How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 5
Uma sombra do passado




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O sol já ia alto quando ela foi acordada com fortes pancadas na porta de seu quarto.

–Peggy! Acorda, menina!

–O que foi, mãe? Será não se pode mais dormir nessa casa? – ela esfregava os olhos preguiçosamente, nem um pouco a fim de se levantar da cama.

–Você tem uma visita...

–Mas eu nem acordei ainda... – disse, cobrindo a cabeça com o travesseiro.

–É que... ele diz que precisa falar com você... um tal de Pierre...

Peggy se levantou com um salto ao ouvir aquele nome. O que Pierre queria com ela àquela hora da manhã? Afinal, era domingo e eles tinham ido dormir muito tarde na noite anterior por causa da festa. Mas porque ele queria vê-la? Dentro do peito, seu coração pulava disparado, como se ela tivesse acabado de correr uma maratona.

–Digo para ele voltar depois, então?

–Não! Eu já estou descendo – ela gritou de volta, enquanto corria pelo quarto, apressada, para pegar suas roupas.

Enquanto ela descia as escadas, um turbilhão de pensamentos passava pela sua cabeça. Mas tudo o que ela podia fazer era esperar para ver do que aquilo ia dar. Lá em baixo, Pierre estava lindo como nunca. Ou lindo como sempre, era difícil dizer. Usava uma calça jeans meio surrada e uma Role Model preta com inscrições em branco. Seus cabelos estavam espetados para cima e seu sorriso iluminava tudo a sua volta.

–Pierre? O que faz aqui tão cedo?

–Não gostou de me ver?

–Não é isso... eu só não esperava que você viesse... nem deu tempo para eu me arrumar direito e nem nada...

–Mas você está linda, como sempre – ele disse, achando graça.

Peggy enrubesceu e resolveu mudar o rumo da conversa:

–Minha mãe disse que você precisava falar comigo...

–Na verdade, nem é tão importante assim... será que nós não podemos ir dar uma volta no parque aqui em frente?

–Hã... claro – Peggy não estava entendendo onde Pierre pretendia chegar com aquilo, por isso, resolveu fazer o jogo dele.

O dia estava ótimo para caminhadas, com o sol refletindo seus raios sobre a grama verde recém-cortada. O parque não era muito grande, porém, de aspecto agradável. Como era cedo ainda, ele estava praticamente deserto, exceto por três crianças que brincavam despreocupadamente no cercado de areia, supervisionadas por uma mulher de expressão bondosa. Peggy e Pierre se sentaram em um banco ali perto e ele começou:

–Gostei muito de você ter ido à festa ontem. Sabe, desde que terminamos o colégio e seguimos caminhos diferentes, eu ainda sinto falta das nossas conversas de vez em quando...

–Você ainda sente falta deles, não é? – ela disse, observando-o.

Pierre percebeu que ela falava dos seus pais.

–Sei que já faz muitos anos, mas eu acho que nunca vou conseguir superar isso. Sempre que eu chego em casa e vejo as coisas deles ali, eu sinto um vazio enorme dentro de mim. É como se estivesse faltando alguma coisa.

–Eu sei como é isso – ela suspirou, desviando o olhar para as crianças – há três anos, eu perdi meu irmão. Foi um choque muito grande quando descobrimos que ele estava com câncer. Fizemos de tudo, mas ele não agüentou as quimioterapias...

–Eu não sabia disso... sinto muito, deve ter sido difícil para você – ele disse, solícito.

–Ainda é... para todos nós. Julian faz muita falta lá em casa. Ás vezes, eu tenho a impressão de que ele vai entrar pela sala, sorrindo e brincando com todos, como ele fazia sempre. Mas aí, eu me dou conta de que isso nunca mais vai voltar a acontecer, porque ele simplesmente não está mais aqui – ela voltou seus olhos para o rosto de Pierre.

Ele percebeu que eles estavam cheios de água e passou seus braços pelo pescoço de Peggy, confortando-a com um abraço suave. Ela encostou sua cabeça no peito de Pierre e eles ficaram assim, por um longo tempo. Depois, Peggy ergueu os olhos para Pierre novamente e lhe disse, com um sorriso:

–Obrigada!

–Pelo o que?

–Por estar aqui agora e se importar comigo!

Ele lhe sorriu de volta.

–Eu sempre vou me importar com você. Nesses anos todos que se passaram, eu sempre me perguntei onde você estaria, o que andava fazendo, mas afinal, você sumiu e nunca mais deu notícias...

–Isso era normal depois do que aconteceu, você não acha? Afinal, depois daquele baile...

–Aquele baile foi um desastre – cortou Pierre, meio desesperado por Peggy ter tocado naquele assunto – um desastre total! Vamos esquecer o que aconteceu, ok? E depois, o que importa mesmo é o presente, não é?

–Você tem razão. O que passou, passou. Não é mesmo bom ficar remoendo coisas do passado.

–Assim é que se fala! – ele abriu um sorriso – vamos esquecer que esse baile um dia existiu.

–Baile? Que baile?

Os dois começaram a rir, olhando um para o outro.

–Você é linda – Pierre disse quando pararam de rir, acariciando levemente o rosto de Peggy com a mão direita.

Peggy olhava intensamente para aqueles dois olhos castanhos hipnotizantes. Eles estavam muito próximos agora. Pierre desceu sua mão para o pescoço de Peggy e a puxou para si, fazendo com que seus lábios se encontrassem em um beijo suave, doce e sem pressa. Como era bom estar com Peggy. Pierre se sentia o cara mais feliz do mundo. Lá atrás, a mulher que cuidava das crianças sorria vendo o casal de apaixonados.

Eles ficaram um longo tempo assim, se beijando. Queriam aproveitar cada segundo daquele momento mágico. Quando se separaram, enfim, Peggy abriu a boca para falar alguma coisa, mas foi impedida por uma voz que vinha lá do outro lado da rua:

–Peggy!

–Bel? O que faz aqui?

–Hã... desculpe se interrompi alguma coisa, mas... sua mãe me pediu para vir chamá-la. Ela diz que você ainda não tomou seu café da manhã.

–Minha mãe...

–Pode ir, eu volto outra hora – disse Pierre, se levantando do banco e sendo acompanhado por Peggy.

–Me desculpe...

–Tudo bem, eu não devia ter vindo assim tão cedo.

–Eu gostei que você tenha vindo – ela disse, sorrindo.

Ele lhe sorriu de volta e lhe deu um breve beijo antes de começar a se afastar das duas. Peggy ficou vendo ele se afastar com um sorriso bobo no rosto. Bel estava constrangida por ter atrapalhado os dois.

–Você tinha que aparecer justo agora? – disse Peggy, enquanto elas voltavam para a casa.

–Reclame com a sua mãe! Ela é a culpada...

Peggy riu.

–E como é? – perguntou Bel, olhando para a amiga.

–Como é o que?

–Beijar o Pierre, ora!

–É a melhor coisa do mundo! O Pierre é... incrível!

–Sei... e você é uma boba apaixonada – ela concluiu, rindo.

***


Pierre estava radiante com o encontro com Peggy. Há anos que ele sonhava com aquele beijo, com ela. E agora tudo parecia ter finalmente entrado nos eixos. Agora ele tinha certeza de que ela também gostava dele. Aquela certeza era tão boa, que ele sentia que nada no mundo poderia estragar a sua felicidade.

Porém, uma sombra escura passou pela sua cabeça. Ele disse para Peggy esquecer o que havia acontecido, mas ele mesmo não conseguia entender o que tinha se passado naquele baile, e isso o incomodava. Por muito tempo ele tentou juntar as peças daquele quebra-cabeça, mas tudo o que conseguiu foram as mesmas perguntas sem respostas.

Chovia. Uma chuva fina e gelada. Mas isso não importava agora. Nada poderia dar errado naquela noite. Pierre tinha contado os dias para aquele baile, não conseguia esperar nem mais um minuto sequer. Logo estaria chegando no salão onde a festa aconteceria e Peggy estaria lá, esperando por ele. Nos últimos dias ele não conseguia pensar em outra coisa a não ser Peggy. Tinha outras garotas no colégio, que ele sabia que dariam tudo para ficar com ele, mas Peggy era especial. Ela o entendia, não o tratava como um Deus perfeito e sem sentimentos como as outras. E naquela noite, ele pretendia dizer isso tudo a ela. Queria que ela soubesse o quanto era importante para ele, o quanto ficava feliz quando estava com ela.

O salão já estava cheio. Seus amigos todos estavam ali, mas nem sinal de Peggy. Mas devia ser coisa de mulher se atrasar. Ele tentou se acalmar. Logo Peggy estaria ali também e tudo ficaria bem. Eles tinham combinado no colégio de se encontrarem no baile, e Peggy não faltaria, ele tinha certeza.

A certeza, porém, foi diminuindo a cada minuto que se passava daquela festa desastrosa. Tudo o que ele queria agora era ir embora dali e sumir, para sempre. Afinal, porque Peggy tinha feito isso com ele? Será que ela havia mudado de idéia em cima da hora? Mas porque não avisou nada para ele?

As perguntas corroíam sua mente, quando uma voz muito fina e provocante lhe chamou:

–Pierre! O que faz aqui sozinho? Será que a sua queridinha te deu o bolo?

Era Eillen, a garota mais popular do colégio. Ela sempre dava em cima de Pierre, mas ele não queria nada com ela.

–O que você quer, Eillen? – ele respondeu, desanimado.

–Que você saia dessa tristeza e venha dançar comigo!

A última coisa que ele queria naquele momento era dançar, ainda mais com Eillen. Mas ele resolveu ir assim mesmo, afinal, quem sabe ele não se animava um pouquinho depois disso?

Mas o ânimo de Pierre piorou ainda mais com a dança. Não por causa de Eillen, pois ele nem se importava com ela. Mas por causa de Peggy. Finalmente ela havia chegado no baile. Mas não como ele esperava, pois ela estava acompanhada. Além de fazer ele esperar quase a festa toda, ela ainda teve coragem de chegar com outro garoto no baile. Depois dessa visão, Pierre nem soube ao certo quando e nem como ele havia chegado em casa.


Um desastre total, era exatamente isso que tinha sido aquele baile. Pierre chacoalhou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos da sua mente. Como ele mesmo havia ditoà Peggy, o importante é o que acontece no presente. E no presente Pierre se sentia feliz como nunca. Agora que ele encontrara Peggy de novo, não deixaria ela ir embora mais uma vez. Não, dessa vez tudo seria diferente.


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