How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 19
Surpresas


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas mais uma vez pela demora... eu estava com bloqueios para escrever esse capítulo, mas finalmente ele saiu :) Espero que gostem...



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Ao longe ele podia ver Pierre e uma bagunça de pacotes de papelão que ele não tinha idéia do que poderia significar. Ele estava visivelmente irritado com algo, e jogava os embrulhos com violência pra dentro do carro. David achou que aquilo não era um bom sinal, e por um momento considerou dar meia volta e voltar mais tarde. Mas ele sabia que não poderia simplesmente adiar mais uma vez aquela conversa. Nos últimos sete dias ele esteve criando desculpas, dizendo pra si mesmo que não passaria do dia seguinte, mas agora ele tinha que ir em frente. Devia isso a Bel, devia a verdade para Pierre e, principalmente, devia isso a ele mesmo... Mesmo que isso custasse a sua amizade com Pierre...

Ele observou o amigo, ou pelo menos ele fora durante muito tempo, inspirando profundamente, enquanto criava coragem para encará-lo.

David finalmente desligou o motor do seu carro do outro lado da rua. Pierre já tinha percebido a sua presença e o esperava ao lado do último pacote com um sorriso forçado. Ele atravessou a rua rapidamente, retribuindo ao sorriso, mas o medo o consumia por dentro.

-E aí, David? – cumprimentou Pierre em um tom vazio.

-Oi... Pra que é tudo isso? – ele perguntou, alertado pela voz do amigo.

-Eu estou de mudança... – respondeu Pierre aborrecido.

David considerou se ele poderia estar assim por sua causa, mas depois afastou isso de sua mente. Pierre não tinha como adivinhar o motivo de sua visita.

-De... Mudança? Não sabia que planejava se mudar...

-Mas eu não planejava mesmo – suspirou ele.

-Mas então o que...?

-Isso é coisa da Alicia – ele bufou – mas é melhor eu te contar isso lá dentro...

Eles entraram na casa, David logo atrás. O baixista quase não reconheceu o interior do imóvel, ele parecia meio fúnebre, com espaço exagerado deixado pela falta dos móveis.

-Ela voltou então? – começou David timidamente.

-Mais ou menos... Alicia veio só pra vender a casa. Parece que alguém a achou onde quer que ela estivesse e disse que eu não estava fazendo um bom uso da casa. – ele explicou, deixando evidente sua irritação com a irmã.

-E ela resolveu vender a casa? – arregalou-se David.

-Sim... Disse que falta de respeito com a memória dos nossos pais. Como se ela se importasse com eles! – ele acrescentou, frustrado.

-Mas isso não é ilegal? Quer dizer, você morou por tantos anos aqui, tem que ter algum direito sobre a casa também.

-É, eu sei. Acontece que quando nossos pais morreram, a casa passou para o nome da Alicia, e pra reivindicar alguma coisa, eu vou ter que ir atrás de um advogado e abrir um processo. Essas coisas são demoradas e caras, e eu não quero mexer no dinheiro da banda por isso...

-Mas se você não lutar... Pierre, essa casa foi dos seus pais, eu pensei que isso fosse uma coisa importante pra você!

-E é. – ele disse em um tom de voz cansada. – Mas sinceramente, tudo o que eu quero agora é um pouco de paz na minha vida, já foi um golpe muito grande ter perdido a Peggy daquele jeito...

A menção de Peggy fez David congelar no lugar. Era a deixa para ele começar a sua difícil tarefa.

-Pierre, nós precisamos conversar...

-Eu pensei que já estivéssemos conversando – disse ele confuso.

-Estamos mas... – David remexeu no cabelo, desconfortável – o que eu preciso conversar com você é muito importante... é sobre Chuck... e o passado...

Pierre percebeu que o amigo falava sério e se inclinou pra mais perto com as sobrancelhas franzidas, se concentrando nas palavras confusas de David...

 

***

 

-Parece que alguém está meio inquieta hoje – conjecturou Peggy.

-Não é nada, eu apenas odeio não ter o que fazer – tornou Bel, tentando não transparecer a preocupação que a consumia por dentro.

Bel ainda não tivera coragem de falar para Peggy que David contaria a verdade para Pierre. Ultimamente ela refutava tudo que se referia a ele, e Bel temia que Peggy brigasse pra valer com ela se soubesse que há uma semana ela estivera com David a fim de tentar convencê-lo a consertar as coisas. Mas não era apenas o humor de Peggy que andava às avessas. Ela tinha dores de cabeça freqüentes, e se sentia enjoada com as coisas mais banais. Bel tentou convencê-la a ir ver um médico, mas a amiga insistia que os enjôos deviam ser por algo estragado que comera e não fizera digestão. Bel temia que fosse algo mais sério do que isso. Desde que rompera com Pierre, Peggy não era mais ela mesma, sempre com uma máscara ácida sob a face. Ás vezes, ela nem parecia notar os outros a sua volta. Bel temia que sua amiga estivesse entrando em uma depressão profunda...

-Bel? Você quer me dizer o que está acontecendo? – pressionou Peggy após um momento.

Bel suspirou. Ás vezes era extremamente difícil esconder alguma coisa de Peggy.

-Nada é só... – ela revirou os olhos, se rendendo, e atirou as próximas palavras num jato – eu acho que David foi falar com Pierre hoje.

-O quê? – espantou-se Peggy, arregalando os olhos. – como é que você sabe disso?

-É que eu... Bem, eu meio que o convenci a dizer a verdade pra ele – ela explicou, abaixando a cabeça e esperando pela nova explosão de Peggy.

Ela não veio. Quando Bel resolveu olhar pra cima, Peggy já estava a meio caminho da porta de entrada.

-Onde é que você vai? – disse Bel, confusa.

-Vou tentar impedi-lo – rebateu Peggy, fuzilando Bel com os olhos.

Ela ignorou a expressão da amiga.

-E por que você faria isso? Pierre precisa saber da verdade, isso envolve a vida dele também. Não é certo ele ser enganado pelos amigos assim, e você sabe disso.

-Pode até ser, mas você não podia ter tomado essa decisão sem antes me consultar. – Recriminou Peggy.

-Do que você tem medo? – questionou Bel, enquanto se aproximava da amiga.

-Chuck é louco, Bel. E quando ele descobrir que Pierre já sabe do segredo dele, vai ficar mais louco ainda. Ele pode querer se vingar de Pierre, de David, de você... E aí... Pode acontecer uma desgraça... – Peggy sussurrou a última frase com extrema dificuldade.

Só então Bel percebeu que Peggy estava pálida e ofegante, apesar de ter dado apenas uns cinco ou seis passos. Antes que ela pudesse lhe perguntar sobre o seu estado, o corpo de Peggy se tornou mole, seus olhos se reviraram nas órbitas e ela despencou ao chão como uma boneca de trapos.

-Peggy!? – Gritou Bel, assustada.

Ela se ajoelhou até a amiga e a chacoalhou, lhe segurando pelos ombros.

-Peggy? Peggy, por favor, fala comigo! – Ela gritava desesperada demais para notar que estavam sozinhas.

Como em resposta, Peggy suspirou ainda desacordada. Bel, que era pequena demais para carregá-la, puxou-a pelos braços até que chegassem à borda do sofá. Com dificuldade, ela a puxou para cima até que se sentasse no chão, equilibrando seu corpo perigosamente. Bel subiu no sofá para trabalhar melhor, juntou todas as suas forças, e ergueu Peggy até que ela estivesse completamente em cima do sofá, onde ela pode escorregá-la para uma almofada antes de voltar ao chão.

-Peggy? Você pode me ouvir? – ela tentou novamente, as mãos acariciando delicadamente sua face.

-Bel... – ela sussurrou em resposta, os olhos semicerrados.

-Como você está se sentindo?

-Bem... – murmurou Peggy.

-Vou te levar para um hospital. – sentenciou Bel, ignorando sua última resposta.

-Não! Nós estamos sozinhas aqui, você não sabe dirigir e eu não preciso de hospital algum... – ela se levantou, sentindo-se repentinamente mais forte – Estou perfeitamente bem!

Mas ela se levantara rápido demais. Sua cabeça começou a rodar, e ela teve que se encostar-se ao apoio do sofá logo às suas costas.

-Eu vou chamar um táxi! – resolveu Bel, indo até o telefone.

-Foi só uma pequena vertigem. – revoltou-se Peggy.

-Não é a primeira vez que você passa mal. Eu não podia te obrigar antes, mas agora você vai nesse hospital quer queira ou não. – ela disse firmemente, encerrando a pequena discussão e já discando para um número que Peggy desconhecia.

 

***

 

Pierre estava extremamente rígido, os olhos congelados e as narinas infladas. David se achava com a cabeça baixa entre as mãos, sem coragem de encarar o vocalista. Ficaram nessa posição por um tempo infindável, os minutos se passando penosamente.

-E por que você resolveu me contar isso só agora? – perguntou Pierre finalmente.

-Na verdade, eu queria ter te contado desde quando Peggy voltou, mas Chuck nunca me perdoaria... Bel me convenceu. – ele acrescentou, erguendo a cabeça.

-Então quer dizer que se não fosse pela Bel, você ainda estaria mentindo pra mim? – pressionou Pierre, a voz condenando David.

-Pierre, eu não queria que fosse assim...

-Não queria que fosse assim? – a voz de escárnio. – Então o quê, David? Qual é a explicação pra isso tudo?

-Chuck me obrigou – respondeu ele com a voz fraca.

-Vocês dois! Os que eu julgava serem meus melhores amigos, confabulando contra mim às minhas costas esse tempo todo... Que belo grupo de amigos nós somos! – Debochou ele. – Os outros também sabiam disso? Jeff e Seb?

-Não... Eu era o único que sabia...

-Só de pensar que eu perdi Peggy por isso... – ele bufou – Tantas vezes ela me disse pra não confiar no Chuck, e eu nunca dei ouvido... Claro, porque eu desconfiaria logo do meu melhor amigo? Aquele que sempre esteve do meu lado desde os 13 anos de idade? – ele sorriu sem humor algum.

-Mas ele também sofreu... Pierre, Chuck passou por muita coisa com os pais. – David argumentou, tentando amenizar o clima de estresse entre os dois.

-Isso não muda nada, David! – Avançou Pierre – Se você fosse meu amigo de verdade teria me contado assim que soube. Nós poderíamos pensar em alguma coisa para salvá-lo, juntos. Juntos, como sempre fomos!

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de David. Não tinha como explicar para Pierre o quanto ele era vulnerável diante das articulações de Chuck.

-Me perdoe Pierre... Por favor, me perdoe! Eu nunca deixei de ser leal a você, nunca! Eu sempre me preocupei...

-Perdoar? – cortou ele – Como espera que eu posso te perdoar, sabendo que você foi um dos responsáveis por ter destruído a minha vida?

-Pierre...

-Você nunca foi meu amigo, David! Nem você e nem o Chuck. – ele explodiu – Por sua culpa eu perdi tudo o que restava de importante pra mim!

-Por favor, Pierre! – implorou David pela última vez.

-Não, David, está acabado... Tudo acabado! E diga ao Chuck pra não cruzar o caminho pelos próximos meses, ou eu não sei do que serei capaz de fazer. – ele ameaçou, encerrando a conversa.

David percebeu que não havia mais nada que pudesse fazer. A amizade com Pierre estava acabada. Pra sempre. Ele saiu da casa, deixando o ex-amigo sozinho com a sua dor, se amaldiçoando com todas as forças por ter sido tão covarde. Ele jamais se perdoaria por ter feito Pierre sofrer ainda mais com a sua burrice.

 

***

 

Olhar aquelas paredes extremamente brancas e sem-graça já a estava deixando nos nervos. A cada cinco minutos ela se virava sobre a cama de hospital, inquieta demais para esperar pelo resultado do exame de sangue que fizera há pouco.

 -Isso é totalmente desnecessário. – Ela disse a Bel com azedume, enquanto as duas esperavam pela volta da enfermeira.

-Claro! Como se você estivesse se sentindo perfeitamente bem. – rebateu Bel, se lembrando do último desmaio de Peggy assim que entraram na sala de exames.

-Eu certamente me sentiria bem melhor se ninguém tivesse enfiado uma agulha no meu braço.

Bel se virou para ela, pronta para continuar com a alegre discussão sobre a saúde de Peggy, quando alguém girou a maçaneta novamente. Elas esperavam que fosse a enfermeira mal-humorada, mas homem simpático vestido de branco da cabeça aos pés surpreendeu Bel. Ele aparentava já estar na casa dos cinqüenta e sete anos, alto, relativamente magro e com uma notável saliência entre seus cabelos ralos e castanhos.

-E então, como estamos? – perguntou ele com um sorriso ao se aproximar do leito de Peggy.

-Eu estou bem. – ela repetiu mais uma vez, com um suspiro.

-Qual o diagnóstico, doutor? – questionou Bel por sobre os ombros do médico.

Ele respondeu olhando cautelosamente para Peggy:

-Parece que você teve uma pequena explosão de emoções. Isso seria de se esperar a essa altura, mas nas suas condições, devo alertá-la de que isso poderia ter tido conseqüências mais sérias. Você não pode passar por emoções fortes, contudo, o bebê está bem.

Peggy levou um tempo até absorver o pequeno discurso confuso do médico. Quando, por fim, percebeu o que aquelas palavras significavam, ela arregalou os olhos assustados para o médico.

-Bebê? Que... Bebê?

-Ah, você ainda não sabia? – percebeu ele, com a voz constrangida. – Está grávida.

-Não! Eu... Eu não posso estar grávida, isso deve ser algum engano...

-Não há engano nenhum. – ele anunciou – O exame mostra claramente uma gravidez de três semanas.

-Mas existe uma margem de erro, não é? Eu não posso estar grávida...

-As margens de erro são mínimas para esse tipo de exame. Você não só pode, como está grávida. Parabéns, mamãe! – ele acrescentou delicadamente, tentando animá-la.

-Grávida? Eu? – Peggy lutava com a verdade das palavras.

-Eu vou buscar o seu prontuário e volto para lhe dar algumas indicações. Logo estará pronta pra ir pra casa. – ele encerrou com outro sorriso.

Enquanto via o médico sair, Peggy lutava para colocar seus pensamentos em ordem.

-Uau, grávida! – exclamou Bel – E eu que pensei que você estava entrando em depressão.

A animação de Bel deixou Peggy instantaneamente consciente de sua condição.

-Até parece que você é que vai ser a mãe. – ela disse, recriminando-a pelo seu comportamento.

-E porque não ficar feliz? Peggy, um bebê só pode trazer coisas boas na vida de alguém. Imagine que um serzinho está crescendo dentro de você e logo você poderá vê-lo!

-Não é tão simples assim. Ter um filho é muita responsabilidade. Eu não sei se estou preparada para isso...

-Não se preocupe Peggy, você não estará sozinha! Sempre pode contar comigo e com seus pais também, claro depois de passar o susto que eles vão levar. E... Eu aposto como Pierre também ficará feliz de saber que vai ser papai. – ela acrescentou Timidamente, olhando para Peggy pelo canto do olho.

-Pierre não vai saber.

-Você não vai contar pra ele? – perguntou Bel, incrédula.

-Não depois do que ele fez. Vou criar meu filho sozinha, e nós não sentiremos falta de nada que poderia vir dele. – sentenciou Peggy, acariciando levemente a barriga pela primeira vez.

Bel a olhou, chocada.

-Mas ele é o pai! Ele tem o direito de saber que vai ter um filho...

-Ele perdeu esse direito depois que me traiu daquele jeito. Eu não vou dar esse gostinho para ele.

-E como você pretende esconder isso dele? Uma hora essa barriga vai começar a crescer e aí... – ela parou sugestivamente.

-Eu vou dar um jeito até lá.

Bel logo percebeu que a guerra estava ganha. Quando Peggy metia uma coisa na cabeça, era praticamente impossível convencê-la do contrário.


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