de suas mãos. Seu pai havia se tornado branco como uma folha de papel. Com os olhos arregalados, ele protestou:

         -Margareth, você está concordando com esse absurdo? Peggy não pode ir embora assim sem mais nem menos!

         -Como ela mesma disse, Peggy não é mais nenhuma criança e sabe o que faz! Temos que nos conformar com isso!

         -Vocês duas ficaram malucas, só podem – ele a contrariou, balançando a cabeça e saindo do quarto lentamente.

         -Acho que ele nunca vai aceitar isso – lamentou-se Peggy.

         -Deixe o seu pai comigo. Ele é teimoso, mas te ama mais do que tudo no mundo!

         -Eu sei... eu sei.

                                                                 ***

         David não parava de falar sobre as fórmulas e as diversas situações em que elas poderiam ser usadas ou não. Mas, por mais que se esforçasse, Bel não conseguia se concentrar. De tudo o que ouvia, conseguia discernir apenas uma ou duas frases.

         -... você precisar tomar cuidado com o sinal. Se o movimento for retrógrado, o sinal é negativo, mas se ele for...

         Sinal. De que sinal ele estava falando? Bel não fazia a mínima idéia. O único sinal de que ela precisava, sabia que não poderia encontrar em nenhum livro. Ela se sentia bem em estar assim, tão próximo de David. Sua presença a acalmava de alguma forma. Mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia deixar de lado um certo nervosismo incômodo. Algo parecia se remexer desconfortavelmente em seu estômago, mas ela não sabia bem o que era. David continuava falando, uma mecha de seu cabelo teimava em cair em seus olhos, o que o forçava a recoloca-los no lugar de minuto em minuto. O piercing em seu lábio inferior se movia ritmadamente enquanto ele explicava a matéria. Bel corou ao imagina-lo roçando a sua pele. Achou que estivesse ficando maluca.

         David a olhou de soslaio e, como se lesse os seus pensamentos, perguntou:

         -Você está entendendo?

         -Estou – mentiu Bel.

         -O que eu acabei de dizer, então?

         -Você estava dizendo que... que... bem... você disse que... como é mesmo?

         -Você não estava prestando atenção, não é?

         -Na verdade... não! Me desculpa, é que eu estou muito nervosa com essa conversa e tudo mais... – ela desviou os olhos para a janela. Não queria que ele percebesse o que estava acontecendo de verdade.

         -Não fica assim! O melhor que você pode fazer agora é esperar – ele segurou delicadamente em seu queixo, fazendo com que ela se virasse novamente para ele – vai dar tudo certo, não se preocupe!

         Ele sorriu, lhe confortando, enquanto erguia a mão para colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha da garota. Bel sentiu um arrepio correr pelo seu corpo, mas lhe respondeu com outro sorriso. David a olhava bem no fundo de seus olhos. Era difícil olhar para alguma coisa além dele. Ela se sentia cada vez mais envolvida. Sem que eles percebessem, foram se aproximando lentamente um do outro. Mas então, foram despertados, com um salto, pela chegada de Peggy.

         -David? Não sabia que estava aqui – surpreendeu-se Peggy.

         -Pois é, eu... vim dar umas dicas para a Bel...

         Peggy olhou rapidamente para a amiga com um ar desconfiado e disse apenas:

         -Sei...

         -Acho melhor você ir embora agora. Hoje realmente não é o melhor dia para se estudar física!

         -Ah, claro, eu... volto uma outra hora então. Me liga pra gente combinar, ok?

         -Ok!

         Bel foi levar David até a porta e, quando voltou, tinha os olhos distantes e sonhadores.

         -Tem certeza de que ele veio até aqui só para te dar aulas? – quis saber Peggy.

         -Quê? Mas é claro! Porque você está perguntando isso?

         -Bem, você não acha isso meio estranho?

         -O que é estranho? Uma pessoa querer ajudar a outra a ir bem em uma matéria?

         -Você acha que eu não percebi?

         -Percebeu o que? Do que é que você está falando?

         -Ora, que está rolando um clima entre vocês! Olha só o jeito que você ficou depois que ele foi embora!

         -Isso não tem nada a ver, Peggy! David está me ajudando, é só isso. E mesmo que tivesse algo mais, não vejo qual é o problema disso!

         -O problema é que nós estamos falando do David! Você precisa tomar muito cuidado com ele, Bel!

         -Você está maluca, Peggy? David é uma boa pessoa, porque eu deveria tomar cuidado com ele?

         -Porque ele é amigo do Chuck e sempre ficou do lado dele. De uma forma ou de outra, ele sempre acaba fazendo tudo o que o Chuck quer e eu tenho medo de que eles estejam tramando algo.

         -Não acredito no que você está dizendo! David não é assim, eu sei que não...

         -David não presta, Bel! Você tem que acreditar em mim! Tem que se afastar dele antes que ele te faça sofrer!

         -Eu não vou me afastar dele só porque você quer! E depois, se você pode ficar com o Pierre, Porque eu não posso ficar com o David? Que eu me lembre, o Pierre também é amigo do Chuck!

         -Mas é diferente! O Pierre não sabe quem o Chuck é de verdade. Ele só conhece o lado falso dele, o que ele tenta parecer. O Chuck não é esse cara bonzinho que aparece nas revistas, ele se esconde atrás de uma máscara.

         -Quer saber de uma coisa? Você vive falando mal do Chuck, mas ele nunca fez nada que comprove que ele é assim realmente. Acho que, no fundo, você diz isso porque quer afasta-lo do Pierre!

         -Você não sabe do que está falando, Bel! Eu conheço o Chuck desde a época do colégio e sei muito bem do ele é capaz de fazer para conseguir alguma coisa.

         -Para de falar essas coisas! Para com isso, eu não vou me afastar do David só porque você quer!

         -Você está tão errada, Bel... será que não vê que ele já está te enganando, dizendo que quer te ajudar? Ele só está fazendo isso para se aproximar de você sem levantar suspeitas!

         -CHEGA! Eu não quero ouvir mais nada!

         -Você é quem sabe! Eu não vou mais ficar brigando com você! Só que depois, não diga que eu não avisei.

         Peggy virou as costas para Bel e foi se afastando, ainda irritada com a amiga, quando foi chamada novamente por ela:

         -Peggy, espera! Você não disse o que eles falaram...

         Ela deu de ombros.

         -Minha mãe entendeu, mas o meu pai é um cabeça dura. Mas, de qualquer forma, eu vou para a casa do Pierre daqui a uma semana e ele vai ter que aceitar isso de um jeito ou de outro.

         Dizendo isso, ela saiu da sala, deixando Bel sozinha com os seus pensamentos. Ela estava totalmente confusa, não sabia em que acreditar. Não podia imaginar que Peggy mentisse daquela forma para ela, mas, por outro lado, não queria aceitar o que a amiga lhe havia dito. Dentro dela, sentia que David não era uma má pessoa. Ele não podia ter se aproximado dela com segundas intenções, ela não suportaria se isso fosse verdade. Tinha medo que estivesse se envolvendo demais com ele, e que acabasse se machucando, mas ela simplesmente não podia impedir que seus sentimentos viessem à tona.


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Notas finais do capítulo

Reviews? =(